Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 27
Capítulo 27 – Trabalho de Colarinho Preto Qualquer colarinho azul ficaria preto em minutos!




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Lily acordou com o canto alegre de um tordo; tentou fechar os olhos e dormir um pouquinho mais, mas o aroma da pele de Thorin perto dela a mantinha acordada; o pássaro cantava como se estivesse lhe contando algo, e ela não entendia. No seu velho mundo, no meio de uma cidade, não havia lugar onde um tordo pensaria em fazer um ninho que pudesse chamar de lar e, apesar de que algumas pessoas o faziam, nem ela nem ninguém em sua família tinha coragem de aprisionar um pássaro.

Como prometido, quando a reunião terminou Thorin pegou seu saco de dormir e achou um lugar do lado dela para aninha-la perto dele, e agora seu rosto estava tão perto do dela que podia ver cada fio de seus cílios em seu rosto preocupado, às vezes estremecendo nalgum sonho desconhecido. Seu braço pesava sobre a cintura de Lily, e ela conseguiu tirar uma mão de dentro de seu próprio saco de dormir e tocou gentilmente seu cabelo desarrumado, tirando-o do rosto; rugas finas se formaram nos cantos de seus olhos enquanto a lembrança de um sorriso ganhava seus lábios; ele murmurou alguma coisa em Khuzdul e apertou o braço em volta dela, trazendo Lily para mais perto dele; ela acariciou seu rosto, sua barba áspera, só desejando que esse momento durasse para sempre. Mesmo dormindo, ele ela mais carinhoso do que qualquer cara que tivesse conhecido em seu velho mundo e, apesar de ser jovem, ela sentia que tinha perdido tempo demais com meninos quando o que precisava era um homem; mas então, não qualquer homem, mas um homem como ele. O tordo cantou um pouco mais perto, chamando a atenção dela.

“Eu poderia me acostumar a acordar desse jeito.”

Lily olhou de volta para ele, surpresa com sua voz, e sorriu; Thorin sorriu de volta, seu sorriso raro e precioso combinando com o brilho de seus olhos.

“Tordos são amigos dos anões desde que nosso povo veio a Erebor; nós os teremos para nos acordar todas as manhãs depois que retomarmos nosso lar; e então não estaremos separados em sacos de dormir grosseiros, mas em lençóis de linho mais adequados, como convém para a rainha que terei ao meu lado.”

Os olhos de Lily se arregalaram; seu relacionamento havia se desenvolvido rapidamente desde as marcas na bainha, e sentia que ela confiava mais em suas habilidades e opiniões a cada dia mesmo que ela fosse tão mais jovem que ele; mas então era como se a confiança dele fizesse com que amadurecesse, sua fé de que ela conseguiria fazer o que era certo e o que tinha que ser feito lhe dava a autoconfiança necessária para realizar tudo. Ainda tinham que retomar Erebor, e isso significava se livrar de um dragão que ela não tinha a mínima ideia de como lidar, e sabia que ele também tinha medo, mesmo que não assumisse seus medos; mas mesmo ainda tendo que encarar o dragão que expulsou seu povo do reino que era seu por direito, ele tinha coragem de menciona-la como sua rainha. Lembrou-se de um namorado estúpido que às vezes se referia a ela como apenas uma amiga na frente de seus pai; agora estava grata por aquele relacionamento não ter durado. Preferiria ficar para sempre nos ermos, dormindo em sacos de dormir de peles, ao lado de alguém que ses importava com ele como se fosse uma rainha, do que estar em lençóis de cetim e banhos de champanhe ao lado de alguém que não era crescido o suficiente para assumi-la como uma mulher, não como um brinquedo.

“Não me importo se estamos em sacos de dormir ou lençóis de seda, desde que eu esteja com você, seja em salões suntuosos ou no ermo; enquanto você for quem você é, Thorin, nada mais importa.”

“Mas você merece o melhor, minha flor de lírio selvagem.”

Acariciou a sobrancelha dela com um polegar, mudando uma mecha de cabelo de lugar.

“O melhor é estar com você.”

Ele sorriu, trazendo a cabeça de Lily para mais perto dele e depositou um beijo em sua testa.

“Vamos começar o dia. Temos um reino a retomar.”

A maior parte da Companhia já estava acordada ou acordando, preparando as coisas para o último dia nos botes. Thorin instruiu Óin e Lily sobre o que precisariam para seu plano e chamou Bard para uma reunião privada.

“Senhor Bard, preciso admitir que seus temores podem ter fundamento. Fizemos planos para nos livrar do dragão, mas se seguirem um mau caminho, é possível que Smaug procure vingança na Cidade do Lago, devido a seu povo ter nos ajudado.”

“Vocês vão atiçar o dragão! Será a ruína de todos nós!”
Bard xingou alto e Thorin levantou a mão, pedindo paz.

“O melhor cenário é que Smaug esteja morto, mas é o menos provável. No cenário de pior caso ele nos mata a todos e queima a Cidade do Lago também, e isso seria realmente muita má sorte. Estamos apostando nas probabilidades centrais, e faremos nosso melhor para matar a besta. Mas, se não tivermos sucesso, ou tivermos sucesso parcial, há uma probabilidade de que sua cidade seja atacada. Se isso acontecer, contamos com você para que algumas ações preventivas tenham sido tomadas.”

“O que significa toda essa falação?” Bard inclinou a cabeça com um olhar interrogativo.

“Hmm, para um relatório mais detalhado, consulte minha elfa.” Thorin lhe estendeu a bolsa de couro com as moedas de ouro de Ellen. “Convença seu povo a deixar a cidade e procurar refúgio nas bordas da floresta porque existe um risco real de serem atacados; se acontecer de ver fogo na Montanha, saiam e deixem apenas uma guarda bem armada; se o Mestre não concordar, compre tantos suprimentos quanto puder para sustenta-los, escude quantas vidas puder. Isso é o que temos para lhe ajudar nisso nesse momento.”

Bard pegou a bolsa, desconfiado, e olhou seu conteúdo, ponderando que se eles tivessem dinheiro não teriam precisado que o Mestre lhes providenciasse coisas. Arregalou os olhos e fitou o anão novamente.

“Isso é suficiente para…”

“Sim, senhor, é o que esperamos.”

ooo000ooo

Não ficaram nos mesmos lugares nos botes que no dia anterior, dado que o plano de fazer Thorin reconsiderar e fazer planos para Smaug funcionaram; Lily troco de lugar com Balin, de forma que pudesse ficar perto daquele que sentira tanta falta. O rio era caudaloso, e os anões e Bard tiveram que se esforçar para vencê-lo, mas anões são conhecidos por serem um povo vigoroso, e sua determinação... bem, era mais conhecida por teimosia por outros povos; assim, conseguiram.

Os botes estavam carregados com plantas que Lily e Óin haviam coletado de manhã, para que os outros não sabiam, apenas que havia sido ordenado pelo próprio Thorin. Não estavam em flor, mas a planta inteira era tóxica, algumas partes mais que outras, e de acordo com a quantidade consumida os efeitos podiam ir de um estado grogue até alucinação e morte, que era o que esperavam contra qualquer esperança. Smaug teria que comer todo um rebanho de pôneis para ser morto envenenado, mas tentariam assim mesmo.

“Pena que não é a época certa para ovas de gar-jacaré, ou a gente podia pescar uns.”

“O que você quer com aquele peixe feio, Lily? Creio que é possível achar peixes mais palatáveis nesse rio.”

“Com certeza, Tia, mas a ova do gar-jacaré é mortalmente venenosa, então pensei que poderíamos rechear os pônei com elas em vez das plantas.”

“Seria engraçado ver Smaug sem entender por que é comeu pônei e arrotou peixe!”

“Sim, mas vai ser interessante o suficiente vê-lo comendo pônei e arrotando datura!”

“Cicuta não seria melhor? Pensei que fosse mais forte, era usada na Roma antiga para execuções. Ou era na Grécia?”

“Em ambas. É mais forte, mas não achamos nenhuma.”

Kíli olhou para elas, cautelosamente.

“Tio, suponho que seja sábio morrer tendo-as como nossas amigas, não acha?”

Thorin deu uma risadinha.

“Aposto a minha barba! Melhor ter essas duas do nosso lado do que contra nós!”

Riram muito, pela primeira vez em dias.

ooo000ooo

No meio da tarde alcançaram a margem oeste do rio onde os homens do Lago estavam esperando por eles com pôneis e suprimentos. Bard não estava muito satisfeito com a notícia de que o dragão seria realmente cutucado, mas reconheceu que era melhor saber do risco do que continuar às cegas, e agradeceu pela informação e pelos recursos providenciados. Nenhum dos homens queria esperar lá, nos limites da Desolação de Smaug, um minuto a mais do que o necessário, e logo entraram nos botes para voltar para casa. Podia ser visto nos olhos de alguns deles que tinham pena dos anões e não esperavam resultado bom dessa missão. Tão perto da Desolação de Smaug, era mais fácil acreditar num dragão que não tinha sido visto nos últimos sessenta anos do que o Rei Sob a Montanha tinha voltado.

A Companhia organizou as coisas para carregar o que fosse possível nos pôneis na manhã seguinte, mas, como iam cavalgar, alguns dos suprimentos que os poucos homens do Lago haviam trazido num monte de pôneis tinham que ficar para trás. Armazenaram as coisas sob um monte de pedras que construíram destramente, e puseram uma barraca por cima. Era fim de outono, mas ainda havia chance de chuva.

Estavam jantando as trutas que Ori, Bilbo, Nori e Glóin haviam pescado ao longo do dia e Bombur assou numa fogueira, junto com pão da Cidade do Lago, ninguém de humor muito bom depois de ter visto as primeiras imagens da Desolação de Smaug. Não havia nome melhor para a terra queimada e chamuscada, quilômetros em volta da Montanha pela qual ansiavam. Assim que o sol se pôs, apagariam a fogueira, para que não fosse visível de longe. Ninguém sabia se, ou quando, o dragão poderia avista-los e acabar com sua missão com um único hálito de fogo.

Balin mostrou a Ellen o carvão mencionado no outro dia que seria fácil de achar, e ela concordou, chamando Iris para que avaliasse os restos da floresta verdejante que cercara Erebor longas décadas atrás. Era hora de assuntos técnicos, e não ter mais ninguém do Povo do Lago por perto significava que Thorin provavelmente convocaria uma reunião ainda àquela noite; a elfa queria ter algumas respostas que não eram possíveis de obter antes de chegarem lá.

“Tem certeza de que vai funcionar?” Perguntou o velho anão.

“É claro que... não! É por isso que temos planos alternativos, Irmãozinho. Agora, você acha que pode ser facilmente pulverizado? E o que pensa sobre pulverizar o salitre e o enxofre que mencionou existir em Erebor?”

“Bem, podemos fazer um teste com o carvão amanhã. Sobre o salitre e o enxofre, lembro onde os veios eram, mas melhor que isso, me lembro onde eram armazenados depois de minerados, prontos para carregar. Veja, tanto o salitre como o enxofre são usados por fazendeiros, e por curandeiros, mas fazendeiros usam uma quantidade maior, e Erebor vendia a um preço justo. Não sei se as reservas ainda estarão pulverizadas, sendo que podem ter empedrado de novo ao longo dos anos, mas desde que foram pulverizados uma vez seria fácil pulverizar de novo, creio. Quanto precisa deles?”
Era Iris quem tinha a resposta.

“A proporção é duas de enxofre para três de carvão e quinze de salitre. Felizmente, não vamos precisar muito carvão para Erebor, e mesmo lá parece que vai ser fácil de achar, lamento dizer.”

A garota hobbit viu o olhar perturbado de Balin, mas não havia muito a fazer. Voltaram para o acampamento para a reunião noturna.

Esta trouxe algumas dúvidas, muitas reclamações e um par de boas sugestões. O problema principal era a dúvida sobre se conseguiriam achar a Porta dos Fundos, mas Bilbo tinha certeza de que conseguiriam.

“As runas lunares são bem claras, ‘Espere ao lado da pedra cinza quando o tordo bater e o pôr do sol com a última luz do Dia de Durin brilhará sobre a fechadura.’ Precisamos achar a pedra cinza e sentar na soleira da porta esperando a última luz do Dia de Durin. Tem até uma runa no mapa mostrando onde a pedra cinza deve estar.”

“Mas vamos conseguir chegar nessa pedra cinza?” Alguém perguntou.

“Se meu avô conseguiu sair de lá, somos obrigados a conseguir chegar até lá.” Thorin deixou claro que não cederia a reclamações.

“Quanto demora até chegar o Dia de Durin?” Foi a vez de Lily perguntar, e seu mestre nas artes da cura Óin explicou.

“É bem simples. Nosso Dia de Ano Novo é o primeiro dia da última Lua Nova do Outono, sendo que cada estação tem seu perfeito meio no solstício ou equinócio; assim, nosso Ano Novo começa em algum lugar entre sete de Outubro e seis de Novembro, e o Dia de Durin ocorre quando a Lua Nova pode ser vista no céu juntamente com o sol poente do Dia de Ano Novo.”

Ellen pensou, ‘Por que simplificar se é possível complicar?’ mas ficou quieta e olhou para o céu, como muitos outros.

“Saímos da Cidade do Lago em seis de Outubro, e a lua está cheia agora, então isso nos deixa um pouco mais de duas semanas para chegar em Erebor, achar a Porta, esperar que ela se mostre e entrar na Montanha.” Constatou o ordeiro Dori. Ori podia ser quem escrevia as coisas, mas seu irmão mais velho mantinha controle de cada pedacinho de informação que obtinha. A elfa o amava por isso.

“Agora que determinamos as tarefas, precisamos definir quem vai ficar a cargo do quê. Espero por voluntários, de acordo com as habilidades de cada um.”

Dividiram-se em times para as próximas atividades, e se assentaram para a noite, sem ânimo para rir ou contar estando tão perto da Desolação.

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No dia seguinte cavalgaram até a montanha, corações pesados com o sentimento de que a terra morta sob seus pés havia sido uma floresta verde e agora era quase um deserto, a não ser por um pouco de capim e vegetação rasteira. Fizeram o caminho num tempo bom o suficiente para montar acampamento do lado oeste do espigão sul e Thorin mandou um pequeno grupo de reconhecimento para espiar onde estava o Portão frontal.

Balin escolheu o gatuno, por motivos óbvios, e Fíli e Kíli, por sua boa visão, ou pelo menos essa era a desculpa. Se estivesse mesmo preocupado com boa visão teria escolhido a elfa e a hobbit. O que ele realmente queria era ser o primeiro a mostrar aquela visão da antiga glória daquele reino anão para os herdeiros de Durin.

O restante da Companhia montou o acampamento com atenção, visto que não sabiam quantos dias ficariam por lá. Bofur, Dori, Iris, Ellen e Dwalin foram coletar tocos carbonizados da era uma vez floresta de Erebor e começaram a moê-los num pó fino, sendo o Time do Carvão do primeiro dia, enquanto Glóin e Óin organizavam os suprimentos de um jeito lógico e Bombur dava jeito de cozinhar sem fogo. Comeriam apenas refeições frias enquanto houvesse chance de Smaug encontra-los devido à luz da fogueira. Com a luz do sol do meio-dia ele seria capaz até de amornar alguma coisa, mas com o sol poente ele apenas hidratou e temperou algumas coisas. O restante do peixe do jantar anterior havia sido comigo no almoço.

Ellen arrumou um saco de aniagem depois que os irmãos Groinul desempacotaram algumas das provisões que seriam usadas em pouco tempo, colocou carvão dentro e fez com que seu cavalo pisasse por cima várias vezes. O resultado não era o pó fino que queriam, mas reduzia o tempo que ela e o restante do Time do Carvão precisava para chegar naquela finura. Conversavam durante o trabalho, para fazer o tempo passar mais depressa e distraí-los da tarefa tediosa.

“Acima daqui, nesse espigão da montanha, há um lugar chamado Colina do Corvo.” Explicou Dwalin, como de todo o time apenas Dori havia vivido em Erebor antes e era velho o suficiente para lembrar de alguma coisa. “Era um velho posto de vigia, mas é muito exposto para tentarmos subir lá.”

“Lá tem uma entrada para dentro da Montanha?”

“Ah, não. Se tivesse, seria um ponto fraco para entrar em Erebor, que poderia facilmente ser usado por qualquer inimigo. Existem alguns postos de vigia em volta da Montanha, todos impossíveis de se alcançar de fora se você não tiver asas, mas a Colina do Corvo só pode ser alcançada pelo lado de fora.”

“Queria ser uma alpinista habilidosa com todo equipamento necessário para escalar essa montanha, para a gente poder entrar através dos postos de vigia!” Queixou-se Iris.

“Mas então, querida, se fossemos alpinistas habilidosas e bem equipadas teríamos escalado de volta aquele barranco do qual escorregamos, e nunca teríamos percebido que viemos para a Terra-média.” Ellen filosofou, e acrescentou com um sorriso. “Depois de tudo o que passamos, não lamento aquele tombo.”

“Não sentem falta do que deixaram para trás, senhoritas?” Dori era sempre um cavalheiro.

Iris soltou tudo de uma vez. “Sinto falta do meu Pai e dos meus amigos do ensino médio e minhas aulas de canto e meu computador e minha internet e o shopping center e assistir filmes e o forno de micro-ondas e mais do que tudo eu sinto falta de um bom banho de chuveiro elétrico.” Parou para tomar fôlego e concluiu. “Mas sou feliz aqui.”

“Isso é um bocado de coisas para sentir falta, amiguinha.” Bofur acrescentou enquanto despejava uma porção de carvão em pó num canto afastado da parede de pedra que consideraram que seria mais seguro contra o vento, e cobriu o monte novamente com uma barraca extra. “E já um longo tempo sentindo falta dessas coisas.”

A hobbit mudou o peso de um pé para o outro, pegando mais carvão para moer.

“Eu sou feliz aqui, Bofur, eu encontrei amigos e aventura como nunca encontraria lá na Terra, e até...” Engoliu qualquer palavra que estivera por dizer. “Até me arranjei um par de irmãos, quem sonharia com isso?”

Dwalin e Ellen trocaram olhares de quem entendia o que se passava; a elfa podia ser proporcionalmente mais nova que o anão, mas ainda assim era uma adulta, e sua sobrinha era uma adolescente, em qualquer instância. Os sentimentos confusos da garota eram claros para eles. Ser membro da Companhia lhe dava uma liberdade que nunca havia tido em seu mundo anterior, mas então, assumira responsabilidade que nunca havia assumido na Terra. Ainda não tinha entrado na cabeça que a liberdade da qual desfrutava era consequência de seu comprometimento com aquilo para o que estava vivendo, e não o contrário. A elfa tentou levantar os ânimos.

“Eu nunca sonhei, e achei um par de irmãos também!” Cotovelou o peito de Dwalin para deixar sua declaração bem clara; em troca o anão lhe deu um tabefe na nuca; ela levantou a mão para bater na testa dele com as costas da mão e ele terminou a briga simulada empurrando-a na pilha de carvão. Bofur não deixou o assunto morrer.

“Mas não sente falta do seu mundo, Ellen? Você continua pensando como se estivesse lá, fala coisas estranhas do além que você mesma tem que traduzir para nós; isso não é sentir saudade?”

Ela pensou um pouco, moendo o carvão. Sua resposta veio em voz baixa mas resoluta.

“Posso estar errada, mas acho que não; eu só não finjo que nasci na Terra-média e que nunca conheci nada diferente, ou que esse é o meu habitat natural; creio que seria iludir a mim mesma.” Olhou para as mãos pretas de carvão e sorriu travessamente para seus amigos. “Um bom esmalte de unha e um batom me animariam, com certeza!” Iris riu, a única a entender o que ela queria dizer. “Eu poderia sentir falta de um pouco mais de conveniência, mais facilidade em me comunicar com pessoas distantes, e para viajar, e agradeço a Mahal e Varda por nunca ter precisado de medicina e ciência como um todo mais desenvolvidas; tenho medo de pegar uma infecção bacteriana e morrer de uma coisa estúpida como pneumonia ou diarreia ou apendicite, não ter anestesia para dar pontos num ferimento se necessário, e jeito de consertar uma cárie.”
A elfa mandou sua porção de carvão triturado para bofur com uma pá e pegou mais para moer.

“Mas não sinto falta de ficar presa no trânsito, trabalhar sessenta horas por semana trancada num prédio de escritórios, calçar salto agulha e tailleur para uma reunião sendo que tudo o que preciso para realizar o que é esperado de mim estava bem aqui entre minhas orelhas, e em nenhum outro lugar.”

“Tudo bem, tudo bem, não quero mais saber sobre essas coisas de tortura, Ellen. E nem chegue perto de mim com o salto agulha da torre de trânsito, certo?”

Bofur era um doce. Elle riu e Dwalin começou o ritual de cotovelar, estabefear, bater e empurrar. As crianças de Fundin eram brincalhonas, à sua própria maneira, nem sempre compreendida por outras pessoas. Ellen estava à vontade, uma vez que ela mesma nem sempre era compreendida pelas pessoas em seu mundo anterior.

Os batedores voltaram, cansados. Balin fez com que voltassem quando alcançaram um lugar de onde podiam ver a abertura escura de onde as águas do Rio Corrente caíam, um buraco escuro na face da Montanha como uma boca podre, porque aquela era a abertura que Smaug fez para poder entrar e sair depois que entrou pela primeira vez. Balin não gostava do vapor e da fumaça escura que saíam dali, e considerou alguns corvos que viu como sinal de espiões maus e más vontades. O Time do Carvão tomou seu retorno com sinal de que deveriam tomar um banho para se livrar do carvão de suas peles, pelo menos para ter um jantar decente, ainda mais depois que Kíli provocou Ellen.

“Ouvi falar que existem elfos escuros, mas não imaginava que fosse um deles!”

“Vou te mostrar quem é o elfo escuro!” Então correu atrás dele, tentando mancha-lo com as mãos pretas de carvão, para a gargalhada de todos.

Não estavam perto de nenhum rio comum, mas tinham água de degelo do alto da montanha, e, mesmo sem tê-la aquecido, um pouco de sabão que as mulheres compraram na Cidade do Lago tornou mais fácil lavar a poeira preta.

No dia seguinte começou o tedioso trabalho de explorar procurando a pedra cinza. Bombur foi deixado no acampamento, secando as plantas Óin conforme instruído, e os outros labutavam em grupos de três, procurando caminhos possíveis, sempre preocupados que Smaug pudesse estar no alto da Montanha vigiando-os. Terminaram o dia cansados e de espírito desanimado, exceto por Bilbo. Ele tinha tido uma boa vista da configuração do terrno, e pediu o mapa de Thorin para estuda-lo, o que ele fez enquanto havia luz suficiente.

“Apostaria uma lata de atum que teremos mais sorte nos mudando para esse vale atrás daquele espigão, é o mais perto de onde a runa está marcada.”

“Além disso, também é mais longe do Portão, e assim podemos estar mais afastados de Smaug se ele chegar a sair de sua toca.” Thorin acrescentou, concordando com a mudança. “Deveríamos checar esse vale antes de uma mudança, no entanto.”

“Podemos cavalgar até lá amanhã e avalia-lo.” Ofereceu Balin. “Levo meu irmão e minha irmã junto.”

“Bom.” Thorin assentiu. “Alguns dos outros podem voltar até o rio e trazer os suprimentos que foram deixados lá.”

Seu olhar para os sobrinhos deixou claro quem eram os outros em quem ele estava pensando, e imediatamente se ofereceram para ir, assim como Iris e Dori.

“Você é muito pequena para ajudar a carregar coisas, Iris!” Provocou Fíli.

“Mas são os pôneis que vão carregar as coisas, eu só vou ajudar a arrumar a carga e manter vocês dois fora de encrenca.”

“Iris, me faria um favor quando estiver perto do rio?” A hobbit assentiu para Óin. “Precisaremos daquelas folhas grandes de inhame que crescem lá. Traga tantas quanto puder.”

Thorin concordou com o time que iria e ficou combinado. A turma restante continuaria a procurar por um caminho até a pedra cinza e a pulverizar carvão.

ooo000ooo

A patrulha do vale foi feita, os suprimentos foram trazidos diretamente para o acampamento novo, e os dias se passaram sem sucesso na procura. Como bom gatuno, foi Bilbo quem encontrou os degraus acidentados que levavam até uma trilha estreita e então a uma baía com paredes íngremes, em cujo final interno uma parede reta se erguia, plana e lisa como só um anão é capaz de fazer a uma pedra. No meio do trecho de grama diante dela, havia uma pedra quadrada e lisa, e ela era cinza.


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