Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 2
Capítulo 2 - Victor Everglot




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Dorian se deixou largar na poltrona em frente a janela e ficou observando o entardecer através dos vidros perfeitamente limpos. A cinzenta Londres parecia mais quieta que de costume ou talvez fosse somente o desanimo que se alastrava pela saleta. Deixou escapar um suspiro baixo, coisa que não fazia com frequência.

—Sabe —iniciou Victor Everglot desviando a atenção de seu desenho para o amigo suspirante— não é assim tão ruim...

Dorian olhou para o melhor amigo com incredulidade. Victor só poderia ser problemático.

— Estou arruinado e isso não é tão ruim? —perguntou Dorian com ironia.

— Já lhe disse que estou a sua disposição e lhe farei um empréstimo até que possa resolver o problema.

Dorian apenas balançou a cabeça negativamente. Não aceitaria aquilo, pois não fazia a menor ideia de como poderia pagar. Já estava preocupado demais tentando solucionar as dívidas que já tinha. Não iria fazer outras a não ser como ultimo recurso.

Victor voltou a atenção para o seu desenho novamente. Uma enorme rosa vermelha que estava sobre sua mesa. A prática o tinha tornado um desenhista muito talentoso e seu constante interesse em botânica o fazia desejar cada vez mais a precisão e a realidade de suas obras quando se tratava de plantas. No entanto, não estava se concentrando tão bem como gostaria com Dorian entristecido ao seu lado. Tinha dessas coisas de ser sensível ao ambiente a sua volta, o que sempre fora motivo de chacota por parte dos amigos.

—Existe uma solução, mas creio que você não irá gostar da ideia...—anunciou Edward que até então estava em silencio. Não era do feitio do rapaz ficar calado por muito tempo e por isso os outros dois o encararam quase surpresos, quase esquecidos que ele estava ali. Onde quer que Edward Howell estivesse ele chamava atenção para si, mas naquela tarde ele ficara quieto, completamente absorvido pela gravidade do problema que tinha acabado de ouvir.

— O que você quer sugerir Edward? —perguntou Victor bastante sério como que para lembrar ao outro de que naquela situação não caberiam suas típicas gracinhas. Em resposta ao tom de voz de Victor, Edward apenas ergueu as sobrancelhas.

— Você pode conseguir um dote.

—Um dote? — perguntou Dorian, sem compreender.

— Um dote, Dorian. Casando com alguma moça rica— explicou Edward, já achando que a falência começara a deixar o amigo com lentidão de pensamentos.

— Deus do céu!— exclamou Dorian, permitindo-se dar uma risada— além de falido, me tornei também um caça-dotes!

—Você tem uma ideia melhor? — questionou Edward, desafiador.

— Seria uma ideia considerável, se se trata-se de outra pessoa que não ele— respondeu Victor calmamente. — Quantas moças da sociedade você conhece, cujos pais dariam em casamento a Dorian sem qualquer oposição?

Edward e Dorian olharam para Victor, que manteve sua postura altiva. Eles sabiam que o jovem loiro tinha razão.

—Esta história de caça-dotes até poderia dar certo se você fosse um pouco mais comedido, não é? Se não tivesse se dedicado tanto em fazer uma fama tão ruim, você poderia simplesmente escolher uma moça que amasse...

— E aqui está você mais uma vez com seu romantismo...— zombou Edward.

— Amor é como oxigênio, Edward— retrucou Victor, mas limitou-se a dizer somente isso. Todos os anos de convivência com Dorian e Edward tinha ensinado a ele que não deveria discutir com os dois sobre qualquer assunto sentimental e que embora fossem amigos desde a infância, poderiam ser muito diferentes uns dos outros.

— O que acha de procurar uma velha solitária? — sugeriu Edward não dando a mínima para o que Victor acabara de dizer.

— Uma velha? — Dorian riu.

— Não achei que você tivesse oposição a mulheres mais maduras a julgar por Lady Agatha...— comentou Edward brincalhão.

Ambos se deixaram viajar na lembrança da ocasião em que Edward apostou que Dorian não conseguiria seduzir a velha Lady Agatha, duquesa de Colinsmoor, que passava o verão em Londres para visitar uma amiga adoentada. Dorian não só seduzira a velha senhora como também aproveitou para conquistar sua neta, que assim como a avó, acabou se deixando levar pelas palavras bonitas do rapaz e acabara perdendo muito mais que o namoradinho no fim do verão.

—Você e Edward são dois homens terríveis —declarou Victor, por fim.

—Estou longe de ser terrível— respondeu Dorian resignadamente— dei mais atenção àquelas duas senhoras do que nenhum outro homem jamais o fez, posso apostar.

—Aposto que o pai daquela jovem adoraria saber o tipo de atenção que você estava dando a ela — resmungou Victor voltando novamente a desenhar a rosa a sua frente em seu bloco de anotações.

Dorian sorriu amargo para o amigo e levantou-se para servir-se de uma dose de conhaque. Estava ficando um pouco irritante assistir Victor desenhando tão serenamente enquanto o mundo parecia querer desabar sob sua cabeça. Ficou imaginando se por dentro o amigo não estava se divertindo com toda aquela situação e quase como se lesse seus pensamentos, Victor passou os dedos em seu cabelo loiro escuro.

— Estou preocupado com você Dorian. Não duvide disso. Mas estou apenas sendo racional, quando você e Edward parecem incapazes de ser. Você não pode mais se dar ao luxo de fazer as mesmas tolices que fazia. Você é o Conde de Kenswood agora e está com um problema sério. Pense como um adulto e não como um jovem inconsequente.

Ouvir aquele sermão vindo dos lábios de Victor quase o fizera se encolher. Victor era sempre o mais responsável dos três, mas nunca os impedia de fazer absolutamente nada embora sempre estivesse dando conselhos quando achava que alguma coisa não estava certa. No entanto, nunca havia se alterado como agora.

—Você tem razão— admitiu Dorian. Edward não disse nada, o que também era algo raro.

—Só desejo o seu bem. O seu e o deste outro idiota aqui presente— comentou Victor apontando para Edward com o talo da rosa que estava desenhado. Os três riram deixando o clima tenso se dissipar.

Dorian olhou para o relógio de bolso confirmando seu palpite sobre a hora.

—Preciso ir andando. Irei jantar na casa de Mr. Colins para aparentemente discutir algum assunto que ele queria contar ao meu pai —anunciou Dorian sem disfarçar seu desdém.

—Sairei mais tarde. Você vem?— perguntou Edward a Victor levantando-se também e tratando de vestir o sobretudo preto e bem cortado.

—Não esta noite— respondeu o loiro sorrindo distraidamente, e embora curiosos, os outros dois não perguntaram mais nada.

Quando Dorian saiu da casa de Victor em direção a rua, não pode deixar de pensar na expressão enigmática que o companheiro ostentava ao recusar o convite de Edward. Mas não pensou nisso por muito tempo. Os pensamentos de Victor eram como uma névoa espessa e naquele momento, era o menor de seus problemas.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Obrigada por estarem me acompanhando! Escrevi esse capítulo mais como uma introdução de alguns personagens que serão importantes para a história (juro que não é só enrolação da minha parte hahaha).
Espero que tenham gostado e que deixem comentários! Críticas e sugestões são sempre bem vindas.
Até o próximo capítulo!



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