Begin Again escrita por Nina Spim


Capítulo 6
Chapter Six


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Desculpe pelo atraso na atualização. Eu vou lançar um livro no meio do ano e tô cuidando de muita coisa relacionada a isso (divulgação/projetos para a editora/convites a eventos), daí eu total negligenciei a escrita desse capítulo! Mas é provável que, a partir de agora, eu volte "ao normal". Aliás, tô planejando outra fanfic Faberry pra vocês! :3 Aguardem!
Muito obrigada aos comentários, vocês são lindos/as!
Boa leitura!



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Parte XI – Esse tempo, esse lugar

Desperdícios, erros

Tanto tempo, tão tarde

Quem era eu para te fazer esperar?

(Far Away, Nickelback)

O fim de semana chega e a minha agenda continua lotada. Há um jantar beneficente no sábado à noite fechado para o público e muito seletivo. Eu nem sei como fui convidada para participar dele. Mas Jesse também foi, então tenho a impressão de que é devido a My Fair Lady estar ganhando tanto destaque na mídia.

Estou sinceramente desanimada para sair de casa e enfrentar milionários que mal sabem pronunciar o meu nome. Mas é importante. Sei lá por quê, mas é. E não há como eu escapar, pois Mary Poppins está tentando ganhar novamente o público nos finais de semana. De modo que hoje não haverá My Fair Lady no teatro. Em contrapartida, eu preferiria mil vezes me vestir de Eliza a me enfiar num vestido elegante, fazer cabelo/unhas/maquiagem. Gosto muito da publicidade que ganho e do que recebo por causa dela, mas hoje preferiria estar em casa.

Pelo visto, Finn também.

Ele está na frente do espelho decidindo-se pela gravata. Está calado desde que entrei em casa, há umas duas horas.

– A azul – eu digo, olhando para seu reflexo. Finn estende a gravata azul novamente na frente do tórax e a engata no colarinho da camisa. – Eu faço isso – ando até ele e fico frente a frente com ele. Posso sentir seus olhos pousados em mim enquanto minhas mãos trabalham no nó. – O que foi? – pergunto, olhando-o nos olhos. Não estou irritada, mas apreensiva. – Sei que você não gosta dessa social toda, mas é importante para mim...

– Não é por causa da social. É o que vamos fazer lá.

– Vamos jantar.

– Iremos mostrar dois noivos que sustentam sorrisos forçados, Rachel. É isso que vamos fazer lá – ele suspira com força, comprimindo os lábios. Olha-me severo, com um vinco na testa. – Não é nada compreensível que você saia de uma sessão de fotos e vá para o Central Park.

Minha cara fecha no mesmo momento e sinto-me carregada de aborrecimento.

– Se está falando de Quinn... – começo num tom rude.

– Pare com isso, está bem? Pare de arranjar desculpas para o que está fazendo! – ele me acusa no mesmo tom que eu. Dá um passo para trás, desfazendo o nosso contato e fica me olhando – Você sabe como se sinto com relação a isso. Não gosto e nunca vou gostar. Já era difícil ter você quando ela estava longe de nossas vidas e agora que você faz questão de mantê-la por perto...

– Faço questão, sim! – rebato na mesma hora, repentinamente exasperada – Porque, ao contrário de você, não sinto receio algum de voltar a conviver com a Quinn! Ela é uma ótima companhia e prefiro estar com ela a ficar presa em casa, solitária como a porcaria de uma dona de casa à espera do marido! Olhe onde estamos! E olhe quem sou! Não estou aqui para ser a sua esposa perfeitinha!

– Não quero uma esposa perfeita. Quero que você saiba que quer a mim.

– E eu quero! – exclamo alto – Vou me casar contigo, não vou? Pare de se sentir assombrado por algo que você mesmo criou! Se não estou com a Quinn agora é porque era assim que deveria acontecer! Ela não quis assumir os riscos no passado e duvido muito que queira assumi-los agora!

– Você não acredita nisso – ele nega – Está tentando se convencer de que essa é a verdade quando nem sabe mais o que é, ou não, verdade na sua vida!

Sinto ódio. Sinto mesmo. Não acho justo eu ser acusada de coisas que não são verdades. Exatamente como a Quinn fez há dois dias, Finn está afirmando situações e sentimentos que não são reais em mim. Por que ambos acham que sabem mais do que eu mesma o que quero e sinto?

– É isso, vou ficar por aqui. Divirta-se com o Jesse. – Finn declara, voando os dedos até o nó da gravata.

Não dá pra acreditar.

– Ótimo, Finn! – digo com azedume – É bom saber que é bem assim que você se preocupa comigo: como se fosse natural me deixar na mão por causa de uma briga desnecessária e infundada!

Ele olha para mim. Noto que seus olhos estão pesados e tensos. Finn avança contra mim, e penso que ele fará alguma loucura. Mas não me movo. Ele coloca as mãos nos meus antebraços, sem força alguma. Quase me choco com sua delicadeza. Ainda que eu esteja apreensiva, ergo o olhar para ele. Finn comprime os lábios, e sei que ambos estamos sentindo um turbilhão de emoções controversas e novas.

– Estou fazendo o possível, Rachel – sua voz sai arranhada e baixa – Sinto muito se nós crescemos e a nossa vida de casal se divergiu daquela que você planejou. Eu ainda a amo, sempre amarei. Mas isso não quer dizer que eu concorde com tudo o que você faça. – antes que eu possa abrir a minha boca, ele continua: – Queria muito que você tivesse entendido o que é crescer ao lado de outra pessoa. Ao lado de mim. Pelo visto, você cresceu com a Quinn no seu pensamento. E não seja por isso: não vou prendê-la. Faça o que quiser. – Finn retira suas mãos de mim e sai da minha frente. Em seguida, senta-se na cama e arranca de vez a gravata. Ele parece sobrecarregado do mesmo modo que eu.

Perceber o quanto ele está magoado me magoa também. Olho para seu rosto sereno e distante e penso que nada disso é justo com ele. A única pessoa errada sou eu. E não foi nada maduro da minha parte o incriminar de algo que não fez. Ele sempre esteve ao meu lado. Eu sei o quanto as sociais são terríveis para ele, mas Finn suporta – sempre suportou. E não é porque não quer ir hoje que está me deixando na mão. Ele sempre cuidou de mim da melhor forma possível, é inegável. Mas ele está errado, eu aprendi, sim, a crescer ao lado dele.

Sinto vontade de chorar por sua fragilidade. Provoca-me medo saber o que estou acometendo nele e o quanto disso tudo ele nunca me revelou. E é uma pena que tudo esteja sendo exposto justamente agora, há apenas alguns dias de nosso casamento.

Caminho até ele. Coloco-me à sua frente, de joelhos. Não ligo se ele for capaz de enxergar as lágrimas que aparecem nos meus olhos.

– Finn – eu digo. – Eu sinto muito – é o que sei que ele precisa ouvir. É o que adiei muito tempo para dizer.

Finn deposita as mãos nos meus ombros.

– Não, não se sinta obrigada.

– Não sinta raiva de mim, por favor – eu peço.

– Não sinto, Rachel. Eu deveria ter entendido desde o princípio que você estaria para sempre dividida.

Dividida? Franzo a testa. Não. Ele não pode estar achando que...

Ele continua:

– E não sei se posso competir com ela. Eu sei que ela foi o seu primeiro amor e o quanto isso é difícil de se apagar.

Balanço a cabeça.

– Não. Você não tem que competir com ninguém. Você é meu, e eu sou sua.

– Já estamos meio velhos pra isso, não acha? E você pode ser completamente verdadeira comigo. Eu mereço isso. Preciso saber se ainda tenho chances, porque eu abri mão de muita coisa para estar aqui, para estar com você.

Isso me acerta em cheio. Sempre tive ciência de seu amor por mim, mas imagino o quanto ele reservou toda a sua mágoa só para si e apenas seguiu em frente me apoiando na minha carreira e nas minhas novas decisões.

– Eu sei – concordo, baixo e vacilante.

Ele não diz nada. Ficamos em silêncio. Posso ver todo o sofrimento dele e todo o amor.

– Você vai se atrasar para a festa. – Finn me avisa, se levantando. Logo em seguida começa a se livrar da camisa. – Você está linda, se quer saber.

Vou até ele mais uma vez e o abraço. Ele me recebe de bom grado e gentilmente. Faço um esforço para não derramar mais lágrimas, para que eu não destrua de vez com a maquiagem.

– Eu o amo – sussurro.

– Eu sei, amor.

{...}

O evento ocorre de forma diferente, porque eu me sinto arrasada por dentro. Mesmo que eu e Jesse tenhamos nos sentado com pessoas divertidas e ótimas para se conversar, tudo o que faço é esboçar sorrisos forçados. Sou perguntada diversas vezes sobre Finn. Minto e digo que ele está trabalhando em cima de um projeto acadêmico. Entretanto, me sinto horrível e culpada pela mentira. Por sorte, Jesse me conhece o suficiente para pescar o meu real estado. Ele espera até que estejamos no carro que nos levará para as nossas casas, no final do evento, para se pronunciar.

– Você não precisa se fazer de forte comigo – ele comenta.

Olho para ele, surpresa. Não sei o que dizer.

– Nós brigamos, e Finn desistiu de vir – prefiro dizer a verdade. Pelo menos, posso dizê-la para Jesse. – Não sei o que está havendo, mas parece que a minha vida está insuportável. Eu tento fingir que está tudo bem quando, na verdade, estou enlouquecendo por dentro. E o Finn fica me confrontando, me pedindo para ser sincera!

– E você está sendo?

Fujo de seu olhar. Miro a rua iluminada pelos postes. Jesse encara o meu silêncio como uma confissão.

– Sabe o que acho? – ele me pergunta – Que você está fingindo ser alguém que planejou ser, mas que realmente não é. E tem que parar com isso. Nós somos o que sentimos, e você tem que descobrir bem rápido o que sente. Antes de se casar, de preferência.

Faço um gesto de anuência. Eu sei. Eu sei que ele está certo. E que Finn também está. Mas, quando estamos confusas, como descobrir uma saída? Como parar de ser confusa? Como vou resolver isso?

Parte VII – Então me fale quando você vai me deixar entrar

Eu estou ficando cansado

E preciso de algum lugar para começar

(Somewhere Only We Know, Keane).

Passo a noite de domingo com Brittany e Santana. Fazemos pipoca e assistimos a uma maratona de filmes sobre casamentos. Eu quase as odeio por isso. Quer dizer, Santana se desculpa pelo tema dos filmes. Mas diz que é necessário, já que vai se casar. Então, finjo que não penso em Rachel se preparando para se casar com Finn. Embora eu veja Rachel em todos os filmes, como a noiva feliz e desesperada para enfim se casar, eu concluo, depois da sessão, que estou ficando louca. Tenho que parar de pensar nela. Sei que se casará, mas será mesmo que preciso achar que ela está feliz e desesperada? Aquela tarde no Central Park provou justamente o contrário. Rachel nem ao menos sabe por que irá se casar.

– Por favor, não me diga que está arrasada. São apenas filmes – Santana diz para mim, quando digo que preciso voltar para meu apartamento, um pouco depois da meia-noite.

– Eu sei.

– Então, por que essa cara? – ela pergunta, mas eu não respondo. Ocupo-me em apanhar minha bolsa. Brittany me abraça, mas não entendo por que faz isso.

– Você tem que fazer alguma coisa, Quinn – Brittany me diz, ainda abraçada a mim. – Você não pode deixar que o amor da sua vida vá embora, assim, para sempre.

Penso nisso. Rachel. O amor da minha vida. Nunca tinha refletido sobre isso com essa perspectiva. Rachel sempre fora alguém muito próxima, alguém que eu sentia falta e, com certeza, eu nutria um sentimento muito forte por ela. Mas ela, o amor da minha vida? Quer dizer, não me envolvi com muitas pessoas ao longo desses quase dez anos longe dela. Não conseguia atingir aquela plenitude que já tinha experimentado com ela. No fim, eu sempre dizia que a culpa era minha e terminava o relacionamento. Repetidas vezes. E, agora, estou sozinha. Se não deu certo com mais ninguém e eu só fico pensando em Rachel, então talvez Brittany esteja certa: Rachel pode ser o amor da minha vida.

– Acho que é a única maneira de fazer isso parar, Britt. Deixá-la ir embora para que eu pare de pensar nela. – respondo baixo.

Santana me olha triunfante, mas diz com ironia:

– Como se tivesse dado certo da primeira vez.

– É, não deu – eu concordo – Mas talvez com essa avalanche de decepções tudo isso acabe, finalmente.

– Credo – Santana exclama – A gente não tem que passar por tudo isso. A gente tem que correr atrás do que quer. E está na cara que a quer. Então, faça alguma coisa! Se desistir agora, apenas conviverá com esse segundo erro pelo resto da sua vida. Como vai conseguir se perdoar, Quinn?

Não digo nada.

– Você não disse que ela nem sabe por que vai se casar? Então, essa é a sua grande chance. Rachel abriu essa fresta na vida e no coração dela. Talvez nenhuma das duas tenha percebido, mas muito claramente ela te ofereceu uma oportunidade para você a reconquistar e fazer dar certo.

O QUÊ?!

Não, não pode ser...

Rachel nunca... Quer dizer, ela estava tão inflexível. Ela sempre foi inflexível depois de nosso término! Simplesmente virou as costas e aceitou nosso rompimento. Não implorou. E, semanas depois, já estava com Finn. E eu tive que assistir aquilo de perto. Santana tem razão: como vou me perdoar se a perder de novo?

– Não, Rachel não faria isso – balanço a cabeça negativamente.

– Ela não percebeu que fez isso, Quinn. Às vezes, nós fazemos e dizemos coisas completamente tomadas pelo inconsciente.

Despeço-me delas e vou para casa. Durante todo o trajeto penso sobre isso.

Como podemos dar uma segunda chance às pessoas sem ao menos saber?

{...}

Eu e Rachel ficamos juntas por mais ou menos três meses. Não vou mentir, foram ótimos meses. Até que ela começou a dizer que devíamos assumir aquilo. Não sei por que as pessoas precisam tanto explicitar o amor. Eu estava contente com aquele segredo. Ela tinha concordado sobre ele, aliás. E Rachel sabia que eu nunca poderia assumir riscos. Não o tipo de risco que ela estava me pedindo. Minha família era muito apegada à tradição, tanto no âmbito familiar quanto social. Eu nunca poderia ser sincera com meus pais a respeito do que sentia por Rachel. Na verdade, eu nunca poderia dizer quem era de verdade para a escola e para todo mundo que me cercava. Ia além do meu limite. Eu gostava de ser uma pessoa mais ou menos reservada e odiava que a minha vida estivesse na boca dos meus colegas. Se eu assumisse o que mantinha com Rachel, com certeza, aquilo renderia conversas infinitas. E, mais cedo ou mais tarde, meus pais viriam a saber.

Eu e ela tivemos longos e calorosos embates que nortearam esse assunto. Com o tempo, comecei a ficar muito cheia daquilo. Mas Rachel dizia que, independentemente dos julgamentos alheios, o que ela sentia por mim nunca iria mudar. Mas eu não queria julgamentos. Por que as pessoas deveriam me julgar se eu apenas estava amando alguém?

Então, eu tive que fazer aquilo. Dizer que não dava mais. E não era porque eu não a amava, é claro. Era simplesmente porque eu me amava mais do que a ela.

Rachel quis saber o motivo, quis saber se era por causa dela. Eu disse que não.

– Olha, foi ótimo. Não pense que não a amo. Mas essa fase tem que acabar – eu falei. Ela me olhou diferente. Antes, parecia realmente triste, apesar de não estar chorando, mas então de triste ela migrou para algo perto da incredulidade.

– O quê? – ela franziu a testa – Eu sou uma fase na sua vida? Nós... Nós somos amigas. Amigos não são fases.

– Exatamente. Você sempre será uma amiga. Mas essa coisa que temos além da amizade... Não vai dar certo. – expliquei, sem saber bem o que lhe dizer. Não esperava ter que ficar falando demais.

Você está dizendo isso. – Rachel pareceu indignada – Mas, certo. Se sou uma fase para você...

– É essa coisa que é uma fase, Rachel. Não você. Entendeu?

– Não, Quinn. Não dá pra entender quando alguém lhe diz que o amor que sente é uma fase. – ela rebateu num tom duro. – Espero... Espero que um dia você veja tudo isso com outros olhos. Mas, se você não quer que eu fique contigo, então não serei eu que a manterei ao meu lado.

– Eu sinto muito, Rachel – e eu estava falando a verdade.

– Não, não sente.

Eu a deixei ir. E ela nunca mais voltou.

{...}

Estou saindo para o almoço na Variety, quando Puck se junta a mim no elevador.

– O que está fazendo? – pergunto, tirando os meus olhos do espelho (porque estava checando meu cabelo).

– O que você está fazendo? – ele rebate.

– Hm. Indo almoçar.

– Que coincidência! – Puck exclama com um sorriso – Eu também! Podemos ir juntos!

Rolo os olhos. É claro que ele está sempre planejando essas coisas.

– Que seja – eu respondo.

Caminhamos duas quadras até o meu restaurante japonês preferido do bairro. É um lugar pequeno, mas que oferece peixe de excelente qualidade e variados sabores de sushi/sashimi/temaki.

Já devidamente instalados numa mesa perto da janela, fazemos os pedidos. O local está cheio e sei que iremos esperar uns quinze minutos para começarmos a almoçar. Por sorte, ainda nos restará trinta e cinco minutos para voltarmos ao trabalho. O lado ruim é ter de lidar com Puck. Não sei se estou no clima para conversar com ele. Da última vez, quando saí com ele, sua pergunta sobre sexo com Rachel foi desestabilizadora. Praticamente fiquei lá com os olhos arregalados, implorando para que ele não estivesse esperando uma resposta. E eu não respondi, é claro.

Mas, tratando-se de quem ele é, é provável que ainda esteja aguardando a minha confirmação. Sei que em poucos minutos o assunto “Rachel Berry” entrará em pauta.

Realmente, ele começa cedo demais. Assim que as bandejas de comida chegam.

– Então? Como está a sua amiga? – ele pergunta. Aparentemente, é uma pergunta como qualquer outra. Se não fosse seu tom sugestivo e seu sorriso sacana.

Olho-o fulminante, deixando claro que é melhor encher a boca de comida e me deixar em paz. Não que eu esteja com raiva dele, ou de Rachel. Talvez, tenha mais raiva de mim mesma. Por que tudo acaba voltando para esse ponto? Por que, agora, é tudo sobre quem eu fui no passado?

– Não? Nada? Uau. – ele diz. Continuo calada. Ocupo-me em abrir os saches de molho e despejá-lo em cima dos sushis. Nem mesmo olho para Puck – Acontece que sou um jornalista ímpar, sabe? Sou muito persuasivo. Não interessa quem seja e qual sua história, eu vou conseguir descobrir os segredos das pessoas. É por isso que me pagam – Puck expressa zombaria em seu rosto. Quero muito, muito mesmo, rolar os olhos e mandá-lo embora. Só que isso o atiçaria ainda mais. – E eu descobri um blog muito rentável. De uma época que é provável que você se recorde.

Ergo as sobrancelhas, desafiando-o. Certo. Um blog. Uau, estou morrendo de medo.

– Você não me disse que sabe cantar. Isso não é estranho? Você fez parte de um Glee Club. – Puck fala. Hm, certo. Aquele grupo de coral do qual eu me enfiei por algum tempo na adolescência. Nada de mais. Na verdade, nem me envergonho disso. Foi graças a ele, aliás, que Rachel conseguiu uma ótima recomendação para a NYADA.

– Certo. E daí?

– E daí que você não estava sozinha lá.

Puxa vida. É. Ele é mesmo ótimo nisso. Talvez eu o tenha subestimado este tempo todo. Puck realmente é digno dos prêmios que já recebeu.

Ele continua num tom de quem acabou de, literalmente, desvendar um caso de nível Sherlock Holmes:

– Rachel estava lá. E o noivo dela.

– É. – confirmo, dando de ombros. Não estou tão apreensiva assim. O Glee Club não é nada de mais. Nunca foi.

– E, nesse blog, o maior assunto era sobre certo “triângulo amoroso”. Não qualquer triângulo amoroso. Mas o seu triângulo amoroso.

Isso, sim, me deixa louca da vida. Mas não demonstro.

– Meu triângulo amoroso – repito, rindo de modo sarcástico. É uma auto-defesa, é claro. – E o que esse blog tinha a dizer sobre isso?

– Há evidências concretas, Fabray – Puck fala com convicção, como o melhor jogador de xadrez num campeonato decisivo em prontidão para fazer seu xeque-mate – Não é manipulação. Você pode conferir, já que sabe muito sobre fotografia. Deve ter olho clínico para essas coisas.

Não respondo. Sei de que está falando. Eu e Rachel gostávamos de fotos. Mas, PELO AMOR DE DEUS, quem é que não gosta de registrar seus momentos? Além do mais, para a maioria apenas parecia que éramos amigas – grandes amigas. Ninguém poderia dizer que havia “algo a mais”, porque todo mundo conhecia a nossa amizade.

– Fabray, você não me engana. Aliás, nenhuma das duas. Aquele dia no restaurante, por exemplo. – Puck recomeça. Solto um suspiro audível, irritada. Lá vai ele – Você ficou toda agitada e louca. Eu vi bem o que aconteceu. E, se quer saber, nem precisa me responder quanto àquela minha questão, pois está mais do que claro. Rolou muito mais do que beijos, certo?

Posso sentir meu rosto ficar quente. É totalmente involuntário.

– Certo – digo entre dentes. – Você está certo. – confirmo. Não sei por que estou fazendo isso. Não é porque eu confie nele. Talvez seja porque não suporto mais esse joguinho. Não gosto de ser pressionada desse jeito. Foi exatamente por isso que perdi Rachel para Finn. E, realmente, Santana está certa: está na hora de correr alguns riscos. – Nós tivemos... Uma coisa. Um relacionamento passageiro além da amizade. Éramos melhores amigas e esse sentimento evoluiu de ambas as partes. Satisfeito? – rosno com muita, muita raiva.

Puck se encontra exultante à minha frente.

– Não foi difícil, uh? – ele sorri para mim.

Odeio esse cara, de verdade.

– Então? O que vai fazer com isso? Vai jogar essa informação para a imprensa marrom? – eu pergunto. – Você pode destruir o que ela conquistou, Puck. Por favor, pense nisso.

Puck faz uma careta.

– Não pretendo fazer nada. – ele nega – Pelo jeito, você se importa muito com Rachel. E você sabe o que dizem sobre deixar as pessoas livres. Você é livre. Então... Por que está agindo como se fosse um passarinho engaiolado?

Certo. Aquele negócio de correr riscos.

Espere, Puck está me dizendo para correr atrás de Rachel? Não, isso não é possível.

– Hm, o quê? – franzo a testa, confusa.

– Tenha jeito, Fabray. A vida é sobre ir atrás do que queremos. Eu já consegui o que queria. E você?


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Notas finais do capítulo

Então? O que dizer do relacionamento Finchel, que está indo ladeira abaixo? E, sério, como não amar o Jesse nessa história? E o Puck? O que vocês tão achando dele?
Reviews sobre suas opiniões, por favor! :)