Um computador individual para cada um. Os garotos miravam a máquina de última geração com fascínio, bem... Bem todos, Dwalin parecia não ligar muito, enquanto Thorin franzia o cenho para o dispositivo, como se tivesse encarando um novo inimigo.

— O teclado é diferente... – Resmungou, na verdade, mais parecia uma acusação. Bilbo que estava sentado ao seu lado rolou os olhos.

— É um teclado para Gamer, veja que as direcionais estão em destaque além das teclas “W”, “A”, “S” e “D”. Fora isso, não tem muita diferença de um teclado normal! – Explicou.

— Fora a luz azul... – Indicou Thorin, sim, o teclado brilhava uma luz tênue azulada, algo que o Bolseiro achou muito maneiro, mas parecia ser alvo de crítica para o Durin.

— Deixa de ser chato, sim? Estamos jogando com estilo... Aliás, espero que todo esse estilo não te distraia no jogo, afinal, ficaria triste em saber que devido a um teclado que brilha o coitado do “Escudo-de-Carvalho” não conseguiu nem ao menos matar um orc sequer... E eu, “Burglar”, ficaria com todo o crédito, sabe? De vencer os vilões, salvar Terra Média... Enfim, TUDO!

— Minhas habilidades como jogador não serão afetadas por essas novas tranqueiras tecnológicas. – Enfatizou Thorin rangendo os dentes.

— Sério? – Bilbo sorriu de forma provocadora – Será que deveríamos fazer uma pequena aposta? No sentindo de avaliar quem é o verdadeiro herói...Contabilizando quantos caras malvados são eliminados. O que acha?

O Durin mais velho devolveu o sorriso.

— Espero que saiba em que está se metendo, meu querido hobbit.

— Se estás com medo.

— Medo? – Thorin riu – Nada disso! Aliás, devemos incrementar mais essa aposta... Quem sabem adicionando um prémio?

—Ora... – Bilbo franziu o cenho – Pensei que o prémio já ficado bastando obvio: ser o herói!

—Estava pensando em algo tipo: quem ganhar tem direito de ser “mestre” do perdedor por uma semana.

— M-mestre? Que tipo de mestre? Tipo mestre Pokemon? – Franziu o cenho novamente  – Não sou seu Pikachu para me comandar e manter em sua pokebola, meu caro! Você, por outro lado, daria um excelente mordomo! Preciso mesmo de alguém que me sirva e arrume minha bagunça... E ainda mais deve ficar dizendo: yes, my lord, assim como Sebastian Michaelis*.

— Serei seu empregado doméstico? É isso? E quem diabo é Sebastian? – Thorin parecia decepcionado com a constatação do fato.

— E o que você esperava? – Inqueriu Bilbo, desconhecendo o claro ciúme que o seu namorado parecia transparecer ao pronunciar o nome Sebastian, nem sabe ele que seu rival é apenas um personagem de anime/manga... Aliás, existe uma grande lista de personagens de livros, animes, HQ e seriados que fazem parte do reportório de “Queria que fosse meu namorado” do Bolseiro, logo Thorin tem muitos rivais imaginários a qual deve lutar.

— Quem sabe... Um pretexto para estrear aquela caixa de camisinhas.

Essa fala foi o suficiente para deixar o falante Bilbo Bolseiro sem voz, o rapaz abria e fechava a boca, tal peixe fora d´água sem saber como responder a aquela insinuação, tão pouco podia conter o rubor que se alastrou por todo o seu rosto.

— Opa! Gostei dessa sugestão! – Declarou Dwalin animado – Quero participar também!

— Cai fora. Essa foi ideia minha, busque a sua! – Ralhou o Durin.

— O que? Só vocês dois podem competir para o posto de herói? – Questionou o outro, erguendo uma sobrancelha.

— Não é isso! É que para esse tipo de competição, só vale se for dupla. A não ser que você queira ser meu escravo por uma semana, Dwalin. – Thorin deu seu famoso meio sorriso arrogante  –  Não sabia que detinha esses tipos de fetiches em relação a mim, meu amigo.

Dwalin emitiu um gemido de nojo e fez uma tremenda careta.

— Mas podemos competir entre duplas mesmo! – Sugeriu Frerin ansioso – Cada casal com sua própria aposta, competindo!

— Hã? – Drogo o encarou surpreso – Você quer entrar nessa história doida de ser escravo por uma semana?

O Durin mais novo passou a mão em sua cabeleira loira.

— Eu não diria “escravo”, um nome com conotação muito negativo, que tal “servo”? Eu seria seu amo...

— Servo só em seus sonhos! Pois eu que vou ganhar! – Alegou Drogo já tomado com misterioso entusiasmo. Não que estivesse pensando coisas pervertidas...Não! Planejava, caso ganhasse, usufruir muito bem do seu “servo” Frerin.

— Não acredito... Vocês realmente estão levando a sério essa brincadeira? – Agora era a vez de Ori expor sua opinião, cruzando os braços diante do peito e fitando criticamente seus amigos (Bilbo e Drogo) que não deveriam estimular aquele tipo de atividade, tendo em vista o quão seus namorados poderiam ser... Digamos... Afoitos, principalmente Dwalin Fudin.

— Pense em uma forma de nos incentivar ainda mais para a vitória. – Discorreu o dito Fudin – Uma competição saldável sempre deve ser buscada em prol de estimular melhores resultados finais, logo aumentado a eficiência...

— Está falando como um administrador de alguma empresa e não como geólogo! – Apontou Ori erguendo uma sobrancelha.

— O que posso dizer? Tenho muitas habilidades...

— Sei. – Ori rolou os olhos com aquela fala – De qualquer forma acho essa ideia de competição ridícula. Não devemos esquecer o objetivo principal que é salvar Terra Média e consequentemente a empresa Valar, trata-se de uma grande responsabilidade!

Dwalin arqueou as sobrancelhas com aquele argumento, logo depois sorriu.

— Bem, não precisa se sentir inferiorizado, Ori.

O jovem franziu o cenho, confuso, e mirou seu namorado.

— Inferiorizado?

— Sim, tipo... Quando eu ganhar não irei te forçar a vestir uma roupa de empregada ou algo do tipo, esse tipo de fantasia só Thorin tem!

— Ei! – Resmungou o Durin irritado por ser citado. Dwalin o ignorou e continuou:

—Seria uma competição injusta...Sem dúvida, você está certo de não querer participar.

— Quando você ganhar? O que te faz levar a crer que... – Agora Ori assumiu uma expressão enfezada – Você está  presumindo que meu avatar seja inferior que o seu? Acha que não, querido!

— Ori, não precisa me provar nada...O que importa é a missão, salvar a empresa, ser responsável... – Insistiu Fudin.

— Cala a boca! Que se dane a responsabilidade! Vou fazer você engolir suas palavras! Irei ganhar essa competição idiota! – A explosão de Ori, apesar de se tornar cada vez mais recorrente desde que conhecera Dwalin, ainda surpreendia Drogo e Bilbo, o amigo tímido que normalmente evitava brigas e raramente expunha sua opinião estava se transformando em um verdadeiro guerreiro.

— Isso foi meio que psicologia reversa? – Sussurrou Frerin para o seu irmão que assentiu meio impressionado, deveria aprender a como usar essa técnica também...Quem sabe seja útil em algum futuro próximo?

— Ah! A juventude! Sempre tão cheia de energia! – Gandalf se fez presente com a sua fala fazendo que o grupo não só se calasse como assumisse uma postura embaraçada ao ver que o CEO da empresa que os havia recrutado para aquela missão havia assistido toda aquela discussão com certo fascínio.

— Er... Desculpe nossa indiscrição, senhor Gandalf. – Ori sendo o educado do grupo se pronunciou.

— Ora, não se preocupe! Eu me divirto com o jeito de vocês... Me faz recordar e muito minha própria juventude e do meu grupo de RPG. – Ao falar isso soltou um longo suspiro.

— Hum... Amigos, não é? – Bilbo coçou o queixo – Você disse que dois de seus amigos ajudaram a fundar a empresa Valar, não é? Aquele chafariz lá embaixo deve ser a representação de você e eles, não é?

— Sim, Galadriel e Saruman, meus sócios.

— Agora, só queria saber se seus sócios sabem de toda essa história...Sei que você tinha mencionado antes que detinha algumas suspeitas, mas já que estamos aqui prontos para lutar com esse super-vilão-virtual e salvar a sua empresa no processo, acho que seria interessante saber mais sobre isso.

— Bilbo! Já passou por sua cabeça que isso pode ser algo pessoal demais para ficar perguntando? – Sussurrou aflito, Drogo.

— Acho que temos direito de saber!

— Ou você está muito curioso e não consegue se controlar em saber mais... –  Acrescentou Thorin.

— Olha só quem fala?! O sujo falando do mal lavado! Não pense que esqueci de sua mão marota fuçando minha mochila! – Ralhou.

— Não...Acho que Bilbo está correto. – Interrompeu a briga, Gandalf alisando a sua barba cinzenta – Acho que o pedido por mais informações é justo, estou envolvendo vocês em meus assuntos...O mínimo que devo fazer é sanar suas dúvidas. Meus sócios são responsáveis por segmentos diferentes da empresa, Galadriel ficou com a parte de relações públicas, sendo nossa principal representante nas reuniões com os nossos compradores, Saruman coordena o setor publicidade e Marketing, desenvolvimento de estratégias empresarias para aumentar nossos lucros. Quanto a mim? Fiquei com a parte de desenvolvimento dos softwares e também sou incumbido da segurança das informações referente a nossa empresa e clientes. Por que desconfiar de meus sócios? Bem, primeiro devo confessar que não informei a eles que muitos dos nossos segredos estavam guardados dentro de um jogo online, não os contei, pois, a criação da Terra Média-online foi consequência de uma tentativa anterior de invasão do sistema da empresa Valar, essa invasão, eu pude rastrear teve origem dentro desse mesmo prédio, utilizando nossa própria rede interna de computadores. Em outras palavras, fomos traídos, alguém da própria Valar estava espionado nossos dados!

— Nossa... Então você criou o jogo como forma de esconder os dados de uma maneira não-convencional, tentando enganar esse tal espião? Espião esse que pode tanto ser um funcionário qualquer quanto os seus próprios sócios.– Analisou Bilbo.

— Era para ser algo temporário até, pelo menos, investigar mais afinco o real culpado...Mas não obtive nenhum resultado. Depois, as coisas se acalmaram... Vi que era vantajoso manter Terra Média online, meus sócios não desconfiaram. Não, não contei a eles sobre o real propósito do jogo por motivos que você mesmo já deduziu. – Gandalf soltou mais um suspiro – Não quero que pensem que não dou valor ao jogo... Ele pode ter sido criado a princípio para um propósito egoísta de minha parte, mas depois...Comecei a me divertir com o jogo! Revivi o prazer de participar de uma aventura e mesmo de planejar uma! Por isso, os admiro.

— A nós? – Riu nervoso Frerin – Somos apenas adolescentes e jovens adultos com tempo livre sendo gasto com coisas geeks. Você é o CEO de uma das mais poderosas empresas de tecnologia do mundo! Nós que te admiramos!

— Por toda essa fachada de empresário bem-sucedido não pode ocultar o meu verdadeiro eu: um jovem aficionado por fantasia! Anos enfurnado criando programas para outras empresas e...Acabei de esquecer o que me impulsionou a seguir essa carreira. Terra Média -online pode ser importante para vocês, mas é ainda mais para mim. Trata-se de uma das minhas criações mais valiosas do ponto de vista sentimental...

Bilbo assentiu, como tivesse avaliado de forma positiva a explicação do mago cinzento.

— Me sinto mais motivado em lutar por algo que seja além da preservação da sua empresa. Nada contra, digo, sei o quão Valar é importante para o mundo, contudo boas recordações e sentimentos são ainda mais importantes, pois são o tipo de coisa que o dinheiro não pode comprar e que vale a pena batalhar. – Argumentou o Bolseiro.

Gandalf apenas sorriu, o que o grupo interpretou como aceitando o que Bilbo tinha acabado de falar.

— Bem...Acho que o momento enrolação terminou, não é? Vamos jogar ou não? – Dwalin falou ignorando a cotovelada que recebera do seu irritado namorado.

Gandalf apenas riu e se dirigiu para uma mesa central que também dispunha de um computador, contudo esse havia vários dispositivos plugados e fios conectados.

— De fato, não devemos perder tempo... – Concordou o ancião se sentando soltando um resmungo referendo as suas pernas cansadas e costas, contudo, mal sentara e seus dedos rapidamente começaram se mover sobre o teclado, como estivessem possuídas.

— V-você também irá jogar conosco? Tipo, seria legal ter um mago poderoso ao nosso lado. – Quis saber, Drogo.

—Oh! Não! Jogar diretamente eu não vou...Mas não se preocupem, irei ajudar do meu modo. Enquanto vocês batalham contra o Hacker, irei tentar rastreá-lo no sistema a sua real localização. Tenho uma equipe de segurança já preparada para interceptar, ao meu comando, ameaças a empresa.

— Sabe, existe algo chamado polícia... – Sugeriu Bilbo – Aqueles carinhas chatos que são agentes da justiça? Talvez eles possam ajudar. Não sei se você os conhece, mas o telefone deles constitui apenas de três dígitos!

O mago deu um meio sorriso, seus dedos ainda dançado sobre as teclas.

— Eles serão chamados em seu devido tempo. Não queremos causar um escândalo na empresa Valar, não antes de podermos entregar os culpados.

—Perderão clientes se souberem que Valar não consegue preservar suas informações, não é mesmo? – Conclui Thorin – Ainda mais se a principal suspeito é de alguém interno tentando roubar esses dados...

— Bem... – Gandalf deu os ombros – Isso também!

— Enrolação de novo! – Resmungou Dwalin – Quero jogar!

— Céus! Não esqueça da missão, por favor! – Lembrou Ori.

— E da aposta! – Também fez questão de lembrar Frerin.

— Pessoal... – Bilbo balbuciou apontando para a tela do seu computador, ali exibia em letras douradas e reluzentes o nome “Terra Média -online”.

— Que a batalha comece... – Sussurrou Thorin vendo o círculo dourado (muito parecido com um anel sendo formado nas chamas) rodar na tela indicando o carregamento.  

20%

50%

90%

e...

Seja bem-vindo ao jogo.