Música, Sangue e Eternidade escrita por Countess Dracula


Capítulo 4
Capítulo 4: Renascer


Notas iniciais do capítulo

Postando meeeeeeeeega rápido aqui, pq está chovendo horrores e trovejando mto.
;***



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Dor e um frio enregelante: Eis as duas primeiras coisas que Andrei sentiu ao despertar. Abriu os olhos, mas nada viu além de escuridão. Tentou mover-se, mas seus membros estavam muito pesados e pode perceber que o local em que estava deitado – embora não fizesse idéia de como parara ali – era estreito, não havia muito espaço. A cabeça, cheia de lembranças confusas não ajudava-lhe na hora de pensar.


Foi então que ouviu. De muito, muito longe vinha o chamado – Toccata & Fugue, habilmente executada ao violino. Não podia resistir, nunca pôde, então fechou os olhos e entregou-se ao chamado. Seu corpo foi mudando, desmaterializando-se. Logo já não estava mais preso ao túmulo. Abriu os olhos, vendo-se em um local estranho. E não estava só: Charles Remarque era quem tocava um belíssimo Stradivarius. Ao ver o jovem ali, parou de tocar.


- Sabia que atenderia meu chamado, se o fizesse da forma certa! – E ergue o instrumento, como que para mostrar-lhe do que estava falando. –Tome, é seu. Pelo violino que quebrei.


O rapaz apenas olhava, em silêncio. Sempre sonhou em ter um Stradivarius e ali estava um original, e supostamente, era seu agora.


- Vamos, pegue. É seu já disse. Um rito de passagem para sua nova vida.


O vampiro estendeu-lho o instrumento e Goddard pegou-o hesitantemente, os dedos muito pálidos tocando a madeira com delicadeza, depois abraçando fervorosamente o presente.


- Sinto-me estranho, fraco. Não consigo respirar direito, uma queimação no estômago.


- Isso é fome. Precisa se alimentar. Mas de algo diferente, algo que nunca provou antes dessa sua nova vida. – Rasgou o pulso com uma unha, o cheio inundou as narinas do mais jovem, fazendo-o despertar de vez. - É a primeira vez que alimento um homem. E será o único. Atendo um pedido especial de minha belezinha. Beba.


Andrei não estranhou o gesto, pelo contrário, aprovou-o. Deixando delicadamente o violino em cima de sua tumba, aproximou-se do pulso de Remarque e sem questionar, bebeu.


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Ventava forte e a madrugada era bela, como Andrei jamais vira antes. Estavam os dois no centro da pequena cidade, as ruas vazias, Andrei agarrado ao Stradivarius. Pararam na praça, Charles um pouco à frente do pupilo.


- Muito bem, meu caro... Inspire fundo e preste atenção ao que seus instintos dizem. Há algum cheiro particularmente interessante?


O violinista puxou o ar e então sentiu o aroma saboroso que o fez estremecer, seus olhos avermelharem-se.


-Sim. Vem de lá.


E andou na direção de uma mansão branca de dois andares, com Charles em seu encalço.


- Vamos com calma, meu jovem. Não podemos chamar a atenção e... Ora, mas vejam só! A janela está aberta! – Sorriu, dando uma palmadinha no ombro do vampiro mais novo. – Toque.


-Como? – Perguntou confuso.


-O violino. Vamos, toque. A moça está dormindo, você vai penetrar nos sonhos da jovem, enredá-la, fazê-la sua. Você já tocava maravilhosamente, agora, então... Vamos!


Como se estivesse a fazer uma serenata embaixo da janela da jovem, Andrei começou a tocar, o arco subindo e descendo lenta e amorosamente, a sonoridade superior da criação de Antonio Stradivari tornando-se ainda melhor com sua nova habilidade.


Poucos minutos passaram-se e a mulher, semi-adormecida, apareceu na janela do andar superior. Andrei olhou para ela, sem parar de tocar.


-Deixe-me entrar. – Sussurrou mentalmente. Com apenas um gesto de cabeça em afirmação proferido pela jovem, ele ganhou seu convite.


Charles apenas sorria aprovadoramente. O rapaz aprendia rápido.


Goddard ainda executando sua canção hipnótica, diluiu-se em uma névoa verde* que adentrou o recinto. Tocando mais rápido bombardeou os sentidos de sua vítima, deixando-a entregue a si de tal modo, que ela não parecer notar quando ele parou de tocar, embora tenha sentido-o abraçá-la, afinal, ela o abraçou de volta. Ele abaixou o rosto lentamente, cravando os dentes em seu pescoço. Ela apenas estremeceu, de olhos fechados.


Quando ergueu o rosto, soltando-a delicadamente de volta em sua cama, a respiração difícil graças ao sangue perdido, Andrei viu Remarque andando de um lado para outro no quarto da garota.


- Edna Ann Miller*. Escolheu bem. A família dela está viajando e só volta amanhã.


-Ótimo.


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Voltaram à mansão Remarque um pouco antes do sol nascer. O violinista foi levado de volta ao insuspeito jazigo subterrâneo. Ao chegar lá, a terra abriu-se para recebê-lo, ele desmaterializou-se, entrando no caixão. A terra fechou-se sobre a tumba, como se nunca tivesse sido remexida.


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- E então Chas, como foi tudo?


Charles voltou-se na direção da voz e deparou-se com uma Marion sentada na penteadeira do quarto do casal, as pernas cruzadas, mexendo-as para lá e para cá, como uma criança ansiosa.


- Magnífico, belezinha! Ele adaptou-se muito bem e não poderia ter escolhido vítima melhor. E quanto à sua pesquisa? O que descobriu?


- Que o descendente de Levy* mudar-se-á mesmo para a cidade vizinha e... – Interrompeu-se, sorrindo maliciosamente.


-Sim?


-Ele tem uma filha. Michelle.


O sorriso diabólico aumentou, e Marion pulou da penteadeira, andando em direção ao marido estupefato.


-Não creio!


-Sim, neném.- Chegou mais perto dele, arrumando-lhe a gola da camisa. – Deve ser um ou dois anos mais nova que nosso pupilo.


Ambos gargalharam cruelmente, antes de beijarem-se.


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Lá fora, o aroma das flores sob o sol era tão forte que chegava a ser estonteante. Sua família chegaria em menos de vinte minutos, graças à estrada de terra batida que estava quase sem buracos.


Edna acordou cansada, a garganta dolorida. Sabia ter sonhado com algo assustador, mas fascinante. Lembrava-se vagamente de sonhar com uma música distante, encantadora. Tinha também a impressão de ter feito algo que não devia, embora não pudesse pensar o que poderia ser tão terrível assim, apenas de aquilo era vital e inegável. Apesar do medo que sabia ter sentido, desejou ardentemente poder ter novamente essa experiência.


Se soubesse que seus pesadelos estavam apenas começando, talvez jamais tivesse desejado isso.


Torceu para que seus pais chegassem logo. Acreditava que com eles por perto fosse possível voltar a ouvir a música, mas sem a sensação de perigo iminente.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Talvez alguém estranhe a rápida adaptação do Andrei, mas isso de vampiro que precisa de anti-depressivo moralista tem mais a ver com o vampiro literário que o lendário.(Embora eu goste dos dois =D)
*Névoa verde: Retirei a idéia de "Drácula".
*Edna em homenagem à atriz chapliniana Edna Purviance, e Ann Miller de Penélope Ann Miller, atriz que interpretou Edna no filme "Chaplin".
Levy: Outro sobrenome retirado do de Paulette. Ps.: Só eu estou achando o nyah! estranho hj? =S