Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 17
Cap. 17 – Abraço de Urso




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No dia seguinte a Companhia se despediu das águias, com promessas de amizade e recompensa. Gandalf os guiaria mais uma vez, uma vez que conhecia alguém na vizinhança que poderia ajudar.

“Beorn é muito mal humorado, e não gosta de estranhos de jeito nenhum, mas sua natureza é boa, e possivelmente estará disposto a ajudar inimigos dos orcs.”

“Ele mora longe daqui?” Foi Iris quem manifestou a preocupação. “Alguns de nós não deveriam se esforçar demais.” Seus olhos de azul celeste se moveram discretamente na direção de Thorin e de Ellen. Ela mais sentiu do que viu a raiva do líder do líder da Companhia e arranjou uma desculpa. “Minhas pernas são curtas e eu as gastei nas cavernas dos goblins, acho.”

Gandalf olhou para baixo para a garota hobbit, compreendendo o que não fora dito.

“Precisamos andar a maior parte do dia, mas o caminho é fácil e pode ser que encontremos frutas para comer nas bordas da floresta; ninguém vai ter que se esforçar demais para chegar no lugar no qual queremos chegar.”

E realmente era um caminho suave, em comparação com o que já haviam viajado antes. Tinham poucos cantis, mas havia cursos d’água pelo caminho; o pouco de sobra de carne foi comido na refeição da manhã, mas manter-se hidratados tornava mais fácil suportar a fome; e saber que haveria uma casa pelo menos um pouco amigável no final do dia lhes dava esperança.

Balin e Dwalin pegaram cada um uma das espadas de Ellen para carregar, porque ela estava se sentido fraca e zonza; não queria que eles fizessem isso, mas a determinação deles era mais forte que sua habilidade de resistir naquele momento. Deixou seus irmãos ajudarem com as espadas conquanto não impedissem que fosse apoiada por Kíli. A maior parte do tempo apenas caminharam de mãos dadas, e ela se sentia mais segura; mas de vez em quando ela tropeçava devido à tontura e as mãos fortes dele estavam sempre prontas para firma-la novamente sobre os pés.

Gandalf não estava completamente certo sobre as frutas; haviam algumas nas árvores, mas a maioria ainda verdes, e tudo o que havia para ser colhido eram algumas amoras nos arbustos, normalmente insuficientes para um bocado, mas sempre compartilhadas entre todos.

Um pouco depois do meio da tarde alcançaram um terreno com mais espaços vazios, e flores por toda parte. Abelhas grandes zumbiam em volta, realmente grandes, e mais ou menos um quilômetro e meio depois havia uma pastagem verde, com pôneis pastando à vontade. Um rio pequeno podia ser visto na distância, e árvores, e entre as árvores uma construção de madeira. Gandalf pediu que parasse sob a sombra das árvores.

“Aquela é a casa de Born. Ele não gosta de visitas, então não seria sábio todos nós pisotearmos seu jardim ao mesmo tempo. Eu vou primeiro, com Iris e Ellen; então Thorin, Lily e Bilbo, e então vocês vão aos pares, do jeito que quiserem, mas esperem cinco minutos entre um par e outro. Lembrem-se que Beorn é um homem rude, então vocês têm que ser educados, e visto que ele é um troca-pele não mencionem nenhuma palavra como pelica, pelego e assim por diante. Esperem pelo meu sinal para entrar na casa, de qualquer forma.”

O mago conduziu as duas mulheres para a casa e conversaram um pouco enquanto isso.

“Obrigada por me escolher primeiro, Gandaf, estou ficando tonta a maior parte do tempo.”

“Seu corpo ainda está se recuperando da flechada, do envenenamento e do sangramento. Elfos se recuperam rápido, mas não instantaneamente, e você precisa de alimento para se curar completamente. Se encontrarmos boas vindas na casa de Beorn, você poderá se alimentar direito – e com isso quero dizer adequadamente para uma elfa, é claro, não as pilhas de carne que Dwalin imagina serem adequadas para você – e depois de amanhã você estará bem, se descansar o tanto que precisa e não se exceder.”

“Eu vou cuidar que ela não se exceda, Gandalf.” Disse Iris. “Ela sempre cudia de mim e da Lily, agora é nossa vez de cuidar dela.”

“Me alegra ver os fortes laços dessa família, Senhorita Iris. Às vezes é tudo que se tem na vida.”

Alcançaram o portão de madeira escoltados por um par de cavalos. Uns cachorros cinzentos de olhos azuis vieram para vê-los, não agressivos mas parecendo quase que espertos demais para serem considerados cães comuns. Dois deles correram de volta para a casa de madeira de pé direito baixo.

“Foram avisar Beorn da nossa chegada.”

Quando alcançaram um pátio formado pelas paredes da casa, um homem enorme de cabelos pretos estava lá, vestido apenas com uma túnica de lã que ia até os joelhos e botas pesadas. Estava obviamente cortando um grande tronco de árvore, o machado em suas mãos compatível com seu tamanho e com os músculos nodosos de seus braços e pernas. Afagou um dos cães enquanto falava com ele.

“Hmm, eles não parecem nada perigosos, você pode ir.” Baixou o machado e voltou-se para eles. “Quem são e o que estão fazendo aqui?”

Ellen pensou que de alguma maneira ele devia ser aparentado com Thorin.

“Eu sou Gandalf.”

O mago informou, simplesmente.

“Nunca ouvi falar. E essas garotas?” Levantou uma sobrancelha.

“Essas são Ellen e sua sobrinha Iris Ela vieram de uma terra muito distante.”

As mulheres se curvaram.

“Deve ser uma terra muito distante mesmo, para ter elfos e pequenos na mesma família.” A curiosidade de Beorn havia sido atiçada. Gandalf continuou.

“Sou um mago. Talvez não tenha ouvido falar de mim, mas eu ouvi falar de você; Meu primo Radagast vive perto do limite sul de Mirkwood, você deve ter ouvido falar dele.”

“Hmm, aquele. Eu costumava vê-lo de vez em quando, não é um sujeito ruim.” Mudou o peso de uma perna para a outra. “Agora que eu sei quem você diz que é, o que você está fazendo aqui?”

“Oara lhe dizer a verdade, perdemos todos nossos suprimentos e quase nossas vidas para os goblins nas montanhas.”

“Goblins, heim? E por que foram mexer com eles?”

“Não era realmente nossa intenção, mas eles surpreenderam nosso acampamento de noite e levaram toda nossa Companhia como prisioneiros.”

“Primeira vez que ouço alguém chamar um velhote e duas garotas de ‘companhia’, mas vá em frente.”

“Estávamos cruzando as montanhas, vindo das terras do oeste e, bem, é uma longa história.”

“Essa longa história pode ser contada melhor dentro de casa, se não for tomar o dia todo.”

Entraram para a ampla sala, e tudo lá dentro era entalhado em madeira. Polares finamente esculpidos sustentavam o teto, e a própria mesa de madeira pesada tinha esculturas de animais servindo de pés. Beorn sinalizou para que sentassem e tomou uma cadeira na ponta da mesa. A elfa estava grata por poder se sentar, visto que estava quase desmaiando de novo lá fora no sol. Gandalf retomou a história.

“Eu estava atravessando a passage da montanha com Ellen e suas sobrinhas, pensando que era difícil viajar com um par de hobbits nessas terras inóspitas, mas que nós cinco poderíamos conseguir, quando...”

“Só vejo uma sobrinha aqui. O que aconteceu com a outra? E você mais uma família de três pessoas dá quatro, não cinco.”

“Ah, sim, nós não queríamos incomodá-lo com a presença de todos nós de uma vez, porque você poderia estar ocupado, mas se permitir, vou chama-los.”

“Vá em frente, chame.”

Gandalf assobiou e num instante Thorin estava lá com Lily e Bilbo. O anão se curvou profundamente.

“Thorin Escudo-de-Carvalho, a seu serviço.”

Os outros agiram de forma semelhante.

“Não preciso dos seus serviços, mas parece que precisam dos meus. Não costumo gostar de anões, mas se você realmene é Thorin, filho de Thráin, filho de Thrór, e são inimigos de goblins, podem encontrar alguma ajuda aqui. Por falar nisso, o que se passa? Nunca ouvi falar de anões andando junto com elfos, nem que suas mulheres andassem nos ermos.”

“Eles estão indo visitar a terra de seus pais, além de Mirkwood. A elfa e suas sobrinhas têm negócios a tratar por lá também, assim elas e todos aqueles anões estão viajando juntos.”

“Além da garota só vejo um anão para ser chamado de ‘todos aqueles anões’, mago velho, e aqui já tem seis em vez de cinco. Onde estão os outros? Mortos pelos goblins, devorados, perdidos?”

“Bem, parece que nem todos vieram quando chamei, então vou assobiar de novo.”

Assim ele fez, e Dori e Ori estavam lá no mesmo instante. Curvaram-se e ofereceram seus serviços, para os quais Beorn apenas abanou a mão.

“Continuem a história, senão será hora da janta antes que a terminem.”

“Eu fui atrasado e os segui montanha acima. Tinha certeza de que estava no caminho certo quando vi um cavalo e toda aquela tropa de pôneis que nos foram emprestados passando por mim e voltando para onde pertenciam...”

“Sete não é um número tão grande assim para chamar pôneis de uma tropa.”

“Na verdade eram mais do que sete pôneis, dado que haviam mais do que sete de nós mais a elfa.”

Assobiou novamente e Nori e Bifur entraram.

“Certo, não digam nada sobre serviços, apenas seus nomes.”

Assim fizeram e Gandalf continuou.

“Percebi que alguma coisa estava errada quando perdi o rastro deles, e então achei um caminho para entrar no covil do goblins. Quando os ví apanhando de todos aqueles goblins, pensei, o que pode uma dúzia de nós contra tantos?”

“Espere aí, espere aí, dez não é uma dúzia, tem mais lá fora?”

Gandalf assobiou novamente e Óin e Glóin entraram, curvando-se profundamente enquanto Beorn dispensava seus serviços. O mago continuou com a história até a parte em que Iris matou o Grande Goblin.

“Então pensei, essa pequenina fez o que todos nós treze não fomos capazes...”

“Eu mesmo não esperaria que uma coisinha desse tamanhinho fizesse um feito tão grande, mas eu também não toleraria alguém me chamando de filhote.” Estava realmente entretido. “Certo, imagino que tem mais dois no meu quintal, é isso?”

Bombur e Bofur vieram depois de outro assobio de Gandalf, conforme Beorn esperava. Já estava achando a coisa engraçada, mas também estava interessado no final da história. O mago estava contando sobre quando escaparam do covil e descobriram que Bilbo não estava com eles.

“Então pensei comigo mesmo, não é possível que não estejamos todos nós dezesseis aqui!”

“Então, vamos lá, a não ser que magos contem on números de um jeito diferente de outras pessoas, quatorze mais dois com um faltando seriam quinze, não dezesseis.”

Outro assobio e Balin e Dwalin entraram, nos seus modos mais respeitáveis, apenas para aborrecer o homem de cabelos escuros com suas ofertas de serviços. Estava realmente interessado na história agora, uma vez que conhecia aquela parte das montanhas, e era inimigo declarado dos goblins e outras criaturas do Inimigo. Quando Gandalf lhe contou sobre subir nos pinheiros e jogar os cones em chamas nos wargs e orcs, ele já estava andando inquieto pela sala, resmungando consigo mesmo que gostaria de ter estado lá.

“E então o último pinheiro estalou, porque não aguentava o peso de todo nós dezoito e...”

Dessa vez o próprio Beorn assobiou, e Fíli e Kíli entraram finalmente.

“Podemos terminar essa história sem mais interrupções ou tem mais lá fora?”

Gandalf lhe garantiu que todos estavam lá dentro e continuou a contação de história. O homem grande grunhiu quando lhe contaram sobre o ferimento massivo de Thorin e o sangramento de Ellen, notando que o último anão a entrar foi direto sentar-se ao lado da elfa e tomou a mão dela na sua. Quando o mago chegou na parte da última carona que as águias lhes haviam dado de seus ninhos para sua própria pedra pessoal, o Carrock, o sol estava quase se pondo.

“Se todos mendigos fossem capazes de contar uma história tão boa, me encontrariam de melhor humor do que costumam. É claro que pode ser tudo uma invenção da sua cabeça, mas merecem a janta por essa contação de história assim mesmo. Vamos comer alguma coisa.”

Toda a Companhia lhe agradeceu profusamente e se animou, depois do dia longo e cansativo de tropeçar pelo caminho até aquele lugar.

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O jantar era baseado principalmente em pão de mel, queijo, e frutas, para o desânimo dos anões e deleite da elfa. Os hobbits também não se importavam muito com carne, e se viravam bem sem isso; o que levantou os ânimos de todos foi o barril de cerveja que Beorn trouxe de uma adega. O anfitrião teve sua vez de contar histórias também, principalmente sobre a floresta que teriam que transpor para chegar em Erebor. Os anões lhe contaram histórias de tesouros e ouro, mas ele não ligava para essas coisas.

Um quarto à parte foi preparado para a mulheres dormirem, e os homens se espalhariam na sala principal, onde Beorn fez com que colchões de palha fossem espalhados. Deixou seus visitantes à vontade, mas avisou que estaria fora a noite toda e não deveriam sair da casa, para seu próprio bem; no dia seguinte ele estaria fora o dia todo, mas eles poderiam passear em volta da casa, e até mesmo até o rio, e poderiam pescar se quisessem.

O bate-papo e a cantoria dos anões continuou por um longo tempo, visto que era a primeira vez desde Imladris que estavam realmente alojados e confortavelmente alimentados – e embriagados, por sinal. Mesmo os mais feridos, Thorin e Ellen, estavam de bom humor, e aproveitaram o tempo para conversar sobre todo tipo de coisa. Ele gostava de saber mais sobre a família de Lily, e ela sobre as experiências de Kíli. Claro que os mais jovens não gostaram muito daquela conversa dobre as pequenas travessuras que toda criança apronta. Mas na verdade era como uma reunião da família normal, e normal era algo que as mulheres estavam sentindo falta desde que rolaram penhasco abaixo. Então Thorin começou a contar em sua voz profunda de barítono, Ellen se aninhou no colo de Kíli e pegou no sono.

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No dia seguinte a maioria dos anões e especialmente Bilbo acordaram tarde. Gandalf não estava em lugar algum, Lily estava cuidando dos ferimentos de Thorin, então Ellen e Kíli aproveitaram a chance de ficar sozinhos um pouco e vaguearam até a beira do rio. Ele estava contente de ver que ela estava melhor depois de uma noite inteira de sono decente depois que ele carregou a elfa adormecida até o colchão dela; apesar de ela ser alta, os ossos dos elfos são leves, e ele se surpreendeu com o quanto foi fácil para ele levantá-la em seus braços. Conversavam baixinho.

“Acho que vou aproveitar o seu bom humor e tentar descobrir mais sobre você.”

“Você é o motivo do meu bom humor, então é seu direito se aproveitar disso, acho.” Olhou para ela com seus olhos de esmeraldas escuras. “O que você quer saber?”

Ela riu do sorriso dele, então tomou coragem e perguntou.

“Imagino que isso seja um assunto bem pessoal, mas, por que você é tão diferente dos outros?”

“Diferente, como?”

“O seu estilo. Eu sei que uma barba pode atrapalhar um tiro de arco, se a flecha se enganchar nela, mas a Lily contornou isso dum jeito bem anão, acho. Mas você mantem a sua barba curta, mesmo quando todos os outros têm pelo menos uma trança, ou bigode mais comprido, como Bofur. Por que?”

“Você não gosta do jeito que está?”

Ele parecia tenso, e ela riu de novo.

“Eu gosto de você, mesmo que fosse careca como Dwalin ou imberbe como um elfo!”

“Mas te incomoda?”

“Não! Ei, Kíli, eu só queria saber, mulheres são bichos curiosos, não sabia? Mas se você se sentir melhor em não me contar, sem problemas, eu só estava tirando proveito do seu bom humor e não quero muda-lo, certo?”

Ele olhou para ela como se pensando se aquilo era mesmo verdade, então respirou fundo e começou a falar.

“Eu tinha uma barba, bem parecida com a do meu irmão. Nossas barbas crescem muito devagar, você deve ter notado.” Ela assentiu, concordando. “Leva muitos anos para deixar uma barba decente crescer. Você deve ter ouvido algum dos rapazes dizer algo como ‘eu daria minha barba por alguma coisa’, e essa coisa ser algo muito importante. Enão, eu abri mão dela.”

“Por quê?”

“Eu fiz uma promessa, um sacrifício.”

“E...?”

Ela estava genuinamente curiosa. Parecia muito importante para ele. Kíli respirou fundo de novo.

“Thorin não queria que eu viesse nessa missão. Ele pensava que eu era muito novo, que era muito arriscado. Minha mãe também não queria que eu viesse. Ela perdeu o pai, o irmão, o avô e o marido, meu pai, para a guerra. Ela tinha medo de que perderia seus filhos também. Achou que mandar um só já seria risco suficiente, ela perdeu tanto que queria manter pelo menos um de nós com ela, e seria eu, porque sou o mais novo. Mas eu não pude aceitar essa ideia, seria uma vergonha para mim se todos viessem e eu fosse deixado para trás, me escondendo atrás da saia da mamãe. Então eu rezei. Pedi a Mahal para me ajudar a ser escolhido para a missão, para ser autorizado a vir. Eu prometi a minha barba.” Seus olhos estavam distantes agora, como se olhando para o passado ou seu lar distante. “Dois dias depois o Tio e a Mãe concordaram que eu viria. E me barbeei na mesma hora, e coloquei minha barba num sacrário que temos em casa. Mãe ficou em choque quando me viu sem barba, mas então ela entendeu o quanto era importante para mim eu vir nessa missão, e ela abençoou minha decisão e minha fé.”

Ellen acariciou a barba curta e áspera dele.

“Isso é bonito. Eu não sabia que anões tinham esse tipo de promessa de sacrifício para o seu Vala.”

“E por que não teríamos?”

“Ah, não sei, vocês parecem tão seguros de si mesmos, tão orgulhosos, é difícil penasr em qualquer um de vocês suplicando por alguma coisa.”

Ele riu, com a mão no cabelo dela.

“Você realmente não sabe muito sobre o meu povo, não é?”

“Realmente não.” Levantou-se num cotovelo para beijá-lo de leve. “Mas estou adorando conhecer.” Tocou o cabelo dele. “E esse cabelo sem tranças? É uma promessa também?”

Kíli enrubresceu, então a abraçou com força, escondendo o rosto no cabelo dela.

“Sim, é. Ou melhor, foi. Eu não sei, você precisa me dizer para eu ter certeza.”

“Eu? Como é que eu posso dizer alguma coisa sobre sua própria promessa?” Ela sorriu. “Que promessa foi essa?”

“Promete que não vai rir?”

“E por que eu riria?”

Acaraciou o rosto dela e respirou fundo mais uma vez. Estava se tornando um dia de revelações, ele nunca havia se aberto desse jeito com ninguém, e era um pouco enervante. Mas, então, era a cosia certa a fazer.

“Você sabe que existem poucas mulheres anãs? Dá pra contar uma para cada três ou quatro homens. É por isso que consideramos as mulheres tão preciosas, como uma joia. Sem ela, como é que o nosso povo pode crescer? Eu pensava nisso desde que era muito novinho. Sabe, nem todas anãs escolhem alguém para casar, às vezes escolhem alguém que não podem ter, nunca escolhem durante tempos de guerra, e nosso povo teve tantas guerras ao longo do tempo e...” Balançou a cabeça. “Eu não queria terminar sozinho. Eu sei que a maioria dos homens fica bem sem mulher, mas eu tenho uma mãe tão carinhosa, tão amável, que eu queria ter a alegria de ter alguém como ela comigo, um dia. Alguém para iluminar os meus dias e tranquilizar minhas noites. Alguém para continuar a linhagem de Durin comigo. Eu queria ser escolhido um dia. Então, prometi um sacrifício para Mahal. Prometi que nunca trançaria meu cabelo até ser escolhido.”

Ela pensou um pouco, piscando.

“Mas Kíli, se os anões são tão orgulhosos de suas tranças, as garotas não favorecem mais quem tem um cabelo bem trançado?” Ele assentiu, concordando. “Então, ter o seu cabelo sem tranças não tornaria mais difícil para você ser escolhido?”

Ele assentiu de novo.

“De certa forma, sim. Mas eu queria ser escolhido por que eu sou, não pelas minhas tranças. Eu queria alguém que pudesse ver para além das aparências e valorizar a mim, meus pensamentos, minhas habilidades e aptidões; porque a aparência muda, a pele enruga, o cabelo cai ou fica grisalho. Eu não queria alguém que olhasse para mim quando eu for velho e se arrependa da escolha que fez. Então, se não ter tranças torna mais difícil ser escolhido, também torna mais fácil ser escolhido pela mulher certa. É o que eu pensei, na época. Não me arrependo.”

Ficaram em silêncio um pouco, só sentindo o ar fresco à volta deles e o calor suave um do outro.

“Eu não deveria ser tão atrevido de te perguntar, mas então você vai me dizer?”

“Te dizer o quê?”

“Se minha promessa foi cumprida.” Ele segurou o rosto dela em suas mãos e a olhou sério. “Eu prometi que não usaria nenhuma trança no meu cabelo até que fosse escolhido por alguém por toda vida. Ellen, filha de Nyda, minha promessa foi cumprida?”

Ela sorriu.

“E você já não sabe a resposta?”

“Acredito que sim, mas quero ouvir dos seus próprios lábios.”

“Sem problemas, mas por quê? O que você sabe no seu coração não é suficiente?”

Kíli estava sério agora.

“Ellen, eu fiz um pedido muito formal à Mahal. Nós temos a concordância do Tio, mas ainda não tivemos nosso noivado, nem nenhum anúncio. Eu preciso ouvir dos seus lábios. É realmente importante para mim.”

Os olhos azuis acinzentados dela brilhavam como estrelas enquanto ela, em silêncio e gentilmente, puxou uma mecha fina do cabelo dele, de perto da têmpora esquerda, dividiu em três e trançou apertado. Ela não tinha nada com que amarrá-la, mas ele produziu do nada uma pequena conta de prata e um cordão de linho, e ela prendeu a trança com eles. Pegou a trança nova em suas palmas e disse, olhando nos olhos dele.

“Kíli, filho de Dís, filha de Thrór, eu declaro, para todos os fins, a quem possa interessar, que sua promessa foi cumprida. Você foi escolhido, eu não procuro mais. Que Mahal olhe por nós até o fim dos nossos dias, e depois.”

Ellen beijou levemente a trança em suas mãos, e se abraçaram como se o mundo fosse se despedaçar se não estivessem nos braços um do outro.


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