Begin Again escrita por Nina Spim


Capítulo 7
Chapter Seven


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores!
Desculpem o chá de sumiço! Repentinamente, toda a inspiração e a vontade de escrever evaporaram, além de eu ter enfrentado alguns problemas de saúde durante a semana. Me perdoem, ok?
Espero que vocês curtam esse novo capítulo :D
Boa leitura!
P.S.: Obrigada aos que comentaram durante a semana! Fizeram-me muito feliz!



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Parte XIII – O que faz você pensar que você não pode me amar de novo?

Você pode dizer que você não me ama mais,

mas eu sei que no fundo você ama.

(Remember The Times, Andrew Landon).

Quanto mais os dias passam, mais tenho a impressão de que estou no caminho errado. Falta pouco, muito pouco para eu me declarar casada, entretanto, agora não sei mais se quero que isso aconteça. Eu era uma pessoa totalmente diferente há um pouco mais de um ano, quando Finn me propôs. E, certamente, meus sentimentos também eram diferentes. Eram intensos – e não restavam dúvidas: eu estava com a pessoa que tinha escolhido para ser feliz e dividir o meu futuro, tanto quanto mulher quanto artista da Broadway.

Mas agora?

Sinto-me exatamente como Finn me acusou de estar: dividida. Estou dividida entre tudo o que eu era antes e tudo o que sou agora. Antes, eu achava que poderia sobreviver às provações da vida e não tinha medo de encontrar encruzilhadas pela minha jornada – todo mundo as encontra. Mas, agora, eu estou confusa e não sei desfazer isso.

É claro que, há um ano, eu não poderia imaginar que Quinn retornaria à minha vida. Quando saí de Lima, minha intenção era também deixar todos que me magoaram; ela em especial. Não poderia imaginar que, há uma semana do meu casamento, eu estaria em meio a esse caos emocional.

E, do mesmo modo como Jesse me culpou por eu estar tentando esfregar o meu relacionamento com Finn na cara de Quinn, naquela festa há duas semanas, acho que estou fazendo um ótimo trabalho mais uma vez. Porque, na terça de manhã, eu ligo para Quinn e lhe pergunto se, caso tenha disponibilidade, poderia fotografar o jantar de “pré-casamento” que será servido na quinta à noite para familiares e amigos próximos. A resposta dela é positiva, para a minha eterna surpresa.

Entro num dilema até a tarde anterior ao jantar: o que pode acontecer se eu contar a novidade para Finn? Como ele vai reagir? Quer dizer, é claro que sei como será. Ele não esperará dois segundos para me afligir por minha decisão. Dirá que estou colocando o passado mais uma vez em evidência, quando eu deveria estar tentando me livrar dele e me concentrar no meu futuro, que é junto a ele. E, bem, quem pode dizer que ele estará errado? Ainda assim, é injusto com ele, certo? Ele verá Quinn no jantar e se perguntará o que ela estará fazendo ali. E será melhor se eu lhe informar antes que algo desande no meio da comemoração.

Às cinco e meia da tarde, saio do restaurante que eu e Jesse nos encontramos (afinal, eu precisava falar sobre o negócio de ter convidado a Quinn) e sigo para casa. Estou decidida a relaxar, por isso tomo um dos melhores banhos da minha vida – sem brincadeira: como assim eu tenho uma banheira e poucas vezes realmente a utilizei de maneira correta? Quando Finn chega, perto das oito da noite – a última aula dele é sempre às cinco e meia, e dura até às sete – eu o estou esperando na cama, com o meu hobby mais fofinho no corpo e cheirando a um negócio que tem odor de cupcake que o Jesse me deu.

Finn se adentra no quarto e de imediato fica surpreso. É claro que, na maior parte do tempo, eu chego mais tarde do que ele. Mas hoje não há sessão de My Fair Lady, nem de Mary Poppins, pois uma das áreas do teatro está em manutenção periódica.

– Hey. – ele fala. E daí franze a testa. Sei que está se perguntando o que estou fazendo aqui.

– Deixei uma mensagem na sua caixa de voz. Não há teatro hoje. – eu respondo, deixando escapar um sorriso.

Não acredito que estamos 100 por cento, porque não estamos. Depois daquele jantar, eu voltei para ele, é claro. Pretendia ser recebida com um pouquinho de frieza, mas – para a minha total surpresa e, reconheço, total emoção – Finn me envolveu em seus braços e me pediu para não falarmos mais naquilo. Dormimos abraçados, mas desde então não houve nada mais intenso do que um abraço de conchinha. Não que sejamos o tipo de casal que precise transar todos os dias, porque, sinceramente, ter que lidar com o desejo sexual todos os dias é muita coisa pra minha cabeça. Na maior parte do tempo, eu só quero dormir por, tipo, 16 horas seguidas sem ser interrompida por ligações do meu diretor me mandando sair correndo para uma emergência. Mas, é, é bom transar com quem a gente ama – e com quem a gente pretende se casar. Somos bem resolvidos nesse departamento e praticamente nada nos interferiu uma vez sequer. Por isso, esse afastamento emocional dele me preocupa.

Finn deixa escapar um sorriso também, bem no estilo dele: lateralmente, de um modo que eu ambos sabemos que é, praticamente, o que me seduziu desde o começo.

– Isso é ótimo – Finn responde.

Continuo na cama. Sei que ele está cansado e, por isso, vai para o banho. Eu o espero. Ele sai do banheiro completamente nu e coloca num short de dormir. O cabelo dele está úmido e o cheiro do sabonete impregna o quarto inteiro. Pego-me pensando que adoro esses momentos entre nós, nos quais não precisamos dizer nada e que sentimos tudo.

Finn me pergunta se já jantei, e eu afirmo. Digo que há burrito na geladeira. Mesmo que ele não me convide, eu desço com ele para a cozinha. Não conversamos. Apenas o vejo jantar. Para falar a verdade, não é tão ruim assim. Gosto de observá-lo. Apesar de seu silêncio me incomodar algumas vezes, é bom ouvi-lo e fazer parte dele. Respeito o espaço que Finn está pedindo, acima de tudo.

Ele escova os dentes e se deita, lendo alguns e-mails acadêmicos em seu i-Pad. Tento imaginar como essa conversa poderia começar de um jeito que não o faça me olhar com raiva. Acabo optando pelo lado mais fácil: falar de uma só vez.

– Convidei a Quinn para fotografar o jantar.

Não há resposta por um tempo. Nem sei se ele realmente entendeu o que eu disse. Mas, então, Finn faz algo muito pior do que começar uma cena dramática. Ele envolve minha mão na sua e isso, mais do que tudo por que já passamos, fere meu coração. É como se ele tivesse acabado de pisoteá-lo.

– Tudo bem – Finn sussurra.

Por que ele não está revidando?

Não que eu queira isso, é claro. Mas ser complacente e conivente desse jeito apenas faz com que eu me sinta pior.

Olho para seu perfil sereno, que passa os olhos pela tela do objeto. Quase posso sentir o meu emocional fraquejar, como se minha alma estivesse ainda mais perdida do que realmente está.

Eu o estou perdendo. É isso que está acontecendo.

{...}

Na manhã de quinta-feira, eu não posso me dar ao luxo de pensar em outra coisa além de reuniões de elenco. O diretor precisa estudar a nossa disponibilidade e comprometimento com o musical, pois está mais do que claro que My Fair Lady veio para ficar.

Quando a tarde se inicia, preciso monitorar meus pais. Eles continuam morando em Lima, apesar de terem se separado há cinco anos, mas raramente vêm para Nova York. E eles são do tipo ai-meu-Deus-estou-perdido. Então, é sempre bom estar perto, assim ninguém acaba parando no Brooklyn sendo acusado de tráfico de drogas.

Por ser dia de semana, e aulas ainda estarem acontecendo, Finn não pode fazer nada além de passar o dia na faculdade, enquanto lido com meus pais e os preparativos do jantar. Perto das cinco, o pessoal do buffet chega e me faz ficar mais tranquila. Programamo-nos para oferecer a “festa” no nosso jardim mesmo, para que todos se sintam acolhidos e íntimos. Meus pais ficam palpitando sobre qualquer coisa, desde a cor dos móveis até a espécie das flores encomendadas – obviamente, todas são orquídeas, mas variam nas cores. Eu tento não me irritar. Porque sei que preciso de foco, muito foco. Preciso lidar com tudo isso numa boa. Com meus pais e Carole e Burt. Todos apoiaram a ideia do casamento desde o início. Já estamos formados, então por que não? Ganhamos o suficiente para cobrir todas as despesas e crescemos juntos. E todos os padrinhos e madrinhas e amigos próximos, a exemplo de Jesse, Mercedes (uma antiga amiga da faculdade) e Tina (que, apesar de ser a minha assistente, somos amigas), também estão super felizes com a nossa decisão. Então, é uma grande responsabilidade. Fazer isso dar certo e tentar não decepcionar ninguém. Especialmente o meu noivo.

E não posso esquecer-se de Quinn. Meus pais não a vêem desde que tínhamos 17 anos. Sempre tivemos uma relação totalmente aberta e, por mais que eles sejam dois homens, sempre tentaram entender todos os meus lados femininos de forma igualitária. De modo que eles também sabem sobre o meu affair com Quinn na adolescência. Nunca se posicionaram criticamente. Na época da revelação, eu estava lidando com o fato de ter recebido dela um chute na bunda. Eles tentaram lidar com aquilo de modo positivo, dando-me conselhos sobre “como, um dia, aquilo seria benéfico para mim” e coisas do tipo. Não sei o que posso esperar dessa junção. É muita coisa para eu lidar, sinceramente.

O jantar está previsto para se iniciar às oito da noite. Pedi para que Finn tentasse se ausentar do último horário de aulas, mas ele não gostou da ideia. Às sete, Kurt e Blaine se juntam ao meus pais, Carole e Burt. Adoro a Carole, ela é uma sogra incrível, mas sinto-me pressionada a impressioná-la, por mais que saiba que não precise. Ela me conhece e sabe que eu não sou o maior exemplo de Amélia que existe. Todos eles engatam numa conversa que soa muito divertida. Jesse chega logo depois e tenta iniciar algumas conversar com o intuito de me distrair. Eu praticamente não o ouço, porque estou preocupada. Ligo para Finn, mas cai na caixa postal. Insisto mais três vezes, de maneira muito louca, mas ele não atende.

No fim, Jesse coloca as mãos nos meus ombros e diz:

– Ei, quer parar com esse dramaqueen todo?

– Isso vai ser um desastre. Já estou prevendo.

– Como pode saber? Todo mundo parece super em paz e integrado. – ele faz um gesto em direção aos outros convidados. Nesse ponto, quase metade deles já está presente, interagindo muito naturalmente com os outros e bebericando frisante. – Você é uma mulher independente e, pelo que me lembre, nunca precisou do Finn por causa de uma festa. Eu entendo a parceria que tem com ele, mas por que isso agora? Essa sua ansiedade está muito esquisita.

Dou de ombros. Estou confusa e, realmente, muito ansiosa.

– Parece que estou sufocando, apenas isso – respondo.

– Vou pegar mais frisante para você – Jesse diz, tirando a minha taça do móvel. Ele se levanta e vai em direção à mesa de buffet. Torço meus dedos enquanto espero. No meio do caminho, Jesse para e atende a porta. Sinto-me alarmada. Não é ainda Finn, é claro. Ele não teria usado a campainha.

Vejo Quinn e aquele mesmo cara da outra festa – Sam; esse era o nome dele, certo? Juntos, parecem duas estrelas. Combinam em tudo. Em estilo, em cor de cabelo, em sorrisos perfeitos e sincronizados.

Quinn está delicada num vestido nude relativamente curto, todo rendado. É exatamente a cara dela. Seu cabelo está preso num coque com cara de despenteado, mas, ainda assim, ela parece comportada. Acho que é a franja lateral que faz esse tremendo trabalho em deixá-la parecida com uma fada, ou algo assim. De maneira totalmente bizarra, Sam está enfiado num paletó esportivo da mesma cor que o vestido de Quinn, apenas mais escuro, e uma calça jeans quase do mesmo tom.

Os dois cumprimentam Jesse, que vira automaticamente para mim. Eu sorrio, tentando não demonstrar que meus sentimentos estão batendo em ondas violentas dentro de mim. Ando até os três.

– Oi, Quinn. Obrigada por vir – digo e lhe dou dois beijinhos na face. Noto que ela está com a sua inseparável bolsa acolchoada, que resguarda sua câmera. Olho para Sam. Repito o gesto – Olá. Sintam-se à vontade. Frisante? – tiro a taça cheia das mãos de Jesse e a brando em direção à Quinn e Sam. Meu tom parece estrangulado e agudo. Muito estranho.

Eles rejeitam a bebida de forma agradável. Forço um sorriso. Quinn sorri de volta, mas de maneira graciosa e natural. Sam analisa os outros convidados. Jesse junta as mãos e anuncia:

– Vou ver se mais alguém aceita frisante – e sai de perto de nós.

– Então? Tudo certo? – para a minha surpresa, quem pergunta é Sam. – Você precisa de ajuda em algo? Posso ser útil, sem problemas.

Faço um gesto de descaso com os dedos.

– Não, obrigada. Não se preocupe – forço outro sorriso. Pareço transtornada. Viro o frisante na boca, esperando que isso me acalme e me faça parar de agir como se alguém tivesse colocado uma bomba no forno. – É apenas... Estou esperando o Finn.

Os dois assentem.

– Eu vou... Ligar para o Finn – digo e me afasto.

Volto para o meu lugar de antes no canto da sala e pego meu celular. Enquanto telefono e ouço a ligação chamar e chamar, Quinn e Sam chegam ao grupo que já se formou no jardim e se apresentam. Meus pais olham para Quinn e não fazem nada além do esperado: cumprimentam-na educadamente, sem grandes festanças ou olhares carregados. Agradeço por dentro. A ligação cai na caixa postal mais uma vez. Suspiro, frustrada.

Estou prestes a me alojar no quarto e deixar para trás todo mundo, quando Finn se adentra no recinto. Posso sentir todo o meu corpo tenso lívido, preenchido de raiva, mágoa e nervosismo.

Ele olha para mim assim que fecha a porta. Sustento seu olhar com energia.

– O que aconteceu? Você me ligou umas dez vezes num tempo de três horas. – Finn fala, num tom carregado de seriedade.

Não saio do sofá de jeito nenhum. Comprimo os lábios e viro mais frisante na boca. Em seguida, levanto e, quando passo por ele, digo:

– Eu pedi para estar aqui. E você não estava. Você não tem ideia do que foi meu dia. Isso tudo mal começou e já está um inferno.

– Meu trabalho é tão importante quanto o seu, Rachel. E eu nunca poderia me ausentar dele simplesmente porque a minha noiva não consegue lidar com os pais – Finn diz na minha frente, numa expressão aborrecida – Sei muito bem que você mal teve trabalho com o jantar, é praticamente tudo encomendado. Então, vamos parar de jogar a culpa em mim, certo? Você não é a única a estar enfrentando dias turbulentos. Aliás, esses dias turbulentos estão cada vez mais freqüentes. É ótimo que tudo esteja assim a apenas alguns dias do nosso casamento – ele finaliza com ironia. Eu abro a boca para revidar, mas ele me afasta de seu caminho e segue até o falatório no jardim.

Sinto meus sentimentos fraquejarem outra vez, exatamente como na noite anterior. Mal posso acreditar que aquele cara que disse “Tudo bem” de maneira tão abstrata e que acariciou a minha mão suavemente seja esse cara que estava me dizendo tudo aquilo há dois segundos.

O que aconteceu? O que foi que eu perdi? Quando foi que o perdi?

Afasto o ímpeto de chorar, porque não quero parecer impotente. E, se Finn acha que seu objetivo de me atingir funcionou, vou deixar isso bem escondido.

Fico parada na sala, olhando para o pessoal lá no jardim. Parece que ninguém sente a minha falta. Ninguém, exceto... Meus olhos se encontram com os de Quinn. Não sei se ela pode ler nos meus gestos corporais o quanto estou perdida e incapacitada de seguir adiante com tudo isso, mas a vejo se afastar de todos e andar lentamente até onde estou. Ela carrega um sorriso pequeno, somente com os lábios tingidos de um batom cor de bronze.

Ela para a um metro de mim.

– Vocês parecem cansados. Quer dizer, você e o Finn – Quinn diz. Espero que diga mais alguma coisa, mas ela simplesmente fica parada à minha frente, me analisando de um jeito que não me dá opções. Fujo de seus olhos, abaixando os meus.

– É. As coisas estão... – engulo a palavra “erradas” que planejava dizer e retalio –... Pesadas, no momento. É muita responsabilidade, você sabe. Um casamento. Estamos um pouco estressados.

Ergo o olhar para enxergá-la. Vejo-a prontamente franzir a testa.

– Jura? Eu sempre achei que casamentos fossem animadores. Achei que, quanto mais perto da data, mais felizes os casais ficavam.

Isso bate em mim de um modo horrível. Sinto meu peito doer. Porque tenho a total ciência de que “felizes” é a única coisa que não pode descrever a mim e a Finn neste momento de nossas vidas.

Não sei o que dizer.

– Desculpe, falei algo errado? – Quinn pergunta. Acho que é porque ela consegue ler nos meus olhos algo que não quero deixar transparecer. Ela sempre foi boa nisso, em estar dentro da minha mente.

– Não, está tudo bem – balanço a cabeça.

– Espero que sim – ela sorri e toca meu antebraço com gentileza, como se estivesse me passando algum tipo de energia positiva. Deus sabe o quanto estou precisando disso. Seu gesto me faz sorrir agradecida.

Em seguida, caminhamos juntas até o jardim.

{...}

Já se passaram duas horas e meia desde que me juntei a todos. As conversas não param. Meus pais conduzem tudo com muita naturalidade, eu mal preciso abrir a minha boca.

Aos poucos, meu ânimo foi se acalmando. Agora, eu e Finn estamos sentados lado a lado e, mesmo que às vezes ele pegue na minha mão, não consigo sentir que estamos próximos sentimentalmente. Praticamente, fico mais quieta na minha cadeira – e isso, em casos normais, é tremendamente difícil para mim. No entanto, agora é diferente. Não quero discutir sobre os últimos preparativos para a cerimônia. Não quero falar sobre como é a nossa vida de casal. Não quero confessar que não me sinto mais preparada para seguir em frente como o show pede. Não quero. Não quero. Só quero afastar tudo isso.

Mas tudo volta com força total, a força de um maremoto, quando Quinn se aproxima de mim e Finn e pergunta baixo:

– Tudo bem se eu disser algumas palavras?

Eu penso que está se referindo às fotos que conseguiu do jantar, mas então penso melhor: por que ela diria algo sobre isso? E para quem?

Olho-a confusa. Ela explica melhor:

– Provavelmente essa é a parte do padrinho, sabe, falar sobre o casal e tudo mais. Mas gostaria de uma chance. Vocês concordam com isso?

Olho para Finn. Ele dá de ombros. Abro a boca e depois a fecho. Dou de ombros também.

– Claro, tudo bem.

Quinn oferece um sorriso e daí toca meu antebraço de novo, como fez mais cedo. Não sei o que isso significa, mas começo a me sentir apreensiva. Ela se afasta de nós, vai até a ponta da mesa, agarra uma taça e um garfo. Faz um tilintar entre os objetos que logo chama a atenção de todos. Ela sorri num misto de confiança e timidez (se é que isso é possível).

– Oi – ela diz, ainda sorrindo – Bem, eu conheço muitos de vocês, mas acho que alguns não me conhecem. Sou Quinn Fabray. Estudei com Finn e Rachel no colegial. E pedi a permissão deles para dizer algo.

Parte XIV – Houve um momento em que eu estava na fila por amor

Mas eu deixo você ir

(Gale Song, The Lumineers)

Não planejei muita coisa, confesso. Talvez, algumas questões tenham norteado um pouco esse “discurso”, mas já as esqueci. Acho importante não me apegar a um roteiro. Parece besteira. Quero soar natural. Porque, mesmo que eu não concorde com a ideia do casamento, eles merecem isso. A naturalidade. Pois é provável que é graças a ela que alcançaram esse estágio de vida.

Olho para Rachel e noto que ela estampa preocupação e curiosidade na face. Finn, por outro lado, parece quase impassível. Isso apenas me motiva.

– Como eu disse, conheci os noivos ainda na escola. Fui a melhor amiga de Rachel por bastante tempo – volto a mirá-la, porque quero que ela saiba que não serei sacana de jeito nenhum. Sei, pelos seus olhos levemente arregalados que me imploram para que eu cale a boca nesse exato segundo, que ela acha que direi algo sobre nosso passado. Mas não é esse o meu propósito – Crescemos juntas. Passamos por todas aquelas fases que meninas adolescentes passam. O primeiro beijo. Correr atrás dos garotos. E, finalmente, encontrar um que fosse compatível com quem éramos e queríamos para a vida – não, não vou dizer que nunca encontrei um garoto compatível comigo. Porque, afinal, esse discurso não se trata de mim – A Rachel, como podem supor, conseguiu isso – ouço risadas e vejo olhares voarem para o casal – Eu achava que ser uma estrela como ela sempre quis ser iria, em algum ponto, atrapalhar todos os seus planos sentimentais. É bom constatar que ela conseguiu crescer conciliando amor e profissão. Eu sei o quanto o amor pode ser difícil de ser encontrado. Perdi muitos amores – eu solto uma risada e alguns me acompanham na reação. Não Rachel. Ela está toda séria olhando para mim – Mas, quando o encontramos, é como encontrar a nós mesmos. Saber confiar em alguém não vem de graça e construir uma relação duradoura não está na cabeça de muitos – olho para os noivos com determinação – Sei que entre vocês há confiança e que, se hoje estamos aqui, é porque firmaram um consenso sobre o que desejam para si mesmos. E sei que o que desejam é amar e serem amados. – desvio o meu olhar de Rachel e Finn e miro os convidados – É por isso que desejo que a pessoa que você mais quer, queira você do mesmo jeito. Eu desejo que a pessoa que está há tantos anos contigo seja realmente sua alma-gêmea e que seja realmente aquela com quem você se casará. Desejo que aprendam a crescer e ceder. Mas, acima de tudo, espero que vocês possam encontrar a felicidade juntos.

Há um silêncio momentâneo. Todo mundo só fica olhando para mim. Até que um dos pais de Rachel começa a bater palmas. O outro pai dela está visivelmente emocionado, assim como Kurt e Tina. Olho para Sam e o encontro com as sobrancelhas claras erguidas, como se não pudesse acreditar em nenhuma palavra que acabei de proferir. Mas a verdade é que não me importo com o que as pessoas possam pensar. Estou em paz comigo mesma.

As palmas crescem e, de repente, todo mundo, mesmo Rachel e Finn, estão aplaudindo meu discurso. Rachel parece que acabou de engolir uma meia. Finn parece surpreso. Agradeço a atenção e volto a me sentar ao lado de Sam.

– Isso foi lindo, Quinn – Kurt me diz, do outro lado da mesa. Sorrio, orgulhosa.

Alguns minutos se passam e, durante tempo todo, noto Rachel olhando para mim. Ela está carregando uma expressão muito esquisita. Como se estivesse me desaprovando e, ao mesmo tempo, estivesse atordoada. Eu sei. Ela não poderia imaginar, certo? Justamente eu dizendo todas aquelas coisas? De jeito nenhum. Mas percebi que ela se foi e eu não posso fazer nada sobre isso. Essa é a parte mais difícil: não poder fazer nada sabendo que quero desesperadamente fazer algo e que, se eu pudesse, faria. Uma parte de mim quer tê-la só para mim, mas a outra quer vê-la feliz, mesmo que não seja comigo. E acredito que, se for para perdê-la para a felicidade dela, tudo bem.

Ignoro seu olhar em mim, entretanto.

Sinto o hálito de Sam perto da minha orelha e fico um pouco surpresa.

– Hm. O que você acabou de fazer? – ele me pergunta, em tom muito baixo.

– Deixei-a ir – respondo – Não era isso que eu deveria fazer?

– Totalmente – ele confirma – Mas, me diga, por que está fazendo isso consigo mesma? Se eu tivesse de desejar felicidades à mulher que ainda amo, não seria desse jeito. E teria muitos, muitos palavrões.

– Sorte minha que não sou você – digo com um sorriso – E estou fazendo isso, simplesmente porque temos que entender o momento de desistir. Ela tem todo direito de ser feliz com alguém que não sou eu. Acho que, se me perguntarem o que é o amor, é justamente isso. Aprender a deixar a outra pessoa livre para fazer suas próprias escolhas. E ela fez a escolha dela.

{...}

Uma hora depois, restam poucas pessoas ainda na casa. Eu e Sam engatamos numa conversa com Kurt e Blaine sobre o Glee Club. Sam não sabe bem como proceder durante o bate-papo, já que nunca teve contato com as artes, mas decido que não posso deixá-lo de fora.

Quando os próprios pais de Rachel se despedem de todo mundo – aparentemente, estão hospedados em um hotel –, digo para Sam que é provável que seja a nossa hora de ir também. Informo que falarei com Rachel sobre as fotos e que, logo em seguida, poderemos nos despedir também. Ele continua a tagarelar com Blaine e Kurt.

Rachel está na cozinha tentando lidar com toda a louça suja. Não que seja difícil, já que ela tem uma lava-louças. Da porta, vejo-a colocar metodicamente cada item no aparelho.

– Hey – eu me anuncio, depois de um tempo.

Ela olha para mim, parecendo um pouco sobressaltada. Não há sorriso em seu rosto.

– Oi – é a única coisa que diz, antes de voltar ao seu afazer.

Aproximo-me dela e apanho uma das taças dispostas em cima do tampo da pia.

– Quer ajuda? – eu ofereço.

– Não – ela arranca o objeto dos meus dedos e o insere em seu local para ser devidamente lavado.

Não entendo sua atitude. Ela está na defensiva ou na ofensiva?

– O que houve? – pergunto. Estou bastante perto dela, de modo que posso examinar sua maquiagem cuidadosamente feita. Seu vestido curto, verde-água, todo rendado de um jeito muito mais lindo do que a peça que estou usando, expõe pedacinhos do corpo dela por causa da transparência. Há um enorme decote nas suas costas, que revela quase que toda a sua pele. Seu cabelo está solto e todo ondulado.

Rachel estanca seu gesto e me olha. Há um brilho de raiva em seus olhos. Não sei por que está aí e fico surpresa. Sua face permanece pétrea e isso meio que me intimida.

– Por que fez aquilo? – ela revida com fervor e rudez.

– O quê? Aquilo o quê? – estou confusa.

– Toda aquela história de perder amores e desejar que a pessoa que ama, ame você de volta! O que foi aquilo? Estava tentando o quê?

Solto uma risada. Ah, nossa. Jura que ela não entendeu? Achei que tivesse sido clara com relação à mensagem que queria transmitir com meu discurso.

– Desejar as felicitações. É isso que se faz, certo? Quando duas pessoas vão se casar, geralmente, se faz um discurso sobre os noivos e se deseja amor e alegria.

– Não. Não foi isso que você fez – Rachel alega. Agora, ela parece ainda mais com raiva – Sabe o que vi? Uma pessoa totalmente iludida e desesperada para saber se ainda tem alguma chance.

Solto outra risada, agora exibindo toda a minha incredulidade.

– Bem, sabe o que dizem. As pessoas vêem o que querem ver. – respondo, dando de ombros – Não menti quando disse aquelas palavras. Realmente desejo que Finn seja sua alma-gêmea. Quer dizer, vocês crescerem juntos. Muita gente não tem essa chance. E dá pra ver que vocês superam qualquer coisa. Fico feliz. Quero que você seja feliz, Rachel.

Ela fica me encarando como se não soubesse se devesse mesmo acreditar em mim. Então, sem nem mesmo me oferecer uma só palavra, continua com seu trabalho com a louça. Rachel simplesmente me deixa parada em sua cozinha, como se eu fosse a decoração do espaço.

– Bem, se isso é tudo, espero que vocês tenham um ótimo final de noite – eu digo, depois do que parece a eternidade. Mas, provavelmente, apenas se passou um minuto – Estou indo embora.

Passo por ela. Não olho para trás. Não posso desejar que ela faça ou diga algo. Preciso parar de desejar algo por parte dela.

Mas Rachel me surpreende quando estou quase saindo do recinto.

– O Sam é a sua alma-gêmea? – sua pergunta praticamente me paralisa. Seu tom não está mais raivoso, está meio sinuoso como se tivesse medo da resposta.

Viro-me para ela. Encontro-a olhando para mim. Não posso refrear o sorriso que se forma nos meus lábios. Estou feliz pela pergunta.

– Não – respondo simplesmente – Quando disse em amores perdidos, apenas queria dar a ilusão de que não sou a garota boba que é apaixonada pela mesma pessoa desde os 13 anos. Só existiu um amor perdido na minha vida.

Nossos olhares estão conectados de forma intensa. Arrisco dizer que por parte de Rachel há muito mais intensidade. Meus pés me levam para perto dela. Ficamos cara a cara. Ela não se move, nem finge que está ocupada com outra coisa. Sorrio para ela.

– Sempre será você o meu amor perdido – digo num sopro.

Vejo-a tentar argumentar, abrindo e fechando os lábios. Mas não há nada a se pontuar. Faço algo que pode ser considerado insano e muito ousado para o momento: coloco minhas mãos em seus ombros e, logo em seguida, planto um beijo na bochecha esquerda dela. Não tenho medo do contato. E sei que não preciso me preocupar com a reação dela. Afasto meus lábios de seu rosto, sorrio e digo:

– Boa noite.

Viro as costas. Ela não chama meu nome, ou vem até mim, numa tentativa de me impedir de sair da cozinha. Do mesmo modo como eu a deixei ir, ela também me deixa ir.


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Notas finais do capítulo

Então, o capítulo ficou maior do que eu gostaria. Simplesmente fui escrevendo e apenas no final é que vi que ele ficou com quase 10 páginas o.o Imagino que eu tenha feito a alegria de alguns, haha.
Aceito chiliques por esse final, tá? Eu mesma os tive, depois de ter escrito essa cena! ~sou uma escritora surtada mesmo~
O que vocês acham do andamento até agora? E o que acham que vai acontecer? Opinem!
Beijos!