Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 18
Capítulo 18 - Emboscada




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Dorian transferiu o peso do corpo de uma perna para outra a fim de aliviar a tensão por ficar parado tempo demais. Estava tão nervoso e ansioso pelo que estava prestes a acontecer que sequer sentia o congelante vento noturno lambendo lhe a pele e fazendo com que esta adquirisse um tom levemente avermelhado. Aparentemente ele não era o único a sentir-se daquele modo, uma vez que Edward, sempre tão expansivo e falastrão, estava mais imóvel que uma estátua enquanto esperava que o capitão decidisse qual seria o momento mais oportuno para começarem a agir.

Após a conversa reveladora que tiveram com Mr. Dobson, os dois trataram de leva-lo a polícia. Não para denunciá-lo, como se poderia pensar, mas para entrar em contato com os conhecidos dele dentro da instituição. Depois disso, e de Edward narrar novamente sua história omitindo alguns detalhes, a investigação foi prontamente instaurada. Se havia alguma vantagem em se possuir um título era exatamente esta: raras eram as situações em que as palavras ou pedidos de um lorde não eram levados em consideração e foi justamente se valendo desta influência que Edward fez sua pequena intervenção para que os dois pudessem acompanhar e participar de tudo, e era por isso que naquele momento estavam ambos encolhidos num beco do lado de fora do bordel de lorde Ashton, juntamente com mais seis agentes da Scotland Yard.*

Era bem verdade que não conseguiriam responsabilizar o barão pelo assassinato do antigo conde de Kenwood ou pela tentativa com relação a Nicole, mas se tudo desse certo naquela noite ele não teria como escapar do envolvimento com tráfico de substâncias ilícitas, bem como pela prostituição de crianças. Só de pensar nisso Dorian sentia uma onda de satisfação se instaurando. Por mais cruel que aquilo pudesse parecer ele estava louco para ver Lorde Ashton cair e ser condenado a apodrecer na prisão. Quando isto acontecesse ele seria finalmente um homem totalmente livre para voltar para casa e colocar sua vida de volta aos eixos.

—Agora!— anunciou o capitão da polícia tirando Dorian de seus pensamentos.

Sob aquele comando a porta foi arrombada com facilidade e em poucos minutos o local estava tomada pelos oficiais que tratavam de por abaixo cada porta que encontravam pela frente. O lugar era exatamente como Edward havia descrito: imundo em todos os sentidos da palavra, com paredes manchadas e um cheiro forte de bebida velha que se misturava com alguma outra coisa de aroma igualmente repugnante.

—Por Deus! Tirem essas crianças daqui— Dorian ouviu alguém gritar quando ao arrombarem a porta de mais um cômodo um grupo de aproximadamente vinte garotas gritou apavorado. Eram em sua maioria crianças que não chegavam a ter mais de 12 anos de idade, magricelas e assustadas. O estomago de Dorian revirou imediatamente somente em olhá-las, lembrando-se imediatamente da irmãzinha de Nicole, a quem fora visitar pelo menos três vezes desde que chegara a Londres. Era completamente repulsiva a ideia de que alguém pudesse fazer mal a criaturas como aquelas.

Foi o barulho de três disparos seguidos que o fez reagir. Sem pensar duas vezes, o conde saiu correndo pelas escadas que levavam ao andar superior com o amigo e o capitão em seu encalço, e apesar da infinita quantidade de portas que lá havia não foi difícil encontrar o cômodo correto, pois no chão, bem em frente a ele, um dois policiais estava caído com os olhos petrificados e um ferimento escarlate sobre o peito.

—Filho de uma...—o capitão praguejou entrando de maneira imprudente no cômodo, tendo a chance de ver um dos homens que acompanhavam Lorde Ashton preparando-se para atirar novamente enquanto o outro parecia fazer algo com o barão na janela. Mais balas vieram zunindo em direção ao grupo, forçando todos a saírem às pressas para manterem-se protegidos pela parede.

Apenas um minuto se passou e um silêncio anormal tomou conta do aposento.

—Os desgraçados estão fugindo!— o capitão berrou debruçando-se sobre o corrimão da escada para que os outros no andar de baixo pudessem ouvi-lo. —Fugiram pela janela! Peguem-nos! Quero a cabeça deles!

Três policiais saíram em disparada atrás do lorde, mas algo em Dorian morreu no momento em que pusera o rosto pela janela do cômodo e já não encontrara mais nenhuma sombra do homem a quem perseguiam. Não conseguiriam pegá-lo. Estava mais que certo de que não.

— Patrick!— o capitão voltou a berrar para o agente que havia sobrado e que agora tentava acalmar as meninas apavoradas —organize essas garotas! Quero saber tudo o que elas sabem e de onde foi que vieram! Vamos fazer uma busca nesse lugar. Ele saiu às pressas então precisa ter deixado alguma coisa. Quero tudo que ligue aquele cretino à esse cortiço!

Dorian e Edward puseram-se imediatamente a ajudar a procurar algo que pudesse ser de interesse, mas nem precisaram sair do cômodo onde estavam para encontrar o que desejavam. Lorde Ashton deixara para trás mais um cadáver, um homem de proporções gigantescas, caído parcialmente sob a escrivaninha de madeira ruim que ornamentava o que aparentemente deveria ser um escritório.

—Este era o administrador de quem lhe falei— Edward reconheceu mesmo sem precisar chegar muito perto e então continuou divagando enquanto se aproximava do corpo —Três tiros. Provavelmente o primeiro foi dado pelo oficial e então houve um em resposta para o agente e então outro para o administrador... Ele matou o homem para que não contasse nada quando o pegássemos porque com certeza este não iria conseguir fugir pela janela.

—O maldito é muito esperto.

— Não tão esperto— o capitão comentou quando puxou de baixo do corpo um caderno completamente manchado pelo sangue do homem.

—Está arruinado...

—Está arruinado para quem estiver sem paciência— o policial folheou o seu achado com interesse. Pela maneira como as informações pareciam estar dispostas provavelmente se tratava de um livro de registros cuja boa parte das informações tinha sido destruída pelo sangue de seu dono —eu terei toda a paciência do mundo, porque agora este caso tornou-se pessoal.

Todos olharam para o pobre policial morto estirado no chão. Ele era surpreendemente jovem e Dorian se perguntou quem ficaria responsável por comunicar a família.

—Eu sinto muito— o conde murmurou. Era tudo que poderia dizer naquela situação.

—Essas coisas acontecem quando se faz o que nós fazemos— o capitão respondeu tentando demonstrar frieza, mas sem muito êxito. —Agora, milordes, se me permitem o conselho, voltem para casa. Acredito que os senhores já ajudaram mais do que muitos teriam feito.

Os amigos não pensaram duas vezes antes de acatar aquela ordem disfarçada de conselho e partirem juntos para as ruas frias de Londres.

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—Não consigo acreditar que ele fugiu!— Dorian finalmente verbalizou a frustração que ambos estavam sentindo.

Agora que encontrava-se novamente na aquecida biblioteca de sua antiga casa, se permitiu expressar toda a raiva que ficara guardando desde que saíra do bordel de Lorde Ashton.

—Não vai ficar desaparecido por muito tempo. Aposto que toda a Scotland Yard está atrás dele agora — Edward consolou-o, surpreendentemente calmo.

Dorian se permitiu cair sobre uma poltrona e então passou as mãos nos cabelos num gesto evidentemente preocupado.

— Estou achando que precisamos relaxar— Edward falou franzindo o cenho para uma garrafa de licor que encontrou na biblioteca— Não há nada por aqui mais forte que isso?

Como não houve resposta o futuro visconde apenas deu de ombros e serviu uma dose exagerada para si mesmo e depois outra que foi entregar ao amigo.

—Que acha de sairmos amanhã? Seria como nos velhos tempos! Nada de licores. Apenas bebida de verdade.

Dorian fez que não com a cabeça.

—Partirei para Kenwood assim que o sol nascer.

—E por quê?— Edward perguntou erguendo a sobrancelha tão loira quanto seus cabelos.

—Ele fugiu, Edward! Preciso voltar...

—Ele não vai conseguir sair de Londres! E além disso, como pretende conseguir uma carruagem em poucas horas?

—Eu mesmo selarei um cavalo se for preciso.

—E vai matar o animal de cansaço no caminho— Edward bufou servindo-se de mais licor, mas não sem franzir o cenho para a garrafa mais uma vez —Pelo amor de Deus, Dorian. Victor está com ela! Nada vai acontecer se você ficar um dia a mais. O que ele disse durante o tempo em que esteve aqui?

Dorian não respondeu e então Edward sorriu malignamente.

—Ele não escreveu? É por isso que está paranoico dessa maneira?

Dorian cogitou a hipótese de dar algumas tapas em Edward, mas preferiu permanecer sentado onde estava. Sentia-se cansado demais para aquilo.

—Apenas para informação, não que realmente seja problema seu, ele me escreveu sim— Dorian retrucou de má vontade.

Era verdade. Victor tinha escrito duas longas cartas durante aquele mês que esteve fora contando cada detalhe da vida administrativa do condado, mas absolutamente nada que tratasse sobre as pessoas que estavam nele, especialmente sobre Nicole.

—Então não tem com o que se preocupar— Edward comentou aproximando-se da lareira e olhando para as chamas distraidamente —Theodora comentou que sentia sua falta...

—Diga a ela que mando lembranças— Dorian respondeu com desinteresse e Edward deu uma risadinha daquela rejeição. Em outros tempos o conde ficaria muito interessado no que a “boa” mulher tinha a dizer sobre ele.

— O que essa garota tem?— Edward murmurou ainda sem olhar o amigo.

Dorian fingiu que não ouviu. A verdade é que não queria responder aquela pergunta, pois ele mesmo não sabia.

—Venha comigo para Kenwood amanhã.

—Não posso— Edward respondeu— Estou resolvendo alguns negócios por aqui que não posso abandonar. Pelo menos por enquanto.

Havia mistério na voz de Edward, mas Dorian resolveu que não iria insistir no assunto. Ficaram ambos quietos, perdidos em seus próprios pensamento por um tempo que pareceu uma eternidade, e então, pela janela parcialmente encoberta pelas cortinas de veludo vermelho os nobres observaram o sol despontar ao longe.

E isso foi tudo que o jovem conde viu antes do cansaço finalmente o vencer.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Espero que tenham gostado do capítulo e comentem o que estão achando! (se não gostou pode comentar mesmo assim. Críticas são bem vindas também!)

Aproveito o espacinho para agradecer a todo mundo que favoritou, está acompanhando e comentou na fic até agora. Vocês são incríveis



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