Além das Dunas Brancas escrita por Shalashaska


Capítulo 13
Memórias de Areia


Notas iniciais do capítulo

Volteeei *-*
Como vocês estão, queridas? Espero que bem!

Conforme dito, vim no prazo de vinte dias para atualizar a fic e saibam que eu coloquei muito amor, dedicação e tempo nele. Revisei várias vezes, e busquei escrever o melhor possível :3 Espero que gostem!
Por recomendação da minha amiga e também leitora Julia Rabelo, ouvi bastante "Fire and Blood" da trilha sonora do Game of Thrones, portanto se alguém quiser ouvir também (especialmente no segundo "bloco" do capítulo), aqui está o link :

https://www.youtube.com/watch?v=gNxbquecGsY

Na última parte, fiz um pouco diferente o formato... os trechos no tempo presente estão em itálico, enquanto os flashbacks estarão "normais", com apenas algumas partes também em itálico para dar ênfase em pensamentos e etc. Vocês vão entender.

Quero agradecer a todos que acompanham (vocês são demais!), e encorajo os fantasminhas a se manifestarem. Pode ser um comentário curto, não tem problema, mas é sempre muito bom ter a resposta dos leitores, o que eles estão achando... Enfim, não mordo! Hahaha

Ahh, e vocês viram a nova capa?? Linda, maravilhosa, e perfeitamente montada pela Auri, que estava ansiosíssima pelo próximo capítulo hahaha Muito obrigada, sua fofaaaa!

Acho que é isso. Boa leitura!



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Por detrás do tecido que cobria seu rosto abaixo dos olhos, as narinas de Raed puxavam o ar e sua boca soltava-o em um ritmo descompassado, frenético. O pulmão trabalhava sem parar, bem como seu coração, no entanto não importava o quanto todos os órgãos mandassem pulsos de energia, o ladrão ainda cambaleava. Ele piscava contra o vento carregado de pó, não enxergando muito além de alguns metros a sua frente, e voltou sua face ao céu. Seus olhos então encontraram um Sol branco e distante, tão poderoso que não caía de sua posição de astro-rei e não deixava sombras se formarem na areia fina e alva. Suas pálpebras falharam. Embora caminhando há horas sem cessar, e por mais que cada passo lhe doesse, lhe custasse mais um sopro de vida, o dia não acabava e ele não enxergava o final da jornada. Ao abrir os olhos novamente, encontrou uma cor sem tempo no manto que cobria o mundo e espalhava estrelas, uma cor que não soube descrever se era dia, entardecer ou noite, mesmo que o tão curioso Sol lhe fervesse a carne.

Era maravilhoso.

Raed quis abrir um sorriso, mas este murchou em sua expressão exausta. Suas mãos puxaram as vestes para perto de si, pois o vendaval as tremulava e ameaçou furtá-las do jovem. Ele sentiu a garganta secar e parou por um momento, com o corpo pesado contra o solo instável. As lufadas de areia detiveram-se por alguns segundos, e o rapaz encarou a imensidão vazia e árida das Dunas Brancas, sem um único ponto onde pudesse descansar ou matar sua sede. Encolheu-se, e sentindo a carícia quente do Sol e os cortes do vento, percebeu que não enxergava sua sombra no chão.
Quis perguntar o que estava acontecendo à Alethia, porém lembrou-se que ela voltara a sua garrafa rapidamente após abrir um novo portal para Kadar e não dera sinais de que sairia antes que recuperasse por completo sua energia. Sua mão pousou sobre a superfície do vidro púrpura amarrado à sua cintura, em seguida forçou suas coxas a funcionarem.

Ele finalmente estava lá, nas Dunas. Não poderia parar agora. Não poderia morrer agora.

Seus pés foram capazes de avançar mais um punhado de passos, até que suas pernas embaralharam-se e ele tropeçou, sua figura distorcida pela ventania caindo de joelhos na areia.

Onde estava a luz azul?

Quando Kadar partira na tempestade colorida da gênio, Raed arrastou-se até as Ruínas novamente e foi saudado por um facho cerúleo, o qual saiu como um raio pelo pedestal de pedra e voou pelo horizonte igual um falcão. Ele sabia que aquele estranho ser sem vida abria a passagem e servia de bússola, de modo que não se demorou com maiores despedidas do mundo e atravessou logo o arco gasto. Seu destino estava além.

Ainda caído, ele observou suas mãos encardidas e enfaixadas, observou seus dedos sentirem a textura amorfa do solo. Foi quando viu sua pele também tornar-se areia, sendo levada aos poucos pela atmosfera instável.

Ele quis gritar, mas não conseguiu fazer mais do soltar ar pela boca e levantar-se num pulo, chacoalhando a cabeça. Quando abriu as pálpebras para verificar o estado de seu corpo, seus ossos, carne e pele ainda estavam lá, intactos.

“É coisa da minha mente.” Ele afirmou para si, desviando o foco de suas mãos e retornando a marcha. “O Sol faz isso com as pessoas. Estou com sede, fome e cansado. É coisa da minha mente.” Repetiu desta vez em voz alta, querendo confortar a si próprio e sendo calado por mais um sopro forte.

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– Certo, homens! – Zahir exclamou, aliviado por finalmente estarem na cidadela. Já haviam feito reservas no caravançarai e desfrutaram de algumas horas de descanso e banho, no entanto o mestre temporário dos corcovanos não largou o nervosismo até que pudesse dispensá-los pelo resto do dia, que já pintava o céu de laranja e trazia a noite escura. – Comprem o que quiserem no bazar e voltem ao logo para discutirmos algumas coisas. Vamos para casa somente na tarde de amanhã, então vocês tem muito tempo.

O grupo agradeceu num acorde misto de suspiros cansados e gritos de entusiasmo, e boa parte do bando resolveu folgar o máximo possível, comer alguns mimos da hospedaria e deleitar-se com a água fresca. Zahir, porém, tinha outros planos e saiu a pé, completamente sozinho pelo mercado.

Também se alimentara e acalmara as dores nas pernas com um escalda-pés, mas não foi capaz de ficar muito tempo parado. Não havia livros e não havia conversas interessantes com os outros homens, mais exaustos ainda. Não havia nada que fizesse o torpor estranho de sua cabeça sumir, aquele sussurro indistinto que tanto lhe perturbava desde o começo do retorno. Pensou que o nervosismo e o calor causaram a confusão em sua mente, mas se de fato fosse esta combinação, já deveria ter melhorado. Ele passou a mão pela testa, como se para livrar-se das ondas de modorra, ato que de nada adiantou. Decidiu então perambular pelas ruas do comércio, que se esvaziavam devido ao horário, e desta maneira esquecer a dor e comprar algo que interessasse a sobrinha e a irmã, parentes queridas que sempre eram gratas pelas joias e tecidos, para suas tão estimadas vestes. Zahir lembrara-se que tinham pedido perfumes e alguma erva diferente, para o jantar de aniversário da pequena Nadia. Ele a adorava como se fosse uma filha e sorria só de pensar em seu rosto infantil. Rumou para onde vendiam condimentos, prestando atenção nas diminutas placas fincadas sobre os pós coloridos de pimentas, açafrão, coentro e sumagre.

Do pouco que sabia sobre culinária, imaginou que sua irmã gostaria de algo mais suave que Nadia também pudesse comer sem grandes problemas devido ao seu paladar delicado.

No entanto, cada passo que adentro do mercado aumentava a intensidade e a frequência dos sussurros, os quais não pareciam formar palavras inteiras ou mesmo pertencer à sua língua mãe. Zahir não lutou contra o chamado e seguiu em frente, sem olhar para as pessoas que cruzavam os seus olhos, ou perceber a quietude perigosa das ruas. Suas íris estavam vidradas no rastro de tinta negra no chão, um caminho que somente suas pupilas dilatadas e hipnotizadas enxergavam. Não piscava, somente andava vagaroso, adentrando partes da cidade que não conhecia e jamais pensara em conhecer. Seus pés moveram-se sozinhos, tornando aquele homem não mais do que uma sombra perdida por cantos abandonados.

Chegou a uma seção de chás perdida e curiosamente ainda aberta, onde as ervas eram penduradas para secar e espalhavam um aroma agradável por todo o ambiente. Havia pouca gente, comerciantes e clientes, e por mais que ninguém prestasse muita atenção nos outros, Zahir focou seus olhos e ouvidos em uma mulher.
Ela estava de costas e falava baixo com uma senhora, que estava por detrás do balcão de madeira. Mesmo sem realmente vê-la, o homem sorriu com a visão de sua postura elegante; suas vestes eram escuras e simples, enquanto sua voz tinha um timbre calmo e jovial. A trilha negra parou nela, como se feito pelos mantos da mulher que tocavam o solo; já o zumbido em seus tímpanos tornou-se agudo e incessante. Não ouvia mais nada além dele, e não enxergava outra coisa senão ela. Zahir aproximou-se de maneira despreocupada, encarando produtos quaisquer e tentando disfarçar o quanto estava perplexo em sua recém-adquirida consciência; em seguida notou algo diferente no ar, algo além do cheiro humano e de ervas. Com o canto dos olhos, viu o rosto da mercadora endurecer-se enquanto oferecia um pacote de plantas curiosas, com folhas pontiagudas, secas e alaranjadas, para a jovem atraente.

– Eu lhe garanto que isto, mais os outros ingredientes que tem, resultará em um sonífero poderoso. Conseguirá dormir por horas a fio sem interrupções, moça.

O mercador de camelos não pôde ver, mas o sorriso da mulher foi dissimulado.

– Para o seu bem, espero que sim.

Ela virou-se devagar, e o olhar de um encontrou o outro. Faíscas saíram dos cílios longos dela, que sorriu e fez os murmúrios desaparecerem por completo apenas com o som aveludado de sua voz.

– Na hora certa; nem um minuto a mais, nem a menos. - O homem ficou sem ar ao ver sua face. A jovem piscou com certo desprezo após sua afirmação satisfeita e, puxando seu manto para cobrir mais o rosto e suas madeixas escuras, continuou seu caminho sem ser interrompida. Zahir a seguiu.

Muito andaram pelo mercado; a mulher deteve-se em alguns instantes para observar alguns produtos e não importava-se com o estranho escoltando-a. Por fim, entraram em um pátio vazio, onde haviam varais sustentando tecidos cor de jade, rubi e safiras, iluminados por archotes nas paredes. Tais véus serpenteavam devido ao vento como um ninho de najas coloridas, e a mulher desaparecera entre estas cobras de tecido sibilante. Ele a procurou, tateando os finos mantos, até que ela permitiu ser encontrada afinal no centro do recinto. O mercador de camelos não compreendia. Por que aquele rastro? Como aquela voz o guiara? Por que entraram ali?

Por que não conseguiu evitar acompanhá-la?

– Sei que é um homem justo, Zahir. – Ela disse, de costas novamente. Homens não ficam inseguros daquela forma quando encontram-se sozinhos com uma mulher, mas o sangue dele corria cheio de gélida adrenalina. Encarava-a como uma mariposa enxerga o fogo, sentindo que havia perigo envolto em encanto. – E que também é um viajante experiente. Preciso que busque algumas encomendas para mim.

– E por qual razão eu faria isto? – Ele engoliu em seco, logo se arrependendo do atrevimento repentino. Respirou fundo e continuou. – Digo, vendo camelos. Dromedários. Cavalos, vez ou outra. Não aceito pedidos de outras mercadorias senão estas.

Ela riu em silêncio e voltou a encará-lo de frente, de modo que ele pudesse ver bem sua pele marcada por riscos de cicatrizes recentes. Zahir chegou a imaginar que uma estrela tivesse estilhaçado à sua frente, lançando seus fragmentos em brasa como uma saraivada de espinhos sobre a tez morena.

– Meu nome é Farah.– Os olhos escuros e magnéticos dela piscaram demoradamente. – E negociar comigo é irresistível.

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Os olhos de Raed cegaram-se pela forte luz branca, e ele teve a sensação de ser puxado para baixo, em uma nova e mais pesada gravidade. Seus pés descalços tocaram o chão firme; em seguida suas pálpebras abriram-se para encarar o Sol, afinal, o que mais poderia ser aquele brilho?

Olhava para cima, encarando aquela romã vermelha e suculenta que teimou ter nascido tão alta. O tarde caía aos poucos, cedendo lugar a mescla de cores quentes e frias, vindas da noite, mas o Sol ainda não dera adeus. Cintilava dourado sobre a copa das árvores e parecia lançar um raio de luz especial sobre a fruta que o garoto tanto almejava. Ele pulou e tentou escalar os troncos, porém seus braços finos não sustentaram por muito tempo o peso do seu corpo. Raed não se contentaria com outra qualquer, as mais próximas e apenas salpicadas pela cor carmesim; não sossegaria até alcançar a que desejava.

Não desdenhou dela como fez a raposa da fábula, e foi atrás de um galho para cutucar a romã, no entanto não encontrou um que servisse no pomar pois os jardineiros haviam limpado todas as folhas e troncos cortados. Foi obrigado a improvisar. Voltou com uma bengala, subiu na romãzeira e afinal atingiu o pomo rubro.

A fruta caiu no chão e abriu-se ao meio, espalhando dúzias de contas escarlates iguais a pequenas pedras de lapidados rubis. A cor de sangue brilhava no gramado, e o garoto apressou-se em sair do tronco para pegar as metades romã. Saiu correndo, tomando cuidado para não ser visto pelos criados e criadas que sempre davam com a língua nos dentes. Seus passos não faziam barulho no piso, sua sombra não era mais do que um vulto rápido e indistinto. Evitou janelas e lugares mais públicos, contornando o palácio por fora para adentrar o jardim real.

Ele memorizara o caminho pelo labirinto de arbustos escuros e conhecia bem a disposição das plantas de um dos pátios, uma vez que ali era o refúgio de suas aulas entediantes e broncas frequentes. Sabia até quais eram os ângulos ideais para não ser visto pelo patamar alto dos cômodos mais próximos ao jardim. Sem ser interrompido, embrenhou-se na flora e procurou uma das diversas fontes e lagos artificiais, já absorvidos pela natureza e lar de anfíbios e ninfeias. Lavou brevemente a fruta na água corrente e encostou-se num banco sem preocupar-se em ser descoberto, pois raramente alguém ia ali a esta hora e apenas deveria tomar cuidado para não ser pego quando os guardas viessem acender as tochas e lamparinas.

Tranquilo, desfrutou de seu ritual sagrado de comer semente por semente daquele sabor doce e ligeiramente azedo, do sulco que explodia em sua boca ao mordiscá-la aos poucos. Quando mais novo ainda, não gostava tanto da fruta até lhe dizerem que era proibida; depois passou a ter um apreço especial pela romã, e as mais difíceis de pegar possuíam um delicioso sabor característico.

– Não me diga que está com o cajado de Ramzi. – Alguém disse a distância. Raed deu um pulo, pois cochilara após terminar de comer, e percebeu então que era noite. Dera sorte em não ser flagrado quando os archotes foram acesos, e também respirou aliviado em reconhecer a voz. A figura desceu os degraus da extensa varanda e caminhou lentamente até ele.

Talvez tivesse que rever seus cálculos sobre os ângulos do jardim pela vista de cima. Com apenas o tronco levantado, Raed encarou a bengala ao seu lado e forçou sua voz a sair da garganta:

– Hã... Não estou com o cajado de Ramzi?

– Venha. - A mulher balançou a cabeça em desaprovação, mas não deixou de sorrir. – Vamos dar uma volta, e pegue a bengala. Deixaremos em outro canto para Ramzi pensar que o esqueceu por aí.

De pé, Raed apressou-se para enlaçar os seus dedos com os de sua mãe.

No deserto místico, o ladrão expirou sua alma pela boca. Seus olhos estavam perdidos em lembranças antigas, seu peito perdia o ar, e seu corpo parecia não mais existir. O Sol alvo ardeu sua imagem trôpega nas Dunas e o vento desfez a carne de seu braço, transformando-o em pó. Sua mão esquerda procurou o outro membro, e tateando a areia que reconstruía o seu corpo, ele gritou; mas não parou de caminhar.

Os jardins já estavam acesos.

As lamparinas decorativas conferiam uma aura mágica sobre as folhagens, pois o vidro era um mosaico e lançava fachos de luz de diversas cores no ambiente aberto. A água refletia as estrelas e o luar, e também as duas figuras que percorriam sua margem. Já haviam deixado a bengala em outro canto adentro da varanda, e agora passeavam de maneira tranquila pela imensidão solitária das plantas. Raed segurava firme a mão de sua mãe, e apesar de estar rodeado por tanto encanto e beleza, não desviara seus olhos do rosto dela. Déa mirava sua frente, mas sorriu ao seu filho quando percebeu que este tanto a encarava, e depois passou o braço pelo seu ombro esquerdo e o puxou para mais perto de si. Chegaram então a um coreto inteiro adornado, subiram os degraus e puseram-se a observar o horizonte escuro.

– Meu menino... – Ela passou a mão pelo cabelo dele, agachando-se brevemente para apreciar o cinza de suas íris. Seu pequeno estava crescendo depressa, tanto que já nem precisara encurvar-se tanto ou dobrar os joelhos. – Inaya me contou que você não compareceu a sua aula. De novo.

Ele desviou o olhar e ela o soltou.

Inaya era uma senhora que possuía diversos afazeres, porém era também uma das mulheres mais sábias e leais que a jovem Déa teve a honra de conhecer. Sabia ler, e lia de tudo; calculava e podia nomear um punhado de constelações no céu. Não era igual aos professores reais, tutores trazidos de diversas partes do reino ou até mesmo do mundo, no entanto era o melhor que pudera conseguir para o seu filho, por mais que ele merecesse muito mais.
Déa suspirou. Raed era um menino indolente nesse quesito, cheio de má vontade, embora fosse muito perspicaz quando bem lhe convinha.

– Um dia... - Ela tomou fôlego e abrandou a voz, com consciência de que a indiferença de seu filho era falsa. – Um dia você será grande, Raed. Maior do que seu pai. – O menino se virou, com a testa franzida e imerso em perguntas. Geralmente sua mãe evitava o assunto quanto a seu pai. – E quando este dia chegar... Você verá o quanto sua instrução foi importante.

Os olhos dele arderam, mas ele gastou toda a energia do corpo para segurar a frustração que tanto insistia em desabrochar em lágrimas. Então ela não estava lá para apenas passar um tempo com ele; não abrira um período mínimo de seu tão lotado cotidiano para caminhar a sós com seu filho. Não, é claro que não. Questões do reino eram muito mais urgentes, e sua mãe deveria somente dar as caras quando viesse lhe fazer cobranças.

Isso se... Se fossem questões do reino. O tempo passava e Raed começava a formar ideias sobre o que realmente acontecia no palácio.

– Ah, serei muito grande por ficar enfurnado em cômodo com uma infinidade de livros e aulas chatas, sem permissão para colocar um dedo para fora dos muros. – Com a voz num falsete, pelas emoções e pelo início de puberdade, ele soltou uma curta risada de deboche. – Sem permissão até mesmo para te ver.

Ao encarar novamente sua mãe, viu que algo dentro dela havia se partido, embora o rosto fosse quase inexpressivo de tão brando. Ela engoliu em seco e controlou o seu tom.

– Seu pai era um bom homem. – Voltou-se para o céu e apertou os dedos no apoio do coreto, buscando entre as estrelas a face dele há tanto tempo enterrada numa cova indigna. Dos funerais que comparecera, aquele fora o mais vazio e difícil. – Ele cuidou de mim e te amou imensamente sem nem saber o seu nome. Você é mais parecido comigo, tem os meus olhos, mas quando abre a boca é como se eu ouvisse seu pai falando. – A tristeza transbordou em seu sorriso mudo. – O mesmo tom, o mesmo jeito, a mesma ironia... Principalmente quando está ferido.

A boca dele se abriu para responder mesmo que não houvessem palavras formadas em sua língua, e por fim a voz trêmula não alcançou sua garganta. Não disse nada. Fechou a boca com um suspiro dolorido e abraçou a mãe.

A lágrima solitária do ladrão escorreu pela sua bochecha e foi logo jogada ao vento, junto com mais pedaços de seu corpo. Sua pele foi rasgada e transformada em areia. Ele respirava com dificuldade, lançando sua perna direita para mais um passo pelas Dunas, e franziu a testa numa expressão agridoce ao sentir o perfume de jasmim.

O abraço dela sempre cheirava a jasmim.

– Tudo o que eu faço é por você. – Déa disse baixo, ainda com o filho agarrado a sua cintura. Beijou seu cabelo despenteado e apertou-o mais para si, querendo que ele

ouvisse bem as batidas verdadeiras de seu coração. – Sei que não passo tanto tempo quanto deveria contigo, o quanto merece, mas se for para guardar uma única lição minha, pelos deuses, que seja a resiliência. A resignação. – Ele não compreendia ao certo o que aquelas palavras significavam, mas gravava cada letra com ferro em brasa na memória. – Não sei se as histórias que ouve e lê contam isso, mas esta virtude é a maior de todas. Seja forte e audacioso como é, mas não se esqueça de buscar a verdade. De tomar cuidado. De saber esperar...Pois tudo virá ao seu tempo.

Raed fungou contra as vestes da mãe, jurando que não deixaria Inaya esperando-o por muito tempo; que prestaria atenção em tudo que ela dissesse enquanto estivesse em sua sala apertada. Enquanto pudesse, fugiria menos da senhora, pois além do apelo de Déa, Raed não estava com seu companheiro de encrencas por perto. Kadar viajara para longe, e só voltaria dali a quatro semanas, para então lhe contar como era o mar.

O vento veio de outra direção, lançando sua rajada invisível para cima do corpo frágil do viajante; seus braços erguidos para barrar o impacto desfizeram-se quando a força imaterial acertou-o. Areia de sua própria pele, carne e ossos salpicou sobre seu rosto, enquanto o ar violento conduzia sua consciência para um lugar distante.

Sua mente desprendera-se da cabeça, fazendo-o rodopiar por imagens antigas.

Os pés silenciosos e de canelas finas desviavam dos destroços, dos pedaços de pedra e dos fragmentos de vida há tanto estilhaçada. Passaram-se quatro anos desde a Queda de Sundara, e Raed pensou que jamais conseguiria retornar ao lugar que agora chamavam de Lamúria, território sob o domínio atual da Purmânia, vulgarmente utilizado apenas para encaminhar embarcações e negócios.

Seu corpo estava agachado, arqueado como um gato magro e maltrapilho ao cercear uma presa também faminta. Deveria tomar cuidado ao perambular pelo cenário cinzento, pois já estava em plena fuga de ladrões da guilda que o abrigara por alguns meses mais ao Sul, e também não saberia dizer que tipo de gente poderia se abrigar em ruínas. Mendigos geralmente eram inofensivos, mas ele não queria arriscar, não queria deparar-se com algum sobrevivente enlouquecido pelo trauma e pela solidão. Raed não se surpreendeu ao observar que o chão ainda estava coberto de fuligens, e que vez ou outra surgia um pedaço de mosaico colorido jogado a esmo ou uma fatia dilacerada de um tapete. Claro, ainda havia peças tortas e lembranças do que o palácio já fora, no entanto estava mais do que certo de que tudo o que poderia ser aproveitado, vendido, ou simplesmente destruído, foi então feito.

Fora a egrégora pesada e cacos de memória, realmente nada mais restara.

Olhou por detrás do ombro, para verificar que não era seguido por humanos ou algum animal que apossara-se do território sombrio, e esgueirou-se vagaroso pelo local. De algum modo, sem nem bem raciocinar, suas pernas o levaram até o jardim, onde lá deteve-se com espanto. Seus olhos não aguentaram a visão de árvores queimadas, galhos retorcidos e a grama inteira arruinada. O pomar que conhecia já não existia mais, o coreto estava destruído, fatos que ele logo recriminou-se por ter esperanças ainda permanecerem da exata forma que recordava-se. Deu as costas ao lugar e caminhou mais adentro, já sem medo de ser detido por algum guarda, já sem querer imitar uma sombra por andar pelos corredores.
Não os vira naquela tarde; seus uniformes de ricos brocados de nada valeram. Mais tarde, quando a Purmânia marchou sobre a costa e atacou diretamente o reino, Nirav também absteve-se de enviar soldados para deter o crescente terror.

Não receava mais encontrar alguém.

O que afinal procurava ali? Respostas? A confirmação de que aquele dia fora pior do que um pesadelo, pois tratava-se da mais tátil realidade? Buscava...

Fantasmas?

Enquanto andava, desta vez sem encurvar a coluna, perguntava-se a razão por trás da leve neblina seca, do por que da cortina acinzentada que insistia em pintar o horizonte arruinado com tons ainda mais lúgubres. Ele colocou o tecido de suas vestes sobre o nariz para não aspirar do pó, fossem de objetos ou de corpos queimados, e deixou suas botas craquelarem mais os azulejos e vidros no chão.
Em seus ouvidos, as palavras ditas entorno da fogueira, há muitas e muitas noites, sibilavam feito serpentes de fogo; queimavam os tímpanos e não lhe deixavam em paz. Alguns diziam que era apenas folclore, no entanto, algo no descompassar de seu coração lhe disse que deveria iniciar uma nova jornada.

Durante suas diversas andanças escutara mitos e crônicas, anedotas e uma infinidade de aventuras dos outros ladrões e viajantes, mesmo que muitas fossem inventadas para passar o tempo numa eterna competição de quem teria a historieta mais delirante. Era um passatempo alegre para escapar da miséria, como se letras e letras jogadas ao ar alimentassem sua fome e aquietassem seus espíritos. Eles falavam, e Raed silenciava-se numa ebulição de memórias, cada bolha explodindo com um nome ou situação; Neriah, Kadar, Inaya, Déa... Até mesmo o jardineiro e Tamir.

E então, vieram lhe falar sobre os gênios, sobre seu incrível poder e volátil humor; criaturas com dezenas, ou mesmo centenas anos de existência, vivendo quase numa realidade à parte dos humanos. O órfão de Sundara sabia boa parte do que disseram, conhecia bem a forma como eles podiam quebrar a sua alma, mas um comerciante forasteiro narrou contos que não imaginava.

Gênios podiam lhe acompanhar para o resto da vida; são capazes de tornarem-se guardiões.

De volta a sua peregrinação a seu lar profanado, Raed não soube dizer se contentava-se com o teto do salão, alto e inteiro trabalhado em mosaicos e arabescos, ainda manter-se incólume. Não parecia certo dentre tantos outros destroços, atraía mais a sensação fria do contraste entre o antes e o depois. Seguiu em frente até que, próximo a uma parede demolida, algo refletiu a luz infestada de poeira. Reluziu em turquesa, em verde-mar que poucas vezes vira.

O ladrão sequer parou para pensar.

Andou destemido por alguns ossos finos, provavelmente de aves pequenas do antigo viveiro de Sundara, e agachou-se para verificar a garrafa no chão, feita de uma curiosa pedra esculpida, sinuosa e elegante, de um tom iridescente que jamais contemplara tão belo. Havia finos adornos de ouro e pequenas ametistas cravejadas, confirmando que aquele objeto carregava um valor imensurável, que por si só poderia sustentar Raed por muitos meses, embora o ladrão não estivesse interessado nisto, ou apenas nisto.

Agarrou o frasco, deu um passo para trás e destampou-o.

Primeiro, a névoa densa e púrpura infestou o ar num tom abrasivo de fúria, junto ao brado ensandecido de uma voz feminina. Perguntou com desdém quem se atrevera a perturbar a gênio que tanto desejava afastar-se da espécie imunda dos mortais, e por fim sua silhueta roxa encarou um menino.

Aquietou-se. O que será que uma criatura franzina como aquela fazia no cemitério que repousara? Ela tinha diversas especulações, porém não soube dizer qual delas era a correta, e ficou a admirar a juventude dele. Tinha quinze anos? Um pouco mais, talvez.
De qualquer forma, não deveria intrigar-se, pois não lhe dizia respeito.

– Pouparei sua vida e sua alma. – Sentenciou. – E esta é a minha dádiva concedida. Agora quero que suma, que desapareça.

Ele recusou. Disse “não” num tom adequado, calmo, porém tão firme que sua voz ecoou por todos os restos de paredes. Alethia ferveu e fez questão de que a névoa que o cercava também esquentasse.

– Não confunda coragem com estupidez, menino tolo. – Os olhos dele piscaram lentamente em resposta. – Não realizarei três desejos teus, e tampouco creio que sua inteligência seja capaz de resolver um enigma proposto.

Ela não queria matá-lo, embora seu orgulho houvesse sentido o ataque do atrevimento do rapaz. Num misto de desdém e curiosidade, a gênio fez a sua oferta.

– Troco seu desejo por uma história. – Uma pena que ele não pudesse enxergar seu sorriso arrogante, afinal, não achava que ele conseguiria concretizar a tarefa. Se mentisse, ela saberia. – Algo que me comova... E que seja a mais pura verdade.

Raed não pôde pensar em uma possibilidade mais conveniente do que aquela.

– Certo. – Respondeu, dando de ombros. – Mas meu pedido... É sua lealdade.

A fumaça tremulou.

– Continue.

Como uma figura que solta névoa colorida de seu narguilé pelos lábios, o rapazote fechou os olhos e pôs a narrar a mais verdadeira história que podia contar: a sua. Começou, com palavras diretas e descrições cruas, a expor como aquelas ruínas eram há cinco anos atrás, um antes de sua destruição. Disse o que vivera desde então. Falou de como escapara e como se sustentara; deu detalhes de corpos que viu e a crueldade que conheceu.

Ele estava preparado para ser partido ao meio por um raio, para sentir seu interior afundar enquanto a gênio quebrava sua alma em minúsculas lascas. Raed estava preparado para se tornar também algo esquecido e arrasado em Lamúria.

Mas, ele ouviu somente “Sim, meu amo.”

Raed arfou, consciente de súbito. Ainda caminhava nas Dunas, ainda era dia e aquele Sol não caíra do céu. Deveria continuar. Precisava. Quando sua perna levantou-se para outra passada e em seguida apoiou-se no chão, seu tornozelo virou areia e fez com que caísse no fervor do solo. Ele fechou os olhos, com a sensação de não ser, não existir.

A brisa soprou a maresia para dentro das narinas de Raed, que inspirava de maneira saudosa daquele ar salgado e úmido. Observava o oceano dentro de um barco a vela de um amigo seu, ladrão dos mares. Um pirata. Navegavam para mais uma desventura, rumo a outro inestimável tesouro que deveria ser tirado dos nobres e soberbos. Com os olhos sobre a água e completando dezenove anos, já com uma curiosa garrafa presa ao cinto, o ladrão estava com a mente em outro lugar, em outro alguém.

O que seria de Kadar?

Será que falecera na Queda ou depois, quando os purmânios vieram? Sua família sucumbira a miséria posterior destes eventos, ao pânico que assombrara a todos? Tamir o assassinara naquela tarde? Ou ele fugiu junto de sua mãe, e eles estariam seguros em alguma vila qualquer?

Raed não sabia e pensava jamais descobrir. Seu irmão estava certo, saíram de Sundara mais cedo que imaginavam... Porém não puderam viajar juntos. O ladrão apenas encarou o reflexo do Sol que se deitava, secretamente desejando que Kadar também pudesse ver aquilo.

O viajante ajoelhou-se na areia, perdendo pedaços do corpo durante este breve movimento para o vento que o fustigava em todas as direções. Ele enrodilhou-se em torno de si, levantava os braços para alcançar seus ombros com as mãos e sentiu a textura de areia de seus dedos, que desfaziam-se e reconstruíam indefinidamente. O Sol branco ainda o encarava como um olho alvo, como um ser celeste e imparcial que o julgava de todos os ângulos, por todos os seus atos. Ardia o solo e a pequena figura de Raed, que mantinha as pálpebras apertadas com força, franzindo a testa e fechando a expressão.

Havia frio em seu interior, na boca do estômago, por mais que ele se sentisse vazio e fragmentado.

A atmosfera instável focou sua fúria no ladrão, armando vendavais e golpes de ar diretamente sobre seu corpo cansado. Ele não viu a cortina de poeira branca que levantou-se, nem foi capaz de enxergar que havia rochedos e formações ancestrais de pedras próximo de si, os únicos pontos diferentes do cenário repetitivo das Dunas. Somente sentiu o impacto de cada grão no rosto, ou o que sobrara de seu rosto, cada pequena lembrança atingindo-lhe em cheio e arrancando bocados de seu ser.

Estava imerso num tornado de memórias mortas e há muito tempo enterradas.

– Mãe? – Raed hesitou em aproximar-se, mas chamou-a. Déa viera de súbito, adentrando com pressa no quarto que seu menino usava para não ter de ir ao cômodo apertado de Inaya, para então brincar, ler ou escapar ocasionalmente do marasmo da chuva.

Ela fechou a porta e trancou-a, vindo logo ao seu encontro. No primeiro momento, ele acreditou que sua mãe descobrira algo que tinha feito, pois ele fizera diversas coisas, ou que soubesse de seus planos de fugir dali a pouco, ficando, portanto, satisfeito por ter sido encontrado lendo de maneira casual. Mas, havia algo de errado. Déa tremia, seus olhos cinzentos como os do filho estavam avermelhados por chorar. Ela não disse nada, somente abraçou-o com urgência.

– Mãe? – Ele repetiu ainda mais alarmado.

– Não é nada. – Chacoalhou a cabeça, forçando um sorriso tranquilo brotar dos lábios, embora acariciasse sua face de forma intensa, olhando direto em suas íris. Parecia desejar gravar tais imagens como se nunca mais fosse o ver na vida, pensamento que muito perturbou Raed. – Eu já lhe disse o quanto o amo?

O ladrão franziu o cenho antes de responder.

– Já...

– Bom, - Lágrimas quiseram escorrer por seus cílios inferiores, no entanto ela fingiu coçar as pálpebras com as costas da mão e limpou as gotas do rosto. Outro sorriso breve e nervoso cresceu na sua boca. Talvez fosse algo relacionado ao fato de haver menos gente no palácio, e a maioria que lá estava também parecia agir daquele jeito estranho. Será que alguém havia falecido? – Sei que fará aniversário só daqui a dois meses, mas já tenho o seu presente. Um presente muito importante para os seus treze anos.

Aquilo bastou para desviar a atenção de sua mente infantil.

“Oh, ela sempre está ansiosa. Não é a primeira vez que a vejo chorar. Não é a primeira vez que sei que finge suas expressões.” Ele raciocinou, imaginando que tudo ficaria bem no dia seguinte.

– Mamãe vai buscá-lo, tudo bem? – Ele engoliu em seco, mirando o estranho aparato que havia no seu quarto, um grande móvel de madeira importado da Purmânia que exibia as horas num círculo. Pelo o que via, também faltava pouco para Kadar chegar, também com um presente: uma concha do Porto, por onde poderia ouvir as sereias se tivesse sorte. – Quero que daqui a vinte minutos vá até o nosso quarto, o quarto das meninas, - Era assim que ela se referia ao cômodo que ela e as outras mulheres do harém dormiam, onde não eram infernizadas e podiam cuidar direito do menino. – E me encontre lá. Depois, nós iremos ao portão Oeste.

O maxilar dela então travou e sua voz saiu áspera, decidida. Esta reação era novidade para seu filho, bem como a saída de Sundara numa curiosa excursão de moças.

– Não demore.

Com um último olhar preocupado, ela se virou, destrancou a porta e saiu tão rápido quanto entrou. “Vinte minutos...” Raed ponderou, fechando o livro grosso. Mordia os lábios levemente, pois os ponteiros dos segundos pareciam rápidos demais e logo Kadar chegaria com Neriah. O ladrãozinho odiava deixá-los esperando, além de também querer receber seu outro presente.

Com um pulo, ergueu-se das almofadas e saiu correndo. Iria primeiro ao portão Sul, para receber o seu amigo e a mãe dele, talvez fizesse até um atalho pela cozinha para pegar uma comida qualquer, e depois voltaria com dois até o ponto combinado pela sua mãe. Quem sabe iria diretamente ao Portão Oeste ao invés do quarto, pois era mais rápido de se chegar.

Não achava que cinco minutos de atraso fariam tanta diferença, afinal, lembrava-se zombeteiro que sua mãe dissera que deveria saber esperar; que isto era uma grande virtude.

Raed encurvou seu corpo sobre as pernas e a encostou sua cabeça na areia, com seus dedos desfeitos escorrendo em pó pelos cabelos. Tentou respirar, mas só havia areia.

Só havia lembranças.

O vento rugia e lançava chibatadas invisíveis, suas vestes tremularam e afinal foram arrancadas de seu corpo. Ele gritou e gritou, porém o som que saia de sua garganta era abafado pelos uivos do ar, o qual mordia e rapinava punhados de seu corpo encolhido. Não conseguira chegar até ela. Não conseguira chegar até Kadar. Não conseguira fazer diversas coisas, não conseguira ser a pessoa grande que Déa pensava que seu filho seria. Não tornara-se maior que o pai que nunca viu.

Era mais um órfão, filho do harém, mais um menino com um passado triste que já era ladrão e assim permaneceu para o resto de sua existência.

Resiliência. Resignação.” A areia disse com o tom dela, com o cheiro de jasmim. “Seja forte e audacioso como é... Pois tudo virá ao seu tempo”

Ele soluçou baforadas de pó, já desfazendo-se por completo em partículas alvas.

“Mas, mãe... e se fosse possível alterá-lo? E se naquela tarde... eu tivesse te encontrado?”

O vento soprou mais forte e sua garrafa atualmente púrpura também foi puxada pelas garras do ar, logo se chocando violentamente contra um dos rochedos e partindo-se em mil e um estilhaços cor de lavanda; fragmentos estes que em seguida submergiram nas ondulações de areia para jamais serem encontrados novamente.

E então, as Dunas Brancas desfizeram o ladrão e a gênio.

~~ Mirage - por Jason Engle ~~


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Notas finais do capítulo

XABLAU! Gente, a Farah é muito doida. Ela faz essas coisas que eu nunca planejei!! E finalmente chegamos às Dunas Brancas, parte que eu sonhei em 2011. Parece tão longe... enfim, a cena lembro era de um viajante ~~e como eu disse na resposta do comentário da Auri ~~que caía e levantava; cada passo se tornava areia e era arrastado por lembranças.

Ah, e a imagem que eu quis colocar não carregou corretamente, portanto coloquei um link para vocês darem uma olhada no final do capítulo.

E então? Algo confuso ou gramaticalmente incorreto? É só me avisar!

Beijões e até a próxima (ou seja, até daqui a 20 dias)



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