Música, Sangue e Eternidade escrita por Countess Dracula


Capítulo 3
Capítulo 3: A hora da verdade


Notas iniciais do capítulo

Agradeço a Lyn Hale Bass por betar o capítulo para mim. Valeu, Lamp!
E obrigada por tudo - você sabe do que estou falando.
A formatação aqui no nyah! ficou estranha, mas por enquanto fica assim. Desisti de tentar mudar, por enquanto. =/
;*



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- Ah, vejo que encontraste o retrato de minha sogra! – A voz forte de Charles Remarque inundou o aposento e um grito nasceu na garganta do violinista, mas ele o sufocou.


Trêmulo, virou-se na direção da voz e encontrou Charles sentando do outro lado da escrivaninha. Como ele entrara ali?



Remarque olhou-o profundamente e Goddard pressentiu que havia algo errado. Nesse momento o violinista pode ver o desprezo e um certo cinismo que o anfitrião escondia sob aquela fachada serena. Sentiu medo quando ele levantou-se, ágil como um bailarino – ou um felino espreitando sua presa. Foi chegando mais perto e ordenou, com voz firme:



- Ainda não é hora de você saber certas coisas. Olhe para mim.


Os olhos de Charles tornaram-se vermelhos e encantadores. Quando Andrei fitou-os foi como se todo o seu medo e suas dúvidas sumissem. Esqueceu de todas as perguntas que surgiram, do quadro, por um momento, esqueceu de si mesmo.


Quarenta e cinco segundos foi o tempo necessário para enfeitiçar Andrei e controlar toda a sua vontade. Ordenou-lhe que fosse para o quarto e entrasse em um sono profundo. O violinista assim o fez.


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- E então, minha cara? O que acha?



Saindo da penumbra da biblioteca, Marion surge em um vestido de alças, longo e branco, manchado de sangue – assim como sua boca. Charles aproximou-se dela, limpando-lhe boca com as mãos, para sorver o sangue em seguida.



- Creio, que de hoje não passa, neném. Chegou a hora dele.


- Assim seja, belezinha. Até a noite. Vá descansar.



E ele sorriu, revelando os pontiagudos caninos.


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No exato momento em que o sol se pôs, Charles, com um movimento de mão, despertou Andrei. A princípio ele apenas ficou deitado no escuro, imóvel, olhando para o teto. Mas então uma voz vinda de muito longe, mas irresistível, chamou-o e ele não pôde recusar.



Seguindo as ordens da distante – e conhecida - voz, ele voltou à biblioteca. Não sem antes buscar seu amado instrumento, claro. Aquele objeto lhe dava segurança. Era a melhor parte de si mesmo. Já na porta do aposento ele pôde ouvir alguém executando uma canção ao violino. Quando entrou pode reconhecer a canção: debochado, Charles executava “Passetyme with gude companye” e sorriu ao vê-lo chegar.



- Ah, vejo que finalmente juntou-se a nós! – E continuou a cantar: - For my pastaunce: Hunt, syng, and daunce, my hert ys sett! All gudely sport, fore my comfort, who shall me lett?**



- Sente-se. – A doce voz de Marion soou no recinto, fazendo com que o jovem a encarasse. A bela dama fez um sinal para que ele se sentasse na poltrona frente ao retrato de sua trisavó. Enquanto Charles estava com as típicas roupas pretas de sempre, ela trajava um belíssimo vestido bordeaux, um colar de rubis cintilantes e sua inseparável aliança, que continha uma estranha pedra vermelho-sangue. Voltou sua atenção ao quadro, abismado.



Mais uma vez, como que lendo seus pensamentos, a senhora Remarque responde sua pergunta muda:



- Sim, é sua trisavó, meu caro. Nós dois somos parentes. Descendo dela.



- Mas como? Jamais ouvi falar de você e não há sequer um retrato seu em meu lar!



- E nem poderia, fui banida da família. Eu a matei!



Goddard olhou-a, incrédulo, o rosto atônito. Achava que aquilo não podia estar acontecendo, não fazia sentido. Deveria estar sonhando ou talvez fosse uma brincadeira. Inclinou-se para trás na confortável poltrona, segurando o violino com mais força. Apertou os olhos, indo de um para o outro.



- Tive que matá-la. Foi mais forte que eu. Sempre seria.



- Não. - Goddard respondeu de pronto.



- Não o quê? - perguntou ela.



-Eu não acredito. Devo estar sonhando.



Uma expressão de surpresa, seguida de súbita compreensão passou pelo rosto dela.



- Não está. E eu a matei.



- Claro. Como se você sequer tivesse nascido naquele tempo!



O tom sarcástico usado por Andrei claramente divertiu Charles, mas pareceu irritar a esposa.



-Ela era minha mãe! – Furiosa, apontou para o quadro. -Não vê a semelhança?



Olhando para o quadro, ele não tinha como negar. Eram parecidas, sim, mas ainda não fazia sentido.



Dando um sorrisinho discreto, Marion arrumou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela bem havia percebido o enorme sorriso de satisfação de seu marido, o que sempre a acalmava.



-De qualquer forma, eu a matei. E agora chegou a sua vez de morrer.



Seu sorriso aumentou e o violinista pôde ver os dentes alongados. Um arrepiou passou-lhe pelo corpo – lembrou-se de algo, um conto que lera um tempo atrás: Carmilla. A moça também tinha longos dentes. Mas isso era loucura. Todos sabiam que essas coisas não existiam. Não é?



Mas isso não impedia o medo de vir em ondas nauseantes. Seu estômago começou a pesar – como se tivessem jogado uma pedra nele – e Andrei sentiu uma vertigem. Levantou-se vagarosamente, o violino numa mão, o arco em outra.



Com o coração martelando pesadamente e a respiração em arquejos, o rapaz caminhou até a porta, que estranhamente estava trancada, embora ele soubesse que ninguém havia feito isso depois que entrara no recinto. Como estava de costas, não pôde ver o sorriso predatório de Charles.



-Aonde vai? – Levou um susto ao perceber que a mulher estava atrás dele.



Virou-se rapidamente e num ato reflexo, levantou o violino, como que para defender-se. Não chegou a ver como, mas o senhor Remarque logo estava ali, segurando-lhe o braço.



-Sinto muito – interferiu Charles, com um suspiro enfadado. – mas infelizmente isso vai doer em você. Muito.



O violinista encolheu-se de medo, mas logo deu-se conta de que não seria no braço que sentiria a dor. Com apenas um golpe certeiro, Charles havia quebrado o violino.



E realmente, aquilo doeu. Foi como se pegassem seu coração e o dilacerassem. Aos poucos, foi deixando os restos de seu amado instrumento cair ao chão. Era, sem dúvida alguma, a pior dor que sentiu em sua vida. Desolado, não viu a mulher se aproximar e mesmo que visse, não teria se importado. Não sentia mais medo. Ela segurou-lhe o rosto entre as mãos e obrigou-o a encarar seus belos e assustadores olhos . Isso foi bom, porque ajudou-o a esquecer a dor. Mergulhou em seus olhos e perdeu-se em brumas distantes.



Naquela noite escura, dentro daquela mansão antiga, tudo o que se pode ouvir naquele momento foi o som alto da sucção.



Continua....


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Notas finais do capítulo

** Tradução do trecho cantado por Charles: "Para meu passatempo: Caçar, cantar, e dançar, o meu coração está pronto! Todo o bom desporto, para o meu conforto, quem me impedirá?” – É o trecho de “Passetyme with gude company”, já citada no primeiro capítulo e a letra está no inglês médio.

Carmilla: Conto de Sheridan Le Fanu.

A frase “olhe para mim” chega a ser clichê nos filmes do Drácula, não? Foi mal, haha.

Algo que eu esqueci de mencionar antes: Essa fic é um presente de aniversário para a Lady Myh Lee e também uma homenagem aos atores Charles Chaplin e Paulette Goddard e o cantor Jyrki69 – respectivamente na fic Charles e Marion Remarque e Andrei Goddard.

Paulette Goddard é o nome artístico de Pauline Marion Goddard Levy. Vocês podem vê-la contracenando com Chaplin nos filmes “Tempos Modernos” e “O Grande Ditador.” Dela eu tirei o nome Marion para a personagem correspondente e Goddard para meu violinista. De Chaplin eu peguei seu primeiro nome mesmo. Remarque vem do sobrenome do escritor alemão Erich Maria Remarque, último esposo de Paulette. O nome da trisavó de Andrei também vem da família de Paulette: Alta era sua mãe e Nellie sua avó materna.
As jóias citadas no capítulo anterior (e nesse aqui, com exceção da aliança, que é criação minha e terá explicação) realmente pertenciam à atriz, assim como o casaco de arminho.
A frase sobre filhos, dita por Marion, foi uma frase supostamente dita por Paulette e citada no livro “Opostos que se atraem: As vidas de Erich Maria Remarque e Paulette Goddard”.

Vou ver o que eu posso trazer do Jyrki para o Andrei. E embora muita coisa nesta fic seja real, a história é fictícia e de minha inteira autoria. Podem deixar que, se eu usar algo, eu darei os créditos, como sempre faço. =]