Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 29
Capítulo 29 – Ninguém em Casa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587266/chapter/29

Nem todos os barris de pólvora explodiram como a Companhia queria, nem explodiram com toda potência esperada, mas foi o suficiente para danificar os tímpanos de Smaug e desestabilizá-lo mais; muito de seu casaco de diamantes também caiu, expondo uma área maior de sua barriga macia, já machucada por alguns fragmentos dos barris de metal, e pela primeira vez que podia se lembrar, Smaug realmente sentiu dor.

Ter se escondido atrás das pilhas de tesouro maiores e dos pilares de pedra se mostrou o melhor que a Companhia podia ter feito para evitar se tornar vítimas colaterais de seu próprio ataque explosivo. Smaug estava confuso, momentaneamente vulnerável, e aproveitaram a chance para destruí-lo. Cada guerreiro deu o melhor de si para atingi-lo e ter sua parte no ataque, mesmo com o risco de se ferir. O dragão estava completamente confuso, porque não sentia nenhum cheiro a não ser o de seu próprio esterco e não podia ver nada com um olho e apenas imagens borradas com o outro; tentou descobrir o que estava acontecendo para que pudesse pelo menos vingar-se o quanto ainda fosse capaz. Seu corpo perturbado arrotou salada de novo, e Smaug pensou nos pôneis. Ele não conhecia o cheiro de Fedido, mas conhecia o cheiro de onde os pôneis haviam vindo. Cidade do Lago.

Ele rugiu sua ira e lentamente tentou voltar para a passagem e ir para longe dali e daqueles guerreiros estúpidos. Poderiam roubar seu tesouro, talvez, mas não teriam lugar nenhum para voltar, ele garantiria. Thorin estava mais perto da passagem quando o dragão veio, e seus passos pesados desequilibraram o monte de ouro sobre o qual o anão estava, fazendo-o oscilar e perder a empunhadura de Orcrist, que caiu e escorregou para longe na pilha de ouro; viu a elfa por perto e gritou.

“Ellen, Lócënehtar!”

A elfa viu o que aconteceu e correu em sua direção; ela não era páreo para os passos de Smaug, mesmo ele estando mais lento que o normal, mas conseguiu fazer sua espada alcançar o anão com um grito.

“A seu serviço!”
Thorin pegou a ampla empunhadura com as duas mãos para usa-la como uma espada montante e correu, brandindo a espada como uma lança, e estocou-a fundo na barriga do dragão, então rolou para o lado para evitar o contra-ataque. Fíli conseguiu puxar Thorin para fora do alcance do hálito de fogo bem a tempo. Smaug se fora.

Foi difícil para eles segurar Thorin, que queria ir atrás do dragão, e só conseguiram porque viram que Smaug estava alçando pequenos voos para fugir deles mais depressa.

“Ele se foi!” Foi o suspiro aliviado de Balin.

“Mas não está morto.” Respondeu Thorin, sombriamente.

“Mas está envenenado e ferido. Pode morrer ainda.”

“Não podemos contar com isso. Precisamos ir até o Portão frontal e vigiar. Ele pode voltar a qualquer momento.” Thorin voltou-se para os companheiros. “Alguém ferido? Chamuscado?”

A voz queixosa de Iris chegou baixinho até ele.

“Não, só imunda, imunda, imunda, eu nunca me senti tão imunda em toda minha vida!”

Todos riram. Todos estavam imundos, como nunca sonharam um dia ficar, mas sim, era melhor cheirar a esterco de dragão do que ser farejado, encontrado e mascado por um. Sua completa desorientação após perder um olho e não conseguir cheirar nada que não fosse ele mesmo lhes garantira qualquer sucesso que tivessem obtido, mais o envenenamento por datura. Era uma pena ter perdido os pôneis, mas teriam sido perdidos de qualquer forma se Smaug os pegasse, e assim pelo menos sua morte serviu a um bom propósito.

“Vamos para o Portão, posicionar vigília e ver se já é o momento de nos lavarmos. Não quero que Smaug volte e sinta cheiro de anão, vamos mantê-lo confuso enquanto pudermos.” Thorin olhou para seus companheiros leais, dispostos a segui-lo até as próprias garras de um dragão. “Podemos lavar nossos rostos e mãos, pelo menos; vamos subir até a nascente do Rio Corrente, e de lá para o Portão.”

ooo000ooo

Thorin de fato conhecia cada passagem e cada curva do palácio, e caminharam atrás dele com a ajuda da luz difusa que a arquitetura de Erebor inteligentemente provia. Finalmente haviam conseguido. Estavam dentro de Erebor, e o dragão havia partido. Teriam que ficar alertas, mas agora sabiam que ele podia ser derrotado, e que estava ferido.

Agora as mulheres podiam entender o que realmente significava quando ouviam alguém falar em ‘grandiosos salões’. Tudo era enorme, impressionante, majestoso.

O salão principal recebia luz das amplas janelas principais por sobre o Portão. Essa luz era espalhada pelo uso inteligente de espelhos e cristais, tornando desnecessário acender uma única vela durante o dia. As casas, oficinas e lojas não tinham teto, porque não era necessário para evitar chuva, e também usavam a luz difundida. Nas moradias, os quartos costumavam ter tetos articulados, pela escuridão para dormir e para privacidade. Onde as luzes das janelas principais não conseguiam alcançar, chaminés de iluminação eram feitas para trazer luz para dentro, usando os mesmos dispositivos de espelho e cristal. De noite, ou em dias nublados, séries de velas ou tochas eram acesas para usar o mesmo sistema. Além de serem mestres de pedra e metal, os anões eram mestres em óptica.

Tudo estava coberto com anos demais de poeira, e a Companhia estava pensando em acampar do mesmo jeito que vinham fazendo em campo aberto. Mas havia sujeira demais, poeira leve que se espalhava em nuvens quando andavam.

Foi uma caminhada longa e cansativa, conforme o nível de adrenalina baixava em seus corpos e as escadarias se erguiam defronte deles, mas conseguiram chegar em tempo de ver o último brilho da luz do sol através das janelas do terraço. Vinte e quatro horas antes estavam esperando a Porta dos Fundos se mostrar. Agora estavam dentro de seu reino reconquistado. Foi um Dia de Durin valoroso, de fato. Bilbo sorriu.

“Nunca sonhei em olhar através dessa janela pelo lado de dentro.”

“E não estaríamos aqui se não fosse por você, querido amigo.” Thorin bateu a mão no ombro dele, calorosamente. “Foi preciso a coragem de um filho do Condado para atiçar o dragão.”

“Vocês teriam dado um jeito se eu não estivesse aqui, tenho certeza.”

O hobbit dispensou o elogio. Não estava acostumado a muito confete e se sentia melhor sem ele.

“O sol está se pondo, melhor achar um lugar seguro para acampar; esse terraço é muito aberto e exposto.”

Balin se lembrava da última vez em que estivera naquele balcão e o fogo de Smaug quase o havia tostado.

“Podemos usar a sala de guarda do lado oposto ao que Smaug abriu aquele buraco.” Sugeriu Dwalin. “Assim estaremos perto da entrada porém dentro de um lugar seguro, e também perto do posto de vigília.”

“Pode ser uma boa ideia por essa noite, amanhã vemos o que acontece.”

“O que é aquilo, rio abaixo?”

Ellen estreitou os olhos para ter uma vista melhor das luzes vermelhas que viu. Em minutos se expandiram tanto que podiam ser vistas mesmo pelos anões, conforme línguas de fogo vermelhas e amarelas iluminavam a distância.

“Cidade do Lago.” Murmurou Thorin. “Smaug os alcançou.”

“Precisamos ter esperança de que tenham tido uma chance.”

“Eles assumiram o risco de nos ajudar, e tentamos avisar e ajudar como podíamos. Não há nada mais a ser feito.”

Um tordo pousou no balcão e cantou alegremente, contrastando com os ânimos da Companhia enquanto pensavam no que teria acontecido com a Cidade do Lago e seu povo.

ooo000ooo

Smaug xingou em todas línguas conhecidas e desconhecidas que a Terra-média jamais tinha ouvido, enquanto voava seguindo o rio abaixo para ter sua vingança. Não era justo o que fizeram com ele. Um cara Fedido invisível e uma gangue de ladrões fedendo a esterco tiveram a insolência de mover-se em segredo para dentro de sua casa e colocar barris explosivos em seu próprio quarto de dormir; não isso não era justo. Os donos dos pôneis da Cidade do Lago teriam sua paga, ah, teriam, principalmente se o horizonte parasse de dançar diante de seu olho. Qualquer que fosse a salada que os pôneis haviam comido, definitivamente não estava fazendo bem para ele. Ele soluçou, e uma chama saiu junto, involuntariamente. Pelos calabouços escuros de Morgoth, isso não estava nada bem. Smaug soluçou de novo, sua barriga doendo onde um daqueles estercalhões o havia atingido fundo. Quase pegara aquele insolente, mas estava difícil acha-lo do lado em que perdera a visão. Se não fosse por aqueles malditos barris explosivos sua armadura estaria inteira e nada disso teria acontecido.

Não se lembrava de a Cidade do Lago ser tão distante, será que era? Mas então haviam se passado muitos anos desde que havia jantado com aquelas pessoas. Ou, melhor dizendo, desde que havia jantado aquelas pessoas. Smaug tentava focar no rio, o rio, o rio o levaria até onde ele queria, não precisava pensar nisso, era só seguir o rio e tudo ficaria bem. O rio era se amigo, o rio era bonito, tinha peixes, peixes legais, e... e o rio estava perto demais e Smaug fez um pouso aquático de emergência, espalhando água à toda volta em grandes ondas, e, oh, Glaurung, aquilo doía! Apressou-se em sair da água novamente, arrotou salada e soluçou fogo, e então voou desnivelado na direção geral da Cidade do Lago, agora que estava sobre o lago era muito mais fácil se perder mesmo seguindo o rio, porque ele era tão largo...

ooo000ooo

O povo da Cidade do Lago não havia estado à toa. Quando Bard voltou de remar a Companhia de anões até os limites da Desolação de Smaug, foi direto até o Mestre e explicou o que poderia estar por vir. Como esperado, o gordo tolo não o ouviu, apenas contando com as recompensas que os anões teriam para ele quando completassem sua missão, já que eram um esquadrão de elite absurdamente bem armado e equipado e abastecido por ele mesmo, e isso estava fadado a lhe garantir alguma riqueza, estava certo. O que seu povo poderia estar passando ele não se importava, exatamente como os anões disseram para Bard. Era esquisito que estranhos soubessem mais sobre o líder de sua cidade do que ele mesmo; mas então, ele de certa forma esperava por isso, e não estava muito surpreso.

Procurou por ajuda onde podia encontra-la. Sabendo da ameaça que podia se aproximar da cidade a qualquer momento a partir dali, Bard usou de toda influência que pôde, entre seus colegas na guarda da cidade, seus vizinhos, mas o melhor aliado que encontrou foi inesperado. Quando mencionou que havia um risco de o dragão atacar sua cidade ao curandeiro que prescrevera sanguessugas para Bilbo, este abraçou a causa como se tivesse sido seu próprio filho que fora para a Montanha Solitária, e fez uma peregrinação entre seus pacientes atuais e anteriores para explicar o perigo que estava à mão, e o que havia para ser feito. Vários mercadores compraram a causa também, porque foram tão bem tratados pelas mulheres da Companhia, que em nenhum momento questionaram os altos preços que punham nos produtos que elas queriam comprar; assim, mesmo sem suporte de seu Mestre, a maioria da Cidade do Lago estava alerta quanto à ameaça vindoura, e muitos pares de olhos foram postados para o norte procurando fogo, o sinal de que teriam que por seus planos de fuga em ação.

Os mercadores de comida compreenderam a oportunidade e negociaram os suprimentos de forma justa, pois caso contrário os estoques seriam queimados; aqueles que negociavam itens não perecíveis queriam que seus estoques ficassem a salvo, e ou se mudaram ou negociaram-nos de forma justa também; apesar do inverno vindouro, a maioria das pessoas estava disposta a se mudar para tendas que consideravam seguras na fronteira de Mirkwood, visto que tinham negócios com os elfos, esperando que fosse uma mudança temporária. Assim, quando Smaug alcançou a Cidade do Lago, queimando seus prédios vazios, era quase que uma cidade fantasma, habitada apenas por Bard e sua guarda, sua própria companhia fiel, pronta para lançar suas flechas contra o dragão que atacava como nunca imaginaram ser possível. Olharam para a barriga do dragão desequilibrado que sangrava e atiraram à vontade.

ooo000ooo

A Companhia estava tendo mais uma refeição fria, visto que não se atreviam ainda a acender uma fogueira até ter certeza de que Smaug não voltaria. Haviam trazido apenas uma pequena parte de seus suprimentos para a sala de guarda do terraço, uma vez que no dia seguinte teriam uma noção melhor do que estava acontecendo, e deambulavam pelo espaço de vigia com frequência, porque era como podiam obter qualquer notícia do que Smaug poderia estar fazendo. Ellen, considerando-se a planejadora estratégica da Companhia, sentia-se completamente responsável por qualquer morte que Smaug pudesse realizar na Cidade do Lago, e não tirava os olhos da direção sul, nem mesmo para lambiscar um pouco de lembas. O próprio Thorin veio tentar aliviar suas preocupações, apesar de estar tão inquieto quanto ela.

“Sossegue, elfa. O que fizemos mudou o curso da história, para o bem ou para o mal. Sei que está se sentindo meio que responsável por todos e por tudo, mas você não pode carregar o mundo sobre seus ombros.” Ela olhou para ele, olhos magoados. “Preciso admitir que poderia ter sido pior, se não fosse por você. Pelo menos tínhamos um plano, e eles tiveram um aviso.” Ele acrescentou, gesticulando na direção da Cidade do Lago.

“Queria poder ter notícias das pessoas rio abaixo.”

Os olhos de Ellen estavam baixos, assim como sua voz. Thorin tentou lidar com ela.

“Há coisas que não podemos mudar. O que se passou, é passado, e temos que viver com ele.”

Thorin disse isso a partir de sua própria experiência, de todas as perdas e guerras que havia atravessado; a própria perda de Erebor, a guerra de seis anos contra os orcs que culminou na batalha de Azanulbizar, e...

A elfa se sentiu zonza, e balançou a cabeça entre as mãos, um olhar perturbado nos olhos. Thorin não sabia o que fazer, mas ajudou-a a se sentar no chão, tonta e confusa.

“O que está acontecendo? O que você fez à minha irmã?”

Balin estava perto deles num instante.

“Eu não fiz nada!”

“Não, está tudo bem, irmão!” A elfa conseguiu dizer. “É só...” Ela balançou a cabeça.

“Você está segura, em família, irmã.”

Balin apoiou a cabeça dela em seu ombro, como se ela fosse uma criança e não uma elfa de quase o dobro de sua altura. Ela respirou fundo, tranquilizando-se.

“O passado foi mudado.” Ellen conseguiu dizer, depois de alguns minutos de silêncio perturbado. Então, gradualmente, ela sorriu. “Teria sido pior; não sei o que aconteceu na Cidade do Lago esta noite, mas teria sido pior, teria havido pessoas mortas, e talvez haja, mas mandamos Smaug ferido e envenenado, não em sua força plena como ele teria ido.” A elfa olhou para Thorin. “Teria sido ação do Bilbo, tudo que você teria conseguido realizar até agora teria sido ação do Bilbo. Por favor, não esqueça isso!”

“Você precisa descansar.”

O anão de barbas brancas ajudou a elfa a se levantar, lançando um olhar significativo para Thorin. Ele sacudiu a cabeça, aborrecido. Quase não conseguia lidar com o que conseguia ver, o que fazer em relação ao membro de sua Companhia que via o que ninguém mais podia?

ooo000ooo

No dia seguinte alguns deles fizeram a trilha até a Colina do Corvo, o velho posto de vigia no esporão sul, enquanto outros voltaram para o túnel da Porta dos Fundos para trazer mais suprimentos para mais perto do Portão da frente e outros mantinham vigília no terraço. O Portão estava estragado, era verdade, mas conseguiram limpar um tanto de entulho e abrir uma pequena fresta, larga o suficiente para passarem e pouco mais, e o acesso era mais fácil de dentro do que de fora.

Dwalin guiou aqueles que saíram, porque conhecia a configuração do terreno e o caminho mais rápido para chegar ao posto de vigia avançado. Balin queria que sua irmã permanecesse no balcão, devido à tontura da noite anterior, mas ela insistiu que ficaria bem do lado de fora, que a luz do sol lhe faria bem, e Kíli estaria com ela por via das dúvidas. Ori e Bofur queriam ir também, curiosos sobre as redondezas de seu novo lar; era fato que Bofur havia nascido em Erebor, apesar de sua família ter vindo de Khazad-Dum antes de sua queda, mas ele era um anãozinho quando Smaug veio, e lembrava-se de pouco, e certamente nunca havia ido à Colina do Corvo.

Era um caminho longo, quase três horas num bom passo, mas a manhã estava fresca do inverno vindouro, e alcançaram o posto de vigia num ânimo bom. Estar do lado de fora diluía um pouco o cheiro de esterco de dragão que todos eles ainda carregavam, para disfarça-los de Smaug se acontecesse dele voltar.

O lugar alto oferecia uma vista esmagadora, ampla e distante e linda, se se ignorasse a terra carbonizada mais perto da Montanha, mas era possível imaginar como seria quando o verde voltasse, quando a terra tivesse sido curada, quando a vida saltasse de dentro da terra e de Erebor. Era mais do que retomar um tesouro ou se livrar de um dragão. Era reconstruir um reino, ter um lugar para um povo viver e crescer, em seu lugar de direito, não no exílio. Um tordo cantou por perto.

“Se eu fosse um pouco mais paranoica, diria que esse pássaro está nos perseguindo.”

“Talvez esteja, Irmã, uma vez que tordos têm sido amigos dos anões desde os velhos tempos.”

“O nome desse posto de vigia não está errado, então?” Perguntou Kíli. “Não vejo nenhum corvo por aqui. Deveria ser a Colina do Tordo!”

“Havia corvos aqui no nosso tempo; não sei o que aconteceu com eles, mas eram capazes de se comunicar conosco. Provavelmente Smaug os comeu. Eram de uma raça antiga e longeva, podiam chegar a cem anos ou mais.”

O tordo esvoaçou colina abaixo, e eles olharam em volta procurando qualquer sinal de ameaça. Uma nuvem escura parecia estar se formando no norte, e alguns pássaros estavam vindo do sul, como estavam vendo desde a manhã.

“Vamos colocar esse posto de vigia em uso imediatamente, Dwalin? Somos muito poucos para nos espalharmos em vários lugares.”

“Você está certo, rapaz. Essa é só uma excursão de reconhecimento, vamos voltar agora e apresentar relatório.”

O tordo voltou, cantando de modo zangado na frente de Dwalin.

“Esse amiguinho aí não gostou do que você disse, irmão!”
“Que pena que não tenho o jeito de compreender o que ele canta; conta-se que havia anões que conseguiam entende-los, mas ai, não sou um deles.”

O atraso provido pelo tordo foi suficiente para que um corvo velho, desgastado e de ar cansado voasse até a ameia do muro e pousasse bem defronte a eles; era um corvo enorme, mas depois de ver as águias das Montanhas Nebulosas, nada era mais tão impressionante. Ellen pensou que Edgar Allan Poe não sonharia com um bichinho de estimação melhor. Um som rouco veio do pássaro preto, para surpresa de todos.

“Sou Roäc, filho de Carc.”

“Carc!” Dwalin se espantou. “Carc era o Chefe dos corvos da Colina do Corvo! Como isso é possível? O que aconteceu com seu pai?”

“Nós voamos embora antes de sermos tostados.” O corvo falou novamente. “Carc voa em outros céus agora, por mais de cinquenta anos, já.”

“Isso é uma notícia triste! Que suas penas nunca caiam, Roäc, meu amigo!”

“O tordo me contou de vocês, do que têm feito todos esses dias, e tenho notícias para vocês, notícias do sul.”

“O que tem para nos contar, nobre Roäc?”

“Os pássaros estão voltando para viver na Montanha Solitária; a besta sopradora de fogo não existe mais.”

“O que quer dizer? Fale com clareza, ave!”

“Sempre foi fácil fazer um anão perder a calma, meu pai me contou, mas não imaginava que levaria só uma frase para mudar de ‘nobre Roäc’ para ‘ave’!”

“Ai, lamento, por favor desculpe minha explosão.”

“Desculpas aceitas.”

“Então, agora, o que queres dizer com as sábias palavras que nos apresentou, ó nobre Roäc?”

“Meu pai também me contou que era engraçado ver um anão tentando fazer as pazes.”

Dwalin respirou fundo.

“Pode ser que seja.”

“O dragão está morto. O Povo do Lago o matou com flechas. Ele queimou a cidade, mas o povo foi embora a tempo. Erebor é sua.”

O anão vigoroso teve que se conter para não abraçar o pássaro e beijar seu bico. Em vez disso curvou-se profundamente e produziu uma conta de prata de dentro de seu bolso. Ellen tinha a sensação de que anões costumavam ter contas de prata em seus bolsos como um garoto teria chicletes ou bolinhas de gude. O corvo pegou o presente e voou embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lealdade, Honra, e um Coração Disposto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.