Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 8
Cap. 8 - Uma Festa Inesperada




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Lily terminu de trançar suas próprias costeletas de um jeito que subissem até as têmporas e então fossem em volta de suas orelhas e caíssem atrás delas. Isso iluminava seu rosto, fazendo seus olhos de mar profundo brilharem e se destacarem. Iris estava escovando o cabelo dos pés, ainda desconfortável com essa nova característica, mas resignada com isso. Se ela tinha que ter pés cabeludos, eles seriam bem cuidados. Ellen entrou no quarto com o mapa dobrado na mão e um olhar cansado no rosto; sentou-se na cama e olhou para as garotas.

“Senhoritas, espero que esteja confortáveis em seus lugares e que tenhamos uma tarde agradável. Nosso objetivo nessa reunião é…” As garotas olharam para ela como se tivesse enlouquecido. “... pedir aos deuses que todas nós saiamos com segurança desse mundo absurdo e tenhamos uma chance de descansar, curar nossas feridas e acordar para descobrir que foi tudo um pesadelo. Esqueçam os relatórios, cronogramas, alvos e projeções. Eu desisto!”

Então ela se jogou na cama e fechou os olhos, enquanto suas sobrinhas riam alto.

“Tarde de reunião ruim, Titia?”

“Eu tenho certeza de que não sou cem por cento elfa ainda, eu ainda fico com fome quando uma reunião passa da uma da tarde e o presidente da empresa continua falando, sem nenhum coffee-break! Por falar nisso, eles não têm café nesse mundo? Nada de café, espresso, capuccino…”

Lily interveio. “E nada de chocolate!”

“Ah, não! Eu não tinha pensado nisso! Então é pior do que eu imaginava!”

“Só brincando, Titia, eu ainda tenho um tanto de chocolate escondido para qualquer emergência!”

Ela respirou fundo, se forçando a ficar um pouco mais séria.

“Então guarda, a gente não sabe aonde nossa desventura vai nos levar, mantenha o chocolate escondido de todas nós até que seja uma questão de vida ou morte.” Lily a encarou, assustada. “Não me olhe assim, agora estou falando sério, mantenha os chocolates escondidos! Você já comeu algum deles?”

“Não, mas eu dei um para um garoto, acho que esse Estel é a única criança que ví em Imladris, você precisa ver que gracinha! Ah, e ele é humano, também, ou pelo menos não tem orelhas pontudas.” Então o alarme disparou. “Você não está dizendo que acha que vamos chegar a um ponto em que vamos passar fome, está?”

Lily era a pior pessoa para se ter por perto quando com fome, desde criança. Ela ficava brava mesmo, de mau humor, impaciente, de gênio ruim, para dizer o mínimo.

“Para falar a verdade, qualquer coisa pode acontecer. Veja, se não tivéssemos achado a casa de Elrond, nossa comida estaria quase acabando agora, e então? Tivemos a incrível sorte de achar, ou de sermos achadas, por Radagast, Gandalf e os anões. Eu não sei o que poderíamos ter achado se tivéssemos ido pelo caminho errado. Graças à estrela no mapa, começamos tentando no rumo certo. Elrond também não sabe nada sobre a origem desse mapa, mas ele acha que, aparentemente, ele faz a pessoa ir para onde ele mesmo mostra. Poderíamos ter entrado por qualquer borda dele, dependendo do jeito do terreno do lugar onde estivéssemos andando no nosso mundo. Poderíamos ter achado os orcs e sermos mortas, ou pior, e isso é fato. Sem os anões, provavelmente nunca vamos alcançar Erebor, e sabem o melhor de tudo?” As garotas olharam para ela, percebendo talvez pela primeira vez o quanto a situação delas era realmente séria, se isso era resultado da reunião com Elrond e Thorin, e talvez mais pessoas que elas não sabiam que estavam lá, o estado de sua tia depois disso, e a reação de pedir café e desistir, que era bem conhecida pelas garotas quando ela estava em alguma situação profissional complicada, mesmo que ela nunca tivesse desistido de fato. “Eu aposto uma lata de atum que vocês não adivinham o que está dentro dos salões de Erebor esperando por nós.”

“Ahh, hmm, o Fíli disse que era segredo, mas que eles estão indo recuperar um tesouro perdido faz muito tempo.” Disse Iris.

“É, Kíli falou de uma herança antiga, mas não entrou em detalhes.” Lily completou.

Ellen sentou na cama de novo, cobrindo o rosto com as mãos, balançando a cabeça, e murmurou.

“E algum desses moços otimistas e bonitinhos deu alguma dica do que está dentro da montanha além do tesouro?”

“Não.”

Bem nessa hora alguém bateu na porta e uma elfa sorridente, de cabelos pretos, espiou para dentro do quarto.

“Desculpem, estou interrompendo algo?”

Ellen levantou a cabeça.

“Não, estamos só conversando um pouco.”

Ela percebeu algumas semelhanças entre a elfa e alguém que ela conhecia, mas não conseguia determinar quem. Iris notou que ela tinha uma bonita voz de contralto.

“Meu pai disse que vocês provavelmente não ainda tiveram uma refeição depois do desjejum. Ele ficaria feliz em te-las em nossa companhia quando puderem, estamos celebrando a volta de meus irmãos para casa e teremos folguedos pelo restante do dia.” Ela abriu um grande sorriso. “Ele disse que vocês são parentes, é isso mesmo? Eu adoraria ouvir a história!” Então ela enrubresceu ligeiramente, baixando seus olhos líquidos. “Perdoem-me por ser tão curiosa, é que recebemos tão poucos hóspedes nesses tempos obscuros, que qualquer novidade é tão emocionante!”

A elfa de outro mundo sorriu calorosamente.

“Sem problemas, pode ter certeza de que estamos tão curiosas sobre você quanto você sobre nós! Mas,” Ellen acrescentou, antes de perder a oportunidade. “a quem devemos a honra desse convite?”

A anfitriã sorriu.

“Meu nome é Arwen, filha de Elrond.”

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Iris e Lily logo acompanharam Arwen para o pátio de festa no campo aberto, cercado de orquídeas em cada tronco de árvore e uma longa mesa em ‘T’ no meio, coberta de toalhas verde-claro e enfeitada com um tipo de flor que elas não conheciam. Vários elfos já estavam lá, alguns comendo e bebendo, outros tocando e cantando, alguns trabalhando na fogueira onde várias peças de carne macia exalavam um aroma delicioso. As duas irmãs descobriram-se satisfeitas com a informação de que aqueles elfos não eram veganos, apenas deixavam para consumir carne uma vez por dia ou menos, porque seus corpos precisavam de muito mais sais minerais e vitaminas e menos carboidratos e proteínas do que a maioria das raças. Não era uma diferença cultural, mas metabólica.

A maioria dos anões já estava lá, muito feliz com a mesma descoberta, e os narizes das garotas ficaram felizes em saber que eles costumavam tomar banho de vez em quando. Ficaram ainda mais felizes em conhecer Elladan e Elrohir, os irmãos gêmeos de Arwen, que haviam estado numa caçada a orcs. Eles tinham uma contenda em especial com os orcs, uma vez que sua mãe, Celebrían, havia sido torturada por eles e nunca mais sido a mesma depois disso, tendo que partir para Valinor, fora dos círculos da Terra-média, para buscar algum alívio para suas dores físicas e emocionais.

Elladan, Elrohir e Arwen eram companhia muito agradável, e davam o melhor de si para fazer seus hóspedes se sentirem em casa. Thorin estava rígido e quieto, como de costume, mas depois de algum tempo, um pouco de boa carne e bom vinho, mesmo ele estava tendo momentos agradáveis entre os elfos, uma vez que Elrond era realmente diferente de qualquer elfo que ele tivesse conhecido anteriormente, especialmente Thranduil.

Iris e Lily estavam se divertindo com os anões e alguns elfos curiosos sobre o estranho grupo. A hobbit ruiva adorava cantar, era rápida em pegar as melodias e estava se divertindo muito, ainda mais quando Biblo começou a lhe ensinar algumas músicas e danças ‘de beber’. Lily estava tendo sua cota de carne, e não tinha percebido o quanto estava sentido falta disso. Assim era que enquanto comia estava quieta, e ouvia as conversas à sua volta. Estava focando principalmente em Thorin, Gandalf e Elrond, aos quais ela deu jeito de sentar perto, tentando obter mais informação, já que o que quer que Ellen estivera para contar a ela e à sua irmã sobre a reunião ia ter que esperar.

Elrond estava lhes contando sobe a situação atual nas Montanhas Nebulosas, perto das quais Imladris se escondia. Seus filhos haviam colhido informação de que orcs, goblins e outras criaturas más estavam aumentando seus números, se tornando mais ousados, como no ataque que o próprio Elrond tinha perseguido no dia anterior, para a sorte de Thorin e sua companhia.

“O melhor para vocês é ir o mais rápido que puderem. Podem usar quantos pôneis e cavalos precisarem, e suprimentos leves para garantir velocidade para atingir o outro lado das montanhas. Uma vez lá poderão caçar, e talvez encontrar meios de se reabastecer com o Povo-Silvestre.”

Thorin lhe lançou um olhar severo.

“Não lidarei com os elfos da floresta, não importa o que diga em seu favor!”

“Eu nem mesmo considerava isso, meu amigo, se posso ser tão ousado e lhe chamar assim. Compreendo o abismo que há entre você e Thranduil. Quem mencionei são os humanos que vivem nas bordas a oeste de Mirkwood, a sul do Velho Forde.”

Lily olhou para cima, notando que era a primeira vez desde que escorregaram barranco abaixo que ouvia alguém falar sobre humanos. Era estranho pensar que não era mais um deles. Perguntou a Balin, que estava a seu lado, como eram os humanos na Terra-média.

“Hmm, muito altos para anões, muito baixos para elfos. Não têm nossa habilidade para trabalhar a pedra ou metal nobre, ainda que alguns deles sejam um tanto hábeis como ferreiros. Constroem suas casas no aberto, como essa Imladris, não no aconchegante interior do coração da pedra.”

A garota anã não pôde conter um sorriso quando imaginou como seria viver dentro de uma montanha. Soava tão… seguro, e confortável…

“Como eram os salões em que vivia, garota?” O velho anão perguntou, amigável. A garota baixou o olhar.

“Não eram salões, senhor Balin. Vivíamos num mundo humano. Nada de grandiosos salões talhados na pedra viva, nem gemas brilhando como estrelas nas paredes, nada como ouço o senhor descrevendo seu lar. Mas então, alguma coisa no meu coração me faz querer que assim fosse um lar para mim, também.”

“Sente falta do seu lar, garotinha?”

“Sinto falta do meu pai. Ele deve estar preocupado com a gente, se já tiver descoberto que não chegamos no lugar para onde estávamos indo, ou vai ficar, quando não chegarmos em casa depois do fim do encontro. Pelo menos tenho minha tia e minha irmã aqui, seria enervante estar totalmente sozinha.”

“É verdade, eu sempre esqueço que a garota hobbit é sua irmã. Ter uma irmã é uma bênção entre nosso povo, sabia?”

“Não, eu não sabia! Nós duas tivemos alguns períodos difíceis, brigávamos muito quando éramos mais novas, mas agora que você disse, é tão claro. Sim, ter uma irmã é uma bênção.”

Foi a vez de Balin ter seu olhar perdido em lembranças.

“Você tem irmãs, senhor Balin?” Perguntou uma Lily curiosa. Ele a olhou com um olhar marcado pela dor.

“Eu tive. Eu e Dwalin perdemos nossa irmã para uma febre durante os Tempos Nômades.” Lily não sabia o que eram os tempos nômades, mas o velho anão parecia tão aquebrantado que ela achou melhor ficar em silêncio. “Desde então nunca achamos alguém que compartilhasse nossa amálgama de forma que pudéssemos adotar como nossa Irmãzinha.”

Lily não sabia o que aquilo significava, o conceito, mas Balin estava disposto a explicar.

“Ter a mesma amálgama significa que vocês tem tanto em comum que poderiam ter sido nascidos e criados pela mesma mãe, como uma mistura de metais que vai fundir à mesma temperatura, dobrar-se do mesmo jeito quando batida com o mesmo martelo, lascar os mesmos estilhaços. O jeito que você pensa, que lida com as coisas, é tão parecido que um pode ser confundido com o outro. É assim comigo e com meu irmão, e você pode ver isso em Kíli e Fíli, ou em Óin e Glóin, por exemplo. Existem poucas anãs, por isso não é todo homem que se casa, mas ter uma irmã, na maioria das vezes, é o suficiente para suprir a necessidade que se tem de cuidar de alguém, e de ser cuidado. Uma mulher casa-se apenas com um homem, mas pode ser Irmãzinha para mais de um, especialmente se ela mesma não tem irmãos e tem a mesma amálgama que alguém, como eu e Dwalin.”

“Você e o senhor Dwalin não parecem assim tão iguais, se me permite dizer, senhor Balin.”

Ele sorriu.

“Já tive meus dias de braços mais fortes, assim como ele terá seus dias de palavras mais brandas, garotinha. Mas na nossa essência somos o mesmo.”

Pensar em família fez Lily se dar conta.

“Cadê minha tia?”

ooo000ooo

Logo Ellen estava pronta, após um bom banho para lavar o suor do treino matutino e o desassossego da reunião do meio-dia. Ela sentiu falta da cuidadosa atenção de Lily com seus machucados, mas deu um jeito de esfregar um pouco de unguento de cânfora nela mesma. Mas então parecia que todo mundo da Última Casa Hospitaleira estava fora da casa, e ela não sabia para onde ir.

Ellen se encontrou perdida, perambulando pelos salões de Elrond, que lhe pareciam mais um labirinto, cada corredor abrindo para outro salão cheio de novas passagens, alguns sem teto, outros sem paredes, alguns becos sem saída, e isso a estava enervando. Ela estava com fome, ela estava cansada, ela estava preocupada, ela estava sozinha e ela estava perdida. O que ela via em volta se misturava com suas memórias, turvas e quase totalmente apagadas, dos livros que ela tinha lido várias vezes antes e os filmes que assistira algumas vezes, ao ponto em que não sabia mais ao quê aquilo que ela via pertencia, e se o zumbido em seus ouvidos era de fome ou de uma premonição que ela não sabia por que estava lá. Como num transe, caminhou por mais e mais corredores, até achar um afresco delicado numa parede, e uma figura severa esculpida em frente à pintura, segurando uma bandeja coberta por um pano com os estilhaços de uma espada. Ela foi atraída até a espada, todo o punho e um pouco da lâmina ainda inteiros, e então vários estilhaços ao lado. Era óbvio que pertenciam à mesma espada, mas então, por que estava ali, sem ser consertada? Ela estendeu uma mão, incapaz de se conter, e tocou a empunhadura delicadamente com a ponta dos dedos.

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“Senhora Ellen, você está bem?”

Uma voz preocupada veio à ela como se de um longo túnel, fazendo com que tentasse sacudir a tontura de sua cabeça, mas sacudir a cabeça era dolorido demais. Seus lábios estavam secos, sua pele fria e úmida, e os olhos preocupados de Bilbo, grandes e castanhos, à trouxeram de volta para onde ela estava.

“Estávamos ficando preocupados porque você não chegava à festa, então alguns de nós viemos procura-la.” Ele perguntou de novo. “Você está bem?”

Ela sentou no chão, esfregando os olhos, e olhou para o rosto preocupado do hobbit.

“Eu… Eu vou ficar bem… Só… A espada… O Inimigo…” Ela pressionou as têmporas com os dedos. “Me tira daqui, senhor Bilbo, por favor!” Ela olhou para ele freneticamente. “Me tira daqui, tem coisa demais aqui que eu não devo entrar em contato, por favor!” Ela se levantou, alarmada. “Me tira daqui!”

Bilbo tomou sua mão e a puxou ao longo do caminho que ele sabia que os levaria mais rápido para fora da construção. Os corredores eram mais curtos agora, com o hobbit a guia-la, Ellen não entendia como tinha se perdido. Quando estavam quase alcançando a luz do dia, duas sombras vieram em sua direção, uma de cada lado, quase derrubando Bilbo e ela mesma. Aquele abraço violento era uma coisa que ela nunca esqueceria, e levaria algum tempo para compreender, se é que seria possível.

“O que você está fazendo aqui?” Perguntou um Thorin preocupado.

“Aí está você!” Gritou um Dwalin aliviado.

Ela parou nos próprios passos, segura por tanta gente que se importava; tocar a empunhadura daquela espada tinha feito alguma coisa com ela, a tornou sensível para o que aqueles a seu lado viviam e sentiam; ela tinha perdido a maioria de suas próprias lembranças do que tinha lido sobre aquele mundo, mas alguma coisa também havia mudado, e ela não conseguia nem compreender nem controlar totalmente aquilo; esperava que isso passasse logo. Bilbo segurando sua mão era fácil de lidar, ele tinha um passado tão suave que era quase uma bênção senti-lo, e seu sentimento por ela era o de alguém preso na mesma armadilha, mas então aqueles dois anões experientes eram totalmente diferentes. Agora ela sabia, tão certo como a vida, que nenhum deles tinha algum pensamento ruim a seu respeito, mas de maneiras diferentes tinham sentimentos fortes - anões tinham sentimentos fortes, era inegável - e ela não conseguia entender direito o que era aquilo tudo. E havia algo ainda mais difícil de lidar: ela podia, pelo menos naquele momento, sentir que eles tiveram perdas imensas em seus passados, sentia que eles haviam sofrido em um nível indizível, sentia a dor de seus passados e não tinha como alcançar sua origem, apenas a dor estava lá, o vazio, o luto, a perda, mas não a causa, então não podia nem mesmo tentar compreender aquilo, elaborar aquilo de forma que pudesse suportar assim como eles. Todos seus anos de auto-controle derreteram naqueles poucos momentos em que Thorin e Dwalin a abraçaram como uma deles. Ellen olhou profundamente nos olhos de cada um, sem palavras, estremeceu e colapsou no chão.

ooo000ooo

“Bem vinda de volta, dorminhoca!”

A voz de Iris era uma bênção depois dos sonhos tumultuados nos quais Ellen havia dormido. Ela sentou na cama e olhou para sua sobrinha preocupada, e descobriu que o campo de batalha de seus sonhos não estava lá, misericordiosamente.

“Quanto eu dormi? Estou com sede.”

“O suficiente para perder um monte de animação mas não o suficiente para o churrasco ter acabado. Tome um gole de água e uma colher de mel, vai fazer você se sentir melhor.” A elfa fez como lhe foi dito, as duas coisas estavam na sua mesinha de cabeceira. “Elrond disse que queria te ver quando acordasse, a Lily acabou de sair para chama-lo. Como está se sentindo?”

“Zonza. Confusa. Minha cabeça dói. Onde eles estão?”

“Eles quem?”

“Bilbo, Thorin, Dwalin. Eles me acharam.”

“Estão de volta na festa, mas acho que não vão te deixar em paz depois que Elrond te liberar dos cuidados dele, os anões, pelo menos. O que foi que você fez para eles ficarem tão gentis contigo?”

“Eu realmente não sei. Thorin é o líder da Companhia, ele pode simplesmente estar preocupado com um membro dela; Dwalin decidiu ser amigável comigo desde o duelo.”

“Não acho que seja assim tão simples.” Iris olhou para ela de um jeito estranho. “E quase a primeira coisa que você pergunta depois de acordar é onde eles estão. Hmm, Titia Ellen está paquerando…”

Ellen jogou um travesseiro na sobrinha.

“Cala a boca, tampinha, ou eu jogo uma lata de atum na próxima vez!”

Iris riu alto.

“Então é verdade!”

“Não, não é! Estou fora dos negócios já faz tempo, você deveria saber!” A hobbit riu mais. “Ah, vamos lá, Iris, eu não tenho conexão real com eles além da nossa missão,” Ela abaixou a voz, pensando na memória da dor que ela alcançou acidentalmente. “eu acho.”

Uma suave batida na porta e tanto Elrond como Gandalf estavam lá; o elfo tomou um assento ao lado da cama de Ellen, onde ela já estava sentada, e olhou gentilmente para ela.

“Senhorita Iris, poderia por favor avisar os outros que estaremos lá em breve?” A hobbit concordou e deixou o quarto. Era uma maneira gentil de pedir que ela os deixasse a sós. “Você sabe o que aconteceu com você?”

“Não. Na verdade, pensei que pudesse me dar essa resposta.”

“Pode descrever o que aconteceu?”

Ela o fez, em tão poucas palavras quanto pôde, porque a memória da dor dos outros era vívida em sua mente como se tivesse sido ela mesma que tivesse atravessado aquelas provações.

“Em alguns dias alguém estará aqui que poderá confirmar minha suspeita, mas lhe direi o que penso assim mesmo, porque sei que você não tolerará ser deixada sem nenhuma informação.” Ellen assentiu. “Sua transformação em elfa pode não ter terminado ainda. Alguns de nós têm… habilidades mentais… que se desenvolvem com o tempo. Quando isso acontece naturalmente, temos centenas de anos para nos acostumarmos a isso, mas as coisas precisam ocorrer mais rápido para você, uma vez que precisa atingir seu próprio nível de maturidade em apenas uns poucos dias. Se tivéssemos mais tempo, eu a treinaria no uso desses dons, uma vez que podem ser perigosos de portar sem treinamento. Assim como é, com você indo nessa missão assim que a lua mostrar o que Thorin precisa saber, creio que seja mais sábio lhe dar um escudo.”

“Que tipo de escudo?” Perguntou Ellen, confusa. Estava acostumada a usar uma espada curta na mão esquerda ao invés de um escudo, e não queria mudar seu estilo de luta mais que o necessário.

“Um escudo mental. Você deverá ser capaz de bloquear o fluxo de informação não solicitada que recebe quando toca algo ou alguém. Ele também deverá bloquear mais da sua memória do futuro, por assim dizer, porque vejo que não está lhe fazendo bem. Observei suas sobrinhas, a memória futura delas já está bloqueada, mas hobbits e anões têm mentes diferentes das nossas. Manter sua memória futura ‘aberta’ poderia ser perigoso, tanto para você como para aqueles próximos de você.”

“Mas eu vou conseguir baixar o escudo quando eu quiser? Poderia ser útil.”

“Nunca é plenamente certo como vai funcionar para alguém, mas o mais provável é que você tenha apenas alguns vislumbres. A sua presença e a de suas sobrinhas já mudou o futuro do qual você tem memória.”

“Entendo.” Ela baixou os olhos, pensando um pouco, e então olhou para cima novamente. “E a memória de quem eu já toquei? Vou me ver livre daquela dor?”

Foi a vez de Gandalf de responder.

“Mais provavelmente, não. Mas se eles são capazes de viver com ela, você será capaz também.”

ooo000ooo

Dwalin levantou-se quando Elrond e Gandalf se aproximaram com Ellen entre eles, sorrindo sem graça por ter incomodado tanta gente no meio de uma festa.

“Você senta bem aqui, você precisa comer.” E a colocou bem ao seu lado, numa cadeira que puxou dalí de perto, não se importando por Bombur ter se esborrachado no chão quando a cadeira que estava usando não estava mais onde esperava. Ela começou a mordiscar um pêssego saboroso quando um prato foi empurrado na sua frente, com pão escuro cheio de manteiga, fatias de um queijo de sabor forte e pilhas de diferentes tipos de carne assada. “E é para comer direito!”


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