Witch Hunters — Interativa escrita por Noah


Capítulo 3
Parte I — Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olááááá! Como vão, hm?
Quero avisar que minha tecla E está com defeito, então, se tiver faltando algum, me avisem, por favor.
Agora, sobre minha narrativa: eu tento modificar um pouco da narrativa de acordo com o personagem e o que está acontecendo. Não posso fazer uma narrativa fúnebre em uma festa.
Espero que entendam isso.
Até as notas finais! ;)



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Porquinhos

.

Dominique não caiu na Terra como esperava. Na verdade, estava em uma espécie de buraco; um poço seco, talvez.

Também sentia suas asas e sua magia ainda fluindo em seu corpo. Não era uma Fada caída no final das contas. Tinha apenas descido por ordem de Fada Maior e, quando terminasse de encontrar aqueles adolescentes bastardo, poderia voltar para Feenmärchen e continuar a fazer o que sempre fazia.

Olhou para cima espremendo os olhos e finalmente percebeu.

Tinha algo errado. Alguma coisa não batia. Parecia que ela havia dormido por horas e Fada Maior disse que ela iria simplesmente cair onde os bastardos estavam, não ali.

Isso só poderia acontecer se... só poderia acontecer...

— Eles estão aqui — Dominique sussurrou; a pele se arrepiando e o pânico tomando o lugar da confusão — Estão aqui.

xxx

Samuel pretendia passar o dia todo enrolado em um cobertor jogando Minecraft* e comendo todos os doces que conseguisse ingerir — ainda que tivesse feito isso a semana inteira e suas olheiras só pareciam aumentar, seguindo o ritmo da dor na sua barriga.

Estava na sua última semana de férias e aproveitaria cada segundo acordado, seguindo o seu plano: dormir o máximo que conseguir na primeira metade das férias e jogar e sair o tempo inteiro na segundo metade, sem descansar.

Naquele dia ele iria jogar até que seus dedos ficassem dormentes. Bem, pelo menos era sua intenção.

— Samuca — Sophie, sua irmã, o chamou de forma manhosa — Faz uma coisinha pra mim?

— Não — respondeu, colocando jujubas na boca.

— Ah, vamos lá. Eu ajudei você a ficar com aquela garota, lembra?

Sophie se ajoelhou para olhar nos olhos do irmão. Samuel simplesmente achou que aquele drama todo não combinava com ela.

— Se eu soubesse que ia usar isso para me fazer de escravo nem teria pedido ajuda.

Ela revirou os olhos, fazendo um gesto de descaso com a mão.

— Preciso que compre um teste de gravidez pra mim.

Qualquer um que não fosse Samuel naquele momento iria brigar, se irritar ou ficar incrédulo — mas era Samuel e ele já estava acostumado com coisas daquele tipo.

— Por que você e o Will simplesmente não começam a usar camisinha? Você mesma me disse que sempre se deve usar camisinha.

— Faço o que eu digo, mas não faça o que eu faço — disse, simplória, querendo se livrar do assunto — Você vai lá ou não?

— Vai você — Samuel resmungou, tentando começar a jogar.

— Não posso. A Ingrid trabalha na farmácia e ela espalharia para toda a escola. Você sabe como ela é.

Samuel resmungou, xingou e chutou seus cobertores. Sophie lhe entregou o dinheiro, sorrindo e dando tchau enquanto ele se afastava.

— Grande droga. Se começar a chover eu vou matar a Sophie. Filha da mãe idiota — começou a murmurar para si mesmo, desejando saber se teletransportar.

Poucos minutos depois Samuel estava na farmácia. Para ele foi uma distância insuportavelmente grande.

Logo que entrou pode ver Ingrid atrás do balcão, porém ela parecia diferente. Provavelmente por não ter lançado para ele um de seus olhares superiores ou não estar mascando seus chicletes de forma barulhenta.

Ela apenas olhava para frente... para frente... para frente...

— O que é... — a voz de Samuel morreu dentro da garganta. Suas pupilas se dilataram e os pelos se eriçaram. Seu coração bateu tão forte que ele juraria que sentiu-o acertando suas costelas.

Ingrid, ali, na sua frente, tinha acabado de se transformar em um gigantesco e assustador lobo.

xxx

Jhon estava especialmente distraído naquele dia. Não sabia muito bem o porquê, mas até mesmo formigas atraíam sua atenção de seu objetivo principal: ir ao hospital se vacinar contra alguma doença não importante o suficiente para ele.

Ele já havia parado até para observar um cachorro urinar em um poste. O que poderia fazer? Odiava hospitais e agulhas; os dois juntos eram um pesadelo.

A tal doença que precisava de vacina apenas porque o inverno estava chegando não o mataria, então... Então Jhon decidiu que não a tomaria; apenas compraria vários remédios para dor de cabeça e dor no corpo.

Sorriu involuntariamente e girou os calcanhares, indo agora em direção a farmácia, que não estava muito longe.

E, por estar particularmente distraído naquele dia, Jhon entrou na farmácia observando uma borboleta do lado de fora, sem notar o adolescente loiro paralisado de medo como uma estátua e o lobo faminto que parecia ser tão inteligente quanto um humano.

Ou, pelo menos, tão perigoso quanto um.

xxx

O lobo se virou para Jhon, rosnando e babando, deixando à mostra fileiras de dentes afiados. O moreno soltou um grito involuntário de susto quando finalmente percebeu o que estava acontecendo. De costas para ele, Samuel ainda se matinha paralisado de medo — os olhos vidrados naquela coisa gigante que exalava o cheiro metálico de sangue e o odor nauseante da putrefação.

Cheiro de morte.

Jhon levou a mão à maçaneta da porta. Poderia sair dali sem nenhum arranhão. Chamar a polícia ou o FBI ou mafiosos italianos e, ah, Deus, ele não poderia deixar aquele moleque ali sozinho!

Maldita falta de senso de autopreservação.

Se afastou ligeiramente da porta, mantendo contato visual com a coisa. Para Jhon parecia mais um lobisomem do que um lobo.

— Você não deveria esperar a Lua cheia ou sair a procura de uma garota sem graça apaixonada por um vampiro brilhante? — soltou. Maldita mania de tentar fazer piadas nas horas erradas.

De qualquer maneira, toda a vontade de Jhon de ficar ali praticamente sumiu quando o lobo pareceu sorrir para ele.

— Soube que essa cidade era cheia de bastardos, mas não pensei que fossem tantos. Dois no mesmo lugar? Espero que sejam tão saborosos quanto Fadas.

O loirinho, antes paralisado, gritou. Jhon deu um pulo para trás e até mesmo o lobo pareceu se assustar. O terror naquele grito era palpável e faria qualquer um sentir pena do adolescente — isso se não estivessem incrédulos demais com o que aconteceu depois do grito.

A farmácia se encheu de loirinhos. Dezenas deles. Possivelmente uma centena. Mal havia espaço para respirar. Todos eles foram em direção a porta, correndo. O lobo tentava achar o loiro real em meio aos clones, lançando os falsos no ar em meio a grunhidos e rosnados.

Jhon prendeu a respiração em meio àquela avalanche de loiros. Estava pronto para ser derrubado e pisoteado quando um deles lhe agarrou o pulso e o puxou junto para fora; todos eclodindo da loja como formigas saindo de seu formigueiro pisoteado.

E, para Jhon nem foi tão estranho ver aquele adolescente se multiplicar; o estranho foi o fato de ninguém na rua notar tudo aquilo — o lobo, as dezenas e dezenas de adolescentes completamente iguais. Nada foi visto por eles além de dois garotos correndo de uma adolescente com o cabelo pintado de vermelho.

— Ai, Deus — Samuel praticamente gritou, tentando olhar por entre seus clones. Jhon percebeu que quem o estava segurando era uma cópia, não o garoto — AI, DEUS!

Jhon se virou para trás, vendo o lobo jogar todos aqueles clones para o alto como se fossem bonecos de palha. Percebeu que tinha de fazer algo para não ser devorado ou algo pior.

Procurou por objetos com o olhar. Se concentrou o máximo que pode. Ouviu todas aquelas vozes inundarem sua cabeça. Visualizou o alvo então disse, baixinho:

— Ataquem ele.

xxx

Lua Lindyn estava tendo um dia, definitivamente, normal.

Confortavelmente sentada em sua poltrona de costas para janela, trajando apenas uma blusa do Batman e uma calcinha, lia um livro de romance enquanto seu disco de vinil preferido tocava em sua vitrola.

Começaria a trabalhar no dia seguinte como caixa em uma confeitaria (mesmo não gostando de doce algum) e queria estar relaxada para poder atender dos clientes mais educados aos mais ignorantes — e nada a relaxaria mais do que apreciar um bom disco de vinil e ler um livro de boa qualidade.

E, na última parte do livro; no final trágico e belo, cheio de metáforas escondidas, ela viu. Pela janela levemente levantada do seu apartamento, diferente de todas as pessoas alheias na rua, ela viu tudo aquilo.

Havia dezenas de meninos loiros, todos parecendo exatamente iguais — somente um tinha os cabelos castanhos e encaracolados, porém era praticamente engolido pelo enxame de loiros. E o mais assustador nem mesmo era isso.

O assustador ali era o lobo gigantesco.

Parecia furioso. Andava como os homens. Baba escoria por entre seus dentes afiados e pingava na pelagem acinzentada. Rosnados eram emitidos sem pausa; adolescentes loiros jogados para cima m busca de alguma coisa. Ou alguém.

Lua também viu lixo — e seria normal se ele não se mexesse.

Parecendo andar, as embalagens jogadas na rua se moviam em direção ao lobo, subindo-lhe pelas patas, como se tentassem impedi-lo de andar.

Aquilo era surreal. Não podia ser verdade. Não, não, não, não.

Ela desviou o olhar para o garoto moreno e congelou. Ele falava algo para um loiro enquanto corria e apontava para ela. Diretamente, sem chances de ser para outra pessoa qualquer. Era para ela e somente para ela.

Lua fechou as cortinas rapidamente. Se afastou da janela, de boca aberta, pensando no que fazer.

Mordiscou a ponta do dedão, ainda parada a alguns passos da janela.

— Droga — sussurrou para si mesma, voltando a abrir as cortinas.

Mas... não havia nada lá.

Não?

Lua gritou quando a porta do seu apartamento abriu violentamente revelando as dezenas de loiros que estavam na rua antes.

— V-vocês... vocês... — tentou dizer, ainda tremendo pelo susto.

O moreno entrou junto de apenas um loiro — um adolescente com olhos verdes e arregalados de pânico. Lua percebeu que o loirinho tremia e mal se mantinha de pé.

— Vocês — o moreno pareceu dizer aquilo para os móveis — Bloqueiem a porta. Todos.

— O que voc... — Lua tentou novamente, porém parou de boca aberta.

Seus móveis — de panelas a armários — começaram a se mover em direção a porta. Sozinhos. Como se tivessem vida própria.

Ela olhou para seus discos de vinil começando a se mover.

— Não!

Lua correu até eles e tentou os segurar. De nada adiantou, pois a força de cada um deles era como de a força de um homem. Ela se levantou, corada de raiva, e olhou para aqueles dois intrusos em seu apartamento.

— Vocês — grunhiu — Caiam fora daqui!

O loiro arregalou ainda mais os olhos e o moreno pareceu surpreso.

— Eu sei que você viu — ele disse; a voz estranha, cheia de emoções diferentes e conflitantes — E foi a única além de nós. Você viu aquilo e tem que ajudar a gente.

Ouviu-se o barulho de coisas quebrando. Rosnados arrepiaram os pelos deles. Cheiro de morte invadiu as narinas.

— Ah, ah — ouviram. Os pelos se mantinham de pé — Gosto dessa história. A original, que aconteceu. Vocês sabem; os três porquinhos — o lobo parecia se divertir. Parecia muito mais perigoso agora, porque parecia ainda mais humano — Sabem da história original? Sabem o que o Lobo Mau fez com os porquinhos?

“Ele os devorou.”

xxx

Balthazar distribuía falsos sorrisos, ouvia conversas falsas e mantinha falsas amizades.

Usava uma blusa social vermelha de botões negros assim como seu terno e sua gravata borboleta. Não tinha nenhum colar no pescoço naquela noite e muito menos a indiferença habitual no jeito de falar.

Naquela noite Balthazar estava perfeito, exatamente como devia. Os pais se orgulhavam dele; as mulheres o desejavam; e os outros herdeiros queriam estar em seu lugar. Os homens de negócios ali sabiam que participavam de uma espécie de jogo. Leões devorando leões, os mais fortes massacrando os mais fracos.

E, sem sombra de dúvida, naquela noite em que os pais apresentavam seus futuros herdeiros, a parte mais forte era a parte da família Ophirides.

Balthazar viu sua mãe se aproximar junto de Liliana, sua futura noiva. Pelo menos é o que se esperava. Podiam estar longe da época medieval, mas casamentos “arranjados” envolvidos nos negócios não eram tão raros assim.

Unir os filhos para unir as empresas e ganhar lucro. Quem se importar com o amor quando a carteira está transbordando?

— Balt, querido — sua mãe, Ekaterina, chamou-o — Liliana está querendo tomar ar fresco. Por que não leva-a para dar uma volta no jardim?

Balthazar abriu um sorriso e ofereceu o braço a Liliana.

— Claro. Por que não?

Balthazar até gostava de Liliana. Não do jeito romântico, mas ela era atraente e agradável. Não se importaria em passar um tempo com ela.

— Está a passar mal? — perguntou, guiando-a para fora do salão de baile.

As bochechas de Liliana ganharam tons de rosa.

— A-ah... Bem, não. Sua mãe me disse para fazer isso.

— Tudo bem. Minha mãe é assim mesmo.

O dia estava chuvoso e o vento agitou o vestido de Liliana.

— Sabe — ela disse, segurando-o para que não revelasse nada constrangedor — Ainda não sei porque nós, mulheres, só podemos participar das festas que acontecem de dia.

— Porque, a noite, vocês seriam gazelas em uma toca de leões.

Liliana olhou para Balthazar de sobrancelhas erguidas, buscando uma explicação. Ele sorriu como se dissesse-a para esquecer aquilo.

— Sabia que aqui tem um labirinto? — Balthazar colocou as mãos nos bolsos e tombou a cabeça para o lado — Quer brincar?

— Brin... car?

— Sim, sim. Você se esconde e eu... Eu tento achá-la.

— Eu não sei se... — Liliana começou, mas Balthazar já estava contando.

— Três... Quatro... — o sorriso de Balthazar não parecia mais tão gentil. Era quase como um caçador olhando para sua caça.

O predador e a presa.

O leão e a gazela.

Liliana sorriu travessa e levantou o vestido, indo em direção ao labirinto verde no jardim.

Balthazar esperou alguns instantes e então andou calmamente para o labirinto. Ele podia achar Liliana na hora que bem entendesse, porém queria um tempo para caminhar e esquecer que era o único herdeiro de Dimitri Ophirides — mesmo que não tivesse o seu sangue.

Entrou no labirinto, ainda com as mãos nos bolsos da calça. Como o dia estava nublado, não poderia ver o pôr do sol. Bem, ele poderia interferir, se quisesse...

Balthazar levou um pequeno susto ao tirar seus olhos do céu e olhar para frente. Havia algo ali. Algo não humano, porém, de certa forma, parecido.

As costas, encurvadas. Os olhos, saltados para fora, pulando das órbitas. A pele, quase toda coberta de pelos.

Assustadoramente, Balthazar não sentiu medo.

E, surpreendentemente, aquilo não atacou-o como os seus haviam feito com a cara da estrada que lançava fogo pelas mãos. Aquilo apenas continuou olhando para frente e então, sumiu.

Como se Balthazar não estivesse ali.

Ou como se ele fosse um dos seus.


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Notas finais do capítulo

Sei que não foram todos os personagens que apareceram (desculpe-me se o seu foi um dos que ainda não aparecerão), mas não ia dar para colocar todos aqui. Desenvolvi tipo um "sistema", que é mais ou menos uma contagem de quantas vezes o personagem apareceu diretamente - ou seja, se o seu ainda não apareceu, é bem possível que ele apareça no próximo.
Me avisem de erros (uh, esse foi revisado, mas sempre deixo passar coisas por preguiça xD) e digam o que acharam, sim?
Atéé os reviews!
*Minecraft: Minecraft é um jogo eletrônico tipo sandbox e independente de mundo aberto que permite a construção usando blocos dos quais o mundo é feito.
xxx