Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 1
Capítulo 1 - Perdidas


Notas iniciais do capítulo

1 - LARP são as inicias de Live Action Role PLay, jogo de interpretação de personagem ao vivo.)
2 - Cosplay é a abreviação de Costume Play, um tipo de performance na qual as pessoas usam figurinos para representar um personagem, geralmente de jogos, filmes, animes etc.)
3 - Boffering é um esporte de simulação de luta medieval na qual se usa espadas, lanças e outros equipamentos feitos de látex ou espuma.



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PRÓLOGO

A maioria dos anões da Companhia de Thorin Escudo-de-Carvalho estava batendo papo uns com os outros, bebendo e se divertindo na casa de Bilbo, Bolsão. O próprio Thorin estava um pouco de lado, ouvindo seu velho conselheiro, Balin, que tentava fazê-lo desistir de sua missão de retomar Erebor, o lar de seus pais, do dragão Smaug.

"Então, perdemos nosso gatuno. Provavelmente, para o melhor. Afinal o que somos? Mercadores, mineiros, funileiros, fazedores de brinquedos… ninguém da matéria da qual as lendas são feitas."

"Há guerreiros valorosos entre nós." Ele direcionou o elogio ao anão de barba branca. O velho sacudiu a cabeça.

"Velhos guerreiros."

"Eu preferiria qualquer um deles a um exército das Colinas de Ferro. Porque quando eu chamei, eles atenderam. Lealdade, honra, e um coração disposto. Não poderia pedir mais do que isso."

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Capítulo 1 - Perdidas

As três mulheres caminhavam animadamente na mata da encosta, respirando fundo o ar fresco da manhã. A trilha era fácil de ser seguida, e elas praticamente não precisaram do mapa depois das primeiras horas do dia anterior. Tinham armado acampamento no final da tarde do dia anterior, de forma que pudessem descansar bem para o segundo dia de sua pequena jornada.

“Provavelmente que já estamos bem perto dos fundos do campo de LARP (1).” Disse a mais alta, que aparentava ter uns trinta e poucos anos. “Acho que podemos parar naqueles afloramentos de rocha, trocar de roupa e nos arrumarmos para a festa.”

“Com certeza, Tia. Mal posso esperar para invadir o acampamento pelo lado errado!” A garota ruiva deu uma risadinha. “Mas um dia no mato não ajudou muito os meus cachos. Lily gastou horas encaracolando o meu cabelo para parecer o de uma hobbit, mas agora não tenho mais certeza se valeu a pena todo o trabalho.”

“Ah, lamento, querida, mas era o melhor jeito de eu ter um pouquinho mais de diversão nas minhas férias. E o acampamento de LARP é tão perto desse parque natural que eu achei que a gente realmente poderia mochilar até lá.”

“Sem problema, Titia!” A garota apertou os cordões do seu corpete de veludo e a bainha dupla para suas espadas de mentira. “Eu não vou calçar minhas pantufas de pé de hobbit até a gente chegar no acampamento, a sola delas é muito macia para andar nessas pedras.”

“Boa idéia, Iris!” Sua irmã mais velha disse enquanto mexia nos cachos dela com um olhar de quem sabe o que está fazendo. “Aqui, deixa eu arrumar o seu cabelo um pouco. Eu posso enrolar ele de novo hoje à noite, se você quiser. Você vai ser a hobbit mais bonita no Cosplay (2) de amanhã.”

A mais nova riu de novo. “E no Torneio, também! Tem certeza de que não vai participar do torneio de boffering (3)?”

“Claro que vou, mas com os arqueiros dessa vez. Eu passei o ano inteiro treinando em todo o tempo livre que eu tinha, tenho certeza de que tenho uma chance de ganhar um prêmio.”

“É, eu também acho, Lily.” Ela piscou. “Ei, dá uma maozinha para a Ellen com a peruca dela, ela está parecendo mais um Wookie do que uma elfa!”

As irmãs riram alto quando sua tia imitou o rosnado do Chewbacca e tirou a peruca longa de cabelos pretos. Seu próprio cabelo era acastanhado, com algumas luzes mais claras; o comprimento chegava até os ombros. A mais velha de suas sobrinhas reclamou enquanto colocava a peruca no lugar com facilidade e prendia firme com alguns grampos.

“Eu gostava mais quando o seu próprio cabelo era comprido, você não precisava de peruca.”

Ellen assentiu enquanto calçava suas botas leves que combinavam com a saia longa.

“Eu tinha mais tempo e paciência na época querida. O ritmo da minha agenda quase não me dá tempo para dormir, quanto mais para cuidar direito de um cabelo comprido. Não, só para participar de um LARP e de torneios de boffering, uma peruca vai ter que ser o suficiente.” Ela amarrou algumas tiras estratégicas para manter sua saia longe do chão de forma a poder andar sem pisar na barra mesmo andando na trilha que ela ainda tinham que atravessar. “Bom truque, Lily, as botas grosseiras e a cota de malha de lacre de latinhas de alumínio fazem você parecer mais troncuda e atarracada do que é, realmente com jeito de anã.”

Lily riu.

“Olha, Tia, com você como elfa e a Iris como hobbit, o meu tamanho só dava para uma anã, concorda?”

Todas riram da ‘anã’ de um metro e setenta, pegaram suas mochilas e seguiram a trilha. Esta ficou mais íngrime quando alcançaram o próximo trecho arborizado, e úmido do orvalho da noite. Iris escorregou, Ellen pegou seu braço e equilibrou a ambas.

“Iris, pega uma das suas boffers e usa como apoio, como estou fazendo com a minha espada bastarda.”

“A minha tem a metade do tamanho da sua, Titia! Eu acho que nçao vai funcionar.”

“Melhor que nada, querida. Eu tenho um pouco de silver-tape para consertar as pontas se estragarem.”

Elas continuaram, se esforçando através do caminho íngrime novamente, não querendo parar para comer porque já deveriam estar tão perto do acampamento de LARP agora. Lá elas estariam em modo “on” para o LARP pelos próximos cinco dias, entre uns dois mil nerds. Ia ser realmente divertido. Lily stava pensando sobre isso e sua turma de boffering que estaria lá quando ouviu um rebuliço atrás de si. Tentou se equilibrar mas perdeu o pé quando sua irmã e sua tia vieram escorregando trilha abaixo, e então as três cairam pelo lado da trilha, rolando através de arbustos e arvorezinhas mas sem chance de parar de escorregar ladeira abaixo.

Finalmente pararam de rolar, mochilas e boffers espalhadas em volta delas. Elas se sentaram, resmungando, batendo a sujeira de seus rostos e roupas. Ellen cuspiu um graveto.

“Todo mundo bem? Alguma coisa quebrada?”

“Nada, a não ser meu orgulho!” Resmungou Lily.

“Sò uns arranhões, acho.” Iris olhou para o barranco íngrime do qual elas haviam rolado. “Uau, não que eu acredite que isso é possível! Olha só essa parede!”

As outras duas olharam para cima, desanimadas.

“Como, em nome de tudo o que é bom, a gente vai subir de novo?”

Então Ellen começou a rir, balançando a cabeça.

“Não vamos! Não temos que fazer isso!” As irmãs olharam para ela, sem entender. “Nós tínhamos que descer toda a encosta para chegar no acampamento. Agora já estamos embaixo, só que não no mesmo lugar que a trilha iria nos levar, e, graças à sorte, sem nenhum osso quebrado. De certa forma, foi um atalho. Vamos dar uma olhada no mapa e tentar achar nossa localização, mas eu acho que só temos que dar a volta nessa morro e encontrar a trilha de novo, e daí estaremos bem no lugar!”

Juntaram suas coisas espalhadas e procuraram o mapa. Estava dobrado em um dos bolsos externos da mochila de Ellen. Ela o desdobrou, olhou para cima para o barranco, para a posição do sol, e de volta para o mapa.

“Árvores demais. Eu preferia ter uma vista mais ampla do terreno, mas para isso a gente tinha que estar num lugar mais alto, e não tem jeito de subir essa parede.”

“O que é que a gente faz, então?” Lily perguntou, preocupada.

“Eu acho que o melhor é tentar dar a volta nessa morro. Se estivermos no lugar em que deveríamos estar, seria a decisão certa.” Respondeu Ellen, pensativa.

Assim elas dobraram o mapa, colocaram suas mochilas, pegaram suas boffers e continuaram. O chã estava mais fácil de andar, sem nenhuma trilha aparente mas plana assim mesmo, e mantiveram o morro à sua direita.

Algumas horas mais tarde ficou claro que o morro não iria acabar. Havia um ruído distante de água para a esquerda, o que as lembrou de sede. Seus cantis estavam secos faz tempo, e o que era para ser uma trilha agradável numa cercania relativamente segura estava começando a se mostrar um erro.

“Tia, eu não lembro desse rio no mapa. Que rio é esse?” Iris perguntou, com sede. Sua tia respondeu, preocupada.

“Eu não sei. Eu tenho que dar uma olhada no mapa de novo, apesar de que ele não está nos ajudando muito até agora. Eu não lembro de um rio que deveria fazer tanto barulho nessa região. Eu tenho acampado nesse parque desde que eu tinha a sua idade, ainda que em outra parte dele; eu tinha que saber de um rio como esse.”

Estava ficando tarde e elas deveriam ter achado o acampamento de LARP há muitas haras. Todas começaram a ficar preocupadas, ou pelo menos a expressar a preocupação que já estava em suas mentes jhá algumas horas. O sol estava se pondo no pedacinho de horizonte que viam em meio às àrvores. Chegaram ao rio.

“Água! Abençoada água! Se você não for potável, eu não ligo, eu te amo assim mesmo!”

Ellen e Lily riram da manifestação de amor de Iris, mas correram como ela para lavar suas mãos e rostos e beber de suas mãos em concha. Então, tacitamente, começaram a armar acampamento, sem uma palavra. Quando o fogo estava alto e a sopa desidratada estava começando a ficar palatável na panela de cobre (tudo adequado ao acampamento de LARP, é claro), as irmãs notaram as lágrimas Ellen enquanto ela olhava para as chamas.

“Titia, você está legal?” Lily perguntou, segurando sua mão.

“O que é que você acha? Claro que eu não estou! E perdi a gente. Eu sou responsável por vocês duas,. Como é que eu posso estar legal?”

As irmãs a olharam, sentindo sua dor. Ela era a única família que elas tinha além de seu pai, e, mesmo que quase obsessiva quanto a seu trabalho, uma pessoa que procurava fazer seus dias valerem a pena ser vividos, e que queria que sua família vivesse intensamente também. Na verdade, seu jeito de viver era seu jeito de trabalhar, o isso é o lhe garantira uma posição muito boa como gerente de projetos numa multinacional. Ela tinha menos tempo para fazer o que ela gostava além de seu trabalho (que ela adorava), mas então parecia que ela valorizava plenamente as oportunidades que ela tinha de viver o que ela gostava.E boffering, LARP, fazer trilhas e acampar eram coisas que ela amava. `Perder-se num parque natural que ela conhecia, com um mapa em mãos, era a morte para ela, ainda mais porque se considerava responsável pelas garotas.

“Titia, relaxa, a gente vai achar o caminho amanhã. A nossa turma de boffering vai sentir nossa falta e alertar a polícia florestal, esse tipo de coisa.” Lily tentava confortá-la.

“E daí tem o rio!” A mais nova disse. “Os professores de geografia não dizem sempre que se você estiver perdido deve ir para onde o rio vai? Vaos seguir a margem do rio, então!”

Ellen agradeceu as garotas por sua aprovação, e jurou que ficaria legal. Mas internamente se sentia horrivelmente responsável pelas jovens. Depois que seu irmão perdeu a mãe das garotas, elas eram seu único pensamento dia e noite, e, como ela estava há muito tempo sozinha (ou, como ela dizia, ‘fora do jogo’), ela o ajudava a cuidar das garotas como se fossem dela mesma, E agora ela havia perdido a todas elas com um mapa da biblioteca de seu irmão na mochila. Não era justo.

Balançando a cabeça, pegou o mapa para estudá-lo de novo. Desdobrou-o e olhou para ele sob a luz da fogueira, já que chorar eu sentimento de culpa não levaria a nada. Então ela tentou lembar cada ponto de referência dos dois dias de trilha, principalmente o primeiro, porque achava que a dificuldade que tiveram no começo poderia ser o motivo de se perderem.

Então ela se deu conta. Não deveria ter um rio como aquele no parque, mas aquele rio estava no mapa. O mapa estava errado, mas elas estavam no lugar que o mapa descrevia. Que mapa era aquele? Ela tinha estudado o mapa na noite anterior a começarem o passeio, dobrado e deixado no canto da mesa da biblioteca de seu irmão. Na manhã seguinte elas estavam terminando de empacotar as coisas e ela pediu para Iris pegar o mapa na biblioteca.

“Iris, onde você pegou o mapa?”

“Na mesa da biblioteca, Tia.”

“Tá, mas onde na mesa?”

“Hmm, estava em cima de uns livros, no meio da mesa. Por quê?”

“Você tem certeza?”

“Claro que eu tenho, Ellen! Por quê?”

A mulher estava branca como papel.

“Esse não é nosso mapa! Esse deve ser um dos da coleção do seu pai. Nosso mapa estava no canto da mesa, sem nenhum livro.”

As irmãs a olharam desanimadas; Lily chegou à conclusão. “Por isso a gente teve dificuldade em achar a trilha o mapa está errado!”

“Sim, só que não!”

“Titia, você não está fazendo sentido…”

“Sim, é o mapa errado, mas não, o mapa não está errado! O parque não tem um rio desse tamanho, mas esse rio está aqui nesse mapa. E aqui no mapa está o morro que a gente tentou circular a maior parte do dia.” Ela comçou a mostrar no mapa as coisas que mencionava. “Eu realmente não sei em que maldito lugar da Terra a gente está, mas eu acho que esse mapa pode nos guiar para fora desse meio do nada. Aqui, essa linha mostra o que deve ser uma estrada de algum tipo, e essa estrela tem que ser uma cidade. Numa cidade a gente deve achar ajuda para voltar para nosso lugar!”

“Você tem certeza?”

Ellen suspirou.

“Na verdade, não. Mas isso é o melhor que eu posso deduzir. Vamos dormirum pouco, mas é melhor fazer turnos de vigília.Nós não sabemos onde estaos nem se existe algum tipo de ameaça por perto. Três horas casa, assim todas nós vamos ter seis horas de sono. Vaos manter a fogueira acesa, também. E não tirem suas botas.”

“Por quê?” Reclamou Iris.

“Se você tiver que levantar e sair correndo para salvar sua própria vida de repente, você não vai querer estar descalça.”


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