Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 32
Capítulo 32 – A Pedra Tumular




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Levaria dias para que qualquer exército conseguisse alcançar Erebor, e assim se prepararam para a tempestade vindoura. Todo tipo de arma e armoraria que encontraram foi preparada para ser usada, ainda que o mais provável seria enfrentar um cerco, e então comida seria o maior problema. Balin e Dwalin estavam a cargo das preparações para o que quer que viesse a acontecer, visto que Thorin entrou na sala do tesouro e não queria sair antes de encontrar a Arkenstone.

Bombur os lembrou que Erebor tinha sua própria fonte de comida, mesmo que pudesse se tornar tediosa se tivessem que viver dela por muito tempo, mas valia a pena dar uma olhada e ver se ainda estava lá. Também havia o Lago Espelho, onde era possível que obtivessem peixe. Reuniu alguns voluntários e foram através de grandiosos túneis até uma área perto do lado leste da Montanha.

Seguiram Bombur para baixo no que parecia a Bofur, Nori, Ori, Iris e Lily uma escadaria sem fim. Lily se maravilhava com cada novo estilo de pilar ou balaústre de pedra esculpida, pensando que suas aulas de arquitetura nunca lhe mostrariam tais obras de arte e trabalho proficiente. O anão mais velho entre eles ficava contente de lhes mostrar os salões mais próximos à escadaria que levava ao Lago Espelho.

“Conheço bem esses caminhos, porque também levam à plantação de cogumelos. Cogumelos crescem na escuridão e podem brotar novamente depois de vários anos em dormência.” Bombur estava orgulhoso de mostrar a eles o que conhecia de seu reino retomado, e sobre comida. “Mas o Lago Espelho é uma das coisas mais surpreendentes que verão em toda sua vida, aposto minha barba. Sua superfície é realmente um espelho, nenhuma água é como a água dele, não se enxerga um centímetro abaixo da superfície; e você estiver debaixo da superfície, não consegue ver o que está acima. Mas se pegar um pouco d’água nas mãos, é simplesmente água. Você pode bebê-la, pode nadar nela, mas não pode ver através dela quando está no Lago.”

“Realmente bizarro!” Declarou Iris, e Ori concordou.

“Deve ajudar no sistema de iluminação de Erebor, tenho certeza.” Lily pensava como uma urbanista. “Cada luz que bate no lago reflete e volta para os salões.”

Bofur deu sua contribuição, apesar de que era realmente jovem quando Smaug veio e tomou seu lar e seu pai dele.

“Mãe disse que se costumava trazer as crianças para se banharem no Lago Espelho para que crescessem espertas.”

“E podem ver que realmente faz a diferença, rapazes!” Nori cotovelou seu irmão mais novo, nascido em Ered Luin.

“E nossa Mãe diz que é uma pena que fosse apenas uma lenda!” Ori complementou, para o riso de todos.

Alcançaram o nível do lago e foram em sua direção. Provavelmente pelo efeito da luz refletida por ele e pela umidade que mantinha, foi o primeiro lugar onde encontraram alguma coisa crescendo dentro da Montanha além das pilhas de poeira. Um musgo bem claro cobria os cantos das pedras do caminho, aqui e ali subindo não mais que alguns centímetros pelas paredes. A sensação era de frescor e vida como numa velha floresta à noite.

“Se circundarmos o lago pelo lado norte, vamos alcançar a plantação de cogumelos mais rápido, e vão poder dar uma boa olhada na Pedra Tumular do Lago Espelho, também.” Informou Bombur. As garotas ficaram curiosas e um pouco alarmadas.

“Pedra Tumular? Existem túmulos perto daqui, onde mães banhavam suas crianças?”

“Não, na verdade não! Só existe uma Pedra Tumular junto ao Lago Espelho, e as lendas dizem que nem mesmo é de um anão. Está lá há tanto tempo que ninguém sabe mais direito que está sepultado lá e por que foi permitido que essa honra fosse concedida a um não-anão.”

“Então como é que tem certeza de que é uma pedra tumular?”
“Há estranhas inscrições nela, como só uma pedra tumular poderia ter, e tem o formato de uma pedra tumular. Por que alguém daria a uma pedra o formato de uma pedra tumular se não fosse uma pedra tumular?”

“Faz sentido.”

Como tudo em Erebor, o Lago Espelho era grande, impressionante. Seu diâmetro não devia ser muito mais que uns oitocentos metros, mas estando num nível tão baixo dentro da montanha e tendo chaminés de iluminação cortadas através da pedra para trazer o sol para dentro fazia com que brilhasse como se fosse bem maior do que realmente era, e devolvia sua luz para tudo em volta. A fonte de água não era visível, provavelmente vindo de debaixo da terra; o caminho pelo sul era um tanto mais ameno, tendo verdadeiras praias de areia fina e azulada, mas o caminho norte era um pouco mais alto que o nível da água, permitindo que vissem toda sua extensão e glória. Era um espelho de água não agitada de tirar o fôlego.

“Bombur, isso é de mover o coração!” Iris estava completamente impressionada pela cena inteira. “Se isso fosse no meu antigo mundo, as pessoas pagariam para ver essa maravilha!”

O anão gordo de barba vermelha riu, encantado.

“Eu te disse!”

Ori estava sem fôlego. Sua alma de artista sentia inúmeras possibilidades que o lugar guardava para seus lápis, quase entrando em pânico sobre se sua vida seria longa o suficiente para desenhar tudo o que havia para ser desenhado nas margens daquele lago, e captar toda a luz que se espalhava dele. Lily teve um leve sentimento de epifania quando disse.

“Agora entendo porque mães acreditam que suas crianças vão ficar mais espertas por se banhar aqui.”

“Você entende?”
“Entendo.” Ela continuou, devagar. “É tanto estímulo, aqui você tem mais luz do que na maioria dos salões, e vinda de mais direções, em várias intensidades; cada tipo de pedra brilha de vários jeitos diferentes, e se estiver me falando a verdade, o que eu não duvido, quando você mergulha na água é como se ficasse cego, completamente na escuridão e à procura da luz; então você sai daquela escuridão para esses salões maravilhosos...” Ela não tinha palavras.

“Eu nunca tinha entendido...” Bofur olhou o domo acima deles com um olhar renovado. Curvou a cabeça para as águas, como se envergonhado de não ter entendido o que aquilo tudo significava, e uma estranha aos salões de seu nascimento havia apreendido tudo no momento em que viu. “Eu era só uma criança, na época...”

Bombur bateu sua mão grande e fofa no ombro do irmão, tentando fazer com que se sentisse melhor.

“E agora, irmão, você é só um homem.” Bofur voltou-se para ele, seus olhos sempre sorridentes úmidos de sentir que estava em sua própria casa pela primeiríssima vez na vida. “Fique feliz. Algumas pessoas levam mais de uma vida para entender o que precisam.”

Estavam alcançando um terreno mais alto, em meio a dois solenes pilares naturais de pedra, onde uma pedra um tanto diferente se destacava. Sua cor era obviamente errada. A Montanha Solitária era, essencialmente, de tipos diferentes de pedras que continham ouro naturalmente, junto com outros minerais. Na verdade, a profusão de gemas nas minas de Erebor junto com ouro e prata só podia ser devida a alguma decisão pessoal de Aulë, porque nenhum geólogo jamais conseguiria descobrir por que era do jeito que era. Isso, é claro, se algum geólogo alguma vez conseguisse chegar perto de Erebor. Mas aquele afloramento tinha tons de caramelo até creme, e era sedimentar, ao contrário do restante da Montanha. Chegaram mais perto para ver as estranhas marcações que Bombur mencionara, as meninas e Ori muito curiosos, porque nunca as haviam visto antes; assim que pôs os olhos nela, Lily deu um grito.

“Iris! Isso é alfabeto latino, essas letras são do nosso mundo!”

Lily olhou para as inscrições, de boca aberta, em choque. Iris estava em silêncio, e um momento de silêncio vindo de Iris era algo para se prestar atenção. Então ela leu a primeira linha em voz alta, quase tropeçando nas palavras.

Longa kaj prospera vivo.”

“Vocês conseguem ler isso? O que significa?”

Os anões estavam abismados com a descoberta. As garotas se voltaram para eles.

“Nós não sabemos. Não é na nossa língua!”

ooo000ooo

Foram até o cultivo de cogumelos e descobriram que estava perfeitamente cheio de cogumelos depois de todo aquele tempo. A umidade do lago Espelho e a temperatura certa o mantiveram sustentavelmente equilibrado ao longo dos anos, e coletaram um sortimento de diferentes tipos de cogumelos suficiente para fazer qualquer hobbit sorrir de orelha a orelha. Então Lily correu de volta para chamar Ellen para ver a Pedra Tumular e descobrir se ela conseguia descobrir algum sentido no que estava escrito ali. Infelizmente, ela não conseguiu muito mais do que as sobrinhas.

“Essa primeira linha parece Esperanto.” Ela se voltou para Kíli, explicando resumidamente. “É uma língua inventada, feita para ser fácil de aprender por pessoas que falem qualquer outra língua.”

“E o que significa?” Perguntou Lily, tensa.

“Se minha memória está funcionando pelo menos um pouco, deve ser algo como ‘Vida longa e próspera’. Engraçado. Isso era usado como cumprimento por um certo povo numa série de televisão no meu mundo.” Ellen informou para que Kíli pudesse acompanhar o que estavam vendo e pensando. “O que isso possivelmente estaria fazendo aqui?”

“E o restante das inscrições? Consegue entender alguma coisa? O que é uma série de televisão?”

Kíli não deixaria que ela ficasse sozinha perto de qualquer coisa que pudesse arrastá-la de volta para seu mundo anterior.

“Não, as palavras são muito ásperas, não parecem com nenhuma língua que eu conheça.”

Ellen estudou as inscrições de cima a baixo, tentando encontrar algum som que tivesse algum significado para ela.

“É óbvio!”

“Eu não vejo nada óbvio aqui.” Declarou Lily.

“Eu só consigo identificar uma única palavra nessa bagunça, mas é suficiente pelo menos para saber que língua é essa. É Klingon! Felizmente, não foi escrito no alfabeto Klingon também.”

Kíli estava curioso, o que significa, ele estava sendo Kíli.

“O que é Klingon?”

“É a língua de um outro povo na mesma série de televisão. Um monte de gente adora essa série o suficiente para aprender essa língua.”

Lily estava excitada;

“Sim, como meu Pai!”

“E você a aprendeu também?”

“Não.” Ellen balançou a cabeça. “Acho que não fui nerd o suficiente para me dar o trabalho.”

“O que é nerd?”

“Kíli, por favor pare de me perguntar as coisas, estou tentando pensar!”

“Eu só quero entender essa conversa esquisita, elfa! Preciso saber se não ser nerd o suficiente é um insulto ou elogio!”

“Ai, tudo bem, desculpa, meu kiwi, eu só estou aflita.”

“O que é kiwi?”

Ela riu.

“Uma coisa que é peluda por fora e saborosa por dentro!”

Ele enrubresceu e Lily riu; Kíli retomou seu questionamento, mudando de assunto.

“O que é um nerd?”

“Alguém que gosta de aprender e costuma aprender muito sobre um dado assunto, geralmente. Principalmente ligado a tecnologia, cultura, qualquer assunto específico. É difícil explicar.”

“Então um nerd é uma pessoa sábia?”

“Bem, é uma pessoa que sabe muita coisa sobre um assunto; nem sempre torna a pessoa sábia.”

“E seu irmão é um nerd que fala Klingon?”

“Sei que ele estudou Klingon por algum tempo, ele é um nerd que gosta de aprender línguas, entre outras coisas. Se ele estivesse aqui talvez pudesse ler isso.” Ela balançou a cabeça. “Mas não tem jeito. A única pessoa que eu conheço que poderia ler isso está exatamente no lugar que precisamos ler isso para poder voltar. Estamos num beco sem saída.”

“Não gosto de ver você tão interessada em encontrar o Portal de Passagem de volta para o seu mundo, principalmente logo depois de nos Comprometermos.”

O anão estava visivelmente aborrecido.

“Kíli, já tivemos essa discussão antes. Por favor. Meu irmão tem o direito de saber o que aconteceu conosco, e de ter suas filhas lhe informando o que pretendem fazer, pelo menos. Tudo o que eu quero é um jeito de me comunicar com ele, mandar uma mensagem. E, na minha opinião, mandar-lhe Iris, também.”

“Por que você insiste em mandar minha Irmãzinha embora? Eu nunca tive uma irmã antes!” Kíli se queixou e Ellen suspirou.

“Por que Glóin não trouxe seu filho Gimli nessa missão?”

“Porque ele é muito jovem, às veres não raciocina e se mete em encrencas para ele e para nós também.”

“Ele gostou de ser deixado para trás?”

“É claro que não!”

“Você acha que ele deveria ter vindo?”

“É claro que não, de novo!”

“Então você tem sua resposta.”

“Mas se não fosse por ela, não teríamos feito os barris que explodem! Ela foi crucial para nossa vitória sobre Smaug!”

“Não nego. Mas pense em como seria tê-la por aí em tempos de paz com essa atitude traquinas o tempo todo. Você não sabe o que meu imão passou quando ela explodiu o banheiro da escola.”

Os olhos de Kíli se arregalaram e ellen terminou de copiar os escritos em Klingon numa folha de papel que Ori lhe havia dado.

“Não sei se vou conseguir decifrar alguma palavra, mas se de alguma forma for relacionado com as línguas do meu antigo mundo que conheço, talvez eu consiga pescar alguma coisa.”

“Seu antigo mundo tem muitas línguas?”

“Centenas.” Lily respondeu por sua tia. “Ellen fala bem pelo menos duas delas, e entende um pouco de mais algumas.”

“Na minha área de trabalho não tem outro jeito, querida.”

“E seu pai, Titia?”

“Titia é a sua trança!” Todos riram. “Ele é um nerd de línguas. A última vez que contei, ele conseguia se comunicar em quatorze línguas.”

Tomaram o caminho de volta para o quartel-general.
“E Kíli, por favor não diga nada a minha irmã sobre o que pensamos ser melhor para ela. Vai doer menos se ela mesma se der conta de que maturidade é uma coisa necessária para tomar certas decisões.”


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