Parte XXX – Eu não sei como isso pode ficar melhor

                     Você pega a minha mão e me joga de cabeça

                     Destemida

                     (Fearless, Taylor Swift).

A luz da manhã enche o quarto com suavidade. Levo dois ou três segundos para perceber que esse não é o quarto de hotel. Ele também é branco, mas a cama de casal é preenchida os dois corpos. Obviamente não trouxe ninguém para o hotel.

Rachel mantém a mão perto do meu quadril e a ouço respirar perto da minha orelha. Com cuidado, desfaço o contato e me viro para ela.

É esquisito o quanto o seu semblante me causa amor no mesmo instante.

Essa é uma daquelas manhãs que eu imaginava ter ao lado dela.

Já estou acostumada a acordar sozinha, mas nada parece tão perfeito quanto este momento. Quero vê-la dormir por horas, sem piscar. Mas também quero beijá-la e nunca mais parar. Quero abraçá-la e nunca mais me distanciar.

Pouso com delicadeza meus dedos na bochecha dela. Esperei que nossas peles estivessem em contato de novo por muito tempo e não posso esquecer o quanto isso, esse momento, me faz feliz. É uma felicidade morna e terna.

Com dificuldade, vejo-a descerrar as pálpebras. Seus olhos demoram a ter foco, mas quando me vêem, ela sorri.

— Hey. Oi – ela grunhe, ainda sonolenta.

Sorrio também, sentindo a calmaria e a felicidade dentro de mim dançarem como um par de bailarinos.

Vagarosa, Rachel me puxa para ela e beija meu rosto. Muitas vezes. Como se estivesse tentando decorar cada pedacinho. Daí, se arrasta para cima de mim, ainda lânguida. Eu amo como a gente não tem pressa para nada. Mesmo no silêncio, posso ouvir sua mente trabalhar com cansaço.

Sinto seus dedos nos meus e, então, na minha cintura. Nossas pernas estão juntas, e eu desejo que não estejamos de pijama. Rachel descansa a cabeça no meu peito e fica lá, respirando.

Infelizmente, há uma batida na porta. Ela não é aberta, mas sei que é um dos pais de Rachel. Eles sempre tiveram essa mania esquisita de acordá-la.

— Droga – ela resmunga acima de mim – Acho que precisamos levantar.

Eu não movo meus braços, que estão repousados no tronco dela. Eu queria ficar aqui, assim, a manhã inteira.

Rachel levanta a cabeça e me olha.

— Esse é o meu segundo dia preferido do ano – diz – O primeiro foi ontem.

Não consigo não sorrir. Pelo amor de Deus, não são nem meio-dia e essa mulher já está falando coisas.

— Meu dia preferido é o nosso primeiro beijo – revelo, sem muito mistério – Mas, se eu tivesse que eleger um momento, seria este. A gente aqui.

Ela para por um momento e, então, me beija de leve. Seus lábios estão quentes e seu corpo também. Suspiro no meio do beijo.

Rachel se afasta um pouco e pergunta:

— Passa o Ano-Novo comigo?

{...}

Depois do café da manhã, eu e Rachel seguimos para a sala de TV, que fica no porão. Me recordo imediatamente das festas que fizemos aqui junto com o Glee. Deitamos no sofá e ficamos zapeando. Não tem muita coisa para fazer. A cidade, como toda cidade pequena, está em recesso. Gastamos várias horas fazendo nada, só abraçadas e aos beijos. É tudo tão tranquilo que não quero nunca mais sair dessa casa, de perto dela.

Iniciar um novo ano ao lado de Rachel parece um presente dos céus. Esperei muito tempo para que minha vida se encaixasse, que voltasse a fazer a sua rotação. E, agora, mal acredito que estou onde deveria ter estado desde sempre.

Não acredito que perdi tantos anos fugindo de algo que faz parte da minha história.

Acho que fui muito burra, mas tento não pensar nisso. Não posso continuar a me culpar. Já passou e o presente é muito melhor.

Eu não estou mais feliz.

Mas, finalmente, parece que não falta mais nada.

Parte XXXI – Podemos ficar próximas assim para todo o sempre?

                      (Lover, Taylor Swift). 

Eu e Quinn brindamos de novo, sozinhas na varanda da minha casa. O céu não está todo brilhante, mas há alguns fogos aqui e ali.

Leroy aparece e acende o lustre. Está carregando o próprio celular.

— Foto? – ele parece feliz demais, como um fotógrafo profissional que está em frente da paisagem mais linda do mundo.

Quinn me olha e não sei dizer se está contente ou simplesmente assustada. Todavia, diz:

— Com certeza.

Nos posicionamos no banco de madeira clássico, com nossas taças cheias de espumante. Ela busca a minha mão, e eu me surpreendo. Isso me faz ainda mais feliz, imediatamente.

Sorrimos e ficamos paradas.

Depois de instantes, Leroy nos mostra as 72 fotos iguais, sorrindo.

Ele diz que vai tirar selfies com Hiram, que imediatamente grita um “NEM COMECE!”, e nos deixa mais uma vez sozinhas.

A cidade está vazia e eu quase sinto como se estivesse totalmente sozinha com Quinn.

Ela se aconchega mais perto de mim e planta um beijo na minha bochecha.

— Você fez meu Ano-Novo mais bonito – Quinn diz, perto da minha orelha.

Não sei o que responder, então a beijo. Parece bom iniciar 2020 beijando a mulher que mais amo na vida.

— Obrigada por voltar – eu digo.

— Eu voltaria mil vezes.