Música, Sangue e Eternidade escrita por Countess Dracula


Capítulo 1
Capítulo 1: Música, Sangue e Eternidade


Notas iniciais do capítulo

Meus vampiros são mortos-retornados, portanto podem comer sim e andar livremente à luz do dia.



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A noite estava fria e o céu escurecia cada vez mais. As nuvens negras e ameaçadoras começavam a cobrir todo o firmamento e foi com um suspiro de alívio que Andrei passou pelos enormes portões de ferro decorados com imagens góticas. Atravessou rapidamente o belo jardim.

 

A mansão onde ficaria hospedado era de pedra, com apenas um andar, e mesmo através da neblina, ele podia ver luzes nas grandes janelas. No exato momento em que bateu à porta, um relâmpago cruzou o céu, causando-lhe um arrepio, fazendo-o segurar com força o estojo com o violino contra o peito. Mau presságio.

 

A porta foi aberta, revelando a bela anfitriã em seu vestido de veludo negro, o decote quadrado nos seios firmes. O cabelo um pouco acima dos ombros e de um castanho que seria comum em outras mulheres, nela ficava muitíssimo bem. Estranhamente, ele sentiu repulsa por ela – atração, sim, mas repulsa também. E não soube explicar a si mesmo o motivo.

 

-Seja bem-vindo. Sou Marion Remarque. Você deve ser o violinista, sim?

 

- Exato. Andrei Goddard, às suas ordens, senhora.

E inclinou-se em uma saudação respeitosa.


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Havia muitos quadros nas paredes da mansão – por toda ela – e antigos retratos. Marion devia mesmo se orgulhar deles. Mas o quadro que mais o impressionou foi o que estava em seu quarto: Uma mulher de cabelos negros presos em um coque, o olhar perdido. Andrei diria que era Remarque, não fosse o quadro datado de cem anos antes.

 

O quarto em que Goddard fora instalado era o que dava para o os fundos da propriedade, e era bastante confortável. Tomou um banho quente, arrumou-se e pegou seu bem mais precioso: Seu violino. Iria apresentar-se aos Remarque.

 

Sua apresentação foi magnífica, em especial quando executou Passetyme with gude companye*, sendo acompanhado com palmas entusiasmadas. A canção folclórica pareceu inspirar o casal. Após os agradecimentos, juntou-se a seus anfitriões para cear.

 

-Não te cansas de perambular sem lugar fixo? Tocar e tocar pelo mundo a fora? – Perguntou Charles Remarque, com seu belo sotaque inglês.

 

-Cansar-me de tocar? Jamais. A música é o centro de meu universo. Se pudesse, casar-me-ia com ela.

 

-Mas não temes ficar demasiadamente só com o passar dos anos? – quis saber Marion. - O tempo passa e o ser humano deseja companhia, como a música mesmo diz.

 

-Não, enquanto tiver minha amada, não temerei a solidão, pois não estarei só. – Sorriu orgulhoso.

 

-Perdão, sua amada?

 

-Sim, senhor Remarque. Meu violino, minha amada.

 

Seus olhos brilharam como se lembrassem de um grande amor.

 

-Tocaria para sempre, se pudesse.

 

-Ora, e porque não?- Sorriu a senhora Remarque.

 

Antes que Goddard pudesse responder, Charles interviu.

 

-Não ligue para minha esposa, adora brincar.

 

A conversa foi tomando outro rumo – sobre vida e morte, velhice, sonhos...

 

Para Andrei pensar nisso era difícil, não gostava da idéia de ser mortal, de ser finito. Olhava o casal Remarque e não conseguia precisar a idade que eles teriam. Marion era sensual e apresentava uma força que ele não sabia explicar de onde vinha. Charles também era um homem atraente e jovem – uma juventude que a profundidade de seus olhos azuis desmentiam. Apesar de não ser um homem musculoso, era forte e ágil, como seus gestos elegantes transpareciam. Os cabelos castanho - escuro e cacheados eram rajados de branco – mais um indício de que não era tão jovem assim. O casal não era muito alto e Goddard tinha que admitir: Era como se fossem feitos um para o outro.

 


A ceia era farta, e o violinista perguntou-se se fora Marion quem a fizera – não viu criados em lugar algum. Comeu à vontade, mas não pode deixar de notar que seus anfitriões mal tocavam a comida. A situação só se modificou quando comeram a sobremesa: Charles em especial, parecia deliciar-se com o sorvete.

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Horas mais tarde, Andrei caminhou mansamente em direção a seu quarto, morrendo de cansaço.

 

Satisfeito com seu desempenho e já enfiado entre suas cobertas quentinhas, nem sequer imaginava o quanto sua vida começaria a mudar.

 

Não conseguia dormir. A conversa sobre vida e morte não lhe saia da cabeça. Nunca teve medo de morrer, mas a idéia de algum dia deixar de tocar lhe apavorava. Deitado sobre o lado direito, pensava no quanto gostaria de ser imortal. Ele e a música... Juntos por toda a eternidade...

 

No dia seguinte ele não saberia dizer quando foi que adormeceu, só sabia que foi algo estranho. Uma parte dele jurava que estava dormindo, enquanto outra tinha plena consciência de estar acordado. Primeiro foi a sensação de estar sendo observado.

 

Alguém estava em seu quarto e esse alguém o vigiava. Logo depois percebeu não um, mas dois vultos: Um sentou-se em sua poltrona ao lado da janela, enquanto o outro aproximava-se cada vez mais de sua cama. Tentou desesperadamente mexer-se, mas dois enormes olhos vermelhos fixaram-se nos seus, fazendo-o esquecer o que pretendia fazer, isso até sentir uma dor aguda no pescoço.

 

Acordou gritando.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Passetyme with gude companye é também conhecida como The King's Ballad (The Kynges Balade), é uma canção folclórica inglesa, escrita pelo rei Henrique VIII, nos primeiros anos do século XVI, pouco depois de ser coroado. Atualmente, a música foi rebatizada como Past Time with Good Company e está presente no cd Under a Violet Moon, dos Blackmore’s Night.