Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 31
Capítulo 31 – Compromisso




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Agora que estavam em casa e sem-dragão era hora de trabalhar. Roäc e seus corvos os mantinham informados sobre o que acontecia na vizinhança, e no momento tudo parecia calmo. Thorin aproveitou o tempo para procurar a Arkenstone, o antigo coração da montanha, a herança de sua família. Óin lhe avisou que um tesouro sobre o qual um dragão havia dormido podia ser perigoso, mas o rei não se importava, havia esperado anos demais para chegar lá e não ouviria conselho algum.

Enquanto isso, a Companhia conseguiu limpar a casa inteira e os caminhos principais, de forma que quando andassem por aí não carregariam poeira de volta ao lar. Era estranho ter um lugar para chamar de lar depois de tantos meses vagando, depois de tantos anos de exílio.

Fíli e Kíli faxinaram eles mesmos os aposentos do tio, e o cumprimentaram quando voltou do tesouro com o sorriso de quem conseguiu aprontar uma das grandes. Não tinham dito nada ainda e ele já adivinhava que algo estava para vir.

“Agora, o que esses sorrisos sapecas significam?”

Com um floreio das mãos, os rapazes produziram uma harpa dourada, completa e afinada, o nó pessoal de Thorin gravado no ombro. Seus olhos se encheram d’água, mas segurou o nó na garganta para não demonstrar.

“Meu pai me deu essa harpa quando eu era garoto. Minha mãe me fez aprender a toca-la. Agora eles se foram para os Salões de Espera, e essa harpa esperou por mim para cantar novamente.”

Sentou-se e tocou asa cordas levemente, trazendo-as à vida de novo. Lily chegou-se a ele com uma caneca de chá quente, do qual tomou alguns goles para quebrar a friagem da tarde de inverno, então dedilhou a harpa com mais segurança, e começou a cantar em sua rica voz de barítono, logo acompanhado pelos anões que murmuravam. Era a mesma melodia que Bilbo havia ouvido na primeira vez que se encontraram, eras atrás em Bolsão, mas alguns versos eram diferentes.

Para além do frio das Montanhas Nebulosas,
Para masmorras profundas e velhas cavernas
Partir devemos antes de raiar o dia,
Em busca de nosso claro e encantado ouro.

Os anões antigos poderosos encantamentos fizeram
Enquanto martelos desciam como sinos vibrantes,
Em lugares profundos onde escuras coisas dormem,
Em salões ocos debaixo das montanhas.

Taças lá esculpiram para si mesmos,
E harpas de ouro; onde nenhum homem mora
Longamente eles moraram, e muitas canções
Cantaram, sem que homens ou elfos as ouvissem.

Os sinos vibravam no vale
E homens olhavam, pálidos, para cima;
Depois a ira do dragão, mais feroz do que fogo,
Arrasou as suas torres e frágeis casas.

Para além da soturnidade das montanhas Nebulosas,
Para masmorras profundas e penumbrentas cavernas,
Partir devemos antes de raiar o dia,
Para dele conquistar nossas harpas e nosso ouro!

Com isso o ânimo de Thorin se elevou e cantaram até tarde, fazendo os salões de Erebor pulsar com sua alegria na vida renovada.

ooo000ooo

No dia seguinte as notícias não foram tão boas. Roäc veio informando que havia uma tropa de elfos de Mirkwood indo para a Cidade do Lago, e ele ouvira que eles buscavam por vingança pela fuga deles. As palavras distorcidas de Thranduil foram capazes de envenenar os ouvidos dos Homens e fazer com que acreditassem que o dragão havia sido mandado contra eles de propósito, para que os anões não tivessem que pagar pelos suprimentos que receberam. Bard e alguns outros, incluindo o curandeiro da sanguessuga, ainda não haviam sido corrompidos, mas eram incapazes de mudar a maré, porque o próprio Mestre da Cidade fazia mais e mais fofoca para tornar seu povo ávido pelo ouro dos anões. Thranduil levou ainda mais distorção ao assunto oferecendo ajuda como se os Homens estivessem completamente abandonados ao invés de bem preparados graças à franqueza e à doação de ouro dos anões. Então alguém teve a ideia estúpida de que os anões pudessem estar mortos, e que seria só uma questão de ir até Erebor e tomar o que quisessem.

Thorin ficou maluco com as notícias. Todo seu planejamento e luta e negociação com Bard havia levado a nada por causa das mentiras do maldito rei élfico. Haveria guerra, e eles eram apenas dezessete.

“Roäc, mais sábio dos pássaros, peço-lhe por favor que mande notícias desses acontecimentos para meu primo Dáin Pé-de-Ferro nas Colinas de Ferro, à leste. Se não chegarem a tempo de nos ajudar, pelo menos sentirão o sabor da vingança.”

Então, curiosamente, teve uma reunião a portas fechadas com Óin.

ooo000ooo

Era pouco depois do meio-dia e Ellen levou uma tigela de cozido para Kíli, que estava de vigília no balcão. Como era pleno dia, os irmãos dela permitiram que chegasse perto dele sem ser vigiada.

A cabeça de Ellen estava em conflito, e queria alguém para conversar sobre isso, e tinha que ser ele.

“Isso está errado. O Homens-do-Lago não têm culpa dos erros do Thranduil.”

“Thorin está zangado porque o Rei Elfo concedeu ao povo da Cidade do Lago a ajuda que negou ao nosso próprio povo, quando Smaug veio.”

“Mas há crianças, mulheres, idosos…”

“Assim como também havia entre nosso povo.”

A elfa baixou os olhos, pensando. Lembrava-se da dor de Dwalin por suas perdas, uma delas a perda de sua irmã para uma febre. Se não estivessem vagando nos ermos, teria ela morrido? E a dor de Thorin, também. A mãe de Kíli era criança quando Smaug veio, ela era uma das crianças para a quais Thranduil negou compaixão. E agora os homens da Cidade do Lago estavam do lado do rei élfico, prontos para guerrear contra eles dezessete, e sim, havia pouca ou nenhuma chance de que pensariam em pagar a devida herança ao povo de Durin em qualquer outro lugar se a Companhia fosse encontrada morta. Ela se decidiu.

“Não vou erguer minha mão contra qualquer pessoa dos Povos Livres da Terra-média, mas vou defender meu rei e minha família até a morte se for preciso.”

Kíli ergueu os olhos da tigela.

“É isso que eu espero de alguém comprometida comigo.”

“Que pena que não pudemos ter ainda aquele anúncio de compromisso como você queria lá na Cidade do Lago. Com guerra à mão, não sabemos nem se algum dia vamos ter a chance.”

Ellen estava ficando deprimida; ela sabia que uma guerra podia significar a morte de qualquer um deles, ou de ambos. O anão pôs a tigela no chão e pegou as mãos dela nas suas.

“Mas teremos. Thorin me disse. Ele também não quer ir para a guerra sem ter se comprometido.” Ellen olhou para ele com olhos arregalados, surpresa. “Se você tiver um vestido bonito nas suas coisas, vista-o esta noite; se não tiver, terei orgulho em me comprometer com uma guerreira elfa incomum de armadura completa.”

ooo000ooo

“Óin era o membro da Companhia mais velho que não estava diretamente envolvido no Compromisso aquela noite, e assim, era o responsável por clamar a Fala de Compromisso. Sabiam que todos poderiam estar mortos a qualquer momento, porque os corvos lhes trouxeram mais notícias sobre os movimentos dos elfos e dos homens, e aquilo significava que a guerra estava à mão. Mas, na crença dos anões, um compromisso feito em vida significava que teriam suas almas entrelaçadas e que se encontrariam nos Salões de Espera; acreditavam também que a alma de um anão voltaria em sua própria linhagem se a missão que tinha a cumprir nessa vida não tivesse tido completada, ou se entrasse em débito com seu próprio povo. Era por isso que o próprio Durin já voltara tantas vezes, e ainda voltaria, no devido tempo, pois seu amor e comprometimento para com seu povo eram para sempre.

Balin estava pensando em todas essas coisas e perdeu o começo da fala de Óin, mas já tinha ouvido aquilo várias vezes antes e só se sobressaltou quando ouviu o sobrinho de Thorin ser chamado. Estava feliz por estar vivo para ver aquele jovem garoto inconsequente dar um passo tão sério.

“Kíli, filho de Dís, filha de Thráin, da linhagem e Durin, o que tem a oferecer para garantir o futuro de seu lar e de sua família?”

O jovem estava obviamente nervoso, mas engoliu em seco e disse sem nenhum tremor na voz.

“Eu trago as habilidades de guerreiro, de ferreiro, e de escultor de pedra.” Isso nem Ellen sabia, e olhou para ele sorridente. “Também trago o que me for devido do tesouro de Erebor, de acordo com minha contribuição para sua reconquista; e trago o nome da linhagem de Durin.”

Tendo terminado sua fala, sorriu para ela, incapaz de esconder sua alegria.

“Quem fala em nome de Ellen, filha de Nyda?”

A cultura patriarcal anã exigia que um homem falasse em nome da noiva, o que era uma boa ajuda para as garotas anãs comuns que eram realmente tímidas; para Ellen e suas sobrinhas, era só engraçado.

“Eu, Balin, filho de Fundin, falo por ela.”

“E o que ela tem para trazer para seu futuro lar e sua família?”

“Ela traz as habilidades de guerreira, governança do lar, bordado e jardinagem.” Era imperativo que a mulher tivesse a habilidade de governança do lar mencionada, por mais que soasse bizarro para as três que estavam presentes. Então o anão de cabelos brancos pegou um pedaço de papel para ler de forma que não errasse ao dizer os estranhos predicados aos quais não estava acostumado. “Traz o conhecimento de brigadista de incêndio, um grau de bacharel em administração de empresas, e um grau de mestrado em planejamento estratégico.” Guardou o papel no bolso junto com seus óculos e completou, para a surpresa de muitos, dando à elfa o presente de noivado dele e de Dwalin. “Além disso, ela traz o nome da família de Fundin, por adoção.”

Isso era inesperado. Todos sabiam que ela era Irmãzinha de Balin e Dwalin, mas isso costumava ser um arranjo informal apenas entre os envolvidos; tendo sido mencionada como adotada pela família de Fundin num anúncio formal fazia com que ela se tornasse herdeira legítima de qualquer herança a que seus irmão tivessem direito. Como eles não tinham descendentes diretos, tornava-a potencialmente incrivelmente rica.

Depois da Fala, trocaram contas de prata que prenderiam em suas tranças como sinal de compromisso. Antigamente, o trancamento seria feito ali mesmo e naquele instante, mas ninguém tinha a paciência de esperar por um trançamento de cabelos verdadeiro desde que Óin filho de Glóin levou duas horas para ter seu cabelo trançado para sua conta de compromisso, lá atrás em 2.450 da Terceira Era.

Óin chamou o próximo casal, sem deixar tempo para a Companhia tagarelar sobre a adoção, já que isso podia ficar para depois.

“Thorin Escudo-de-Carvalho, filho de Thráin, filho de Thror, da linhagem de Durin, o que tem a oferecer para garantir o futuro de seu lar e de sua família?”

Não parecia haver nenhum nervosismo no anão orgulhoso quando ele falou, a maioria das palavras idênticas às de seu sobrinho.

“Trago as habilidade de guerreiro, ferreiro e monarca. Também trago minha própria parte do tesouro de Erebor, e um assento ao meu lado no alto trono de nossos Antepassados; trago o nome da linhagem de Durin.”

Todos assentiram e sorriram para sua fala, principalmente porque até alguns meses atrás ninguém achava que isso fosse acontecer um dia.

“Quem fala em nome de Lily, filha de Wolfram?”

Não era comum que uma mulher falasse por outra, mas sendo a única parente adulta que a anã tinha lá, tinha que ser Ellen a falar por ela, de acordo com o que havia sido acordado antes.

“Eu, Ellen, filha de Fundin, falo por ela.” Disse a elfa, usando seu nome de família anã pela primeiríssima vez.

“E o que ela tem para trazer para seu futuro lar e sua família?”

“Ela traz as habilidades de luta, governança da casa e cabelereira.” Não era só trançar cabelos, ela realmente sabia cortar e fazer penteados do jeito que quisesse, e isso era bem considerado entre os anões. “Ela traz conhecimento de ervas, aprendiz de curandeira, design de interiores e arquitetura básica.” Não era problema mencionar algum conhecimento como ‘básico’ porque ela era tão nova que isso apenas demonstrava que era alguém ansiosa por aprender. “Ela traz o nome da família de Wolfram, filho de Nyda, de fora dos círculos de arda.”

Essa última parte seria parecida com a fala normal de eu próprio nome de família, se Balin não tivesse mencionado que fora adotada pela linhagem de Fundin. Thorin e Lily trocaram contas de prata para entrelaçar em suas tranças mais tarde e Óin tomou a palavra novamente.

“Estejam atentos de que de agora em diante, até o dia de seu matrimônio, Mahal estará observando vocês para descobrir se são merecedores um do outro; as habilidades e conhecimentos que juraram trazer para seu futuro lar e família devem ser comprovados, se é que ainda não foram.”

Ellen cotovelou as costelas de Kíli e sussurrou.

“O que quer dizer isso? Ninguém me falou nada sobre provar habilidades!”

“Fique tranquila, no nosso caso significa apenas que eu tenho que fazer uma escultura para você e que você tem que bordar alguma coisa para mim e fazer um jardim antes do nosso casamento.”

“E quando vai ser isso?”

“Se ainda estivermos vivos, daqui a um ano e um dia, no mínimo.” Ele passou a mão nas costas do vestido verde escuro dela. “É tempo suficiente para fazer o que precisa?”

“Acho que sim. Não é porque eu Morava num apartamente que não sei como cultivar algumas flores.”

“O que é um apartamento? “

“Hmm, um tipo de casa dentro de uma torre.”

“Como a torre de escritórios que você já mencionou?”

“Sim, como isso.”

“Hmm, soa como um calabouço particular, não?”

Ellen riu.

“É, tipo isso!”


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