Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 23
Capítulo 23 - Decisão


Notas iniciais do capítulo

Oiiii gente linda! Demorou mas chegou!



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― Quando eu cheguei Lorde Ashton estava apertando o pescoço dela. Provavelmente ele a coagiu para que se envenenasse. Estava de costas para mim e nem chegou a ver quando atirei nele.

Era a quarta mentira que Dorian contava para o inspetor em apenas dez minutos de conversa.

― E o que o senhor fazia armado?

“Boa pergunta”. O conde pensou, mas ao invés disso respondeu:

― Desde que o perdemos em Londres não tive uma só noite bem dormida. Fiquei com medo de que ele pudesse fazer algo a minha família e como pode ver os meus temores foram justificados...

O inspetor apenas assentiu e fez mais uma anotação enquanto Dorian cruzou as pernas, desconfortável. Por que Victor estaria armado afinal? Antes de tudo aquilo acontecer ele poderia jurar que o amigo era incapaz de matar até uma mosca, mas agora via o quanto estava enganado. E se Victor estivesse esperando para atirar nele? Dar um fim no marido de sua amante seria muito conveniente... O pensamento fez com que os dedos do conde se contraíssem nos braços da cadeira.

― Os empregados contaram que Lorde Victor Everglot estava com o senhor quando lorde Ashton foi morto...

― Lorde Everglot estava aqui como meu convidado. Partiu logo depois do incidente. Ele não...― Dorian olhou para a mão que parecia disposta a estrangular a cadeira e fez um esforço para relaxá-la― Ele não teve qualquer envolvimento com isso.

Mais uma mentira e ele nem mesmo sabia o porquê de estar fazendo aquilo. Se estivesse em seu juízo perfeito, já teria contado o caso verdadeiro ao delegado e ido atrás de Victor para desafiá-lo em um duelo, mesmo que agora essa atividade fosse ilegal. Mas ao invés disso lá estava ele mentindo, preservando um amigo que o traíra. O delegado, no entanto, não parecia estar notando as falácias do conde e apenas continuava fazendo suas anotações em silencio.

― O senhor tem mais alguma pergunta? ― Dorian questionou finalmente se deixando vencer pela irritação, fazendo o outro homem se sobressaltar um pouco com aquela rispidez repentina.

― Acho que já tenho o necessário, milorde.

― Ótimo. Agora deixe-me pedir um favor― Dorian disse inclinando-se um pouco para frente como se fosse contar um segredo― Gostaria muito que o senhor deixasse essa história em segredo absoluto. Minha esposa não está bem, não sei se irá melhorar e um escândalo envolvendo-a agora não vai ajudar em nada na recuperação dela. Será que posso contar com seu sigilo?

― É claro, milorde― O delegado respondeu levantando-se pronto para partir― Voltarei a procura-lo se precisar de mais alguma informação. Acho que por ora o senhor deveria descansar. Desejo que Lady Van Dorst se recupere o mais rápido possível.

Dorian assentiu e o delegado se retirou da sala deixando o conde sozinho com os próprios pensamentos.

Havia se passado apenas 24 horas desde o incidente com lorde Ashton e muita coisa acontecera neste período de tempo. Aparentemente o médico tivera sucesso com relação a Nicole que não morreu de imediato e apresentou um quadro de melhora suficiente para que fosse removida para o quarto onde normalmente ficava. Mas pelo que Dorian tinha ouvido falar através de fragmentos de conversas de alguns empregados, essa suposta melhora não tinha sido suficiente para fazer a condessa acordar e que talvez o médico só a tivesse movido para que ela morresse num lugar mais confortável.

No fim das contas, cada criado que passava fofocando próximo demais da porta do escritório tinha uma opinião diferente sobre a saúde de sua senhora e por essa razão era impossível saber em que acreditar, e Dorian, que tinha se recusado a vê-la desde a briga que tivera com Victor, teve que se contentar com aquelas migalhas de informação para tentar acalmar a própria apreensão. Esgueirando-se até o quarto dela num momento que viu os corredores vazios, Dorian finalmente pode se ver na presença da esposa outra vez.

Nicole estava tão branca quanto os lenções que a cobriam e os lábios outrora rosados agora tinha um tom estranho de lilás. Se não fosse pelo suave movimento do peito, que subia e descia com a respiração, era fácil dizer que estava diante de um cadáver, e até mesmo as mãos dela estavam cruzadas sobre o corpo na pose típica dos mortos. Os milhares de ramalhetes de flores espalhados pelo quarto terminavam de conferir ao aposento o aspecto de catacumba.

Dorian sentiu o estomago revirar. A imagem de Nicole morta chegava a ser profana e por isso cuidou de descruzar lhe as mãos, demorando-se ao sentir as palmas frias dela sobre as suas. Sem resistir, sentou-se ao seu lado na cama e acariciou lhe o rosto úmido e febril.

―O que foi que nós fizemos? ― Dorian perguntou em vão para ela. Tentou buscar na mente o exato momento em que as coisas começaram a dar errado, os sinais que ele não viu, e eles estavam mesmo todos lá: a relutância dela em aceita-lo, o dia do casamento dos dois e como ela tinha parecido infeliz, assim como Victor. Talvez ele que fosse o intruso desde o inicio.

Dorian tentou imaginar como teria sido se ele nunca tivesse insistido em casar-se com ela. Provavelmente Victor teria tomado seu lugar no altar, dado a ela o casamento por amor que ela almejara, os filhos aos quais ela se referira na ultima discussão que tiveram e que ele mesmo não estava disposto a dar. Imediatamente o conde visualizou os dois, felizes, cercados por criancinhas loiras como o pai e de olhos azuis como os da mãe e na mesma hora ele os odiou. Era por isso que ela fugia dos beijos dele? Era o toque de Victor que ela preferia? Teriam se amado naquela cama no tempo em que ele esteve fora? As especulações o estavam enlouquecendo. Matando.

“ Deixaria de bom grado que ela fosse embora?”.

Victor perguntara isso horas antes de tudo vir a baixo. Bastardo desgraçado. Não tinha o direito de fazer o que fez, de traí-lo sob o seu teto, com a cara mais sínica do mundo. Consolando-o, instigando-o, dizendo que os dois poderiam se resolver e que o conde estava apaixonado por ela, quando ele mesmo desejava o contrário.

Dorian havia lido e queimado todas as cartas e elas eram muito estranhas em sua maioria. Sempre começavam diretamente no texto, sem qualquer “querida, adorada, minha...” típica das cartas românticas. E eram cruas, diretas, pouco parecidas com o estilo de Victor e pareciam preocupadas também, sempre questionando se ela estava bem, se estava machucada, falando da saudade que ele sentia. Algumas eram pedidos para que se encontrassem escondidos em Londres, coisa que Dorian saberia ser completamente impossível. Talvez um pedido de amantes desesperados. A mais recente delas, no entanto, era mais afável que qualquer outra: Victor, em sua letra rebuscada de artista, dizia estar tudo finalmente pronto para que fossem embora dentro de uma semana. Que ele iria busca-la e levaria para longe onde poderiam recomeçar e então a correspondência seguia com milhares de juras de amor eterno.

― As coisas não deram muito certo para nenhum de nós não é? ― Dorian perguntou a esposa adormecida ― Você tinha razão. Eu sou um maldito egoísta, mas vocês... não tenho nem palavras para dizer o que vocês são.

Ele se aproximou dela novamente tocando de leve sobre seu pescoço, onde as marcas roxas dos dedos de lorde Ashton ainda estavam vibrantes sobre a pele macia. Ele poderia acabar com tudo aquilo alí mesmo. Ele só tinha que apertar um pouco. Ela não iria nem reagir. E quem o culparia?

“Você se parece tanto com o seu pai”. A voz da mãe invadiu sua mente, numa memória de muito tempo atrás.

Dorian recuou de imediato com a certeza de que estrangulá-la sem dúvida seria o que seu pai faria. Passou a mão nos cabelos, frustrado, levantando-se da cama e indo para longe de Nicole.

― O que você ia me dizer anteontem no escritório?­― Dorian vociferou para ela, furioso, num acesso de raiva repentina. Era uma conversa inútil, ele sabia muito bem, mas se viu necessitado daquilo ― Sei que ia dizer alguma coisa para mim! Por que foi que não terminou o que ia dizer? Ia confessar o seu caso? Por que não foi embora quando eu estava em Londres? Não tinha nada para impedir vocês!

Foi só então que lhe ocorreu uma hipótese: e se ela tivesse ficado em dúvida? Se estivesse pensando em desistir de fugir com o amante? E se...

Neste momento Mary abriu a porta do quarto da condessa, com as mãos cheias de toalhas limpas. Demorou um segundo para que a camareira compreender a presença do conde ali e decidir se ficava alegre ou não. Por fim, resolveu-se pela primeira opção, abrindo um sorriso cansado para o patrão.

― O senhor veio visita-la!

― O que são todas essas flores aqui dentro? ― Dorian mudou de assunto assumindo uma postura rígida.

― Os outros empregados não param de trazer. Acham que se ela ficar perto das coisas que gosta conseguirá se recuperar mais rápido. O doutor não viu problema, então...

― Ela está morrendo?

Mais uma vez Mary deu um sorriso casado e então balançou a cabeça negativamente.

― O médico conseguiu dar o antidoto a tempo, mas ela ainda está bastante fraca. A febre não quer ceder, e por isso ele recomendou que tivéssemos todo o cuidado com ela. Mas milady é muito forte e tenho certeza que vai sarar logo.

― Que pena― Dorian disse deixando que os olhos caíssem sob a esposa mais uma vez ― Ela poderia ao menos ter me dado este gosto.

A expressão da camareira desmoronou assim como no íntimo Dorian sentiu cada célula do corpo gritar e se destruir em protesto contra o que tinha acabado de dizer. Por mais que todas as circunstâncias dessem a ele motivos suficientes para odiá-la, tudo que ele realmente queria era segurá-la nos braços mais uma vez, viva, bem... feliz!

Foi o que bastou para que tomasse uma decisão.

― Autorizo que você cuide pessoalmente para que não falte nada a condessa e, por favor, nunca mais volte a me incomodar com esse assunto. Não quero saber de nada que se refira a ela ― Dorian ordenou com frieza para a camareira, andando a passos firmes em direção a porta, mas virando-se no último minuto como quem acaba de lembrar-se de algo ― Assim que ela estiver um pouco melhor, prepare as malas dela o mais rápido que você puder. Não quero que ela fique nem um dia mais que o necessário nesta casa.

― Milorde...― a empregada começou, mas ele não deu tempo que ela terminasse, saindo sem olhar uma segunda vez. Estava feito. Estava decidido. Não iria voltar atrás.

Determinado a não pensar mais no assunto, tentou jogar Nicole para o canto mais sombrio de sua mente, sentindo-se como um cristal defeituoso.

Frio e duro por fora, mas completamente destroçado por dentro.


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Notas finais do capítulo

Quero começar agradecendo a Snow Girl e Paloma Arantes pelas recomendações mais que perfeitas. Sério moças, nem tenho palavras para descrever! Vocês me fizeram sentir a J.K Rowliing! (ela que se cuide, meu bem!)
hahahaha. tá, parei.
Também quero agradecer as lindas que me deixaram os comentários maravilhosos no último capítulo! Vocês são minha motivação



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