Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 24
Capítulo 24 - A verdade oculta




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Dorian não cumpriu muito bem a própria imposição de não saber nada sobre a esposa. É verdade que nunca mais esteve na presença dela ou na de Mary, mas trapaceava buscando informações através do mordomo todos os dias. Foi assim que ficou sabendo que Mary começou a fazer as malas da condessa no mesmo dia em que ele dera a ordem, espalhando entre os empregados que a patroa iria fazer uma viagem assim que estivesse um pouco melhor a fim de se recuperar por completo.

“Impressionante!” Dorian pensou um pouco ofendido com a lealdade que a camareira dedicava a Nicole, mesmo que esta não merecesse.

Rápido demais o dia que vinha esperando finalmente chegou e mais uma vez o conde só ficou sabendo através do mordomo. Era mesmo uma garota demoníaca aquela. Melhorou justamente no dia em que estaria fugindo com o amante. Nem uma tentativa de assassinato a impediu de concluir seus planos e ao que parecia até o destino estava conspirando a favor daquela desgraçada.

Então era assim que terminaria aquela confusão. Ele estava livre, ela estava livre... Mas por que não conseguia se sentir bem?

De repente, ouviu-se um tumulto do lado de fora. Uma confusão de vozes femininas e então a porta foi aberta sem qualquer pudor ou convite para entrar.

― Está me rechaçando? ― Nicole perguntou furiosa fechando a porta atrás de si deixando Mary em pânico do lado de fora.

Para alguém que quase morreu por envenenamento, a moça parecia em boa forma apesar da palidez. O sangue camponês da diaba era mesmo muito forte exatamente como Mary havia dito. Se fosse outra mulher tida como de boa linhagem provavelmente ainda estaria desmaiando pelos cantos e sofrendo dos nervos, mas é claro que Nicole tinha que estar muito firme sobre as pernas e vê-la finalmente bem era uma das sensações mais conflitantes que o conde já sentira na vida. Um lado de seu coração quase cantou de felicidade, ao passo que o outro bufou decepcionado por ainda encontra-la viva.

― Ninguém te ensinou a bater antes de entrar? ― ele questionou muito polido, tentando reprimir a própria euforia.

― Está me mandando embora? ― ela perguntou ignorando a pergunta dele.

Dorian a encarou por um tempo. Definitivamente não estava preparado para ter aquela conversa.

― O que lhe parece? Mary não foi clara o suficiente?

Nicole estreitou os olhos numa expressão quase assassina. Era impressionante que mesmo com as feições ainda abatidas e os lábios um pouco arroxeados ela pudesse parecer bonita e exótica.

― Mary foi suficientemente clara. Mas eu queria ver você sendo homem e dizendo isso diretamente para mim.

― Muito bem― ele respondeu se levantando diante daquela provocação ― quero que faça suas malas e desapareça da minha frente. Suma daqui! Vá para sua casa, corra para o seu amante, pule de uma ponte, faça o que quiser. Não me interessa!

― Amante! ― ela repetiu exaltada com o tom cheio de deboche como se aquilo fosse o maior dos absurdos.

― Sim, seu maldito amante! E li suas cartas! Sei de tudo!

― Estou vendo que sabe ― ela respondeu com ironia ― Sabe tanto que não consegue enxergar que nunca houve amante nenhum!

― Isso é bem verdade! Não há amante porque você nunca foi minha esposa de verdade, não é? Eu que me coloquei entre vocês e tudo que tivemos sempre foi um acordo! Uma mentira deslavada, mas agora eu não preciso mais de você. Minhas dívidas foram sanadas e você pode ir atrás do seu namoradinho e fugir com ele como queriam ― Dorian praticamente cuspiu as palavras e lhe deu as costas. Por ele aquela discussão estava encerrada.

― Como eu pude ser tão burra ao ponto de me apaixonar por você? ― Ela perguntou num tom muito mais calmo agora, mas infinitamente mais ressentido e aquelas palavras atravessaram Dorian como uma lança, trazendo de volta o dia da briga que tiveram no escritório. Era isso que ela quase disse para ele? Que estava apaixonada? Que o estava escolhendo?

“Que fosse para o inferno! Pouco importam essas mentiras!”

― Foi Victor quem mandou você dizer isso para mim? ― Dorian perguntou sem se virar para olhá-la, pendendo o pescoço para trás como se estivesse muito cansado ― muito trágico. Realmente combina com ele. O triangulo amoroso perfeito... Me conte uma coisa, Nicole. Você dormia com ele antes de se casar comigo? Foi por isso que colocou aquela cláusula no nosso “acordo”? Para que eu não descobrisse o seu segredinho?

― Você é um idiota― ela brandiu para ele e então num último ato de rebeldia, arrancou a aliança do dedo atirando-a em cheio na nuca dele, finalmente fazendo-o virar surpreso para encará-la. Com isso, ela apenas sorriu de má vontade e fez uma reverencia lenta antes de se retirar tão ruidosamente quanto havia entrado.

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Só foram necessárias quatro horas mais para que Nicole partisse. Ainda chegou a ver quando a carruagem cruzou os muros da propriedade e foi aí finalmente se deixou desmoronar. Não havia qualquer possiblidade de encarar aquilo sóbrio.

Procurou a garrafa de conhaque que havia guardado lá para emergências, enchendo o copo até a borda para em seguida beber tudo de uma única vez, sentindo o líquido descer queimando pela garganta até fazê-lo arquejar. Olhando o fundo do copo vazio ponderou por alguns instantes que talvez agora que estava no fundo do poço não tinha como as coisas ficarem muito piores. Ele só precisava decidir qual seria o próximo passo e esperar para ver o que a sociedade Londrina falaria daquele rompimento. Encheu o copo de novo.

― Então é aqui que você está se escondendo― uma voz feminina muito conhecida fez Dorian girar sobre os calcanhares e o que ele viu quase o fez cuspir a bebida.

― Mas o que diabos a senhora está fazendo aqui?

― É assim que você recebe a sua mãe? ― Lady Margarete perguntou muito rígida de seu posto na porta. A condessa viúva estava em toda a sua imponência, num traje de viagem elegante e negro, encarando o filho com seus olhos de águia.

― Desculpe-me mãe. Como vai a senhora?

― Bem, obrigada ― Ela respondeu entrando no escritório e removendo as luvas, muito a vontade.

― Carson não apresentou a sua entrada porque...?

― Porque eu pedi. Não sei se lembra mas eu fui senhora dessa casa muito antes de você colocar os pés aqui. Na minha presença, Carson e os outros obedecem a mim.

Dorian lutou para não se encolher diante daquela afirmação. A mulher de fato emanava um poder que ele não era capaz de rebater.

― Estive conversando agora há pouco com sua esposa. Consegui encontra-la pouco antes de ela partir. Quer dizer então que a mandou embora...

― A senhora veio me parabenizar? Sei que nunca aprovou o meu casamento.

― Mudei de ideia.

Dorian ficou olhando para ela incrédulo, mas fazendo pouco caso da expressão do filho apenas puxou uma cadeira para se sentar.

― O que exatamente a senhora veio fazer aqui?

―Os seus amigos, Lorde Howell e Lorde Everglot foram até minha casa e praticamente me enlouqueceram para que eu viesse até aqui o mais rápido possível. Eu teria vindo antes, mas me aconteceram coisas... enfim, eu não fazia ideia que você iria colocar sua esposa para fora.

Dorian abriu a boca para falar, mas com um movimento de mão Lady Margarete o silenciou.

―Está bêbado?

― Ainda não.

― Ótimo. Já tinha ouvido falar em Ms. Faith Arandt?

Agora o conde apenas balançou a cabeça negativamente.

― Eu também não, mas ao contrario de você não sou casada com a melhor amiga dessa senhora. De qualquer forma, preste bem atenção. É uma história um pouco longa, mas acho que no fim vai valer a pena.

“ Senhorita Faith Arandt é filha única de um reverendo bastante conservador e como eu disse antes, desde criança é muito próxima de sua esposa, apesar de aparentemente terem tido uma criação muito diferente. O caso é que essa moça estava prometida desde a infância a um homem, Mr. Galle, dez anos mais velho que ela e por quem a noiva não tinha nenhuma simpatia.

Nicole foi contra esse compromisso desde o inicio, mas o pai da garota não é do tipo que quebra sua palavra e por isso manteve impassível seu posicionamento com relação a filha. E tudo estaria muito bem se Lorde Everglot não tivesse conhecido a senhorita Faith e se apaixonado por ela. Foi reciproco é claro. E é claro também que Nicole apoiou de imediato.

Você estava certo, Dorian, de pensar que sua esposa e Victor se conheciam antes de você resolver se casar com ela. De fato, os dois se deram muito bem, mas não da maneira como você supõe. Ela alimentava o romance dos dois. Ajudava-os.

O caso é que quando Faith se casou contra a vontade, Mr. Galle se mostrou uma pessoa horrível. Era como se seu pai tivesse reencarnado no homem se é que você me entende. E Victor quase enlouqueceu com isso, mas eis o impasse: como chegar até Faith sem que fosse interceptado, ou piorasse ainda mais a situação dela? Foi aí que ele pediu a sua esposa que o ajudasse. Elas eram amigas... as cartas dela nunca levantariam suspeitas...”

Nesse ponto da história Dorian já estava pálido. Abriu a boca mais uma vez, mas lady Margarete o cortou de novo.

― Deixe-me terminar! ― a condessa viúva gesticulou enfaticamente ― Como eu ia dizendo, Começou-se uma troca interminável de correspondências. Victor passou a escrever para sua esposa, e ela por sua vez reescrevia as cartas num tipo de código e depois enviava a resposta da amiga para Victor. Não entendi essa parte muito bem. Para resumir, você estava mesmo certo sobre lorde Everglot está tendo um caso com uma mulher casada. Mas essa mulher não era a sua. Era Faith. A sua só estava ajudando.

― Se essa história mirabolante for mesmo verdade por que eles não me disseram antes?

― Porque Lorde Victor não quis arriscar que começassem a pensar que ele tinha qualquer afinidade com sua esposa. Ele evitou até falar sobre ela em eventos para mostrar que não se conheciam. Você sabe como as fofocas correm depressa em Londres e ele não podia perder o risco de perder o único canal com a amante. Ele só foi cuidadoso achando que quanto menos pessoas soubessem dessa história melhor.

― E onde eles estão agora? E o que Edward tem a ver com isso tudo?

― Lorde Edward estava ajudando também. Foi assim desde que ele descobriu a história. Ao que parece seu amigo tem um tipo de dom para detetive particular. Agora respondendo a sua primeira pergunta, nesse momento creio que Lorde Edward esteja sequestrando a senhora Faith e Lorde Victor está num navio que desembarcará em poucas horas, esperando por ela.

Dorian sentiu a cabeça girar. E não foi por causa do álcool.

― Antes que eu me esqueça, Lorde Victor deixou isso na minha casa para você ― ela disse entregando ao filho algo enrolado como um pergaminho que só agora ele havia notado ― disse que era um presente de casamento, mas só poderia ser entregue no momento certo.

Dorian desenrolou o presente com um pouco de apreensão e o que viu o deixou muito surpreso.

Uma pintura! Dele e de Nicole sentados na estufa numa pose muito similar a aquela em que ele havia flagrado o amigo e ela há poucos dias atrás. Era isso que Victor estava fazendo com ela na estufa naquele dia? Rascunhando e escolhendo posses para a pintura? O conde voltou a atenção para o desenho. Era lindo, vivo e refinado. Havia flores por toda a parte e na pintura ele tocava o rosto de Nicole com uma mão enquanto ela o olhava apaixonadamente. Como se fosse um sonho.

―Ele também pediu para dizer que as pinturas revelam o que se sente e o que se deseja e no seu caso ele deseja toda a felicidade do mundo.

Agora Dorian se sentia catatônico.

― Sabe Dorian, creio que o único crime da sua esposa foi o de querer o melhor para os amigos.

― Eu cometi um erro enorme! ― Dorian finalmente exclamou de olhos arregalados.

― Mais um, você quer dizer ― Lady Margarete corrigiu ― O primeiro foi o de casar com essa moça por causa do dote dela.

― Como foi que a senhora...?

― Acha mesmo que eu sou tola assim? Estou velha meu querido e não burra. Eu tomei conhecimento da nossa situação financeira assim que você se casou. Quase desmaiei.

Dorian olhou para mãe e depois para a janela. Estava eufórico. O coração batia como se estivesse prestes a sair do peito.

― Eu preciso ir atrás dela.

― E o que está esperando? Que eu faça uma mesura?

Ao ouvir aquilo Dorian só pode sorrir. Sorrir e sair correndo como se tivesse voltado a ser uma criança de novo, deixando para trás Lady Margarete revirando os olhos.

―Esses apaixonados... São uma praga­! ―A velha condessa resmungou para si mesma.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Penúltimo capítulo finalmente postado! Já me sinto chorosa ( e completamente radiante também).

Espero que tenham gostado da última feliz revelação e tomara que tenha conseguido redimir todo mundo. Vocês sabem, apaixonados são uma praga!

Queria dedicar um muito obrigada especial para Sra. Armstrong pela recomendação maravilhosa *--* e a todos os cometários que vocês deixaram até agora. Mil vezes obrigada!

Até o próximo capítulo!



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