Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 30
Capítulo 30 – Indo para Casa




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Thorin estava ansioso para ir até o tesouro, mas preocupado demais com o possível retorno de Smaug para deixar o posto de vigia no terraço. Foi assim que ele não acompanhou aqueles que foram buscar os suprimentos deixados no túnel, e não viu quando Bilbo tropeçou em seus próprios pés e caiu com as mãos para frente numa pilha de ouro, de onde se levantou de olhos arregalados com uma enorme gema em sua mão, imediata e cuidadosamente escondida em seu casaco.

Os que foram para a Colina do Corvo voltaram às pressas com suas notícias. O único atraso foi pular no primeiro trecho do rio que puderam alcançar para remover o máximo de esterco de dragão que podiam, mesmo que algumas camadas externas de roupa tivessem sido simplesmente jogadas fora. A água estava gélida, mas qualquer coisa era melhor do que cheirar a esterco de dragão. Foi assim que Thorin viu seus companheiros voltarem menos fedidos e soube que havia boas novas.

Dwalin lhe contou o que Roäc disse, pulando as partes embaraçosas, que Kíli garantiria que todos soubessem. Aqueles que estavam com Thorin no balcão se rejubilaram, e assim que avistou aqueles que estavam trazendo os suprimentos Fíli gritou para eles.

“Hora do banho!”

Iris largou o que quer que estivesse carregando e pulou no manancial do Rio Corrente, completamente esquecida de que hobbits não nadam, mas foi rapidamente resgatada por Glóin, que por acaso estava perto. Então ela se sentou na margem e lavou cada pedacinho de sujeira de que foi capaz, junto com Bilbo, enquanto os anões pulavam na água corrente do jeito que estavam. Os que estavam no balcão logo juntaram-se a eles, com exceção de Kíli e Ellen, que já haviam pulado no rio enquanto voltavam da Colina do Corvo e aproveitaram a necessidade de alguém estar de vigília para lhes garantir um pouco de tempo sozinhos, ainda que à vista dos outros.

“Ainda tenho um monte de sabão da Cidade do Lago, quando alguém vier nos render vou achar um braço do rio mais isolado para eu e as meninas tomarmos um banho decente e trocar de roupa. Vou deixar algumas barras de sabão aqui para você e os outros caras, também.”

“Hmm, elfa cheirosa é meu prato favorito!” Kíli a provocou, risonho.

“Qualquer coisa que não seja anão fedendo a esterco de dragão é meu prato favorito!”

“Seria melhor ter alguém para te vigiar enquanto você se banha, para sua própria segurança, não acha?”
O sorriso maroto de Kíli não tinha preço.

“Mesmo que eu concorde com você, o que acha que meus irmãos fariam? Primeiro tínhamos seu tio para nos manter afastados, agora temos meus irmãos preocupados com a minha castidade como se eu fosse uma adolescente, mesmo que não saibam que é inútil. Assim agora temos dois cães de guarda em vez de um!”

O anão a olhou com uma preocupação repentina.

“Mantenha-os acreditando que não é inútil, senão vão querer comer meu fígado com cebola!”

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Uma Companhia completamente limpa fez sua primeira refeição quente em dias incontáveis, e então começou a fazer planos para o resto do dia. Passar outra noite na casa de guarda era impensável, porque se impregnou com o fedor de esterco de dragão, e ponderavam onde seria melhor acampar.

“Por que não vamos para minha casa?”

Thorin os convidou, um sorriso largo no rosto. Na verdade, parecia que o rosto de anão zangado havia desaparecido por completo, agora que anos de preocupação haviam sido erguidos de sobre seus ombros.

“É perto daqui, tem espaço suficiente para todos nós, e é capaz de estar menos entupida de poeira do que os salões abertos. Venham, vamos para minha casa!”

Agora que ele havia dito, parecia óbvio para as mulheres. Aquela tinha sido a casa deles, pelo menos para a maioria deles. Fíli, Kíli e Ori haviam nascido no exílio, e Nori e Bofur eram garotos quando o dragão veio, mas Erebor era o lugar onde os anões haviam habitado, trabalhado, brincado, vivido até uma centena e tantos anos atrás. E agora eles estavam de volta em casa.

Juntaram suas coisas e seguiram Thorin até a casa onde ele nasceu e viveu com seus pais, seu avô, seus irmão e irmã. Então se deu conta de que todos estes apenas sua irmã ainda estava viva. Olhou para seus sobrinhos, filhos dela, e ficou feliz de que ambos estivessem lá com ele. Eles haviam sido seu orgulho e alegria desde bebês, era justo que estivessem ao seu lado naquele momento de realização.

E então havia Lily, sua flor branca, encontrada nos ermos. Quando as coisas se assentassem, ele mandaria chamar um sacerdote de Mahal e a teria como sua legítima esposa e rainha. Poderiam casar-se junto com Kíli e Ellen, seria uma celebração para ser lembrada por anos. Teriam que esperar até que Dís pudesse chegar, é claro, ela nunca perdoaria a ele e a Kíli se ela não estivesse presente para os casamentos. Com estradas boas, sem goblins nem elfos de Mirkwood, poderia levar um ano inteiro para alguém ir até Ered Luin e voltar com sua irmã. Não importava, um ano era pouco considerando tudo o que havia para ser feito, limpado, consertado...

A cabeça de Thorin estava perdida em seus pensamentos quando chegaram à sua antiga casa, e ela o trouxe de volta à realidade com um choque. Sua mente de guerreiro havia guardado a memória da destruição que Smaug trouxe à Erebor em modo macro, a imagem geral, a grande fuga por suas vidas quando lutar era inútil. Ele próprio marchando com outros guerreiros até o portão que o dragão estava para assaltar, acreditando que poderiam fazer alguma cosia para proteger seu reino. O dragão pisando sobre eles como se fossem formigas. Sua luta para tirar seu avô do tesouro a tempo de salva-lo.

Mas, apesar de sua mente racional saber, de certa forma, como as coisas eram de fato, seu coração não estava pronto para aquilo que viu e principalmente para o que sentiu quando abriu e atravessou a porta da casa de sua infância e juventude. De cada lado da porta estátuas tão altas quanto as paredes da casa a guardavam, uma à imagem de Durin e a outra a imagem de Mahal.

Havia uma ampla sala de estar, com uma lareira cercada de sofás de ferro forjado onde almofadas de seda jaziam estragadas, como estragadas estavam as tapeçarias nas paredes e no chão. Ali seu avô, Thror, Rei Sob a Montanha, costumava esquecer seus fardos diários, e se alegrava em estar com sua família, e às vezes seus amigos mais chegados; lá Thror os mimava, ele, seu irmão e sua irmã, dando-lhes moedas de ouro para cada pergunta que fazia e que eles respondiam corretamente; lá Thráin, seu pai, lhes dava algumas lições sobre como se comportar, porque eles realmente precisavam dessas lições. Um dos motivos pelos quais ele era tão próximo de seus sobrinhos apesar de eles o deixarem maluco às vezes era porque ele mesmo e seu irmão não eram pestinhas nada diferentes. A cadeira perto da porta da cozinha onde sua mãe costumava sentar para fazer suas costuras e seus bordados, porque dizia que era o lugar com a melhor luz para ver a linha; uma cadeirinha estava ao lado da dela, e ele quase podia ver Dís sentada lá com suas bonecas. Tudo estava coberto de poeira. Menos poeira do que lá fora nos salões abertos, mas, de qualquer forma, a poeira do tempo.

Thorin não disse nada, mas sua postura, seus olhos que vagavam, diziam mais a seus companheiros do que qualquer palavra poderia. Balin, que costumava ser um dos amigos mais próximos de Thorin, que costumava frequentar a casa antes de Smaug chegar, e na verdade havia sido salvo de um dos primeiros haustos de fogo do dragão pelo próprio Thorin, chegou perto de seu rei, sentindo quase a mesma dor.

“Meu senhor, tem certeza de que seria adequado ficar aqui?”

Viu Thorin fechando os olhos por um momento, e então cerrando os punhos, se recompondo.

“Sim, é. Um homem tem o direito de voltar para sua própria casa, e trazer com ele quem quer que esteja ao seu lado.” Pegou uma tocha e a acendeu. “Acampamos na sala de estar principal por hoje. Vou ver se os outros quartos não estão danificados. Não abram os telhados, toda a poeira que está sobre eles cairiam dentro da casa.”

Segurou a tocha no alto e entrou no corredor, sozinho. A Companhia tinha mais juízo do que segui-lo bem naquele momento, dando-lhe o tempo de que ele precisava. Ele caminhava devagar, deixando suas memórias inundarem seus olhos com pesar. Lá estava a sala de música, e todas as horas de lições de harpa que ele e Frérin haviam tido por ordem de sua mãe, quando tudo o que queriam era brincar com outros meninos da idade deles; o quarto de estudos, onde ele mesmo ajudou seu irmão a aprender suas primeiras runas quando o preceptor caiu doente bem no dia em que Frérin teria sua primeira aula e estava tão abatido porque queria tanto aprender; o quarto de dormir de Dís, suas bonecas espalhadas... quase podia ouvir sua voz aguda implorando para que brincasse com ela ‘porque a princesa precisa de um guerreiro valente para ir ao baile com ela, e você é o guerreiro mais valente da Terra-média. Por favor!’ O mesmo por favor que a ouviu dizer quando estavam para sair para a missão. ‘Traga meus filhos de volta, irmão. Por favor!’ Pegou uma caixinha de música de prata de cima de uma prateleira, soprou a poeira da tampa e a abriu. A pequena figura de uma menina anã se ergueu, esperando. Thorin deu corda e a figurinha girou ao som da delicada caixa de música.

Estava para entrar em seu próprio quarto cheio de lembranças quando Balin veio falar com ele, resgatando-o do passado. O velho anão o ajudou a se recompor, falando de necessidades urgentes da Companhia, gentilmente guiando-o para fora da área familiar da casa, o sábio, leal Balin.

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Dwalin chamou Ellen para o seu lado e falou com ela em voz baixa.

“Irmã, vamos tirar Thorin daqui por algumas horas. Veja o que pode fazer com o resto da Companhia para tornar esse lugar habitável. Ele é teimoso demais para aceitar que seu espírito está abatido por ver sua casa nesse estado depois de todos esses anos.”

“Entendi, irmão. Mas mantenha você mesmo e Balin longe da sua própria casa por enquanto, está bem?”

“Por quê?”

“Porque lá em Imladris eu senti a dor das perdas que tanto você como Thorin sentiram. A dor que vejo nos olhos dele agora me lembrou disso. Não quero você ou nosso irmão mais velho passem por isso sem que eu esteja ao seu lado.”

Dwalin balançou a cabeça.

“Você não devia se preocupar.”

“Se eu não me importar com meus irmãos, que porcaria de irmã eu sou?”

Dwalin riu e bateu a mão no ombro dela, e então ambos bateram as testas, rindo. Bem nesse instante Thorin entrou na sala de estar com Balin ao seu lado, seu rosto a máscara de pedra costumeira, compostura recuperada, e Ellen pensou que era um fardo pesado ser o rei de um povo, anulando-se em nome deles, fazendo o que tinha que ser feito, não importando qual seu próprio estado emocional era.

“Companhia, vou ver quanto a armaduras e armamentos na sala de guarda principal. Dwalin, Balin, Bilbo, vocês vêm comigo. Bombur, veja uma refeição para todos nós. Kíli, quando for render Glóin na vigilia, diga-lhe para ir à casa da guarde também. Todos os outros, descansem um pouco.”

Deixou a casa seguido por seus dois camaradas e o hobbit. Bombur foi para a cozinha.

Assim que seus passos não podiam mais ser ouvidos, era momento para a elfa se levantar e bater palmas para chamar a atenção da Companhia.

“Pessoas, graças a Durin não estamos mais em espaço aberto, mas creio que vamos descansar melhor quando essa casa for limpa um pouco. A gororoba do Bombur também vai ficar mais gostosa se não tiver terra nela.”

“Eu ouvi isso!” Gritou Bombur da cozinha.

“Quem viveu aqui antes, vocês sabem onde podemos achar água, e para onde levar o lixo. Dos demais, dois ou três para ajudar Bombur a limpar a cozinha e preparar a refeição, os outros vão limpar essa sala, e se ainda sobrar tempo, os cômodos mais próximos. Alguma dúvida?”

Bifur levantou a mão e fez uma série de gestos e grunhidos. Ellen era lenta em aprender sua linguagem de sinais, mas conseguiu decifrar uma palavra ou duas.

“Bofur, poderia por favor traduzir o que seu primo está perguntando sobre ‘ordens’?”

“Bifur está perguntando por que você está nos dando ordens.”

Bofur se divertia com a irritação do primo. Ellen suspirou.

“Bifur, querido, eu não estou dando ordens, estou pedindo por ajuda! Por favor?”

Ele cruzou os braços e sacudiu a cabeça. Bofur o provocou.

“Deixe estar, Ellen, esse anão senil aqui é forte o suficiente para usar uma azagaia mas muito frágil para manejar uma vassoura. Podemos nos virar sem ele, deixe Bifur sentado em seu próprio monte de poeira se ele quiser.”

Bifur fez o gesto universal com um dedo para ele, fazendo a turma rir alto. Óin,o mais velho deles, urrava de tanto rir. Então se organizaram em pequenas equipes e saíram, cada grupo para sua própria tarefa.

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A maior parte das coisas estava completamente perdida, estragada além de qualquer possibilidade de conserto. Camundongos muito pequenos para incomodar um dragão haviam encontrado o caminho para qualquer comida armazenada, mas haviam se ido muito tempo atrás também. Traças se banquetearam em quase todo tipo de tecido, apesar de que algumas coisas de couro ainda estavam inteiras, apesar de endurecidas. Bordados com fios de ouro e prata ainda estavam sem danos, mas o tecido por baixo estava frágil; estes Ellen e Lily guardaram para uso futuro como amostra. Bombur achou uma pequena fortuna em sal, visto que era um item não perecível, e usaria um pouco dele para dar um sabor diferente à refeição, com tanta frequência sem tempero nos ermos. O cozido já estava cheirando deliciosamente quando Kíli estava pronto para render Glóin na vigília. A sala de estar principal já estava limpa. Anões realmente tinham um jeito para trabalhar juntos que, uma vez posto em ação, era uma cosia para ser ver.

Cerca de uma hora depois Thorin e os outros estavam de volta com uma pilha de armoraria em seus braços. Bilbo vestia uma cota de malha brilhante, finamente trabalhada, e os outros usavam elmos. Balin piscou de lado para Dwalin quando chegaram à porta da frente e sentiram o cheiro de pedra molhada além do aroma do cozido de Bombur. Entraram.

Na segunda vez que Thorin entrou na casa de sua juventude após retomar Erebor seu rosto era de surpresa, não de desalento. As tapeçarias e almofadas estragadas haviam desaparecido, não se via nenhuma teia de aranha, e a sujeira do chão se fora.

O grupo todo de anões mais a garota hobbit e a elfa estavam lá, sorrindo orgulhosamente para ele; Fíli veio até a frente com um amplo sorriso no rosto.

“Benvindo ao lar, Tio!”

Thorin pôs seu rosto de zangado.

“Eu falei para descansarem. Quem lhes disse para faxinar a casa?”

Meia dúzia de dedos apontaram para Ellen, que se preparou para a tempestade vindoura e deu passo à frente. Balin e Dwalin se apressaram em passar por Thorin e se postaram ao lado dela.

“Eu lhe disse para fazer isso!” Declarou Dwalin.

“E eu te aconselhei a visitar a casa da guarda para que isso fosse feito!” Foi a vez de Balin de sair em defesa dela.

Thorin sacudiu a cabeça, sorrindo, para o alívio de todos.

“Abençoadas sejam as crianças de Fundin!” Ele olhou para a elfa. “Todas elas Vocês três são realmente forjados da mesma amálgama!” Bateu no ombro de Balin enquanto passava por ele. “Você só se esqueceu de uma coisa, velho camarada.”

“E o que seria, rapazinho?”

O anão enérgico entrou na cozinha e foi até uma porta nos fundos dela.

“O caminho para as adegas! Vinho bom melhora com o tempo, vamos ver o que mais de um século fez com o que está lá.”

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Fíli esvaziou sua caneca e levantou-se.

“Vou render Kíli na vigília, ele deve estar com fome.”

“Ele está sempre com fome.” Alguém disse. Então Ellen pensou em outra fome que ela tinha, e nos olhos famintos de Kíli sobre ela, ainda mais agora que conheciam o sabor um do outro. Então ofereceu.

“Vou com você, para lhe fazer companhia no caminho até lá.”

“Ah, sim? E depois?”

“Então eu volto, para fazer companhia ao Kíli no caminho até aqui!”

“De jeito nenhum!” Interveio Dwalin. “Não é apropriado que uma dama ande por aí sozinha com um homem a essa hora da noite.”

“Mas irmão, eu já sou crescidinha, não acha?”

A elfa achou que isso era ridículo. O anão tatuado só olhou em sua direção sombriamente e balançou a cabeça.

“Ah, vamos lá, querido, somos quase noivos!”

“Mais um motivo para você ficar em casa!”

Ela balançou a cabeça, dando uma risadinha. Era meio absurdo, mas até certo ponto também era engraçado e tocante ter alguém que se preocupasse tanto com ela. Sentia muita falta de seu irmão Wolfram, mas com Dwalin e Balin sentia-se fazendo parte de uma família especial.

Iris e Lily riram para ela.

“Agora, Tia, entende como a gente se sente quando nos superprotege?”


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