Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 38
Epílogo




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Valinor

Ele respirou fundo e abriu uma fresta dos olhos. Estava claro demais em volta, apesar de não conseguir identificar onde o sol poderia estar. Não estava frio, não estava quente, e ele não sentia fome. Tudo estava confortável, mas do que havia estado confortável em muito tempo. Percebeu que seu ombro e outros ferimentos não o incomodavam mais, também. Estava cansado, no entanto, e fechou os olhos para dormir um pouco mais.

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Acordou com a sensação de estar sendo observado, e sentou-se imediatamente, alarmado. Não conseguia ver o observador, e começou a procurar pelo lugar, cautelosamente. Não estava tão cheio de luz como antes, e sentiu que o lugar onde estivera domrindo não era tão macio, apesar de seus músculos se sentirem perfeitamente repousados.

Era uma ampla sala de pedra, e não conseguia definir que tipo de lugar seria. Viu duas lareiras, uma em cada lado da sala, a mais próxima feita para prover conforto, com suas chamas douradas lambendo... o quê? Aquilo não era madeira, ou pelo menos não parecia madeira. Parecia mais com... pedras. Pedras que queimavam. Agora tinha certeza de já ter visto de tudo nesse mundo.

O calor do fogo fez com que sentisse sede e então viu um jarro d’água numa mesa próxima, e uma caneca que ele tinha certeza de que não havia visto lá antes. Serviu um pouco de água na caneca, desconfiado, mas a água não fez nada inesperado. Era cristalina, sem odor, e decidiu tomar um gole para sondar. Água. Água pura, refrescante, sem sabor, água. Tomou-a em pequenos goles, explorando o lugar em passos lentos. De alguma maneira, sabia que não precisava ter pressa.

Havia ferramentas na parede, e espalhados numa bancada havia vários artefatos em diferentes estágios de elaboração. A maioria ele não conseguia entender, mas alguns eram bem o que ele mesmo estava acostumado a fazer. Sentiu uma pontada no coração quando pensou há quanto tempo havia usado uma forja pela última vez. Sentiu-se pior ainda quando lembrou quando realmente foi. Suspirou e sacudiu a cabeça, triste. Não havia nada que pudesse fazer agora. Só esperar.

Deixou a caneca de água na bancada quando notou um objeto particularmente conhecido do outro lado da sala, perto da lareira da forja, e foi até lá. Havia uma bigorna, e uma machado de guerra inacabado esperando para ser trabalhado, o metal brilhando vermelho, implorando para ser martelado, modelado naquilo que fora feito para se tornar. Se ele havia sido deixado naquela sala por qualquer motivo que fosse, esse bem que poderia ser o motivo. Aquele machado estava chamando por ele, e ele ansiava pelo calor da forja, o peso do martelo em sua mão, o som de metal contra metal reverberando através de todo seu corpo. Sorriu consigo mesmo quando pegou o machado com uma tenaz e levantou o martelo para acerta-lo onde deveria. Sua mão caiu com todo o peso do martelo e de sua própria vontade sobre a cabeça do machado.

A dor o atingiu no mesmo instante, fazendo com que soltasse as ferramentas e arremessando-o a dois metros de distância da bigorna. Mordendo o lábio para segurar um gemido, sentou-se e esfregou o peito onde a dor o havia atingido. Não estava nem ao menos sensível ao toque, tornando tudo mais incompreensível. Estava se arrastando para sobre seus próprios pés quando uma sombra se moveu entre ele e o fogo.

“Não deverias brincar com ferramentas que não foram feitas para ti, criança, mesmo que tenhas a inclinação de consertar as coisas assim que puderes. No entanto, folgo em ver que estás tão disposto a corrigir o que deve ser corrigido, dado que na vez anterior levaste um tempo absurdamente longo para tomar esse passo.”

Olhou para aquele que falava consigo, de olhos arregalados. Nunca havia ouvido aquela voz antes, não fora de seus sonhos, e sabia a quem aquela voz pertencia.

“Mahal...”

O recém-chegado pegou as ferramentas de onde caíram e as colocou de volta no lugar; então pegou o machado de guerra inacabado, o metal ainda brilhando vermelho, com suas mãos nuas e o colocou de volta na forja para que se aquecesse novamente; então alisou seu avental de couro duro com as mãos e voltou-se para ele.

“Sim, é isso. Agora, feche a boca antes que comece a babar, não é como se nunca tivéssemos nos encontrado.”

O proprietário do lugar chamou-o para uma cadeira à mesa onde estava o jarro de água e pôs-se à vontade, enchendo uma caneca que não estva lá até aquele momento. O jarro despejou vinho tinto.

“Agora, onde estávamos? Aye, fizeste um bom trabalho, criança. Cumpriste o que prometeste, foi.”

Ficou tonto, e abaixou a cabeça até se sentir melhor. A compreensão de onde ele estava, e diante de quem, o esmagou.

“Meu Senhor, eu...”

“Calma, calma, criança, eu sei, eu sei... Agora, levantai, tomai uma cadeira, temos muito a falar, e nenhuma pressa. Não há necessidade de desculpas e genuflexões, não aqui, criança.”

Então lembrou-se de tudo. Havia retirado seu povo de Erebor, e se mudado para as Montanhas Cinzentas. Fora um erro, uma decisão tomada por orgulho, e seu povo pagara caro por isso. Dain I, filho de seu neto, havi sido morto por um dragão frio por causa dessa decisão, e também Frór, segundo filho de Dain. Mas o primogênito, Thrór, havia mudado com seu povo de volta para Erebor, tomando a decisão certa. Ele queria ajuda-lo, como compensação por ter mudado seu povo para fora de Erebor tanto tempo antes, e implorara para voltar e ajudar a restaurar a glória dos salões de seu povo, que havia sido perdida em grande parte devido a ele mesmo. Ele prometera. E fora.

“Eu... e não sabia que era um plano para reparar as coisas que eu havia feito errado antes. Eu... eu apenas amava Erebor ardentemente, e quando foi tomada por Smaug... eu simplesmente tinha que toma-la de volta.”

“Assim, não havia ninguém mais apto do que vós para realizar esse feito, não pensas assim?” Serviu-se de mais vinho, e do mesmo jarro derramou mais água para aquele que acabara de chegar da Terra-média. “Não podes reter a memória de antes quando estás lá embaixo, como quando estás aqui, do contrário ensandecerias. Uma vida somente é o suficiente para se lidar no tempo de apenas uma vida. Nesse momento, aqui, podemos conversar sobre a história inteira e tomar algumas decisões sobre vosso futuro.”

“Entendo, meu Senhor.”

“Então, vejamos o que foi deixado para trás...”

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Terra

Todo um ano havia se passado, e eventualmente as coisas se ajeitaram como tinha que ser. Iris estava estudando furiosamente, e começou a assumir a responsabiliade pelo cultivo das plantas medicinais no jardim; também havia se inscrito para um curso técnico de enfermagem e já havia feito um curso de primeiros socorros e um curso de brigadadista de incêndio também.

Lily havia perdido o ano na faculdade enquanto enfrentava seu luto, mas uma vez que ergueu a cabeça não havia nada que pudesse impedi-la de atingir seus objetivos. Estava viva, e decidiu que viveria, não apenas sobreviveria, e que faria seu melhor, apesar de ter entrado no antigo modo ‘fora dos negócios’ de Elllen.

Wolfram estav sentado na bilbioteca certa manhã, lendo o jornal, quando através da janea aberta entrou uma coruja, um pergaminho preso à sua pata. O bicho achou um lugar bem diante dele e pousou sobre a mesa, inclinando seus olhos dourados para o homem. Vagarosa e cuidadosamente, estendeu a mão para o pássaro e desamarrou a fita de seda com o pergaminho. A coruja esperou um minuto e voou embora, silenciosa como viera.

“Sim, uma imagem pode falar mais do que um cem palavras!” Ele disse, olhando para o pergaminho aberto; mas havia mais um, e palavras também, muitas.

“Caríssimo irmão,

Espero que a coruja tenha te encontrado, Dumbledore jurou que seria fácil para o pássaro te encontrar depois que conseguisse rastrear a energia da espada da Lily, porque foi feita aqui na Terra-média. Da próxima vez, se puder, providencie um ou dois camundongos como recompensa para a coruja e pode ter certeza de que ela vai te encontrar quando necessário.

Me tomou anos de negociação para abrir esse canal de comunicação, então, por favor, ajude a mantê-lo aberto. Existe um Portal de não-mudança entre a Floresta Proibida em Hogwarts e Mirkwood. Isso também significa não haver bloqueio de memória, mas se você me mandar uma única palavra sobre o futuro não só será censurado como todos meus esforços para negociar esse canal serão jogados na lixeira. Ainda não consegui negociar o uso desse Portal para uso pessoal, pelo mesmo motivo. Ano que vem espere pela coruja com sua carta já escrita, amarre-a na perninha do pássaro e ela vai me alcançar. Agora, vou tentar condensar sete anos de acontecimentos, do contrário a coruja não vai conseguir carregar o pergaminho!

Bilbo voltou para o Condado, acompanhado por Gandalf, que avisaria Dís e os anões nas Montanhas Azuis para vir e repovoar Erebor. Parece que o povo do Bilbo achou que ele estava morto e fez uma bagunça com as coisas dele, e ele teve que recomprar a maioria das próprias coisas e levou anos para provar que estava vivo. Quando Dís veio com o povo dela Bilbo veio junto para assistir nosso casamento, e nevou comida e choveu bebida por três dias. Foi quase um ano depois da Batalha dos Cinco Exércitos, então mesmo com a tristeza de não ter Thorin e Fíli aqui, conseguimos festejar. Claro que eu e Kíli não mostramos nossos narizes fora de casa no segundo dia de festejos, porque essa é a tradição anã, mas pode ter certeza de que a Dís e a Companhia providenciaram para que nenhum convidado fosse negligenciado. Pedi para ter algumas tradições do nosso mundo presentes no casamento, então meu vestido era branco, mas como sou listada como guerreira tinha que usar alguma armadura para demonstrar, então usei guarda-braços de prata e um corselete leve de placas de mithril. Tauriel e Arwen foram minhas damas de honra no casamento, já que eu não tinha nenhuma mulher da família aqui.

Dís é uma doçura, teimosa como o Thorin Escudo-de-Carvalho; ela ficou muito entristecida por ter perdido tanto seu irmão como seu primogênito para a guerra, mas feliz por Kíli ter sobrevivido; quando nosso filho nasceu ela entrou em estado de graça, porque foi a primeira vez em setenta e nove anos que a família dela estava aumentando em vez de diminuir. Sou realmente abençoada por ter Dís aqui, ela foi muito tranquilizadora para mim quando o bebê nasceu, porque eu entrei em pânico, ele era tão pequeno, mas ela me acalmou explicando que ele não era pequeno, ele só era um anão! Bem, deixe-me apresentar nosso garoto, achamos que seria justo homenagear o tio do Kíli com o nome dele, então a linhagem de Durin já tem outro Thorin. Por falar nisso, Joelho é como costumamos chamar o pequeno Thorin para diferencia-lo do Thorin Escudo-de-Carvalho; você devia ver a preocupação do Kíli quando o bebê nasceu, porque ele não tinha experiência nenhuma com bebês, e ficava resmungando ‘Por que o meu filho parece um joelho?” até Dís estabefear a nuca dele explicando que o bebê parecia exatamente como ele quando nasceu. Já temos mais um a caminho, se chamará Lyn se for uma menina, como a irmã de Balin e Dwalin, e se for um menino de cabelos escuros será Frérin, como o outro irmão de Dís, e se for loiro será Fíli, como o falecido.

Kíli já conseguiu deixar a barba dele crescer um pouco, não são mais só aqueles tocos comichentos, ele até parece um pouco mais maduro. Ele tem sido um rei bem maduro, também, tendo conseguido paz definitiva com os elfos de Mirkwood, e a frase ‘não se pode nunca confiar num elfo’ virou piada.

Os negócios com a Cidade do Lago sempre foram bons, especialmente depois que o Mestre fugiu com a maior parte do ouro que foi mandado para reconstruir a cidade; até onde consta morreu de fome no deserto, desertado pelos companheiros. Então o povo escolheu outro Mestre, mais interessado nas necessidades do povo do que nas suas próprias, e ele trabalha em conjunto com Bard em Dale, como cidades gêmeas. Dale foi reconstruída ainda mais bela do que era originalmente, ou pelo menos é o que cantam os que a conheceram antes de Smaug vir. Esses primeiros sete anos foram de muita faxina e reconstrução, mas valeram a pena o esforço.

Resumindo, dado que o pergaminho está acabando, nos deram apelidos pelo que aconteceu na Batalha, assim como Thorin ganhou seu apelido de Escudo-de-Carvalho devido ao que aconteceu na Batalha de Azanulbizar; Bombur e Bofur encontraram suas Joias, então pode ser que tenhamos mais fedelhos entre os membros da Companhia nos próximos anos. Como o povo de Durin escasseou tanto nos últimos duzentos anos, estamos nos esforçando para aumentar a taxa de natalidade entre os anões de Erebor liderando pelo exemplo.

Amor para sempre,

Ellen Coração-de-Anão, Fundinul

No outro pergaminho havia um belo desenho de um anão robusto de barbas curtas, orgulhosamente em pé segurando no colo um garotinho com tranças no cabelo, e ao lado uma cadeira onde uma elfa de cabelo comprido sorria sentada, sua barriga protuberante com uma gravidez a meio termo. Alguém acostumado com runas Anghertas poderia ler abaixo do desenho:

“Erebor, Dia de Durin do sétimo ano do reino de Kíli Sangue-de-Elfo, Rei Sob a Montanha.”


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Notas finais do capítulo

Nota da Autora: Agradeço do fundo do coração a maravilhosa acolhida que recebi de todos os leitores, que sempre tiveram uma palavra de incentivo e ânimo quando eu mais precisava!
Mas, a vida continua! E se houver demanda para isso, e meus amados leitores desejarem, posso tomar coragem e embarcar na jornada de traduzir para vocês a sequela dessa história. É entitulada “Me Envie uma Coruja”, e seu prólogo é esse epílogo. Estou no momento em seu capítulo 70, cerca de 300 páginas de texto, e ainda falta um pouco para terminar de narrar os acontecimentos da primeira viagem da família da Terra para visitar sua parente na Terra-média. Começa com algumas cartas de Wolfram, Ellen, Iris e Bilbo, mais alguns Contos da Forja de Mahal, dando sequencia à história do anão falecio que encontra seu Criador. As cartas mostram como Erebor está sendo reconstruída e como as pessoas estão passando tanto na Terra como na Terra-média. Alguns capítulos depois começamos a acompanhar Bilbo e alguns de seus primos viajando para Erebor, para onde a família da Terra está indo na próxima abertura do Portal do Lago Espelho. Espere romance, humor, inquietação, aventura, filhos de Kíli, corvos e biscoitos, e um casamento muito esperado. Mas não imagine que os goblins achem divertido ter a Perdição do Rei Goblin de volta em seu mundo, e você não sabe o que os orcs estão planejando…



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