Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 14
Capítulo 14 - Fantasmas do passado


Notas iniciais do capítulo

Olá lindas! Desculpem a demora para postar esse. A semana de provas foi uó!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587475/chapter/14

—Como vai Dorian— Cumprimentou Lorde Ashton exibindo uma fileira de dentes levemente amarelados pelo tabaco— Fiquei imaginando se você tinha recebido minhas cartas nos últimos tempos...

Dorian grunhiu baixo. Era impossível não ter recebido aquela infinidade de cartas de cobrança que Lorde Ashton vinha enviando ao longo do mês, fazendo sempre questão de acrescer juros absurdos sobre cada uma delas. O homem esguio e elegantemente grisalho era de longe um dos maiores credores de seu pai e Dorian simplesmente não conseguia compreender aquilo. Não importava quantas vezes ele revirasse os documentos, aqueles empréstimos altos demais e dirigidos a apenas uma pessoa não pareciam fazer sentido nenhum.

—Recebi todas elas— Dorian comunicou assumindo finalmente uma postura altiva —Mas há uma coisa que me deixa bastante curioso...

—É mesmo?— perguntou o mais velho olhando pretensiosamente para ele.

—O senhor não saberia para quê exatamente meu pai estava precisando de empréstimos tão altos, saberia?

O lorde deu de ombros com desinteresse.

—Seu pai era meu amigo, gostávamos das mesmas coisas. Inclusive dos divertimentos! E você bem sabe que divertimentos podem sair muito caros...

Dorian não pode deixar de notar o olhar que Ashton lançou para Nicole que ainda conversava distraidamente entre os rapazes.

—Uma joia essa sua esposa— comentou finalmente, ainda mantendo os olhos nela —vi como ela discute política como um pequeno homenzinho... Agora que finalmente a conheci posso compreender todos aqueles boatos sobre o que houve com você. Sabe, temos uma coisa em comum: também gosto bastante das abusadas.

—O que disse?— Dorian questionou sem acreditar no que tinha escutado, mas o homem apenas sorriu com deboche.

—O que é isso, Dorian? Não precisa fingir para um velho amigo— Ashton falou em tom de segredo —Sabe muito bem do que alguns a vem chamando na corte... Mas se quer minha opinião, você não tem muito do que se envergonhar. Todos nós já nos deixamos enganar por uma vagabunda.

O sangue de Dorian ferveu por baixo das veias e todos os músculos endureceram subitamente.

—O que acha de fazermos um acordo? Perdoarei cada uma das suas dívidas se você a emprestar para mim por uma noite apenas. Quando você já estiver farto dela! O que me diz? Pelo que sei da sua família sua mãe te ensinou bem a divid...

O lorde nem teve a chance de terminar. A violência do golpe que Dorian desferira em seu rosto foi tamanha que o fez cair no chão num baque surdo. O nariz virado num ângulo completamente anormal. Sangue espirrando aos montes na camisa branca. Alguém perto gritou e todos os rostos subitamente se viraram para os dois.

—Nicole!— Dorian rugiu caminhando até ela e a agarrando pelo braço —vamos embora. Agora!

E então ele a puxou agressivamente de onde ela estava, levando-a porta afora sem dar ouvidos a mais ninguém que o tentou deter.

x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x.x

A corrida até a mansão foi louca e desenfreada. Nicole ainda estava em pânico quando Dorian abriu a porta novamente e a retirou, arrastando-a pelo braço num aperto de aço.

—Dorian, o que está acontecendo?— Ela perguntou aflita, porém baixo devido a hora avançada. Naquela altura, todos da mansão já deveriam ter se recolhido e ela definitivamente não precisava de mais um escândalo naquela noite. Já estavam passando ao lado da fonte que ficava em frente a casa e ele ainda não tinha se dignado a lhe dirigir a palavra, dando a ela como resposta um aperto ainda mais firme.

—Você está me machucando!— ela reclamou, desta vez mais alto, puxando o braço quando começou a sentir arder sua pele exposta. O movimento o pegou de surpresa e o fez finalmente parar e olhá-la. Sua expressão estava sombria como nunca a tinha visto antes, mas aquilo não era nem de longe suficiente para fazê-la calar-se.

—Mas o que diabos está acontecendo? Por que foi que você agrediu aquele homem? Por Deus, ele tinha idade para ser seu pai!

—Você nunca mais vai dirigir a palavra àquele homem, está ouvindo?— Dorian perguntou num tom completamente ameaçador.

—E por que não?— Nicole quis saber cruzando os braços numa postura tão atrevida que fez Dorian ficar ainda mais furioso do que já estava. Ele sentiu a mão formigar.

—Porque sou seu marido e estou mandando!— ele rugiu para ela que o encarou belicosa.

—Pois saiba, senhor, que falo com quem eu desejar. O senhor não manda nem mesmo em um fio de cabelo meu! Ninguém tão bruto que seja capaz de fazer o que o senhor fez hoje com aquele pobre homem tem direito nem mesmo de me pedir o que quer seja, quem dirá me dar ordens! E quem o senhor pensa que é para me envergonhar daquela maneira?

—Você já estava envergonhando a si mesma agindo como uma tola no meio de todos aqueles homens!— Dorian vociferou, cheio de raiva.

—O que foi que o senhor disse?— Ela sibilou, estreitando os olhos. Não ia permitir que ele a humilhasse.

—Você ouviu muito bem! E ouça mais isso: você não vai mais falar com aquele homem. Não vai sequer olhar para ele novamente.

—Falo sim! E falarei o quanto eu quiser. Não pense que sou uma empregada sua, milorde— ela gritou em resposta, dando as costas, muito disposta a não ouvir mais nenhuma palavra que viesse dele.

Dorian sentiu o sangue ferver. Desejou apertar os dedos sobre o pescoço dela, sacudi-la até que ela aprendesse a respeitá-lo. Rápido demais suas mãos se fecharam em torno dos ombros da condessa, puxando-a de volta para o lugar. Um movimento desmedido que a fez desequilibrar para o lado, fazendo ambos caírem na água gelada da fonte de mármore.

—Você enlouqueceu de vez!— Nicole gritou quando finalmente emergiu da água fria e escura. Tentou se levantar, sem sucesso, graças ao volumoso vestido que agora molhado parecia pesar toneladas.

Dorian, no entanto, foi mais eficaz na tarefa de se por de pé. A água gelada havia ajudado a clarear-lhe os pensamentos e a única coisa em que conseguia pensar era o quão longe ele havia ido. Aquela violência que havia feito desejar machucá-la verdadeiramente. Exatamente como... Não queria mais pensar naquilo! Ele não era o pai e nunca seria. Só precisava ficar longe dela. Pelo menos naquela noite.

—Onde você pensa que vai?— Nicole questionou, agora de pé, andando atrás dele com os olhos azuis brilhando de raiva. Os cabelos negros que antes estavam presos em um penteado elegante agora estavam se soltando em um caos gotejante conferindo-lhe um ar ainda mais assustador e selvagem. Dorian por outro lado não lhe deu ouvidos. Não queria mais discutir. Precisava ficar longe dela. Necessitava de um pouco de silêncio e de paz para colocar a cabeça no lugar. Continuou caminhando até seu quarto, onde sabia que ela não ousaria entrar.

Ficou, entretanto, mais que surpreso quando, já parcialmente desfeito da camisa molhada, notou no espelho o reflexo completamente assombrado de sua esposa. E pela expressão dela era muito fácil saber o que ela tinha visto. Tratou de vestir novamente a camisa numa tentativa fútil de fazê-la apagar da memória a imagem da cicatriz profunda e antiga que ele trazia na omoplata direita.

—Dorian o que...?

—Nada que você precise saber— ele respondeu feroz. Ela se encolheu sutilmente e aquela reação doeu mais nele do que qualquer tapa que ela pudesse ter lhe dado. Fechou os olhos e suspirou.

—Digamos que o antigo conde era um homem pouco diplomático. Muito pior do que você pensa que eu sou— Dorian respondeu com amargura, e muito mais baixo e calmamente.

—Seu pai fez isso com você?— Nicole questionou arregalando os olhos. Dorian não respondeu. Nem precisava.

—Esse era o jeito dele de se impor e bem... ele gostava particularmente do atiçador de lareira. Nesse dia o metal ainda estava quente... Eu tinha dezesseis anos. Foi a última vez.

Agora foi a vez de Nicole fechar os olhos. Não conseguia imaginar aquilo sem sentir dor ela mesma. Tinha crescido tão cercada pelo carinho de seu pai e de sua irmã que para ela era dilacerante pensar que pudesse ser diferente para outras pessoas.

—Por que?— ela perguntou quase que involuntariamente.

—Porque ele era assim! Ele era agressivo com todos, particularmente com minha mãe. Nesse dia eu jurei que o mataria pessoalmente se ele levantasse a mão para ela de novo... Apontei uma faca bem para o rosto daquele desgraçado, mesmo com o ombro talhado. E eu teria mesmo o matado se ele não tivesse entendido o meu recado...

Dorian não fazia ideia do porque estava contando aquilo para ela, mas apenas continuou como se fosse impossível parar de falar agora que tinha começado. Era como se tivesse esperado a vida inteira para contar aquilo.

—Deus, eu o odiava tanto!— Dorian exclamou exaltado.

Novamente para a surpresa dele, Nicole se aproximou removendo o tecido de sua camisa para que a cicatriz ficasse novamente a mostra. Passou a ponta dos dedos suavemente por ela como se seu toque pudesse voltar a abri-la, fazendo uma estranha eletricidade percorrer todo o corpo de Dorian.

—Já passou— ela murmurou confortadora para o marido como se ele fosse uma criança que acordara de um sonho ruim. Apoiou a cabeça nas costas dele numa espécie de abraço. Ela o segurou com uma ternura tão inesperada que os músculos do conde responderam involuntariamente, relaxando e aquecendo-se.

Não sabiam mais quanto tempo haviam ficado assim quando Dorian finalmente acordou de seu torpor.

— Está tarde...—ele começou e ela afastou-se dele como se também tivesse sido acordada.

Virando-se de frente para ela removeu a camisa ensopada atirando-a displicentemente num canto, revelando um abdômen luxuriante e definido. Exceto pela cicatriz no ombro, sua pele era perfeita. Ele era como um verdadeiro Adônis*, Nicole não pôde deixar de notar, ao permitir que os olhos varressem toda a extensão do corpo forte do marido.

—Acho que você deveria voltar para seu quarto e se trocar também. E a propósito, meus olhos ficam aqui em cima, milady.

Nicole corou violentamente. Tratou logo de desviar o olhar e dar meia volta para sair do quarto.

—Ridículo— ela murmurou baixinho antes de sair.

—Também adoro você!— ele respondeu mais alto para mostrar que tinha ouvido. Um sorriso discreto brincando em seus lábios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Adônis - Mitologia Grega. Jovem de grande beleza que nasceu das relações incestuosas que o rei Cíniras de Chipre manteve com a sua filha Mirra. Mais tarde Adônis passou a despertar o amor de Perséfone e Afrodite.

Então genteee desculpem a demora. Fiquei bem louca nessa semana de provas. Bom, espero que tenham gostado do capítulo, que foi um pouco mais longo dessa vez para compensar :)
Não deixem de comentar! Adoro ouvir as críticas e as sugestões de vocês!
Até o próximo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Where flowers grow wild" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.