Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 22
Capítulo 22 – Uma Rota de Fuga




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587266/chapter/22

Legolas tinha recebido a atribuição de acompanhar Ellen aonde quer que ela quisesse ir; ela podia ser chamada de hóspede, e não estava em calabouços fechados como seus amigos, mas não havia liberdade de fato. Assim, decidiu usar seu tempo junto com o elfo loiro para coletar informação e tecer suas teias e reverter a maré.

Os elfos de Mirkwood não moravam todos em subterrâneos. Os salões de pedra eram o lar de Thranduil e alguns outros, um lugar para guardar seu tesouro, calabouços, despensas, adegas, salas de guarda e assim por diante; mas a maioria dos elfos moravam em casas de madeira no exterior, a maioria construída sobre as árvores. Assim, Ellen era capaz de conseguir a quantidade de luz solar que precisava para superar sua depressão sazonal. Além das casas, eles tinham plataformas de observação construídas muito alto, para que pudessem ver longe. Legolas conduziu Ellen para uma dessas naquela tarde para ver o pôr do sol e conversar um pouco. Já haviam feito isso algumas vezes, e ela achava que ele estava começando a confiar mais nela, então, era a hora de dar mais um passo adiante.

“Por que o seu pai está mantendo os anões na prisão?”

“Eles não contaram o que estão para fazer. Talvez, se você pudesse dizer alguma coisa...”

“Não, não posso. Ele só falavam naquela língua feia deles quando tratavam dos seus próprios negócios.”

“Que pena.”

“Mas acho estranho. Eles estavam só andando através da floresta para chegar ao outro lado, por que ele tem que trata-los como se estivessem fazendo alguma coisa má?”

“Até parece que os está defendendo. Não era prisioneira deles?”

“Sim, com certeza. Mas se eu tivesse que escolher alguém para me prender, eu preferiria os anões.”

O filho do rei sentiu-se insultado.

“Por quê? Está dizendo que meu pai é pior que um anão?”

“Não se zangue comigo, meu amigo! Eu só posso falar do que vejo, mas o que vejo não posso negar.”

“O que quer dizer?”

Ela enumerou nos dedos.

“Os anões nunca amarraram minhas mãos nem me vendaram; eles não tomaram minhas armas; eles dividiram sua comida comigo até a última migalha; quando tive uma flecha de orc enfiada no meu lado a curandeira deles me tratou com todos os meios que ela tinha. Eles me sequestraram porque têm um propósito para mim, mesmo que eu não saiba que propósito é esse. E o que o seu pai fez com os anões? Foram mandados para a prisão só porque estavam suplicando por comida, por extrema necessidade. Não me parece justo.”

O loiro estava em silêncio, ponderando o que ela havia dito.

“Mas eles são perigosos. Pai imagina que eles possam vir a despertar o dragão que se encontra em Erebor e que te sequestraram por causa do nome da sua espada. Despertar Smaug pode ser perigoso até mesmo para nós. É melhor deixa-lo como está.”

Ela o olhou como se estivesse completamente insano.

“O quê? Está me dizendo que tem um dragão vivo tão perto que poderia alcançar sua casa e reduzi-la a cinzas e o seu rei não está fazendo nada quanto a isso?”

“Foi o tesouro dos anões que atraiu Smaug, por que deveríamos lutar contra ele, colocar nossas vidas em risco?”

“Hmm, parece um jeito bem estúpido de pensar, na minha opinião.”

“O que quer dizer?”

Legolas estava visivelmente aborrecido.

“Me diga, de onde vêm aquelas aranhas bestiais? Quando foi que a Floresta Verdejante se transformou em Floresta Sombria?” (1)

“Por que está me perguntando isso?”

“Se alguém tivesse feito algo quanto às aranhas quando elas começaram a aparecer, não haveria tantas como agora. Tenho certeza de que não saíram do nada, tem que haver algum poder obscuro por trás disso, mesmo que distante. Quem quer que tenha atiçado as aranhas pode atiçar o dragão também. Se alguém tivesse agido contra essa força obscura antes, as aranhas não viriam tão perto como têm vindo. Mas então alguém pode ter pensado que as aranhas não eram problema dele, e agora elas estão na sua porta. Se vocês não agirem contra o dragão porque não foram vocês que o atraíram, podem acabar com ele na sua porta do mesmo jeito.” Ellen abraçou os joelhos para perto do peito. “Você não preferiria viver num lugar mais... claro?”

Legolas baixou os olhos. Aquela estranha estava dizendo coisas que ele mesmo costumava pensar às vezes, mas murmurou.

“Está além de nossas forças.”

“Derrotar Sauron estava além das forças tanto de elfos e homens no passado, mas Gil Galad e Elendil fizeram isso assim mesmo. Com um monte de ajuda, é claro. Ninguém faz grandes feitos sem um bando de aliados.”

O elfo loiro olhou para as próprias mãos, sombrio.

“Gil Galad foi um grande elfo, de além-mar. Nós somos elfos da penumbra, não vimos as Árvores. Não somos... tão poderosos.”

“Não se considere incapaz de grandes feitos, Legolas.” Pôs uma mão no ombro dele e começou a falar como um maldito Gerente de Recursos Humanos. “Tenho certeza de que você é completamente capaz de fazer o que quer que seja necessário para atingir um objetivo determinado.” Então Ellen jogou a isca. “Eu não deixaria minha própria floresta ser chamada de Floresta Sombria se eu fosse você. Eu tentaria alguma coisa.”

“Mas o que eu posso fazer? Pai recua, diz que não é problema nosso, que se não começamos com isso então não é nossa parte fazer alguma coisa enquanto nossas fronteiras estiverem seguras.”

“E estão? Me diga, se aquele dragão que você me falou viesse aqui hoje e queimasse a sua casa, como o seu povo poderia fugir para a floresta se ela está cheia de aranhas? Vocês não têm fronteiras seguras com todas essas aranhas em volta. Se um dragão realmente viesse voando e atacasse vocês, o que seria do seu povo?”

“Mais uma vez, Senhora Ellen, o que pensa que posso fazer a respeito disso? Não posso simplesmente ir contra as ordens de meu pai, não posso sair do reino sem o consentimento dele, o que eu poderia fazer para ajudar a matar esse dragão?”

A elfa estranha percebeu a oportunidade e a agarrou com as duas mãos.

“Posso te dar algumas ideias?”

“É claro!”

000ooo000

Bilbo seguiu a sugestão de Ellen e procurou pelo vinho. Ela já sabia onde a despensa principal ficava, mas os barris que a apinhavam estavam cheios de todo tipo de comida, de farinha à maçãs e de manteiga à mel, mas nenhum vinho. De qualquer forma, era óbvio que não apenas o vinho vinha de fora, mas também parte da comida. O hobbit guardou uma pecinha de queijo debaixo do casaco e as últimas maçãs do barril no bolso e esperou.

Estava quase cochilando quando ouviu passos perto da porta da despensa. Imediatamente Bilbo se levantou e se escondeu atrás de uma pilha de batatas, porque mesmo invisível lançava uma sombra tênue se a luz batesse diretamente nele, e com certeza quem quer que fosse à despensa teria uma tocha consigo.

Era uma ajudante de cozinha que Bilbo havia visto anteriormente, uma garota de cabelo escuro e um tanto baixinha para uma elfa, como se não tivesse crescido totalmente ainda. Acendeu a tocha perto da porta com a que ficava na parede do corredor e entrou, uma cesta na mão, e foi direto na direção do barril de maçãs vazio. Apesar de entender muito pouco de élfico, e o élfico falado em Mirkwood ser um tanto diferente daquele que ouvia em Imladris, tinha certeza de que ela xingava quem quer que houvesse deixado o barril vazio e não o tivesse encaminhado. Então ela procurou por outro barril de maçãs, tirou a tampa, encheu a cesta com maçãs e a deixou no corredor perto da porta. Balançou a cabeça, xingou de novo e foi até o barril vazio, meio empurrando e meio girando até que estivesse fora da despensa. Uma vez lá, o barril foi derrubado de lado e a elfa o fez girar corredor abaixo, seguindo-o para controlar suas curvas nos meandros dos túneis.

Bilbo saiu do seu esconderijo assim que a garota derrubou o barril e foi logo atrás dela na corrida atrás de barril nos túneis, segurando apertado o casaco no lado para não perder o queijo. Não entendia direito que o palácio fosse tão profundamente para dentro da colina na qual fora escavado, mas então ele não conhecia a configuração do terreno, e que a porta pela qual entraram estava quase no topo do monte, alguns andares acima do nível em que o rio se assentava depois de entrar na montanha perto da entrada principal e cascatear abaixo dentro da pedra viva.

Para esse nível inferior a elfinha levou o barril, e o armazenou junto com um monte de outros barris de diversos tamanhos. O hobbit ouviu o som de água e viu uma parte do piso feita de madeira ao invés de pedra. Aquele seria um lugar a estudar em sua busca por uma saída, mas bem agora Bilbo tinha que seguir a elfa de volta aos níveis superiores se não quisesse se perder nos corredores recém descobertos.

O caminho para cima era mais lento, para o alívio dele, mas estava xingando a falta de um lenço para secar a fronte quando a elfa parou.

“Oi, Tauriel, o que te trás aqui tão embaixo?”

Ela abraçou a capitã da guarda que estava descendo o corredor e deu um passo para trás. Bilbo se sentia aliviado que os elfos costumavam conversar em Westron a maior parte do tempo, em vista de lidarem com humanos.

“Aquele anão teimoso, como sempre, Finglas. Ele não diz uma única palavra útil mas Thranduil quer que eu o interrogue diariamente. Estou ficando realmente cansada desse bando de anões.”

Bilbo prendeu a respiração. Ninguém da Companhia estava tão embaixo no palácio, só podia ser Thorin. Ele ouviu atentamente as elfas conversando, e Finglas riu baixinho.

“Cansada dos anões ou cansada de ser capitã? Eu não te vejo feliz desde que foi promovida.”

“Como posso estar feliz, irmã? Legolas me olha com aversão desde que fui promovida. E não sei o porque, ele sabia que eu queria tanto isso!”

“Então, por que não pede demissão?”

“E desafiar a ira de Thranduil? Não, pequenina, não estou tão louca assim ainda. Prefiro acreditar que ainda posso alcança-lo, de algum jeito, algum dia.” Tauriel soltou um suspiro e abraçou novamente a irmã. “Preciso ir agora, tenho que interrogar o anão e relatar nada ao rei novamente.”

Bilbo seguiu Tauriel agora, planejando descobrir o lugar exato onde Thorin era mantido. Apenas estava em dúvida se deveria seguir Tauriel quando ela partisse ou ficar para falar com Thorin logo com o risco de e perder nos túneis. Supôs corretamente que se Thorin soubesse que ele esteva lá e não tivesse dado sinal de vida daria um jeito de escapar só para mata-lo com as próprias mãos, se necessário.

Aquelas semanas em cativeiro e a preocupação com seus seguidores haviam cobrado seu preço do anão orgulhoso. Os outros pelo menos sabiam que toda a Companhia estava lá, apenas faltando Thorin, o que pesava muito sobre eles, especialmente seus sobrinhos e Lily, mas sabendo que Bilbo estava livre e procurando um jeito de escaparem lhes dava esperança. Thorin não tinha nada, nem mesmo sabia se os outros estavam vivos ou mortos, e se culpava por tê-los colocado em perigo. Se sentia tão desgraçado e miserável que quase considerava a possibilidade de dizer a verdade ao rei elfo e fazer um acordo para conseguir sua ajuda para encontrar sua família e seus amigos. Quase.

Alguns minutos depois que Tauriel deixou a cela Bilbo apareceu do nada, tirando seu anel e guardando-o no bolso, fazendo Thorin engasgar com a água que estava bebendo. Não estava presente quando o hobbit contou a história de como encontrou o anel nas cavernas dos goblins e tinha dúvidas se estava vendo um fantasma, um delírio ou a resposta às suas preces.

Ficou claro que era a última alternativa, como descobriu quando Bilbo lhe contou a história toda desde que caíra na festa élfica, mastigando o queijo temperado que o hobbit compartilhava com ele.

“Senhor Invisível Baggins, por favor diga à Companhia para perseverar e não dizer nada ao rei elfo.” Bilbo percebeu o uso da expressão por favor, que era incomum nos lábios de Thorin. “Ainda não, não enquanto ainda existe esperança de escapar de um jeito que você vai descobrir, meu amigo.”

Bilbo balançou a cabeça, sem acreditar no que havia escutado. Aquilo era um pouco de confiança, e a palavra amigo? Se soubesse que a prisão mudaria Thorin desse tanto, teria dado um jeito de encarcera-lo antes.

“Estou trabalhando nas sombras e Ellen em campo aberto. Ela tem acesso ao palácio enquanto estiver na companhia do filho de Thranduil, e você sabe o quanto ela é boa com palavras, então ela está tentando conseguir ajuda do próprio inimigo.”

“Sou obrigado a concordar que ela empunha palavras ainda melhor do que empunha espadas (2), mas isso não é arriscado?”

“Perguntei a mesma coisa, e ela só disse que viver é arriscado. Não creio que ela diga uma única palavra que coloque a missão ou qualquer um em perigo, mesmo que custe a vida dela. Lembra-se da flechada que ela tomou na luta com os orcs?”

“Lembro-me de que ela foi ferida, mas então eu mesmo tinha sido atingido por Azog e mastigado por um warg, então realmente não prestei muita atenção.”
“Iris me contou que a flecha estava destinada a Kíli, a elfa escudou as costas dele com o próprio corpo.”

Thorin fechou os olhos e suspirou, balançando a cabeça.

“Essa jornada parece ter sido feita para que eu aprenda que as pessoas podem ser muito diferentes do que se considera à primeira vista.”

“Ou para pessoas descobrirem do que são capazes e não sabiam antes.”

000ooo000

No dia seguinte Bilbo escapou da cela de Thorin quando a refeição da manhã foi servida, e então ficou ocupado correndo pelo palácio para levar palavra de seu líder a todos os membros da Companhia, para o alívio de todos. Foi difícil manter Lily quieta, estava quase histérica de alegria. Todos juraram manter o silêncio que já estavam mantendo e mandaram palavra de estar ao serviço de seu rei.

Deixou Ellen por último, de forma que podia vagar um pouco mais pelo palácio e estudar as opções de fuga, então roubou um pedaço de salame, um pão e um cacho grande de uvas da despensa antes de seguir o guarda que levaria o jantar dela. Dormir no quarto dela havia se mostrado mais confortável e seguro do que no palácio, onde não tinha nem um travesseiro para descansar a cabeça e se preocupava o tempo todo em ser descoberto; as outras celas eram menores, e geralmente havia mais de um guarda por perto quando as refeições eram servidas, então era mais arriscado entrar numa cela sem que alguém tropeçasse nele. Isso não o impedia de se espremer para dentro da cela de Iris, eventualmente, apesar de Ellen ter lhe prevenido que se ele ousasse abusar da confiança dela nele e na sobrinha dela, ela o empalaria com sua espada Locënehtar e o serviria a Smaug com uma maçã enfiada na boca.

Ellen abriu a porta do banheiro e encontrou seu visitante já visível, pondo a mesa com sua contribuição para o jantar. Ele se sentia um tanto culpado por ter comido quase toda a comida dela na outra noite e tentava consertar as coisas, mesmo que ela não tivesse se queixado.

“Oi, Bilbo, como está?”

“Boa noite, Ellen!” Ele respondeu, sorrindo. “Muito melhor do que duas noites atrás, pode ter certeza. E tenho notícias excelentes.”

“Uau, você trouxe fruta! Estou realmente endividada com você agora, meu amigo!”

“Bom, achei que seria muito egoísta roubar só para mim, então...”

“Não se preocupe, você não me deve explicação nenhuma, querido. Agora você me conta as suas novidade e eu te conto as minhas.”

Assim fizeram enquanto mastigavam sua refeição, trocando notícias e tentando decidir qual deveria ser o próximo passo. Ellen tentaria descobrir qual era o problema entre Tauriel e Legolas, enquanto Bilbo tentaria descobrir mais sobre o depósito de barris na parte baixa do palácio.

“Estou tentando fazer a cabeça do Legolas para ele nos ajudar, apesar de que espero que ele ainda acredite que fui sequestrada por causa da minha espada. Pode se que ele se disponha, desde que a ligação com nossa fuga não fique óbvia, ele precisa manter as aparências. Ele me disse que vai haver uma festa grande daqui a alguns dias, pode ser que dê aos elfos diversão e barulho suficientes para acobertar nossos movimentos se conseguirmos uma saída. Mas o que mais me preocupa é como vamos abrir as celas. Alguma ideia?”

“Hmm, ainda não. E lamento dizer que a porta é encantada, ela fecha logo atrás de qualquer elfo que a atravesse e só abre com um comando de voz, que eles trocam todos os dias. Tem que ter outra saída. Eles não armazenariam os barris vazios no nível mais baixo só para carrega-los para cima de novo para despachar. Eu preciso encontrar uma saída.

000ooo000

Tauriel estava vindo mais uma vez do nível mais baixo do palácio, entediada de ter as mesmas respostas todos os dias. O que ele estava fazendo na floresta? Passando fome. Por que havia entrado na floresta? Para ficar faminto. O que faria depois de sair da floresta? Parar de passar fome. E qualquer mudança nas perguntas apenas fazia as respostas mudarem ligeiramente o jeito de conjugar a expressão passar fome. Mas ela mesma estava faminta de outras coisas que não comida ou informação, como sua irmã a havia lembrado recentemente. Estava faminta por olhos escuros brilhantes como estrelas rindo para ela, por cabelo loiro sedoso tocando sua pele enquanto mãos de dedos compridos acariciavam seu corpo, por lábios quentes que incendiavam sua pele e... E não havia mais nada disso.
Ela havia ficado tão contente com sua promoção à capitã da guarda que entrou em choque quando viu seus olhos zangados sobre ela, seus lábios apertados numa linha fina e suas costas se voltando para ela, sem explicação. Ela nunca teve chance de falar com ele, mas tinha certeza de que ele estava zangado porque queria ser promovido a capitão ao invés dela. Mas isso seria motivo para ficar tão bravo com ela? Não era justo. Ela havia treinado tanto, havia trabalhado tanto para ter seu talento reconhecido, ele sabia que ela era melhor do que ele, ele até fazia piada sobre isso... antes. Havia sido há algumas semanas, mas pareciam anos. Mas ela tinha que manter a mente focada no trabalho, senão perderia seu status recém-conquistado e ficaria sem a capitania e sem aquele a quem amava.

Seu olhar baixo vislumbrou um movimento e sua espada curta estava em mãos antes que pudesse determinar que era.

“Tauriel, por favor... baixe sua espada. Quero falar com você.”

A voz dele era doce como ela costumava ouvir, seus olhos implorando, mas a mente dela estava em turbilhão, confusa.

“Por que quer falar comigo agora, Legolas? Por que não meia estação atrás?”

A voz dela era amarga, e tremia ligeiramente. Para surpresa dela, ele sorriu.

“Porque eu sou estúpido!”

Ela estreitou os olhos na direção dele, desconfiada.

“Você descobriu isso sozinho ou alguém te contou?”

Ele rolou os olhos de um lado para o outro.

“Na verdade, alguém me contou, mas isso não muda a afirmação.” Legolas abriu os braços, mas não se atreveu a chegar mais perto dela enquanto a espada estava desembainhada. “Tauriel, estou aqui para implorar pelo seu perdão, porque quero falar com você e porque sou estúpido.”

“Por que eu deveria te perdoar se você me julgou e me condenou por um crime que eu não tenho ideia qual seja sem me dar chance de pleitear por mim mesmo?”

“Porque eu sou estúpido e...”

“Se repetir mais uma vez que é estúpido vou...”

“...porque eu te amo.”

“Você o quê?”

“Doce dama da floresta, poderia por favor baixar sua arma e me dar uma chance de me redimir?”

Tauriel olhou para a espada com se tivesse esquecido que estava em sua mão. Então embainhou-a e olhou para cima.

“Estou em serviço. Me encontre em casa depois da troca de turno. Então você vai me explicar por que eu deveria te perdoar.”

000ooo000

“E assim, Bilbo, descobrimos que a falta de comunicação é um dos piores problemas da nossa era.”

“Isso e assumir coisas a partir de um só ponto de vista.”

“Com certeza!”

“Eu tinha uma vaga noção de que rei tinha alguma coisa pervertida, mas não que ele costumava seduzir seus vassalos.” O hobbit tomou um pouco do vinho que ele mesmo havia trazido para a cela de Ellen naquela noite. “Hmm, esse é forte, mas é bom!”

“Legolas me disse que um vinho de Dorwinion estava para chegar, para a festa de outono, e entendi que era mais forte que um vinho comum.”

Ela tomou um gole do vinho, também; apesar de se rum vinho tinto, lembrava um vinho do Porto português, enganadoramente doce mas alcoolicamente forte.

“De volta ao assunto, é por isso que a mãe do Legolas foi embora para o Oeste, ela não tolerava mais o comportamento do Thranduil. Então, quando ele promoveu Tauriel a capitã, depois de ela ter dito que faria qualquer coisa para chegar a esse posto, o primeiro pensamento de Legolas foi que ela havia sido seduzida por ele e recompensada com a capitania, não que ela havia sido promovida por pura competência.”

“E como ela pensava que ele estava com ciúme por ela ter sido promovida ao invés dele, que bagunça isso deve ter feito na cabeça deles!”

“Mas então aqui falta um pouquinho de lógica; por que Legolas teria ciúme ou inveja pela promoção ela? Ele não precisa ser um capitão, ele já é filho do rei!”

“Talvez ela pense nele mais como um irmão em armas do que como um príncipe.”

“Se ser um príncipe é agir como o pai dele, entendo por que ele preferiria ser visto como um simples soldado.”

Ficaram em silêncio por algum tempo, digerindo as notícias que haviam trocado sobre seus supostos aliados. Então a elfa lembrou.

“Ei, Bilbo, e quanto aos barris? Você achou para onde é que eles vão?”

O hobbit arregalou os olhos alarmado.

“Graciosa bondade, Ellen, acho que descobri um jeito de sair daqui!”

000ooo000

Era quase anoitecer, alguns dias depois, quando Ellen foi conduzida de volta para seus aposentos por um Legolas excepcionalmente bem-disposto, que despediu-se com uma piscadela discreta e disse para despistar o guarda que trancaria a porta.

“Lamento que não possamos termina nossa conversa sobre a influência do sapato marrom sobre o crescimento da grama esta noite, mas espera-se que eu esteja ao lado de meu pai pela primeira metade da festa de outono.”

“Tenha uma ótima festa, meu amigo! Podemos continuar o assunto em outro momento.”

“Vou providenciar para que algumas frutas de outono sejam enviadas para o seu jantar.”

E assim se separaram com o plano totalmente decidido e funcionando, e agora ela tinha o dado do horário estimado da fuga. Como seria uma festa de noite inteira, e Legolas teria que ficar lá durante a primeira metade, escapariam em algum momento depois da meia-noite. Dando o melhor de si para manter a ansiedade sob controle, tomou um banho, pôs uma camisola, como costumava fazer todos os dias, e esperou pelo jantar escovando o cabelo, de forma que a copeira que lhe traria comida junto com um guarda não percebesse nada diferente do comum.

Assim que terminou a refeição, Ellen trocou as roupas emprestadas pelo jeans velho e botas de caminhada batidas, e a blusa azul acinzentada que Arwen lhe havia dado e que havia usado praticamente todos os dias desde que saíra de Imladris (“Combina com seus olhos”, a elfa nobre havia dito então.), e xingou que seu corselete de couro cru provavelmente estava armazenado junto com as coisas saqueadas do resto da Companhia. Então trançou o cabelo para garantir que ficaria fora do caminho, e deitou para descansar enquanto podia.

Não fosse capaz de descansar, dado que sua mente estava correndo mais que um carro de fórmula Indy enquanto o corpo ficava parado e confortável. Provavelmente era a única oportunidade de sair dos salões de Thranduil e chegar até a Montanha Solitária a tempo para o Dia de Durin e encontrar a Porta dos Fundos. Estava lá quando Elrond leu as runas lunares, sabia que era realmente necessário para a missão. E, acima de tudo, finalmente encontraria Kíli de novo depois de semanas separados, e ela estava faminta por ele mais do que estiveram famintos por comida na floresta. Claro que usavam Bilbo para enviar mensagens reconfortantes e tranquilizadoras um para o outro, mas ela sentia falta da presença física dele, o calor da pele, o cheiro do corpo, mas acima de tudo sentia falta da sua sagacidade, seu humor, sua compreensão das coisas para além do que seria razoável para sua idade de anão. Ellen achava que ter sido criado com pessoas mais velhas em volta, mesmo que ouvir sua conversa não fosse adequado para ele e seu irmão (é claro que ouviam atrás de portas quando os mais velhos conversavam, visto que isso não era aprovado), fez Kíli desenvolver algumas qualidades e compreensão de coisas que não se esperava dele, a quem todos menos seu irmão e seu tio consideravam irresponsável. Sua sobrinha Iristambém havia descoberto que aqueles irmãos eram mais do que as aparências, e Ellen havia entendido, ainda em Imladris, no calor da forja, o porquê. Havia algumas coisas, e algumas pessoas, que eram o que eram independente da idade, e Kíli era uma dessas pessoas.

Assim as horas passaram enquanto Ellen sonhava acordada com seu amado e sobre os desafios que estavam para chegar, e ao mesmo tempo concentrando sua força de vontade para os eventos que estavam por vir. Acordou com o som discreto de uma porta sendo destrancada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1 – Mirkwood pode ser traduzido por Floresta Sombria, entre outros nomes. Optei por não traduzir ao longo do texto porque há outras traduções possíveis e não quis determinar uma só.
2 – Trocadilho com as palavras ‘word’ e ‘sword’, respectivamente ‘palavra’ e ‘espada’ no original.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lealdade, Honra, e um Coração Disposto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.