Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 4
Capítulo 4 – Num Buraco no Chão Havia um Monte de Anões




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Tinham caminhado por cerca de duas horas quando ouviram um som de gelar o sangue. Era como um uivo, mas pelo seu tom grave devia pertencer a um lobo muito grande.

“Está perto?”

“É para nós?”

“Vamos sair da estrada e descobrir depois!”

E assim fizeram, correndo o melhor que podiam, tirando vantagem de algumas aflorações rochosas para se esconder da vista da estrada enquanto mantinham a direção geral para o leste. Os uivos estavam se aproximando, e podiam ouvir alguns gritos guturais também.

“Precisamos nos livrar dessa matilha. Eles estão caçando alguma coisa, e não queremos que pensem em nós como presas também.”

“O que são eles?”

A imagem de uma criatura parecida com um golfinho, preta e branca, veio à mente da mais velha. “Orcs! Mas não são as orcas do San Diego Sea World!”

Continuaram a tentar ir para o leste enquanto evitavam os uivos e os gritos. De repente, enquanto corriam de um afloramento para outro, viram os coelhos de Radagast correndo numa velocidade assombrosa, e lobos enormes com uns punks estranhos montados neles. O Istar esquisito (o que quer que isso significasse, mas elas tinham ouvido ele referir-se a si mesmo sob esse título) abaixou-se sob um pedra baixa onde um ‘lobão mau’ e seu cavaleiro bateram as cabeças. Também viram algumas pessoas correndo de um afloramento para outro, e se perguntaram se aqueles eram a verdadeira caça dos orcs.

“Ei, eu achei um buraco!” Iris chamou de detrás de uma rocha. “Pelo menos pode proteger nossas costas, vamos nos esconder aqui dentro!”

As outras duas correram até ela, dando o melhor de si para não serem notadas pelo grupo de orcs. Escorregaram o caminho íngrime abaixo e se encontraram no que parecia ser o começo de um túnel, parcamente iluminado por algumas fissuras no alto. O barulho da caçada continuava lá fora, chegando mais perto.

“Não sabemos onde esse caminho vai dar, e eu não quero cair numa armadilha se isso estiver bloqueado mais adiante. Melhor esperar até estar seguro lá fora e achar nosso caminho para o leste de novo. Enquanto isso,” Disse Ellen, já se preparando enquanto falava. “vamos ficar prontas para o caso de a batalha chegar aqui embaixo. Uma última resistência para nos protegermos, e lembrem-se de derrubar tantos quantos conseguirem. Nada de misericórdia, porque eles não teriam nenhuma para nós.”

Segurou mais firmemente sua espada bastarda na mão direita e a curta na mão esquerda, como ela fazia nas lutas simuladas de boffering. Apesar das armas terem mudado para o que fazia parte desse mundo, assim como elas mesmas, ainda tinham o mesmo peso e sensação de quando era simples coisas feitas de espuma de poliuretano, e ela esperava que fosse tão capaz com essas armas de verdade como era em casa com suas boffers. Lily já tinha provado suas habilidades em arquearia com as flechas de verdade, e parecia que Iris teria pouca dificuldade com suas espadas curtas gêmeas. Mas nenhuma delas nunca tinha matado alguém de verdade, e seu treino de simulação de esgrima incluía regras de segurança de forma que estavam acostumadas a evitar cabeça, pescoço e virilha de seus oponentes. Teriam que reescrever anos daquele treinamento em questão de minutos, ao que parecia.

Houve uma mudança nos sons lá fora, de corrida para luta de verdade. Ouviram berros e rosnados e uivos horríveis, e gritos. Uma voz estava bem perto delas quando gritou “Por aqui, seus tolos!” e então havia mais alguém dentro do buraco. Lily tinha seu arco pronto para atirar mas Ellen levantou sua mão com a espada curta, sinalizando para que esperasse. O velho olhou para baixo para ela e assentiu.

“Sábio o bastante.”

Logo havia anões e mais anões descendo no buraco, e um hobbit também, todos armados de algum jeito - machados, maças, lâminas de todos tamanhos e formatos. Os últimos três rolaram o caminho íngrime abaixo, um loiro e dois de cabelos escuros. O mais velho deles tinha algumas mechas grisalhas no cabelo e uma espada bonita em sua mão. Lily percebeu que não era de feitura anã, apesar de não saber como sabia. Esse olhou para elas parecendo mais zangado do que surpreso.

“O quê, em nome de Durin, é esse bando?”

“Um bando de belas, eu acho!” O arqueiro anão murmurou baixinho, e o loiro riu em resposta. A elfa pôs suas armas no chão a seu lado em sinal de paz e olhou para ele.

“Sem tempo para apresentações formais, senhor, mas pode nos chamar de Lealdade, Honra, e Coração Disposto.” As três mulheres curvaram-se como se tivessem combinado antes. “Ao seu dispôr!”

Nesse momento os gritos do lado de fora aumentaram, e o som de cascos podia ser ouvido perto da boca do buraco. De repente um cadáver horrível caiu aos seus pés. Aquele que parecia ser o líder arrancou uma flecha que enfiada no peito da criatura e jogou fora, com uma careta de desgosto.

“Elfos!”

Um anão meio careca com tatuagens azuladas na cabeça e nos braços passou pelas três estranhas como se nem estivessem lá e deu uma olhada na trilha de pedra atrás delas.

“Vamos por aqui?”

“Parece uma boa idéia.” A tropa seguiu pelo túnel estreito seguindo a resposta do velho vestido de cinza. Cinza! A cor ressoou na cabeça de Ellen enquanto ela corria atrás dos anões com o homem alto atrás dela. Ela se virou e sussurrou.

“Senhor Cinzento?”

“Sim?”

“Saudações de parte do Senhor Castanho. Ele o está procurando.”

“Obrigado, senhorita, ele já nos achou hoje de manhã. Ele me contou sobre vocês três. Temos um longo caminho pela frente até chegar no lugar para onde estamos indo. Poderemos conversar melhor então. Por enquanto, fique em paz.”

ooo000ooo

Apesar de se sentirem mais seguras por não estarem mais em campo aberto, e andando com uma tropa de caras bem armados, as garotas estavam ficando mais e mais incomodadas conforme o dia passava. Os anões faziam um bom passo mesmo com suas pernas curtas e mochilas aparentemente pesadas, e estava difícil para elas, principalmente para Iris.

Duas ou três horas depois o lider dos anões finalmente ordenou uma parada, numa lugar em que as paredes eram um pouco mais afastadas. Ellen desabou no chão, acompanhada das sobrinhas, todas catando os cantis que em outro mundo tinham sido feitos de plástico, mas que agora eram de couro. A respiração pesada ainda não tinha se acalmado quando o anão vigoroso as encarou com um olhar de desconfiança em seus olhos sisudos.

“Pode não ser o melhor lugar para apresentações adequadas, mas algumas perguntas precisam ser respondidas mesmo assim.”

Ellen levantou-se e respirou fundo. Estava acostumada com diretores de olhar sisudo, pares arrogantes, presidentes de companhia ditatoriais e a ser interrogada por conselhos de acionistas, mas todos eles costumavam usar ternos e gravatas e serem mais altos que a altura de seus seios. Mas então, nenhum deles tinha uma espada e uma machado como os dele, então parecia melhor não zombar com ele. Muito.

“E que perguntas teria para nós, senhor? Estamos dispostas a esclarecer qualquer dúvida, já que não temos nada a esconder. Porém, gostaríamos de saber para quem estamos nos reportando, de forma que possamos nos dirigir ao senhor e à sua companhia com o devido respeito.”

O homem vestido de cinza entrou em cena.

“Pode ser minha tarefa fazer algumas apresentações aqui, uma vez que conheço alguma coisa sobre ambas as partes. Thorin Escudo de Carvalho, estas são Ellen, filha de Nyda, e suas sobrinhas Lily e Iris, filhas de Wolfram, filho de Nyda. Respeitáveis senhoritas, este é Thorin Escudo de Carvalho, filho de Thráin, filho de Thrór, seus sobrinhos Fíli e Kíli” Ele endereçou os dois jovens que caíram no buraco por último. “e senhores Balin e Dwalin” Estes eram um idoso e o meio careca tatuado. “Óin e Glóin” Outro idoso e um de cabelo e barba ruivos. “Ori, Nori e Dori” Dois aparentemente jovens e um de cabelos prateados. “Bifur, Bofur e Bombur” Esse era o trio mais esquisito, um com uma cabeça de machado na testa, um com bigodes de Dali e um com a maior barriga que qualquer uma delas já tinha visto. “e Bilbo Baggins, do Condado.”

Todos, com exceção de Thorin, fizeram algum gesto de cumprimento, mesmo que apenas um aceno ou resmungo. As garotas olharam para cada um deles conforme podiam na rápida apresentação que o senhor Cinzento fez.

“Está me dizendo que essas três são da mesma família?” O anão vigoroso perguntou ao senhor Cinzento sem olhar para ele. “Nenhuma consideração para a pureza do sangue, aparentemente.”

A pequena garota hobbit voltou-se para ele sem constrangimento. Ela tinha visto preconceito racial o suficiente em seu mundo anterior para não aceitar que acontecesse com ela nesse.

“Lamento, senhor Escudo de Carvalho, mas na nossa família valorizamos mais a pureza de princípios que qualquer outro tipo de pureza.”

Ele olhou para baixo para a única garota hobbit no grupo e se perguntou esse tipo de comportamento era comum entre os hobbits ou se ele só tinha um enorme azar.

“Por que estão aqui? Por que estavam se escondendo na entrada do túnel? Por que estão nos acompanhando? Para onde estão indo, e por quê?”

“Se um relatório parcial for suficiente, senhor, eu diria que só os céus sabem porque estamos aqui, que estávamos nos escondendo pelo mesmo motivo que vocês, que estamos acompanhando porque não tem outro caminho, e que estamos tentando ir para casa, porque estamos perdidas de um jeito que você não tem nem idéia.” Respondeu Ellen, contando nos dedos. “Um relatório completo pode ser entregue no momento e lugar adequados.”

“Para o momento, e talvez por mais que isso, elas estarão seguindo pelo mesmo caminho que nós, Thorin.” O senhor Cinzento interveio. “E elas procuram conselho da mesma pessoa.”

“Eu não quero falar com aquele elfo, Gandalf! Nossa missão tem que ser mantida tão em segredo quanto possível! Ninguém além de nós deve saber sobre o mapa!”

“Também estão tendo problemas com um mapa?” A garota anã perguntou e o senhor Gandalf Cinzento deu uma risadinha.

“Parece que você mesmo se entregou quanto ao mapa, pelo menos para essas garotas, Thorin.” O anão cerrou os olhos, furioso consigo mesmo. “Tome as coisas com mais leveza para consigo mesmo, um fardo é mais fácil de ser carregado quando é compartilhado.”

Lily foi até a mochila de Ellen, que estava um pouco afastada da tropa de anões, pegou o mapa e o desdobrou para que eles vissem. Balin chegou mais perto, deu uma olhada, e balançou a cabeça.

“Só um mapa geográfico.”

“Talvez, mas esse mapa geográfico nos meteu em tanta encrenca que o senhor não pode imaginar! Precisamos ir para algum lugar para fora desse mapa para ir para casa, parece.” A jovem anã lhe disse. “O senhor Radagast mencionou uma montanha, mais ou menos aqui.” Ela apontou logo para fora do mapa e o velho anão lhe lançou um olhar severo. “Precisamos chegar aqui para ir para casa.”

“O que sabe sobre essa montanha, moça? Por que precisam ir até lá?” Balin perguntou, desconfiado, e Thorin olhou para ela atentamente. Ela continuou, alheia à tensão à sua volta.

“O senhor Radagast disse que há uma lenda sobre um Portal nessa montanha que pode levar até nossa casa.”

“Só para esclarecer, senhores, nossa casa é muito longe daqui.” Ellen acrescentou.

“Quão longe?” Perguntou Thorin, trocando olhares com Balin. Gandalf interveio.

“Se eu e Radagast entendemos corretamente, e há pouca chance de estarmos errados, longe o suficiente para nenhum de nós, viventes sob este sol, termos estado lá.”

“O que quer dizer? Fale com clareza, mago!” Exigiu Thorin.

“O lar delas é sob outro sol. Elas não vieram da mesma canção de Erú que criou todos vocês, e tudo o que vocês conhecem nesse mundo.”

“Está dizendo que são de outro mundo?”

“Sim.”

“E que estão procurando pelo Portal Mítico de Erebor?”

“Sim.”

“Conversa fiada!” Thorin parecia bravo novamente. “Essa conversa toda não tem sentido, o Portal é uma lenda, não existe essa coisa de outros mundos!”

Balin pôs uma mão em seu ombro e tentou acalma-lo.

“Thorin, existem mais coisas sob o sol do que podemos imaginar! Você diz que o Portal é uma lenda, mas então, dragões são lenda para a maioria das pessoas; a Pedra Arken é uma lenda; você diria que Valinor é uma lenda? Se não, se Valinor existe, como sabemos que existe, e é em outro mundo, então por que não podem existir mais mundos além do nosso?” O velho anão argumentou. “Começamos nossa jornada em nome de profecias, seguindo sonhos! E agora encontramos três damas guerreiras em nosso caminho, que precisam encontrar uma lenda em nossa própria casa! Você pode chamar isso de acaso, mas eu chamo de fortuna. Elas podem ser um acréscimo valioso para nossa companhia.”

Thorin bufou.

“Lendas não vão nos ajudar a retomar Erebor. Eu não vou arrastar um bando de mulheres desconhecidas que contam uma história esquisita dizendo ser de outro mundo e tentando entrar na nossa casa, mais provavelmente interessadas no nosso ouro. E não vou chamar ninguém de guerreiro até que eu tenha visto esse alguém em ação, porque qualquer um pode carregar uma espada roubada sem ter nenhuma habilidade.”

“Não somos ladras!” Gritou Lily, indignada.

“Senhores, por favor, não queremos confusão, só queremos ir para casa!” Iris pediu. “Não sabemos quase nada desse lugar, não sabemos o caminho!”

“Eu compreendo duas dúvidas, senhor Escudo de Carvalho, e seu meu sangue fosse mais quente eu teria o prazer de lhe mostrar o quão hábil podemos ser e, rei ou não, lhe ensinar algumas boas maneiras sob os suaves afagos das minhas espadas.” Ellen achava isso pior que o conselho de acionistas, já que os gritos de Thorin atraíram o resto dos anões e o hobbit para o debate. Ela ainda tinha fragmentos de memória dos livros em sua mente e os usou a seu favor assim como havia usado um fragmento de um filme que havia assistido. “Mas eu sei que você perdeu muito na vida e ainda vai perder mais antes do fim, então meu lugar não é lutando contra você, mas a seu lado, e você vai julgar por si só se somos dignas de sua companhia ou não. Se eu entendi direito, estamos indo para o mesmo lugar; você, para completar sua missão, e nós, para voltar para casa. Nós não vamos voltar para casa se você não cumprir sua missão, então, precisamos do seu sucesso para atingir o nosso; por outro lado, você acredita que não precisa de nós. Provavelmente está certo, mas assim mesmo vou ser atrevida o bastante para dizer que mais um arco e quatro lâminas não deixariam sua companhia mais fraca.” Ela alcançou a espada longa ao lado da mochila, a desembainhou e ajoelhou num joelho só, apresentando a espada para Thorin. “Eu, Ellen, filha de Nyda, ofereço meus serviços a Thorin Escudo de Carvalho, filho de Thráin, filho de Thrór, e à sua Companhia, de agora até o dia que eu puder ir para casa, ou o dia que eu morrer, o que vier antes. Ofereço meus serviços de livre e espontânea vontade, em troca de nenhum ouro ou outro pagamento que não seja os recursos para chegar em Erebor.”

Thorin estava em choque. Isso era inesperado. Ela chamou aquela elfa de ladra e mentirosa, e alí ela estava, ajoelhada a seus pés, encarando-o com olhos azuis acinzentados resolutos, oferecendo-lhe seus serviços de graça, com uma espada espantosa em suas mãos. Ele pegou o punho da espada em suas mãos e examinou a arma às pressas, desejando ter mais tempo, mas isso poderia vir depois. Seus olhos se arregalaram quando leu as runas no guarda-mão e olhou para ela, decidido.

“Levante-se, Ellen, filha de Nyda, membro da Companhia de Thorin Escudo de Carvalho, e de agora em diante não se ajoelhe para mais ninguém.”


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