As duas torres eram sem dúvida majestosas, erguendo-se no meio da cidade, uma estrutura feita de aço e vidro, toda de coloração negra, lhe conferido um aspecto dubio, superior e aterrador. O cume das torres havia uma manobra arquitetônica, um espaço aberto onde nas extremidades erguiam aparatos de metal que se curvavam meio para o centro, sendo nesse centro onde se exibia um holograma com o símbolo da empresa Valar, um grande olho de íris azul cuja a pupila era modificada em um dourado “V”. Sem dúvida... Uma verdadeira obra prima da arquitetura e tecnologia. Contudo, por um instante, Bilbo tivera certeza que o formoso “olho” assumira um outro aspecto, um olho em chamas com a pupila cortada, como de algum ser reptiliano maligno... Piscou os próprios olhos e voltou a mirar o topo, não...O olho azul e pacifico ainda estava ali. Devia estar imaginando coisas.

Thorin estacionou o seu veículo no estacionamento privado da empresa Valar, lógico que o guarda desconfiou da presença de jovens ali e quase barrou a entrada dos mesmo, mas depois que esses apresentaram o cartão de visitas do CEO (Chief Executive Officer) Gandalf, foram prontamente recebidos e até foram direcionados para estacionamento privativo, aonde logo encontraram Dwalin e Ori, que ali estavam esperando.

— Vocês demoraram! – reclamou Dwalin ao vê-los saindo do carro.

— Nossa! Bom dia para você também! – saudou Bilbo – Como estou? Vou bem, obrigado! E minha família vai bem também! Obrigado por não perguntar! Sua glândula da educação está quebrada ou algo do tipo?

O rapaz apenas deu uma risada ignorando o Bolseiro que bufou irritado.

— Não ligue. – acudiu Ori – Esse jeito bruto é só fachada.

— Oh? Sério? – sorriu Bilbo se divertido ainda mais com o rubor que tomou as bochechas de Dwalin com aquela pequena revelação.

— Ei! Ori! – reclamou puxando o namorado para si – Não comprometa minha... Personalidade forte!

— Sua verdadeira personalidade é pervertida...Pelo o que sei. – provocou o rapaz.

— Você está pedindo para ser punido, não é mesmo? – Dwalin deu um meio sorriso.

“Ohh... Realmente Ori estava mudando...” pensou Bilbo admirado com o que via, ainda mais o que ouvia, Dwalin agora cochichava algo no ouvido do menor e desta vez era Ori quem ruborizava.

Opa... Awkward. Perfeito, agora Bilbo se sentia um intruso naquele momento íntimo e não sabia como escapulir “educadamente” (ou melhor, sorrateiramente), mas Thorin logo veio salva-lo, dando um cutucão no braço e apontando para a larga porta de vidro onde se encontrava o outro Durin do grupo.

— Vamos entrar? Digo, já estamos aqui...Então! Que tal entrarmos logo! – Frerin estava já na porta, o rapaz parecia tentar conter, inutilmente, a vontade de dar pequenos saltinhos para liberar sua evidente ansiedade. Thorin rolou os olhos com aquela reação de seu irmão mais novo. Bilbo internamente também estava dando saltinho, afinal, aquela era uma importante empresa...E eles estavam ali para salva-la! Parece o roteiro ideal para algum tipo de filme de ação e eram eles os mocinhos! Como não ficar ansioso para isso?

O grupo seguiu pela a porta platinada para um corredor com o teto e o chão feitos de espelhos azulados, dando uma estranha sensação de vertigem. Ao chegar em mais uma porta ao fim do corredor, por fim adentraram em um salão mais amplo com uma estupenda fonte no centro, soltando água das figuras de mármore que representavam três deidades? Ou podiam ser guerreiros... Dois deles seguravam um cajado, no centro havia uma mulher élfica que postava suas mãos sobre o coração. Era belo e muito rpg! Sim, podiam ser a representação dos personagens do role-play-game do passado universitário de Gandalf.

— Esperem... – um guarda os parou antes que descessem mais um passo em direção a fonte – Vocês têm que ser revistados. – nisso indicou uma máquina de raio-x acompanhado pelo detector de metais, no canto da sala.

— Somos convidados do CEO Gandalf... – começou a rezingar Bilbo, mas o guarda apenas levantou a mão o fazendo calar.

— Mesmo que você fosse a rainha da Inglaterra, teria que passar pela a revista.

— Nem as a anáguas da dona Elizabeth estão salvas das mãos dos seguranças intrometidos?!

— Ora, vamos... Não acho nada de errado, digo... Galdalf tinha dito sobre os riscos constantes de roubo de informação que a empresa Valar sofria, lógico que eles serão paranoicos e terão protocolos de segurança que devemos seguir. – comentou Drogo baixinho para o primo, temendo que esse começasse fazer um escândalo ali.

Bilbo cerrou o punho na alça de sua mochila...Sim, estava com um pacote cheio de camisinhas, mas isso não era uma arma, tão pouco uma bomba. Iria passar tranquilo pelo raio-x, não é?

— Está tudo bem? – inqueriu Thorin, seus olhos exibiam uma preocupação mesclada com clara curiosidade.

— Está tudo ótimo! Maravilhoso! Sensacional! Perfeito! Supimpa!  – disse, o outro Durin apenas levantou as sobrancelhas, mas nada disse.

O grupo se dirigiu para o posto de segurança, Bilbo fez questão de ficar por último. Quando chegou a sua vez, tentou parecer relaxado quando colocava sua mochila em formato de Game-boy sob uma bandeja branca, junto com o seu celular. Prendeu a respiração quando a viu adentrar no túnel escuro da máquina de raio-x. Passou pelo detector de metais ainda prendendo a respiração até que viu ressurgir a sua amada bolsa... Soltou um longo suspiro e foi reavê-la, mas não fora rápido o suficiente, pois Thorin a pegou antes.

— O que pensa que está fazendo? – questionou cerrando os dentes.

— Estou sendo um namorado afetuoso e segurando suas coisas.

— Sério? – até parece que Bilbo acreditaria naquele falso galanteio – Pois eu sou capaz de carregar minhas própr...AH! E agora o que está fazendo?!

— Guardando o seu celular. – Thorin abria o zíper da bolsa, aquilo foi o gatilho necessário para fazer o Bolseiro se lançar de encontro ao outro, tentando impedir o processo.

— Privacidade! Você sabe o que é isso?

— O que tentas esconder? Você está estranho desde que te peguei na sua casa!

— E daí? Isso não te dá o direito de enfiar seus dedos enxeridos na minha mochila!

— Eu só estava guardando o seu celular!

— Achas que me engana, Thorin Durin? Eu não nasci ontem!

Os dois continuavam brigando, a mochila sendo erguida para o alto, para longe das mãos de Bilbo.  O zíper se abrindo ainda mais...

— Você devia saber que colocar algo acima do meu alcance não seria algo prudente! Esqueceu do golpe que dei as suas preciosas joias reais? Baixinhos são perigosos! – ameaçou.

— Melhor não machucar a mercadoria, afinal você também será prejudicado com qualquer dano sofrido! – resmungou Thorin, levando a outra mão livre para proteger as suas partes, sim, não tinha esquecido o evento que ocorrera no passado... Bilbo podia ser violento quando provocado. Nunca deves subestimar seu oponente por sua baixa estatura ou mesmo por ser fofo quando estava irritado.

Contudo, antes que a briga se perpetuasse para algo mais “físico”, o zíper por fim tinha aberto em sua totalidade e...

PAF!

Esse foi o som da caixa caindo no chão.

Uma caixa com o slogan grande e de letras neon dizendo “SSS –Sexo Seguro Sempre”.

Havia uma mascote desenhado, era uma camisinha gigante com perninhas e bracinhos, ele tinha um rosto paradoxalmente inocente, piscava e fazia a expressão “joinha” com uma das mãos.

Um silêncio decaiu sobre o grupo que pelo visto, pareciam nunca ter visto um pacote de camizinhas antes.

Dwalin nem se esforçou para conter a gargalhada que emitiu em seguida, Frerin pelo menos teve a consideração de mordeu o lábio inferior, abafando parcialmente a risada. Ori e Drogo foram os únicos que se mantiveram calados, na verdade a dupla parecia mais embaraçada com todo aquele alvoroço do que encontrar a raiz cômica da situação...Afinal, agora o grupo tinha se tornando a atração principal na recepção das empresas Valar, até as câmeras de segurança focavam neles!

— Oh! – Thorin fora deveras eloquente ao observar a caixa.

— O que? É totalmente normal u-um jovem saudável e no seu ápice reprodutivo t-ter uma caixa de camisinhas em sua mochila! Ok? Parem de agir como fosse o fim do mundo! Céus! Que sociedade retrograda!  – reclamou Bilbo indo recolher a caixa, mas seu namorado, novamente, se antecedeu.

— Devolve. – pediu, não, na verdade exigiu.

— Era isso que estava escondendo? – sussurrou Thorin ignorando a gargalhada de Dwalin que pareciam ecoar pelo salão e segurando a caixa como fosse algo extremamente delicado – Não entendo... Por que surtou desse jeito?

Bilbo mordeu o lábio inferior, sem saber o que responder, pelo menos o Durin não estava rindo nem ao menos transparecia que estava o provocando.

— Eu não queria que pensasse coisas...

— Coisas? – franziu o cenho sem compreender.

— Sim! Coisas...Coisas! – fez gestos mirabolantes e confusos com a mão, tentando inutilmente demonstrar o que queria dizer – Você sabe! Coisas... Sexuais... – Acrescentou em um murmuro tímido.

— Você não queria que eu pensasse coisas sexuais? – agora havia um sorriso nos lábios do rapaz o que só gerou, como consequência, um maior embaraço por parte do jovem geek— Isso é meio impossível...Afinal, nem preciso desse estimulo... – indicou a caixa –Para imaginar fazendo coisas com você, Bilbo Bolseiro.

— Oh... – agora era a vez de Bilbo perder a sua eloquência.

— Vou te contar um segredo... Queres ouvir?

Bilbo apenas assentiu, a capacidade da fala ainda estava inibida.

Thorin se aproximou, seus lábios rente a orelha do seu ainda envergonhado namorado.

 – Eu também tenho camisinhas aqui comigo... Na carteira. Não que eu esteja planejado, bem...Você sabe o que... Mas, melhor prevenir do que remediar.

Bilbo teve que rir daquela confissão.

— O que? – questionou o Durin.

— Meu pai falou algo semelhante, não sobre a camisinha na carteira, obvio! Mas sobre o prevenir e remediar, foi ele que me deu a caixa, alias... A questão é que... Eu não quero que pense que quero avançar assim tão rápido na relação...Digo, não que não pense nessas coisas, eu gosto muito de você...Tipo MUITO, só que... Eu não tenho experiência, não quero que se decepcione comigo e depois se arrependa de namorar um nerd. – abaixou o rosto, não deviam estar tendo aquele tipo de conversa ali, ainda mais como música de fundo a risada incontrolável de Dwalin.

— Uma coisa você não precisa se preocupar. – delicadamente Thorin acariciou o queixo de Bilbo o levantando, agora os dois se encaravam – Eu nunca vou em arrepender de namorar alguém que me deu mais de 4 horas de aula sobre o universo Marvel e DC e suas respectivas diferenças...

— Foi um curso intensivo. – resmungou, mas um sorriso brinca em seus lábios – olha que que nem cheguei a falar da vertigo e tão pouco discorri sobre o Sandman ...

— Viu? Como eu iria perder um professor tão dedicado? – os dedos do Durin agora afagavam suavemente os lábios de Bilbo.

— Isso você tem razão... – em um impulso, ficou de pontas dos pés e puxou Thorin pela a gola da camisa. Lábios se encontraram como se atraídos eletromagneticamente, polos opostos de um imã. O beijo começou superficial para evoluir para algo mais quente, incluindo trocas de mordidas (amorosas, claro) nos lábios, mãos apalpando nádegas e...

— Ok! Agora não está mais engraçado! – disse Dwalin enfático, pelo menos já tinha parado de rir.

— Pessoal... Será que poderiam...Er...Se conter um pouco? – pediu Drogo colocando o capuz de seu casaco, como para ocultar o seu rosto, afinal, quem sabe alguém não esteja filmando para colocar aquele “glorioso” evento no youtube? Não era desse jeito que queria ficar famoso.

— Eles querem já colocar em uso as camisinhas? – Fudin continuou a falar agora provocando. Isso foi o suficiente para Bilbo e Thorin se separarem (com muita relutância) e fitarem o amigo com misto de raiva e vergonha.

— Vocês gostam mesmo de chamar a atenção, não é mesmo?– Gandalf disse, para a surpresa de todos, o velho “mago” estava ali perto, observando tudo com um sorriso no rosto e segurando a caixa de camisinhas (no meio da sessão calorosa de beijos, Thorin tinha deixado cair novamente o pacote traiçoeiro) – Ah! Jovens... E suas aventuras amorosas. – soltou um suspiro nostálgico.

— Senhor... Esses garotos são mesmo seus convidados? – questionou um dos guardas, era evidente que depois daquele show pensava que o grupo devia ter falsificado as credencias...Só podia!

— Oh! São sim! Meus pequenos pupilos! – disse animado o CEO – Teremos uma reunião de “negócios” e... Eles já estão liberados de inspeção?

— S-sim, senhor.

— Pois muito bem, venham comigo!

Pelo visto Gandalf não tinha ficado chateado, na verdade, vez ou outra, soltava uma risadinha, tinha se divertido as custas do ainda embaraçado jovem grupo. Seguiram para um elevador, logo após o estonteante chafariz. O CEO passou um cartão negro em um dispositivo de leitura ao lado das portas e essas se abriram.

— Bem-vindo as duas torres, Senhor Gandalf, o cinzento. – anunciou a voz feminina eletrônica.

— O cinzento? – inqueriu Frerin.

— É assim como sou conhecido, meu caro. – piscou o ancião.

— Mesmo nome usado pelo seu avatar no jogo? Você parece não ter muita criatividade mesmo na escolha de nomes e em ser discreto, não é?

—Bilbo! – Drogo cotovelou o primo e se voltou para o CEO temoroso – Ele não quis dizer isso...

Gandalf apenas riu.

— Meu caro, me recordo que me criticastes sob o mesmo assunto em nosso último encontro. – evidenciou enquanto indicava que o grupo devia adentrar no elevador privado.

— Não tem nada de errado em repetir o obvio. – resmungou Bilbo fazendo biquinho.

— Será que pode parar de agir desse modo? Parece mais Tûk que Bolseiro! – ralhou Drogo em voz baixa – Francamente!

— Eu só estou falando... – se defendeu inutilmente.

— Não se preocupem! Não estou me ofendendo! – Gandalf ainda ria, pelo visto, o poderoso CEO estava tendo o dia mais feliz de sua vida. Vai entender a excentricidade de algumas pessoas...

O elevador se fechou e ascendeu rumo ao desconhecido...

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O escritório privado de Gandalf era grande, em disposição hexagonal, com as paredes ora exibindo quadros de pinturas de águias (o velho mago parecia gostar muito desse tipo de ave), ora com estantes abarrotadas de livros. No centro estava uma mesa de mármore, com um confortável poltrona de couro.

— É aqui que você trabalha? – quis saber Frerin olhando em volta, mas... Para uma empresa de tecnologia, estava faltando justamente os dispositivos eletrônicos... Nem um computador estava a vista.

— Bem, aqui é só aonde recebo visitas ou faço entrevistas... – Gandalf se dirigiu a uma das estantes e puxou um livro cuja capa com letras douradas dizia “Os Filhos de Húrin” e com isso uma parede ao lado se abriu. Uma porta secreta!

— Estou me sentindo dentro daqueles filmes de investigação... – cochichou Ori emocionando.

Agora com a nova sala aberta, os rapazes puderem vislumbrar o verdadeiro local de trabalho do “mago”. Havia várias mesas com diversos computadores e laptops, todos ligados e rodando programas em suas telas. Havia telas de plasma penduradas nas paredes que exibiam notícias relacionadas a Valar dos jornais locais e internacionais, outras telas mostravam como um painel do “gerenciador de tarefas” de um computador, expondo cada programa que estava sendo rodado no momento, bem como seu status e consumo da CPU, havia também uma tela que mostrava o logo da Terra Média- online, mas um sinal de alerta brilhava em vermelho repetindo a mensagem “sistema off-line”.

— É aqui que a magia ocorre... – anunciou com um certo sentimento caloroso em sua voz – E será aqui que a batalha final contra Sauron e seus comparsas irá ocorrer... Onde o destino de Valar e Terra Média será decidido.