Sozinha Jamais escrita por Ahava


Capítulo 1
Capítulo 1 - Não mais só


Notas iniciais do capítulo

Mais uma one aqui. Espero de coração que gostem. Uma história sobre violência e amor.



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Sozinha Jamais

By Merabe

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Sentada na mesa da sala, Sakura rabiscava o seu caderno, terminando as atividades de Biologia e aproveitando para estudar mais um pouco, antes do pai chegar. Adorava Biologia e Química, pois tinha o grande sonho de ser médica. Era muito inteligente e dedicada aos estudos, e estava a um passo de conseguir entrar na faculdade. Esse ano, terminaria o colegial e tentaria Medicina. Seu namorado Sasuke a ajudaria.

Distraída, não percebeu que Kizashi acabara de chegar em casa. Só notou sua chegada quando sua voz alta e autoritária perguntou pelo jantar.

- Está quase pronto, pai. – Sakura respondeu.

- Quase pronto? – Kizashi exclamou, jogando sua pasta de qualquer jeito em cima do sofá. – Eu trabalho o dia inteiro para colocar comida na porcaria dessa casa e te dar um teto, e quando chego você ainda não terminou uma merda de jantar?

- Só falta o molho de carne! – ela não gostava de responder o seu pai, mas às vezes não conseguia evitar retrucar só um pouquinho.

- Então, você quer dar uma de esperta comigo, né garota? Quando eu passar a mão em sua cara você vai ser esperta.

Sakura já estava acostumada com as ameaças do pai, que algumas vezes realmente se cumpriam. Enquanto terminava o jantar e arrumava a mesa, pensava no problema que era morar com Kizashi. Eles eram uma família feliz, com sua linda e carinhosa mãe, Mebuki Haruno. Mas um dia Mebuki foi embora com outro homem, deixando Sakura para trás, com apenas doze anos. Cinco anos depois, ela ainda não entendia porque Mebuki não a levara.

Depois disso, sua vida tornou-se um inferno. Teve que aprender a cuidar de uma casa, lavar, passar e cozinhar, além de suportar o seu pai. Após a fuga de Mebuki, Kizashi tornou-se um alcóolatra, e toda vez que chegava em casa bêbado, quebrava tudo.

Sakura terminou o jantar e chamou o seu pai. Kizashi arrastou a cadeira e colocou a comida em seu prato. Esse era um dos raríssimos momentos em que ele ficava calado, sem atacar Sakura. A moça serviu-se e sentou-se para comer. Sua breve paz foi interrompida pelo rosnado irritado do seu pai.

- Será possível que você não sabe fazer uma comida que preste? Toda vez que como esta comida tem gosto de lixo!

Irritado, Kizashi colocou a comida no lixo e jogou o prato na pia. Atordoada, Sakura terminou o jantar e arrumou a cozinha, com os olhos lacrimejantes. Era sempre assim, todos os dias. Sua vida era um inferno, tendo que suportar um pai violento.

Todo dia era assim. Brigas, palavrões, insultos. Tudo isso direcionado a ela. E às vezes, até violência física, com direito a tapas e pontapés. Sakura chegou a ficar machucada uma vez, tamanha a força do tapa que recebeu de seu pai bêbado.

Ela não o denunciava pois tinha medo de ficar sozinha. Ou melhor, ela já estava sozinha. Não tinha ninguém além de seu namorado Sasuke, mas ele não sabia dos abusos que Sakura sofria. Ela não queria que seu amado namorado soubesse que sua “flor de cerejeira” apanhava do pai e era abusada moralmente.

Por isso, Sakura sofria calada, sozinha. Não tinha amigos, até mesmo na escola era uma garota isolada, vivendo única e exclusivamente para os estudos. Depois que Mebuki foi embora, a jovem isolou-se mais ainda, pois não queria que todos soubessem a humilhação que passava em casa.

Pensativa, Sakura terminou de arrumar a cozinha e fazer os seus deveres. Decidiu limpar a casa, para que no dia seguinte não precisasse limpá-la novamente. Detestava serviços domésticos, mas era necessário fazê-los. Além disso, sua casa era relativamente grande, e dava trabalho para limpar todos os dias.

Quando passava o pano de chão na sala, seu pai começou a sujar tudo de novo com os sapatos sujos, andando para lá e para cá. Sakura tentou ficar calada, mas era praticamente impossível. Esqueceu até que ele havia acabado de beber.

- Poxa pai, mas que merda! Será que não dá para ficar quieto enquanto eu limpo essa casa?

O olhar zombeteiro de Kizashi a deixou ainda mais enfurecida.

- Por acaso acha que estou brincando? Eu estou limpando a droga dessa casa, morrendo aqui, enquanto você fica só bebendo e sendo um vagabundo!

Dessa vez ela realmente se arrependeu. Kizashi avançou para ela com uma torrente de palavrões, dizendo-lhe coisas horríveis.

- Vagabunda é você! Sua filha de uma puta! Herdou o cárater de puta da mãe, uma imprestável! – Kizashi mal mantinha-se em pé, mas sabia muito bem que o que dizia machucava o coração da filha.

Aquelas palavras proferidas liberaram a represa onde Sakura guardara todo rancor. Todo ódio que guardou durante esses cinco anos, todas as palavras que ela quis dizer foram extravasadas:

- Vagabundo alcóolatra! O único imprestável aqui é você pai, que não serviu nem para manter uma esposa direito e foi abandonado! E agora só sabe ficar por aí bebendo como um merda! Eu te odeio! Não sabe fazer nada direito, só sabe atrapalhar! Imprestável é você! Sabe o que você é? Uma merda! Entendeu? Uma merda! Eu o...

O impacto de um soco no seu rosto interrompeu suas palavras. Sakura cambaleou para trás e caiu, segurando a face atingida e com os olhos lacrimejantes pela dor e pelo ódio.

- Sua putinha desgraçada! Quem você pensa que é?

Com grossas lágrimas escorrendo pela face, Sakura levantou-se e, em um ato impensado, cuspiu na cara do pai. Enfurecido, Kizashi a atingiu mais uma vez, dessa vez com um tapa que a fez perder o chão. Caída, Sakura chorava de ódio e mágoa, gritando aos quatro ventos o quanto odiava o pai. Em troca recebeu um pontapé na barriga, que a fez perder o fôlego por alguns instantes.

- Sua cachorra, desgraçada. Uma vagabunda como você merece apanhar até perder o couro do corpo.

Dito isso, Kizashi saiu da casa, fechando a porta com um baque forte. No chão, Sakura estava aos prantos, segurando a barriga com as mãos. Chorava de dor, de raiva, de mágoa. Sentia raiva da mãe que a abandonou com esse monstro. Sentia raiva do pai, que tornara-se um demônio dentro de casa.

Ela estava sozinha.

E então, decidiu tomar uma atitude. Arrastando-se, levantou e pegou o celular que estava em cima da mesinha da sala e digitou uma mensagem.

oOo

Sasuke estava na cozinha de sua casa, ajudando sua mãe Mikoto no preparo do jantar. Seu pai, Fugaku, estava no trabalho, ele era o delegado da cidade. Sasuke desejava seguir os passos do pai e ser um homem de autoridade e respeito. Além disso, sonhava em casar-se com Sakura, sua futura médica. Imaginava o casal perfeito: o delegado e a médica. Uma linda família.

- Sasuke, querido, chame a Sakura para vir jantar aqui conosco hoje!

Mikoto simplesmente amava Sakura. Conhecia-a desde criança, pois era amiga de Mebuki, e sabia o quanto a menina sofreu com o abandono da mãe, apesar de nunca imaginar o quanto ela sofria com o pai. Mikoto amava a garota como a uma filha, e sentia-se imensamente feliz com o relacionamento de Sakura e Sasuke.

Aos 24 anos, Sasuke estava terminando a faculdade de Direito. Como já dito, queria ser um delegado e ser um homem justo. Além disso, planejava um futuro ao lado de Sakura, por quem era perdidamente apaixonado. Ele seria capaz de tudo por sua flor de cerejeira.

Quando abriu a boca para responder a mãe, foi interrompido pela vibração do celular em seu bolso. Abriu a mensagem de Sakura, que dizia:

“Sasuke, estou indo à sua casa. Preciso muito falar com você.”

Sasuke gelou. Quando ela o chamava pelo nome e não pelos apelidos carinhosos, significava que algo não ia bem. Um filme passou pela mente do rapaz. O que ele havia feito de errado?

“Claro amor. Aconteceu alguma coisa?” – respondeu rapidamente. Na mesma rapidez, a resposta chegou.

“Sim. Preciso de sua ajuda em algo.”

Pelo menos ele não havia feito nada. Respirou aliviado.

“Tudo bem.”

Sorrindo, Sasuke disse à Mikoto:

- Sakura não morre mais em 2015, mãe. Ela acabou de me avisar que está vindo para cá.

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Ao ouvir a campainha tocar, Sasuke foi atender a sua namorada. Ao abrir a porta, quase teve um infarto. Paralisado, olhou o rosto da namorada.

- Meu Deus, Sakura! O que aconteceu?

Sakura estava com o olho esquerdo bastante roxo e inchado, e do seu lábio escorria sangue. Além disso, seu rosto estava vermelho e ela chorava muito. Ainda surpreso, Sasuke a trouxe para dentro de casa, segurando em seus ombros e olhando em seus olhos verdes, que choravam.

- Pelo amor de Deus, Sakura! O que houve?

Aos soluços, Sakura respondeu.

- Apenas me abrace, Sasuke, por favor!

Sasuke a abraçou com muita força, ouvindo seus soluços e afagando seus cabelos rosados. Trouxe-a para o sofá e apertou-a contra seu peito, abafando as suas lágrimas. Seu coração estava partido ao ver a mulher que amava naquela situação. Ele estava sentindo os olhos arderem, também querendo verter lágrimas.

Sakura chorou por um longo tempo, sentindo apenas a respiração de Sasuke e o afago em seus cabelos. Ela precisava daquele momento mais do que tudo nesta vida. Sasuke era o seu porto seguro, o único que poderia ajuda-la neste momento de dor e angústia. Ela já não suportava mais sofrer sozinha.

Quando finalmente se acalmou, Sasuke perguntou mais uma vez o que aconteceu.

E Sakura contou.

Tudo.

Desde o momento que sua mãe deixara, até o momento atrás em que apanhara do pai mais uma vez. Revelou todas as palavras amargas e os insultos, os tapas e socos que levara. Contou todo o sofrimento que sentia, toda a dor e a humilhação. Contou o quanto sofria e se sentia sozinha durante esses cinco anos.

Sasuke ouvia a tudo calado, mas sentindo um ódio sem comparação crescendo no seu íntimo. Ele queria matar, fuzilar, enforcar, esfolar Kizashi. Queria que ele sofresse tudo e mais um pouco de ruim que possa existir.

Nunca imaginou que aquela moça de 17 anos com rosto de mulher passara por tudo isso sozinha. E isso aumentava ainda mais o seu ódio.

Aos prantos, Sakura pediu que Sasuke a ajudasse a denunciar o seu pai, para livrar-se logo dessa cruz que carregava.

- Eu o denunciarei ao meu pai, Sakura. – ele prometeu. – Não se preocupe, meu pai é um homem justo e fará o que é certo. Kizashi nunca mais tocará em um só fio de cabelo seu.

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Mikoto desabou em lágrimas ao ouvir os relatos de Sakura. Aos prantos, abraçou a moça que também chorava.

- Minha querida... Não se preocupe, eu estarei aqui com você sempre!

Sakura chorava porque há tempos não sentia o abraço de uma mãe, nem um carinho maternal como sentia agora. Mikoto jurava protegê-la de Kizashi.

Quando Fugaku chegou do trabalho, Sasuke contou-lhe toda a história, não omitindo nenhum fato. O delegado prometeu que iria prender o pai de Sakura por violência.

Naquela noite, Sakura dormiu na casa de Sasuke. Mais precisamente, ao seu lado. Ela estava tão debilitada que nada fizeram, a não ser cuidar um do outro. Com muita ternura, Sasuke cuidou de suas feridas, e ao dormir, abraçou-a delicadamente. Dormiram assim, abraçados.

Uma semana depois, Kizashi foi preso, e Sakura foi morar na casa de Fugaku. No dia da sua prisão, Sakura fez 18 anos, e segundo Sasuke, esse era seu presente de aniversário: a liberdade.

Agora maior de idade, morava com a família do homem que amava. Uma família que a acolheu tão bem quando ela mais precisou, e por isso, ela lhes seria eternamente grata.

Porém, a sua maior gratidão era Sasuke, pois foi ele que lhe deu forças para denunciar o pai e conseguir sua verdadeira liberdade. Agora, morando com o homem que amava, nada poderia machuca-la.

Foi o que Sasuke havia lhe prometido, e ele daria sua vida para cumprir essa promessa.

Deitada ao lado de seu namorado e futuro marido, com a cabeça repousando em seu peito e recebendo um carinho, Sakura pensava na reviravolta de sua vida.

Mas o mais importante é que ali, abraçada com Sasuke, ela podia ter a certeza de que nunca mais estaria sozinha.


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Notas finais do capítulo

Vale um comentrio? Rsrs.
Obrigada por lerem.
Merabe.