Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 36
Capítulo 36 – A Batalha dos Cinco Exércitos


Notas iniciais do capítulo

And I'd give up forever to touch you
'Cause I know that you feel me somehow
You're the closest to heaven that I'll ever be
And I don't want to go home right now
And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
And sooner or later it's over
I just don't want to miss you tonight

E eu abriria mão da eternidade para te tocar
Porque sei que você me sente de alguma forma
Você é o mais perto do céu que jamais estarei
E não quero ir para casa bem agora
E tudo que de que posso sentir o sabor é esse momento
E tudo que posso respirar é sua vida
E mais cedo do que tarde se acabou
Eu só não quero te perder essa noite

(Goo Goo Dolls – Iris)



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A Guerra havia chegado afinal à Montanha Solitária. Goblins e Orcs liderados por Azog o Profanador, com seu filho Bolg a seu lado, contra Anões e Elfos e Homens. Seguindo o discurso de Elrond, Thranduil raciocinou que o inimigo do seu inimigo era seu amigo, e poucos inimigos tinham tanta capacidade de fazer outros somarem forças como os orcs. Foi uma batalha terrível, não esperada pelos Povos Livres, mas que os orcs vinham preparando desde que tomaram conhecimento de que a linhagem de Durin estava tentando retomar Erebor.

Graças aos corvos, os Povos Livres tiveram oportunidade de se preparar, e sabendo o tamanho do exército Orc sabiam que sua única esperança era atraí-los para dentro dos braços da Montanha e ataca-los de cima, tomando posição em seus espigões. Não havia tempo para convocar mais ajuda, nem para fazer qualquer outro plano. Dáin havia sido avisado para vir rodeando a Montanha do Norte e ataca-los pela retaguarda; os elfos tomaram o espigão Sul e os homens e a Companhia tomara o espigão Leste. Os inimigos enxameavam, correndo para as ruínas de Dale; alguns homens corajosos os enfrentaram e fingiram uma resistência, como isca para que os seguissem em sua retirada e fossem levados para dentro dos braços da Montanha, como Gandalf esperava; tudo que podiam fazer era limpar o caminho de orcs e wargs o melhor que podiam.

Os elfos foram os primeiros a ir à carga sobre seus inimigos, pois seu ódio aos orcs era antigo e amargo. Muitas flechas encontraram seu caminho para dentro de um coração obscuro, e muitas lanças encontraram seu rumo contra um rosnado ameaçador, matando tanto warg como ginete. Tristemente, muitos elfos que teriam vivido longas e felizes eras caíram naquela noite, e nunca mais vagueariam nas florestas.

A Companhia juntou esforços aos homens liderados por Bard, visto que o Mestre da Cidade do Lago ficou para trás com seu povo, onde achou que seria mais seguro. Os orcs escalavam a Montanha como podiam, e eles eram em demasiada quantidade para se preocuparem com a quantidade deles que caía sob a defesa feroz de anões e homens, porque temiam Azog mais do que a própria morte.

Quando o exército de Dáin os alcançou não foi cedo demais, e esse reforço inesperado parcamente mudou o equilíbrio da luta; porque nem elfo nem homem da Cidade do Lago havia vindo para uma batalha generalizada, mas principalmente para uma demonstração de belicosidade focada em intimidar Thorin e sua Companhia, nada mais que isso. Mas Azog havia planejado essa batalha no ódio de seu coração, e eles eram muitos, e pérfidos.

Fíli, Iris e Bilbo haviam acendido uma fogueira pequena o suficiente para acender suas pequenas granadas de mão e joga-las no meio de bandos de orcs, ou, melhor ainda, quando podiam joga-las em grupos de orcs montados em wargs, porque então o fogo pegava no pelo e se espalhava como havia feito no bosque de pinheiros depois que saíram do antro dos Goblins. Os hobbits tinham uma pontaria maravilhosa, mas tinham que tomar cuidado para não atirar numa direção que pudesse ferir seus aliados. Quando as bombas acabaram, Iris e Fíli pegaram suas espadas e se enfiaram na escaramuça. Bilbo, sendo quase tão avesso à guerra quanto Wolfram, colocou seu anel e desapareceu, de forma que pudesse pelo menos escapar de ser feito de alvo de propósito.

Então tudo aconteceu depressa demais. Num momento Ellen estava perto de Kíli e de Thorin, e no seguinte a maré de orcs os havia separado. A elfa lutou para abrir caminho de volta até onde os havia visto pela última vez, e juntou-se a Lily no caminho, que atirava as flechas de sua última aljava. Logo a anã teria que usar sua espada se fosse para se defender. Íris e Fíli vieram correndo pelo outro lado, as quatro lâminas empunhadas como se fosse por uma só mente. Então ouviram gritos de alegria, porque as águias estavam vindo para ajuda-los. Os orcs ficaram mais ferozes, como se fosse possível, percebendo que as chances haviam se voltado contra eles.

As duas famílias estavam lutando lado a lado novamente, mas os orcs em volta deles estavam enlouquecidos de medo e não tinham nada mais a perder. Thorin bloqueou um golpe poderoso de um deles, mas uma maça pesada atingiu suas costas, fazendo com que caísse no chão. Fíli estava perto o suficiente para matar aquele um, mas Iris havia sido empurrada para longe pela multidão. Ninguém viu de onde a flecha de plumas negras veio, e se foi por bruxaria ou má sorte que esta encontrou seu caminho através de seu elmo e entrou em sua garganta. O anão loiro derrubou uma espada e pôs a mão sobre a ferida, confuso; então viu seu próprio sangue lavando seu peito, ajoelhou-se, e caiu pela última vez.

Lily e Kíli estavam dando o melhor de si com suas espadas, ambos com suas flechas esgotadas, quando ela viu seu amado e o sobrinho no chão. Ela chorava enquanto corria, Kíli a seu lado gritando selvagemente em sua dor. Ellen escapou de um golpe poderoso quando uma águia capturou o orc que estava para acerta-la e voou embora com ele, e então ela viu ambos correndo para o lugar onde Rei e Herdeiro haviam caído. Um pressentimento mau e obscuro a alarmou, e ela correu na direção deles.

“Não! Não! Não pode acontecer! Não vai!”
Conforme a elfa corria viu uma imagem que ficaria para sempre gravada em sua memória. Lily tomou Orcrist da mão inerte de Thorin e a empunhou ferozmente contra os últimos orcs a seu alcance. Kíli ajoelhou-se ao lado de seu irmão e chamou por seu nome Khuzdul, chacoalhando-o desesperadamente, alheio à batalha que ainda acontecia à sua volta. Ellen estava fora de alcance quando viu o orc que se aproximava e gritou para Kíli. Ele se voltou a tempo de evitar o primeiro golpe, mas havia largado sua espada e não tinha como alcança-la antes que o segundo golpe atingisse seu peito, dilacerando sua armadura. Lily ouviu o grito de sua tia e virou-se a tempo de decapitar o orc abominável, e então Ellen os alcançou.

“Não! Não! Não Kíli, não!”
“Ele está sangrando muito, tenta estancar!” Gritou Lily.

“Como?” Ellen entrou em pânico.

“Acha a ferida, aplica pressão! Eu preciso ver o Throin, eu ouvi ele gemendo quando eu estava perto!”

“Vai!”

As águias estavam fazendo um trabalho magnífico, e a área em volta das mulheres havia sido limpa. Lily estava certa, Thorin estava ferido internamente, além de vários machucados, mas não estava morto. Ela murmurava suavemente para ele enquanto tentava deixa-lo mais confortável, liberando-o de seu elmo e armadura partida o melhor que podia, evitando move-lo demais.

“Você vai ficar bem, eu vou cuidar de você, agüênta, meu amor, meu rei, meu tudo!”

Mas ele não se mexeu, e ela sozinha não conseguia mover o anão de compleição forte do campo de batalha. Continuou murmurando baixo, acolhendo a cabeça dele em seu colo, acariciando sua barba e mechas de cabelo, beijando sua testa enquanto suas próprias lágrimas corriam livres por suas faces abaixo.

Enquanto ela fazia isso, sua tia estava encrencada com Kíli. Ela havia soltado a armadura de Kíli e rasgara o traje dele desesperadamente, procurando pelo sangramento que estava levando-o para longe dela. Ellen o encontrou no seu lado direito, perto do ombro, e tentou fecha-lo com a mão, mas parecia não funcionar. A respiração dele era superficial, sua pele estava pálida, e o sangue continuava esguichando da ferida. Ela conseguiu tirar o guarda-braços esquerdo para que sua mão ficasse mais livre para pressionar o corpo dele. Como ele podia sobreviver sem todo aquele sangue? Ele ia morrer? Por que aquele anão cheio de fé tinha que morrer daquele jeito? Isso não era justo!

A mente dela corria selvagem em seu desespero, mas então algo a atingiu. Se seu fiel escolhido havia sido ouvido por seu Vala antes, será que ela poderia ser ouvida também? O desespero era mais forte que sua mente cartesiana.

“Varda! Mahal! Ouçam minha súplica!”
Ela gritava enquanto olhava para o céu noturno, quase esperando vê-los ali.

“Eu não tenho barba para prometer pela vida do Kíli, então eu sacrifico o que eu tenho e falta para ele!”
Ellen tomou a própria espada e fez um corte em seu antebraço esquerdo. O sangue esguichou enquanto ela fazia uma careta de dor, e pressionava a ferida dela contra a dele.

“Mahal! Varda! Ouçam minha súplica!”
Ela encostou a cabeça no peito dele, e conseguiu ouvir a batida do coração dele desacelerando. E então parou.

Não podia ser! Não! Ela sacrificaria qualquer coisa para tê-lo de volta, qualquer coisa!

“Varda! Mahal!” Ela gritou mais uma vez, lágrimas desesperadas marcando seu rosto. ‘Eu faço a escolha de Lúthien!” (1)

ooo000ooo

Mahal estava realmente movido pela súplica de Ellen, mas com tantos morrendo naquela noite era difícil escolher quais súplicas atender e quais negar. E, afinal, ela não era anã. Mas então, fazer a escolha de Lúthien? Não seria um pouco de exagero?”

“Tintallë, o que você acha desse caso?” (2)

A dama de brilho azul olhou para baixo com ele em direção ao campo de batalha.

“Ela não está brincando, essa elfa realmente vai morrer de tristeza se Mandos levar esse anão.”

“Ela nem mesmo tem sangue real para fazer esse tipo de escolha, tem?”

“Ah, vamos lá, não seja tão burocrático! Esse menino tem sangue real, deveria ser o suficiente; além do mais, real é quem real se faz, não acha? Ela está dando seu próprio sangue por ele, quantos de sangue real você conhece que fariam a mesma coisa?”

“Hmm, parece que você já se decidiu.”

“Aulë, meu amigo, o menino já se mostrou fiel a você mais de uma vez, por que não faz bom juízo dele? E quanto a ela, um coração disposto não deve ser negado.”

“O ferimento dele é profundo.”

“Nada que sua forja não possa remendar.”

“O coração dele não bate.”

“Nada que seu martelo não possa resolver.”

O Vala poderoso assentiu para ela.

“Vamos resolver isso então.”

ooo000ooo

O coração dele não estava batendo. Ela o estava perdendo. O único homem que moveu seu coração em anos estava indo embora. Ellen não podia suportar isso. A dor era demais, e ela foi esmagada. A elfa chorava alto, esquecida dos resquícios da batalha à sua volta. Soluçava profundamente, relutante em admitir sua morte. O vento soprou uma nuvem para longe, mostrando a luz pálida da lua. Ela estava triste, e estava zangada. Quando se deu conta de que ele realmente a estava deixando, não pôde suportar, e em sua raiva fechou a mão direita num punho em bateu com força no meio do peito de Kíli, e então colapsou sobre ele, chorando.

Então ela ouviu, com a cabeça encostada do peito dele. Fracamente no começo, mas não podia ser confundido. O coração dele estava batendo. Ele tossiu e respirou fundo.

Então ela sentiu. O antebraço dela estava como que queimando no corte que fizera, e sentiu a pele de Kíli esquentando em volta da ferida. Tirou o braço de sobre o peito dele e olhou para os talhos. Estavam se fechando diante de seus olhos, ambos sangramentos estancados ao mesmo tempo. Ellen olhou para Kíli, incrédula. Eles a ouviram. Os Valar ouviram sua súplica e Kíli voltara para ela.

ooo000ooo

As águias vieram e fizeram sua parte na batalha, que devido à sua ajuda inesperada (solicitada por Gandalf, é claro) deveria ser chamada de Batalha dos Seis Exércitos, ao invés de cinco; Beorn havia vindo também, em sua forma de urso, e fez diferença, junto com Radagast e seus coelhos, que se não fizeram muito na luta pelo menos fizeram muito em deixar o inimigo confuso, e assim, mais fácil de ser atacado.

Depois que a batalha acabou, foi difícil encontrar Bilbo, uma vez que uma pedra atingiu sua cabeça, e mesmo com seu elmo foi o suficiente para nocauteá-lo. Mas encontrado ele foi, porque muito se procurou por ele, como foram todos os membros da Companhia, pois os ferimentos de Thorin eram sérios e irremediáveis, mesmo para Gandalf e Radagast e o próprio Thranduil, a quem Thorin concedeu seu perdão. Ele também havia sido tomado pela doença do ouro, e compreendia a ganância de Thranduil, e em sua hora mais escura foi capaz até de se identificar com ele. Thorin estava dando o melhor de si para dizer adeus a cada um e a todos seus subordinados e amigos mais próximos. Até Wolfram fora chamado a sair de Erebor para despedir-se dele, e lhe foi pedido perdão por não ter feito de sua filha uma rainha a tempo.

Quando Bilbo foi encontrado, foi empurrado de uma vez para a tenda onde colocaram Thorin para descansar; o próprio Gandalf fez com que ele entrasse, feliz por vê-lo naquela hora sombria.

“Foi um negócio quase desastroso, mas aqui você está, Bilbo meu amigo, e você é procurado.” Ele abaixou a voz. “Thorin pergunta por você. É um momento grave, se é que me entende.” (3) Entraram na tenda. “Salve, Thorin. Eu o trouxe.”

Thorin olhou para o hobbit, que se postou diante dele com um joelho no chão, cheio de tristeza, e pegou sua mão.

“Adeus, meu bom gatuno! Agora vou para os Salões de Espera, onde não me envergonharei na frente de meus antepassados.”

“Adeus, ó Rei sob a Montanha! Foi uma aventura amarga, e nem uma montanha de ouro pode reparar isso. Ainda assim, estou feliz de ter tido a chance de compartilha-la com você, como nenhum Baggins jamais mereceria.”

“Não diga palavras ásperas contra si mesmo, bom filho do Oeste, porque há mais coisas boas em você do que sabe; um pouco de coragem e um pouco de sabedoria, na medida certa. Se comida e alegria e música fossem mais valorizadas do que tesouros e ouro, esse seria de fato um mundo melhor. Fique bem, meu amigo!”

Seus olhos marcados de dor deixaram o hobbit e procuraram por seu sobrinho sobrevivente, que tinha um braço numa tipóia, e então para a elfa estranha em quem havia aprendido a confiar, e de volta para Kíli. Ele tinha que ser rápido, a hemorragia interna não pararia, seu tempo era curto, ele sabia pelo jeito que seu ombro doía apesar de não ter sido ferido. Não conseguia nem se deitar por causa da dor, apenas estava sentado apoiado em alguns travesseiros.

“Vocês dois.” Kíli inclinou-se para mais perto, para que ele não se esforçasse demais falando alto. “Não se esqueçam de dar alguns herdeiros à linhagem controversa de Durin.” Olhou de relance para Ellen, então de volta para Kíli, e então apertou a mão de Lily com mais força. “Já é tarde demais para mim, agora.” Mais uma respiração dolorosa. “Diga à sua mãe que eu a amo...”

“Eu vou.” Sussurrou Kíli.

“E que me perdoe por Fíli...”

Então um grande soluço encontrou seu caminho pela garganta de Thorin acima. Lily gritou seu nome quando o sangue escorreu da boca dele, os olhos uma vez brilhantes como estrelas encontraram um alvo na distância e começaram a embaçar, enquanto Lily o abraçava com força uma última vez e o ouvia sussurrara para as estrelas.

Durin...”

ooo000ooo

Sentaram-se num tronco caído longe dos outros e se apoiaram nos ombros um do outro, o corpo de Kíli ainda tremendo com soluços de pesar, os olhos de Ellen derramando lágrimas silenciosas mas incessantes. A voz trêmula dele chegou até ela como um sussurro débil.

“Não devia ser assim, não era para ser desse jeito, não devia!”

Ela reuniu suas forças de onde não sabia quando uma tontura já conhecida lhe sobreveio. Limpou as lágrimas que continuavam a transbordar de seus olhos e segurou o rosto dele com as mãos, forçando-o a olhar em seus olhos.

“Você está certo, não era para ser desse jeito. Era para você morrer com seu irmão, protegendo seu tio caído, a e primeira linhagem de Durin teria acabado.”

Os soluços dele cederam enquanto olhava para ela em choque. Era sempre inquietante quando ela disparava seu conhecimento transcendental do destino, e ele pensava como devia ser difícil para ela ter memórias de coisas que podiam afetar o futuro e não ser capaz de alcança-las até que fosse tarde demais.

“Era para ser diferente, mas, não sei por que, os Valar ouviram a minha súplica, e aqui está você, Kíli, Rei Sob a Montanha.”

“Eu não me sinto preparado para ser um rei, nunca foi algo que eu tivesse buscado. É claro que tive o mesmo treinamento que meu irmão teve, mas eu nunca me preocupei, reinado nunca esteve nos meus pensamentos.” Soluçou desalentado. “O que é que eu vou fazer? Essa missão era para o Tio retomar Erebor, ele é quem ia ser o Rei Sob a Montanha, e Fíli ia sucedê-lo, e eu era o sobrinho e irmão descuidado, nada mais. O que é que eu vou fazer? Como é que vou tornar Erebor o reino que foi um dia? Ou mesmo uma sombra disso? Eu não tenho as habilidades que um rei precisa ter.”

Abraçaram-se de novo, mas a mente dela estava girando rápido. Então ela se deu conta.

“Mas você não precisa.”

“Não preciso do quê?”

“Ter as habilidades que um rei precisa ter. Ou, pelo menos, as habilidades que você acredita que um rei precise ter.”
“Do que você está falando? Você nunca teve nenhum treinamento em assuntos de realeza, até onde eu sei.”

“Não, eu não tive, eu tive uma outra coisa, mas vai servir. Você acha que não tem as habilidade de um rei, mas você não precisa ter.”

“O quê...?”

“Tudo que você precisa é se cercar de pessoas confiáveis que tenham as habilidades que o reino precisa, e então fazer com que elas façam o que precisa ser feito.”

“Eu não entendo.”

Seu olhar estava perdido.

“Kíli, está bem aqui, à sua volta. Você acha que Thorin escolheu esses dez caras à toa?”

Ellen começou a apontar os anões perto deles, sua mente correndo.

“Você mesmo disse que não tem experiência em coisas de realeza, mas nenhum rei governa sozinho. Você pode se aconselhar com Dáin Pé-de-Ferro nos primeiros anos, mesmo que ele tenha seu próprio reino para cuidar nas Colinas de Ferro. Ele é seu parente, é claro que vai ajudar a treinar você em qualquer coisa que tenha ficado faltando no seu treinamento para realeza. Você sempre pode contar com os conselhos do Balin, enquanto ele estiver conosco. Dwalin e Bifur são guerreiros experientes, eles podem treinar pessoas, coordenar o corpo de segurança de Erebor.”

Ele começou a seguir a linha de raciocínio dela. Apesar de sua dor, em seu corpo e em sua alma, o sangue real dentro dele estava fazendo com que se voltasse para as necessidades de seu povo.

“E então tem o Ori.”

“Ori?”

“Sim, Ori. Coloque-o para registrar a história do reino, suas perdas, suas conquistas. Um povo que esquece seu passado está condenado a repetir seus erros. Deixe Ori registrar o que há para ser registrado, sempre. E então seu irmão Nori.”

“Nori? Ele foi a escolha mais estranha que Tio fez. Não que eu não goste dele, mas sei que ele tem um jeito de distorcer as coisas para aquilo que serve melhor a ele.”

“E você acha que uma habilidade como essa deveria ser jogada fora ou ser posta a serviço do reino?”

“A serviço do reino, é claro.”

“Lá de onde venho a gente chama isso de diplomata. Vamos fazer de Nori o nosso Maquiavel.”

Kíli se perguntava o que um makiawell poderia ser.

“Bombur é plenamente capacitado para cuidar de toda a cadeia de suprimentos que Erebor precisa, Bofur pode cuidar dos assuntos culturais...”

“Assuntos culturais?”

“Eu sei que você anões amam trabalhar, mas todo mundo precisa da sua cota de música, dança, oportunidades de relacionamento interpessoal...”

Fazia algum sentido.

“E então tem Óin e Glóin. Percebeu como eles estão sempre pensando num jeito de melhorar as coisas? Melhorar o jeito de carregar um fardo, melhorar a maneira de afiar uma espada, você viu como eles conseguiram fazer nosso acampamento na montanha ficar acolhedor?”

“Com certeza. Me surpreendeu.”

“Qualquer cidade, seja sobre ou sob uma montanha, precisa ter sua manutenção. Eu realmente acredito que são eles que devem coordena-la.”

A sombra de um sorriso alcançou seus lábios. Agora que ela tinha falado, era tudo tão claro.

“E Dori? Ele não deve ser esquecido.”

“Claro que não. Mas estamos mencionando coisas que são, e ele é para coisas que virão a ser.”

“O que quer dizer?”

“Crianças, Kíli. Nunca encontrei alguém com mais paciência do que Dori para ensinar, explicar, treinar, conduzir, e instigar o pensamento. Erebor vai precisar dele se for para durar mais do que uma geração.”


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Notas finais do capítulo

1 – A Escolha de Lúthien: Lúthien Tinúviel foi uma princesa elfa que escolheu a vida mortal em prol da vida de Beren, seu marido humano. Arwen também fez essa escolha, para ser esposa de Aragorn.
2 – Tintallë é outro dos nomes de Elbereth Gilthoniel, Varda, a criadora das estrelas.
3 – Jogo de palavras intraduzível; no original, “It is a grave moment, if you take my meaning”, onde ‘grave’ significa tanto ‘grave’ ou ‘solene’ quanto pode significar ‘túmulo’.



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