As vezes eu me pergunto o que há dentro da minha cabeça, por que não pode ser um cérebro. A menos que eu tenha retirado um pedaço dele e não me lembre. Pois é impossível que alguém seja tão burro a ponto de ligar para a pessoa mais idiota do planeta terra. E não, não havia uma arma apontada para a minha cabeça ou qualquer coisa perto disso. Eu disquei aquele número, esperei ele chamar e respondi quando a voz atendeu do outro lado, por pura e espontanea vontade. Mas se fosse só isso seria apenas burrice, acontece que eu não apenas liguei, como também convidei Tyler Smith para a minha casa. E talvez, mas só talvez, o fato de não deixá-lo entrar e ficar sentada em frente a porta, torne tudo mais estúpido.

– Grace, está congelando aqui fora. - Ele bateu na porta novamente.

– Eu já falei para você ir embora.

– E eu já falei que só vou depois que você me disser o que aconteceu? - Soltei uma risada nervosa.

– E desde quando você se preocupa comigo?

– Thalia...

– Por que você não pensou nem um segundo em mim quando resolveu brincar com os peitos da Hannah. - Cuspi as palavras sem me preocupar com as consequências que elas trariam.

– Você não entende. - Suspirou.

– Não Tyler, eu realmente não entendo. Não entendo como alguém pode esquecer de tudo da noite para o dia. Ou como você pode se importar comigo e ter me feito passar por tudo aquilo. Quer saber é você que não entende. E sabe porque? Por que você apenas foi embora e deixou o estrago para trás.

Eu podia ter ficado parada ali, do outro lado, com aquela porta nos separando. Era uma posição confortável e eu me sentia segura. Sim, seria bem mais fácil. Acontece que nada acontece do jeito fácil. E foi quando eu ouvi um barulho estranho, que eu ignorei o fato de estar de pijama, toda descabelada e com a cara inchada de tanto chorar e abri a porta. Uma brisa gelada bateu contra minha pele. Estava frio, muito frio. Abracei meus braços em busca de calor, mas foi inútil, o frio continuava ali.

Ele estava ali, no chão. Já fazia um tempo desde que Tyler estivera na minha casa, mas pelo jeito não havia mudado muita coisa. Ele estava usando uma polo preta e uma calça escura, como sempre, seu cabelo preto estava arrumado daquela forma que fazia todas as garotas pirarem e seus olhos azuis me puxavam como imã.

Só haviam duas coisas diferentes, sua jaqueta preta não fazia parte do seu look e o seu rosto molhado por algumas poucas lágrimas. Não era algo compulsivo e por ele aquilo não estaria acontecendo, mas algumas vezes não chorar se torna impossível e pelo jeito, este era um destes momentos.

– Tyler... - As palavras sumiram da minha boca, então apenas sentei ao seu lado no chão frio.

– Esquece, você está certa. - Disse olhando para mim. - É melhor você entrar, se não vai acabar ficando doente. - Ele disse fungando e secando algumas lágrimas.

– Eu não me importo.

– É claro que não. Se você se importasse, não seria a Thalia Grace. Acontece que... - Levantou-se e eu o acompanhei.

– Eu não me importo. - Rebati antes que ele pudesse terminar a frase.

Tyler olhou para mim com uma expressão séria e eu me perguntei que merda eu estava fazendo. Levantei meu rosto para encará-lo, o que foi um grande erro, pois quando eu olhei para o fundo daqueles olhos azuis, eu senti minha pele queimar, meus olhos derreterem e um desejo enorme de tocar seu rosto.

– Por que você estava chorando?- Um de seus dedos deslizou pelo meu rosto.

– Não quero falar sobre isso. - Fechei os olhos involuntariamente.

– Então por que me ligou Grace?

– Eu não faço ideia. - Sorri irônica.

– Sabe você ainda está me devendo uma coisa. - Ele deu um sorriso de lado e seus olhos azuis ganharam vida novamente. - E eu estou com muita vontade de cobrar sua promessa neste momento Grace. - Ele abaixou a cabeça e beijou a minha clavícula uma vez.

– E se eu não quiser te pagar? - Senti minhas pernas tremerem.

– Bom, ai nós teríamos um problema. - Seus olhos percorreram meu pescoço e pararam em meu queixo, onde ele depositou o segundo beijo. - Por que eu meio que não estou mais em mim. Mas pelo o que estou percebendo, - Ele fixou seu olhar em meus olhos. Minha mente gritou para eu parar antes que as coisas se complicassem, mas é como se eu tivesse entregado todo o controle do meu corpo em suas mãos, então tudo o que faço é encará-lo. - você quer me pagar.– Seu rosto se aproximou cada vez mais do meu e por algum motivo que eu desconheço, eu continuei imóvel.

XX

Flashback On

O interessante sobre você gostar de alguém, é que muitas coisas normais, se tornam incríveis pelo simples motivo daquela pessoa estar ali. É por isso que nos dois estávamos ali, deitados no sofá da minha sala, com uma manta de oncinha sobre nós, simplesmente fazendo nada. Minha cabeça estava apoiada em seu peito escutando a batida do seu coração, o que eu adorava fazer, enquanto ele enrolava e desenrolava meu cabelo em seu dedo.

– Me promete uma coisa? - Tyler interrompeu o silêncio.

– Depende. - Abri os olhos. - O que é?

– Que se tudo der errado e algum dia nós nos separarmos, não importa o que tenhamos feito, teremos direito a um último beijo.

– Não, por que além disso ser completamente gay eu espero que você não faça nada que me faça terminar com você. - Dei uma risada.

– Em primeiro lugar, nós dois somos humanos, então qualquer um dos dois pode cometer um erro, ok?

– Ok, mas...

– E em segundo lugar, isso não é gay, é sério. - Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu entendi o que ele quis dizer. Mesmo se tudo desse errado eu gostaria de poder olhar uma última vez naqueles olhos e ver o que estava atrás dele e assim ter um último beijo, por que... eu... o... am... eu...

– Eu prometo. - Respondi finalmente.

Flashback Of