Witch Hunters — Interativa escrita por Noah


Capítulo 2
Parte I — Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oláááá! Como vão, hm?
Sobre o tamanho dos meus capítulos: não gosto de ler capítulos muito grandes; consequentemente, não gosto de escrevê-los. Meus capítulos vão variar entre mil e três mil palavras; nunca menos de mil, quase nunca mais de três mil.
Posso me esforçar para escrever capítulos com mais de três mil se vocês quiserem mesmo.
Capítulo do tipo que costumo chamar de "pontapé", que serve exatamente para o pontapé inicial.
Enjoy!



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Cace-os

.

Ela já devia saber que não haveria paz naqueles dias.

Talvez em nenhum outro também.

Seus cabelos mudavam de cinzas para escarlate, refletindo seu humor. Tristeza, arrependimento, melancolia. Horror, cólera, raiva, ódio. Sede de morte, de sangue, de bruxas queimando.

Caminhou em círculos pela sala, passando os dedos pelos cabelos despenteados, puxando-os, atormentada — até que ouviu uma exclamação de prazer e seus cabelos se tornaram vermelhos como se tivessem sido banhados em sangue.

— Como é bom ver você assim, Beruria — a voz derramava contentamento e ironia. Beruria sentiu-se inflar de ódio.

Virou-se para o espelho ao seu lado, apertando os olhos.

— O que faz aqui?

No espelho estava a imagem de quem Beruria menos queria ver: ela mesma.

Olheiras arroxeadas em volta dos olhos denunciavam as noites mal dormidas; a pele pálida demais para alguém vivo e os cabelos em uma mistura de cinza e vermelho a faziam parecer um fantasma.

Claro que nada disso importava. Isso, não.

O que lhe preocupava era aquela coisa em seu olhar. Aquilo a paralisava, porque estava bem claro o que era e ela tinha medo de que aquilo se espalhasse por todo o seu corpo como malditas células cancerígenas.

— Oh, tu não sabes? — seu reflexo abriu um sorriso sarcástico como se tivesse vontade própria. E tinha. — A grande e poderosa Beruria não sabe?

— Fale logo — rosnou de volta.

O sorriso do seu reflexo — que de seu só tinha a aparência — se alargou.

— Olhe pela janela.

Os lábios de Beruria tremeram. Ela deixou o espelho para trás, flutuando, pois as pernas tremiam demais para que andasse. Seu peito subia e descia descompassadamente. Tinha uma sensação ruim, como uma mãe preste a perder um filho.

Um arrepio fúnebre passou-lhe pelo corpo quando enfim olhou pela janela. Seus olhos se arregalaram e, em mais uma situação de tantas outras, ela desejou que não houvesse o livre arbítrio — porque a Árvore da Vida balançava com um vento que carregaria pessoas.

Balançava seus galhos mais finos que ameaçavam quebrar; balançava as folhas que se soltavam e saíam livres; e balançava os seus corpos — dezenas deles —, pendurados por cordas amarradas com nós firmes nos pescoços.

E, naquele momento, até os homens mais ignorantes veriam que a grande Fada estava enlouquecendo.

xxx

Dominique bateu levemente na porta com os nós dos dedos. Suas asas estavam guardadas em sinal de respeito e o nervosismo era aparente em suas ações — e com toda razão, afinal, ali dentro estava Fada Maior; a Fada das Fadas, rainha das rainhas.

Dominique quis sair correndo quando a porta se abriu, revelando a sua senhora sentada em um divã vermelho.

Obviamente o lugar era perfeito — desde as paredes aos móveis, tudo feito por Fada Maior —, mas nada conseguia roubar o esplendor daquela que Dominique servia. Seus longos cabelos loiros estavam perfeitos, mas, ao mesmo tempo, pareciam incrivelmente naturais. Usava um vestido branco que fazia-a parecer uma noiva e suas asas eram orgulhosamente exibidas.

Dominique se sentiu honrada e apavorada ao mesmo tempo.

— Entre, Dominique.

A garota entrou rapidamente com um sentimento estranho borbulhando na boca do estomago. Se ela negar o que a Fada Maior lhe pedir o que acontecerá consigo?

— Tem ideia do por que lhe chamei aqui, certo?

— Sim, Majestade — Dominique confirmou com a cabeça, ainda em pé. Não ousaria se sentar.

Fada Maior se levantou, flutuando serenamente a centímetros do chão.

— Então creio que podemos começar, não é mesmo? Preparei-lhe um mapa especial, com todos os bastardos que podem nos servir marcados. Você cairá exatamente onde eles estão, não te preocupe. Além disso...

— V-vossa Majestade — Dominique interrompeu, engasgando-se na própria saliva. Os olhos de Fada Maior lhe fitaram, ainda mais frios que gelo — Não posso fazer isso. Tirá-los de suas vidas e...

— Dominique, isto não é um pedido — ela fez uma pausa e Dominique sentiu como se sua alma estivesse sendo devorada — É uma ordem — e, pausadamente, concluiu: — Trago-os para mim.

xxx

Theodore acelerou ainda mais o carro.

Sua irmã bateu com as mãos no painel, mordendo o lábio inferior em uma espécie de sorriso. As janelas estavam abertas, agitando os cabelos dos dois — borrões vermelhos em meio àquela estrada cinza vazia e aquele dia sem graça — enquanto entonavam Back In Black a plenos pulmões.

Adoravam a sensação de liberdade que a velocidade os proporcionava. Ali, eles não eram os Barcklan.

Theodore era simplesmente Theodore e Melissa era apenas Melissa.

De qualquer forma, isso ia mudar também.

— Merda! — Theodore gritou por cima da música.

Melissa se virou para ele, confusa.

— O quê? — ela colocou a cabeça para fora da janela, porém o vento a impediu de ver algo.

— Ali — apontou para a fumaça negra que subia para o céu e mesclava-se nas nuvens. Ela vinha de um ponto à frente deles.

— Acha que é um acidente? — perguntou Melissa, tirando o cabelo do rosto.

— Espero que não. Não estou com a mínima vontade de ajudar alguém — Theodore resmungou, diminuindo a velocidade.

— Pare de ser egoísta — Melissa beliscou-o no braço e depois desligou o rádio — E se eles estiverem precisando de ajuda?

— E você vai fazer o quê? Jogá-los dentro do meu retrovisor? — Theodore implicou, recebendo tapas da irmã — Parei, parei, parei. Ai! Já disse que parei.

Eles avançaram pela avenida, mas a sensação era de estarem na boca do inferno.

Havia algo errado ali. Muito errado.

Fumaça começou a entrar dentro do carro. Os fez tossir, xingar e fechar as janelas. Claro que não perceberam algo diferente nela, porque para eles era só fumaça vinda de algum carro tombado na estrada.

Não sentiram o leve cheiro de pelos queimando ou viram aquelas coisas estranhas correndo em meio a fumaça, grunhindo e sibilando. Não viram aquele cara de porte atlético e olhos azuis apavorados, sem saber o que fazer. E não viram ele lançando fogo pelas mãos naquelas coisas vindas do inferno.

Se eles tivessem avistado tudo aquilo e dado meia-volta, as coisas com certeza seriam mais fáceis.

xxx

Estava nublado e frio. O Sol não ousou sair para fora das nuvens cinzentas nem sequer uma vez naquele dia. Às vezes raios cortavam o céu, seguidos de trovoadas que faziam as crianças se encolherem dentro dos casacos.

Para Alyss era simplesmente um ótimo dia para se fazer um chá.

Na sua pequena mesa redonda parecida com uma de algum bistrô de Paris, repousava um pequeno jogo de chá de porcelana branca. Havia bolinhos e doces em pratinhos e fumaça branca subia do bule, junto com um delicioso aroma doce.

Qualquer um que a visse ali, servindo o chá com a perfeição de uma barista*, de luvas e vestido Lolita, acharia tudo estranho demais para uma cena real. Talvez de algum ensaio fotográfico ou série de televisão.

Claro que aquilo não era problema para Alyss, já que era uma boa hora para se tomar chá.

Ela olhou furtivamente para seu pai, que analisava o céu pela janela. Morfeu não estava ali agora e, quem sabe, por algum motivo milagroso, seu pai não aceitasse tomar chá consigo? O cheiro estava delicioso e...

— Não vou tomar chá.

Alyss fechou a boca, percebendo que tinha falado em voz alta.

Ah, sim. Então tudo bem. Ela poderia guardar suas coisas e ir procurar Morfeu. Já fazia um bom tempo que não via-o. Quinze ou vinte minutos, achava. E se ele estivesse com aquela sua outra amiga? Aquela que ele disse que achava bonitinha?

Alyss rangeu os dentes; as bochechas avermelhadas pela raiva súbita. Tirou o seu chapéu da cabeça com cuidado, mesmo estando com raiva — afinal, foi Morfeu quem lhe deu.

Morfeu, Morfeu, Morfeu, Morfeu... — cantarolou, colocando os bolinhos em seu chapéu.

— Pare de falar o nome desse garoto — o pai ordenou, olhando para a garota de cabelos verdes por cima do ombro — Os ouvidos dele devem estar até sangrando.

Alyss o olhou por poucos segundos até abaixar os olhos e se concentrar em colocar seu jogo de chá no chapéu negro com um trio de rosas e fitas de cetim. E, na sua mente, continuou cantarolando o nome de seu amado.

Quando finalmente tudo estava guardado no seu devido lugar — ou no seu devido chapéu —, Alyss finalmente percebeu algo diferente no seu pai.

Ainda olhando para o céu, as sobrancelhas estavam levemente franzidas e ele mantinha uma expressão pensativa. Para um homem sem expressões, aquilo era muito, muito estranho; como se o mesmo estivesse fazendo uma careta.

— Pai? — chamou-o, baixinho.

Reino não fez questão de responder; apenas continuou olhando para o céu.

Alyss olhou também, porém nada viu além de um céu de tempestade. Deu de ombros e sorriu largo ao pensar em Morfeu e ela tomando chá.

Virou-se para sair quando seu pai lhe agarrou o braço.

— Vá para o quarto.

A garota ficou realmente surpresa. Seu pai estava realmente fazendo aquilo?

— O quê?

— Não se finja de surda; vá para o seu quarto!

— M-mas... pai...

Reino começou a puxar Alyss para seu quarto. Ela não reagia porque não sabia o motivo daquilo. Estava confusa. Perplexa. Queria ver Morfeu, queria saber o porquê daquela reação. Saber se aquele era mesmo o seu pai frio, distante e que não se importava com o que e com quem ela estava andando.

Quando Reino a jogou dentro do quarto com a marca de seus dedos no braço dela, fechou as janelas e trancou as portas — porque, mesmo ele tendo caído, ainda tinha uma ligação com todas as Fadas e sentia quando uma caía.

Não se importava mais com isso, já que caiam tantas que ele nem mesmo podia contar; e não mais por amor, como a tempos antes. Caiam por ganancia, ódio, luxúria. Caiam como ele, inundados de inveja dos humanos e de sua total liberdade e alienação ao perigo constante.

Então, o motivo da Fada que estava na Terra naquele dia, o deixando tempestuoso e cinzento, que o fez trancar Alyss em casa. Porque a Fada tinha descido, não caído. Ainda tinha suas asas e poderia voltar para Feenmärchen. Estava ali para uma missão e, de alguma maneira, Reino sentia o qual era.

A Fada estava ali e iria atrás dele.

Ou melhor: iria atrás de Alyss.


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Notas finais do capítulo

Apresentei aqui quem vai 'guiá-los' nessa jornada, que é Dominique. Também mostrei alguns dos personagens que recebi; se seu personagem ainda não apareceu, ele aparece logo garanto!
Para os 'criadores' dos que apareceram, se não gostaram do modo que eu descrevi-os (mesmo que tenha sido uma breve apresentação e eu não tenha me aprofundado em suas personalidades), podem falar que "ele é assim, assim e assim" e eu vou tentar fazer assim, assim e assim, até acertar.
Digam-me de erros e o que acharam do capítulo.
Atéé!
*barista: Barista é o profissional especializado em cafés de alta qualidade (cafés especiais).