Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 5
Capítulo 5 - Senhorita Nicole Dashwood




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Apesar da insistência de Victor de que pensasse melhor no que estava fazendo, Dorian não estava nem remotamente inclinado a deixar de lado a decisão de tornar a jovem Nicole Dashwood sua futura esposa e ficou ainda mais certo disso quando se viu dentro das terras da família. A propriedade dos Dashwood, embora não tão próxima de Londres quanto Dorian tinha imaginado, era de fato muito bonita. Tratava-se de uma elegante mansão branca circundada por enormes jardins com todo o tipo de flores que era possível imaginar. Lembrou-se do que seu padrinho lhe dissera sobre a família ter trabalhado com flores antes da riqueza e imediatamente deduziu que ficar rodeado de plantas era um habito que os Dashwood não conseguiram abandonar. Ficou pensando se sua futura esposa teria algum habito estranho de camponesa que ele não conseguira ver no primeiro momento. “Provavelmente sim” pensou ele distraidamente “mas será fácil educá-la a meu gosto”.

Após ouvir o que o jovem conde tinha a dizer a respeito de suas intenções para com a sua filha, Mr. Dashwood parecia estar num misto de alegria e preocupação e ao contrario do que Dorian tinha esperado, tudo o que o bom homem disse foi:

—Não posso deixar de me sentir honrado por Nicole ser alvo de tamanha afeição, principalmente vinda de um homem como o senhor. Rezo para que tenha sorte e que ela sinta pelo senhor o mesmo que demonstra sentir por ela. Neste momento acredito que minha filha esteja na sala de música. Pedirei que um empregado o acompanhe até lá.

Quando Dorian saiu em direção a sala de música não pode deixar de se sentir levemente indignado. Se tudo o que tinha que fazer era seduzir aquela pobre coitada e fazê-la desejar se casar com ele, já o teria feito sem precisar de todo aquele teatro. E além de tudo, “Boa sorte” não era algo que ele precisava quando se tratava de mulheres, pois além de sua lábia e de sua elevada posição, ele poderia ser facilmente considerado um tipo muito atraente, com cabelos e olhos escuros, porte elegante, trajes finos e gestos naturalmente educados. Era o tipo de aparência com a qual se poderia conseguir o que quisesse, e ele sabia disso.

No entanto, ao entrar na sala, Dorian esqueceu todos os pensamentos a respeito de si mesmo. O lugar, muito iluminado por janelas que iam do chão até quase a altura do teto, estava enfeitado por vários tipos de flores dispostas em vasos elegantes, causando uma pequena confusão de cores e aromas. E no final de tudo isso, havia uma jovem sentada ao piano, cabelos negros displicentemente caídos em cachos ao longo das costas, tão distraída com a música que tocava que sequer ouviu o lorde entrar.

— Uma melodia muito bonita— exclamou Dorian assim que ela terminou. A garota, que até então estivera de costas para ele, se virou surpresa e levantou-se tão bruscamente que quase batera no piano.

—Perdoe-me, não notei que o senhor estava aqui— desculpou-se a moça e depois fez-lhe uma reverencia educada— é um prazer revê-lo, Milorde.

Dorian sorriu com satisfação por confirmar que sua aparência era tão memorável quanto ele imaginava.

—É bom saber que a senhorita ainda lembra-se de mim.

Como ela nada respondeu ele resolveu prosseguir.

—A senhorita toca muito bem.

—Muito obrigada, senhor. Espero que minha música não o tenha cansado.

—De modo algum. Na verdade, eu poderia ouvi-la tocar o dia inteiro— respondeu o jovem conde com um sorriso galante que ele já usara tantas outras vezes.

— Acredito que o senhor esteja aqui para ver meu pai— Nicole desviou rapidamente de assunto— Pedirei que o mordomo para acompanhar-lhe até ele...

— Na verdade eu estive com ele até poucos minutos atrás— cortou Dorian delicadamente— para lhe ser sincero, era a senhorita que eu desejava ver.

Os olhos mortalmente azuis da moça se abriram em uma expressão quase infantil e Dorian se deleitou ainda mais.

— Nunca tinha ouvido essa música antes— comentou Dorian, dando uma olhada em volta sentindo-se muito relaxado e bem consigo mesmo.

—É uma composição própria, Milorde.

—Então além de tudo ainda é talentosa?— questionou-a sorrindo, retirando uma bonita rosa branca de um dos vasos, o que estranhamente o fizera lembrar-se de Victor.

—A senhorita desenha?

—Não, senhor.

—Certamente porque não teve oportunidade ainda de aprender. Se for tão talentosa para o desenho quanto é para musica será uma artista maravilhosa.

— Fico muito agradecida pelo comentário, Milorde.

—A senhorita gosta de ler? — perguntou Dorian acariciando as pétalas da rosa com a ponta dos dedos.

—Sim, senhor, mas com todo respeito lorde Dorian, em que exatamente eu posso ajuda-lo?

—Perdão?— Dorian a olhou inocente e ela devolveu seu olhar com um sorriso típico das mães que apanham suas crianças mentindo.

—Perdoe-me a ousadia, mas não acredito que o senhor tenha feito uma viagem tão longa apenas para perguntar-me sobre minhas predileções — respondeu ela, encarando-o séria.

—Uma observação muito sagaz— ele retrucou um pouco a contragosto e então caminhou na direção dela até que ficassem próximos o suficiente para que ele pudesse entregar-lhe na mão a rosa que tinha acabado de pegar— não pude deixar de notar que a senhorita gosta muito de flores...

— Ouso dizer que poucas pessoas em toda a Inglaterra tem mais gosto por flores do que eu— respondeu ela com firmeza o que fez Dorian sorrir.

—Uma resposta muito firme para alguém tão jovem...

—O senhor aprecia flores, milorde? — perguntou Nicole sem mover um músculo de onde estava, como se sequer notasse a proximidade excessiva entre eles. Os dois se encararam por alguns segundos e Dorian não pôde deixar de notar que aqueles olhos azuis que haviam se desviado tantas vezes no jantar agora sustentavam os dele de igual para igual com uma diferença provocada apenas pela disparidade de altura entre eles.

— Eu costumava gostar até o jantar em que eu a encontrei, senhorita Dashwood— respondeu Dorian aproximando-se ainda mais dela— infelizmente, desde aquela ocasião passei a acreditar que jardim nenhum terá encanto para mim, pois comparado a senhorita até a mais bela das flores me parecerá feia...

Houve então um silêncio esmagador. A principio Dorian achou que ela fosse beijá-lo, depois que fosse chorar, ou quem sabe até desfalecer. Mas para sua surpresa nada daquilo aconteceu. Ela apenas permaneceu imóvel, encarando-o perplexa com os lábios rosados entreabertos.

— Talvez minhas intenções não estejam muito claras, senhorita, mas vim aqui para lhe declarar minha mais inteira afeição— continuou ele, segurando a mão pequena dela entre as suas— Imagino que a violência de meus sentimentos a assustem...

—A única coisa que me assusta, senhor, é vossa habilidade de mentir— cortou Nicole subitamente, fazendo Dorian soltar-lhe a mão surpreso.

— Como disse?

Ela sorriu com desdém e só então se afastou dele, dando a volta em seu piano lentamente.

— Se há algo de que me orgulho, Milorde, é de que sou muito menos tola do que aparento e embora não tenha se dado ao trabalho de saber quem eu sou, eu tratei de saber a vosso respeito. Não me entenda mal, mas eu tomo conhecimento de todos com quem meu pai faz negócios, pois a bondade dele o impede de ver a negatividade nos outros, e o que eu descobri no tocante ao senhor não é muito animador. Pelo que sei o senhor é um grande “conhecedor da alma feminina”, um “bom vivant”— Nicole falou com firmeza e altivez— Se estivesse procurando uma esposa, o que creio que não está, certamente procuraria alguém de posição mais elevada que a minha. Sei muito bem, milorde, o que acontece com moças como eu que se deixam ludibriar por homens como o senhor.

Dorian ainda olhava para ela completamente surpreso. “Mas pra onde diabos havia fugido aquela criatura recatada e submissa de minutos atrás?” pensou ele, sentindo-se até um pouco tonto com aquela guinada de personalidade tão repentina. Mas aprumou-se logo. Ainda não havia nascido mulher que o deixasse sem palavras.

—A senhorita é muito atrevida para alguém de tão baixa posição— sibilou ele e Nicole inicialmente pareceu ofendida e surpresa, mas depois de alguns segundos suas feições delicadas pareceram se acalmar, mas mesmo assim seus olhos ainda brilhavam furiosos. Tudo nela parecia relaxado, mas o olhar a traía e se Dorian fosse se guiar por ele, poderia facilmente dizer que estava prestes a ser esfaqueado.

— Vejo que o vossa afeição não durou muito mais que nossa primeira conversação— ironizou ela com o piano separando-os.

— Se julga incapaz de causar afeição, senhorita?— perguntou Dorian começando a se sentir aborrecido também. Quem ela estava pensando que era?

— Me julgo incapaz de causar a sua quando só lhe dirigir duas ou três palavras. Não acredito em afeto causado apenas pela aparência — respondeu ela mordaz.

—Nesse ponto tenho que concordar. A senhorita é a prova de como as aparências são enganosas...

— certamente— respondeu ela, sem parecer ofendida. E foi então que ela sorriu. Sorriu como se estivesse achando algo engraçado e Dorian ficou furioso.

O conde abriu a boca ainda mais uma vez a fim de lhe dizer mais uma coisa ou duas, mas mudando de ideia e resolvido de que aquela burguesinha não merecia o aborrecimento apenas disse:

—Perdoe-me, senhorita por ter tomado tanto do seu tempo.

E virando-se sem esperar resposta, partiu daquela casa muito disposto a não voltar nunca mais.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Tentei cumprir o prometido de fazer mais descrições e deixar o capítulo um pouco mais longo.
Espero que tenham gostado!



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