Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 17
Capítulo 17 - Confissão




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—Então eu engoli uma cascavel inteira sem mastigar— Edward contou observando Dorian que apenas concordou com a cabeça distraidamente pela enésima vez naquela conversa. Foi o suficiente para o loiro começar a estalar os dedos bem diante do nariz do amigo a fim de chamar a atenção dele de volta para o mundo real.

—Você não está ouvindo uma palavra do que eu estou dizendo! — Edward reclamou e Dorian nem se deu o trabalho de negar. Era evidente que estava ali apenas em corpo presente.

O conde já estava em Londres há quase três semanas que, embora produtivas, foram muito cansativas também. Conseguira fazer diversas visitas importantes, inclusive a seu padrinho e a seu sogro, Mr. Henry Dashwood, que lhe deu a melhor notícia que poderia sonhar em receber: o investimento que haviam feito juntos finalmente dera retorno, rendendo quatro vezes mais que o valor investido para cada participante. Tinha sido muito arriscado, isso era bem verdade, mas acabou saindo infinitas vezes melhor que o esperado e àquela altura os três já haviam marcado de reunir-se novamente para um novo investimento com parte dos lucros que obtiveram. Graças ao retorno do dinheiro tudo começou a fluir e resolver-se como mágica para o conde, que juntamente com seu advogado e Edward, começou a quitar cada dívida que ainda possuía até que restasse apenas Lorde Ashton como motivo de preocupação.

—Milorde está muito cansado! Tem trabalho muitíssimo esses dias!— Mr. Dobson, o advogado, defendeu Dorian do que quer que Edward estivesse dizendo e que mais uma vez o conde havia ignorado.

—Você é mesmo o advogado do diabo!

—Ora!— Mr. Dobson exclamou, mas também foi tudo que disse. Ainda guardava resquícios da relação que tivera com o antigo conde de Kenwood e por isso estava sempre medindo as palavras e lembrando a si mesmo que era hierarquicamente inferior por mais que fosse o mais velho dos três.

—Sei bem onde a cabeça dele está!— Edward lançou a Dorian um olhar malicioso— Em Kenwood, mais especificamente em certas curvas...Ainda não acredito que ela enfeitiçou você desse modo!

—Não seja ridículo, Edward— Dorian respondeu de má vontade porque afinal o amigo tinha toda razão. Sua mente de fato estava em casa, repassando o último dia que passara lá antes de voltar para Londres, em especial o momento que tivera com a esposa na estufa. A maneira como o corpo dela tinha se amoldado ao seu era simplesmente boa demais para ser ignorada. Por mais que estivesse relutante em admitir, estava louco para voltar até lá e ouvi-la dizer que sentia exatamente o mesmo e então ele poderia beijá-la de modo ainda mais satisfatório que naquela tarde. Deus, ele a queria! E era uma vontade que ultrapassava os toques castos e até mesmo os beijos escandalosos. Ele a queria em sua cama. Ou na cama dela. “Em qualquer cama!” ele decidiu mentalmente enquanto Edward continuava a implicar com Dobson.

—Você terá muito tempo com sua esposa quando terminarmos aqui— Edward reclamou cruzando os braços — Agora, como eu ia dizendo, eu passei as duas ultimas semanas inteiras ocupado com o que você me pediu. Aproximei-me de Lorde Ashton e inicialmente ele me pareceu perfeitamente normal enquanto você me pareceu um maldito paranoico.

Dorian bufou com aquele comentário, mas deixou que o amigo continuasse.

—No entanto, durante o meu tempo de folga estive com Clarisse. Lembra-se dela? Cabelo loiro, umas curvas...— e então fez um gesto bem significativo com as mãos para indicar as formas da prostituta de luxo com quem Edward tinha encontros esporádicos. Era claro que Dorian lembrava dela— Enfim, comentei casualmente sobre seu pai e ela me contou uma coisa bem interessante sobre ele. Por acaso você sabia que ele tinha sido proibido de entrar na casa das “meninas”? Elas disseram que foi porque o homem estava completamente viciado em ópio e que precisava consumir para fazer qualquer coisa. Você sabe, elas têm uma reputação a zelar...

Dorian não fazia ideia daquilo, mas também não conseguia entender como essa informação poderia ser relevante, no entanto, Mr. Dobson que tinha ficado calado até então fez um som de engasgo.

—Você sabia disso?— Dorian questionou e o homem franzino se encolheu sob seu olhar acusador.

—Ópio é ilícito na Inglaterra, Milorde! Quanto menos o senhor se envolvesse com isso melhor seria!

—De qualquer forma, continuei fazendo “pesquisas”— Edward continuou falando por cima das tentativas de defesa do advogado— e mesmo que seu advogado não tenha cooperado conosco, descobri onde seu pai conseguia o narcótico. É um lugarzinho imundo nos subúrbios e acredite quando eu digo que tem de tudo: tráfico, jogatina, prostituição de crianças...

—Como foi que você entrou nesse lugar?

—Usei um disfarce, é claro— Edward anunciou triunfante— escolhi uma das moças do lugar e tão logo me vi sozinho com ela comecei a fazer minhas perguntas. Tive que pagar muito bem pelas respostas e pelo silencio, mas valeu a pena, pois ela me deu algumas informações valiosas, como por exemplo, a que Lorde Ashton vai até lá uma vez por semana quando o estabelecimento fecha para conversar com o administrador do lugar. Um homem bem desagradável por sinal. Resolvi então ficar de tocaia no dia indicado e descobri que era totalmente verdade o que ela tinha me dito. Lorde Ashton entrou junto com dois outros homens enormes e passou cerca de meia hora lá dentro.

Neste ponto Dorian se encheu de um misto de curiosidade e vitória. Ele estava certo afinal!

—resuma sua história de uma vez!

—não quer ouvir a narrativa inteira? foi muito interessante!— Edward reclamou, mas sorriu ao ver a expressão de indignação no rosto o outro— Tudo bem. Como quiser. Eu investiguei mais a fundo e descobri que você tinha toda a razão sobre lorde Ashton. Ele está financiando tudo aquilo e que semanalmente vai até lá para recolher sua parte nos lucros. Minha intuição é que seu pai descobriu a mesma coisa, mas naquela altura já estava viciado nas mesas e nas drogas. Ficou pedindo empréstimos e mais empréstimos e lorde Ashton aceitou porque viu naquilo uma oportunidade de ouro. Provavelmente ele pretendia afundar seu pai até a alma para que nesse momento pudesse protestar as dividas que nós sabemos que foram registradas como se fossem lícitas. Quando isso acontecesse não restaria nada a ele a não ser dar em pagamento cada um dos bens que ainda tivesse restado, inclusive os atrelados ao título. Então o Barrão Ashton se tornaria...

—O conde Ashton— Dorian completou. Tudo parecia fazer sentido nesse momento. Estava mais que surpreso a descoberta, mas ainda mais com incrível habilidade investigativa de Edward.

—Tem alguma coisa que eu tenha deixado escapar, Mr Dobson?— Edward questionou inquisidor para o advogado que instantaneamente empalideceu e começou a tremer assemelhando-se ainda mais a um ratinho. De súbito levou as mãos ao rosto para esconder as lágrimas que começaram a lhe tomar a face miúda.

— Eu sempre fui bom no que faço! Tão profissional!— o advogado murmurou entre as lágrimas— e a culpa é toda minha!

Ambos os lordes ficaram confusos. Edward foi pegar uma dose de conhaque que, no seu entendimento, curava absolutamente tudo, e serviu ao homem obrigando-o a se acalmar.

—Eu sabia de tudo isso... Eu tinha experiência suficiente para saber o que estava acontecendo! Eu alertei o conde, Deus sabe! Mas ele não quis ouvir! Foi quando resolvi falar em sua língua. Dinheiro! Era tudo que interessava a ele! E então eu dei um conselho ruim... Eu deveria saber que daria errado!

—Do que você está falando?— perguntaram os outros dois em uníssono.

—Instrui o conde a chantagear lorde Ashton. Ele tomaria parte dos negócios e... Deus! Eu estava com tanta raiva dele! Deixei que o sentimento falasse acima da minha obrigação. Estava tão cansado de vê-lo destruir tudo que tocava... Mas quando eu o encontrei morto... Vou levar essa culpa para o resto da vida!— Mr. Dobson contou um pouco mais calmo, mas ainda tremendo muito. Aquela história ainda parecia ter muita coisa solta e desencontrada, mas foi aí que o homenzinho retirou do bolso um lenço que desenrolou sobre a mesa do escritório, exibindo uma baga seca de uma beladona.

—Seu pai morreu com uma taquicardia...— explicou Mr. Dobson cheio de tristeza e culpa —mas não foi de repente. Foi provocada. Por isso aqui— ele apontou para a frutinha ressecada que Dorian já conhecia muito bem— eu escondi quando as encontrei junto ao corpo. Não quis que o médico soubesse porque não queria que o nome da sua família se visse envolvido em mais um escândalo e fosse atirado na lama de vez. Era o mínimo que eu podia fazer. O médico já sabia sobre o ópio e deixei que ele pensasse que havia sido isso.

Dorian e Edward engoliram em seco aquela confissão. Entreolharam-se e nesse instante não foi necessária mais nenhuma explicação verbal. Estava claro que o pensamento de ambos estava indo num mesmo sentido. Na direção da beladona.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas! Demorou, mas chegou!
Espero que tenham gostado do capítulo e me contem o que estão achando :)
Até o próximo!



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