Quando o sol nascer, não vou estar mais aqui.

Quando se cansa de tentar, se cansa de apenas existir. Quando se cansa de apenas existir, não há motivos pra continuar existindo. Certo?!

Ninguém sentirá falta mesmo, pois não tem ninguém ao meu lado pra sentir. Ninguém derramará nenhuma lágrima, pois não valho a lágrima que escorre dos olhos de quem não me olha de verdade. Ninguém nem ao menos irá ao velório, pois não tenho a companhia de ninguém pra isso.

Fico imaginando se deixarei a saudade com alguém, assim como ela está comigo enquanto estou viva. Fico imaginando se terá alguém, futuramente, que vai ler algo que já escrevi e vai dizer “Ela escrevia coisas lindas, é uma pena ter ido embora”. Fico imaginando se alguém vai tentar entender o que se passava na minha cabeça além de ficarem me julgando por ser “aquela menina depressiva que viva sozinha, chorando.”. Fico imaginando se alguém um dia vai olhar alguma foto minha e lembrar quem eu fui. Mas imaginar é só imaginar.

Portanto, é só a Solidão e eu, caminhando lado a lado como se fossemos amigas. E, quando eu me jogar do topo de um dos prédios mais altos da cidade, até a Solidão vai me deixar. Vai dar lugar à Morte, linda, pálida, acolhedora. A única que acolhe quem ninguém quer, a única que não dispensa companhia daqueles que são sozinhos. A única que caminha ao nosso lado depois do “fim”.

Queria que chovesse agora. Que a chuva cinza viesse e tirasse as cores do dia. Afastasse o calor amarelo, espantasse a felicidade cor-de-rosa, e deixasse tudo cinza, só cinza. Queria que a chuva arrancasse de mim esse arrependimento azul que vem crescendo e me deixasse cinza. Que a chuva tirasse de mim as boas lembranças vermelhas e me deixasse cinza. Que ela levasse embora o cheiro bom, verde, que ainda guardo Dela e me deixasse cinza.

Mas a chuva não vai vir e vai deixar tudo colorido do jeito que está. Só eu vou ficar fria, cinza.