Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 45
Um sutil aroma de perfume masculino


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Um sutil aroma de perfume masculino a despertou, percebeu que, além de seu próprio cabelo, outros fios tampavam sua visão. Abrindo um pouco mais os pesados olhos, notou ao seu lado a silhueta de um homem que conhecia bem, recordou os acontecimentos da noite anterior e virou-se para o lado contrário, tentando sair da cama. Sentiu algo prender seu braço. Elídio, recém acordado, a segurava.

— Não vai fugir de mim dessa vez – Murmurou enquanto a puxava de volta para debaixo dos lençóis.

— Não ia – Retrucou com um sorriso um tanto quanto desconfortável.

Ele a admirou por um breve momento e beijou seus lábios.

— Poderia dormir aqui sempre. Me desculpa por ontem, eu perdi o controle e... bom, não teria dito tudo aquilo.

— Como foi o espetáculo? – Sua mudança de assunto não foi sutil, mas o outro preferiu não comentar.

— Foi bom. Não consegui desenvolver muito, mas eles seguraram as pontas. Seria melhor se estivesse lá.

— Quem sabe no próximo?!

— Se quiser pode assistir junto com o pessoal da produção, lá do alto.

— Acho que prefiro assistir como todo mundo.

— Mas você não é todo mundo – Não pra mim. Pensou, mas não disse.

Seguiram conversando sem se preocuparem com a hora.

Algo em Elídio chamava atenção, Lia não sabia o que poderia ser, mas ele estava mais alegre que o habitual, ela sentia como se seus olhos crescessem a cada palavra que dizia. Havia algo doce no ar, algo tão nítido que chegava a cegar. A jovem sabia que tinha deixado alguma pista passar, algum gesto ou frase mal compreendida, tentou retomar mentalmente toda conversa enquanto ele continuava a falar.

— Como está indo sua peça? – Sanna perguntou, tirando-a de seus devaneios.

— A próxima apresentação é semana que vem, parece que dessa vez alguns nomes importantes vão assistir...

— Quer dizer que a minha presença não foi importante?

— Saiu uma coluna sobre vocês três. Falava da peça, dos críticos e da presença de alguns famosos.

— Não me lembro de quando fiquei famoso – Comentou com ironia.

— Ninguém disse que você é.

Os dois se encararam por poucos segundos, não se contiveram e começaram a rir.

— Não me considero uma celebridade. É esquisito pensar nisso, sabe?

— Não somos nós quem escolhemos ser ou não ser, a mídia escolhe por todos. É ela quem dita as regras, direciona os holofotes e aponta quem sofrerá com isso.

— Mórbido – Ele observou, arqueando as sobrancelhas.

— Real, na verdade. Aqueles que escolheram te apoiar também estão sujeitos a exposição, em fotos colocadas em redes sociais, por exemplo.

Ele ia retrucar, mas percebeu a tempo onde ela queria chegar. Nunca se importou muito com os absurdos que algumas fãs insistiam em comentar, sabia que bastava uma foto despretensiosa junto a uma mulher, para que se lesse as mais incoerentes frases vindas de adolescentes de catorze anos. Mesmo que poucas chegassem a incomoda-lo, jamais foi algo que limitou sua liberdade, tampouco o obrigou a ir a público reclamar.

Entretanto, em nenhum momento questionou se aqueles a sua volta se importavam, e agora essa negligencia o incomodava. Com qual propriedade poderia pedir a uma anônima desprendimento quanto a sua exposição junto a ele? Não poderia.

— Os comentários te incomodam?

— Já passei por coisa pior e já tive a idade delas. Entendo a imaturidade.

— Queria que não fosse assim.

— Infelizmente realizar seus sonhos tem um preço.

— Não sei se tudo isso era meu sonho.

— O que você queria ser antes disso tudo? – Ela virou para olha-lo nos olhos.

— Queria um emprego onde eu não precisasse trabalhar, pudesse sair quando quisesse e sempre tivesse dinheiro pra viajar.

— Não perguntei se queria ser herdeiro – Respondeu rindo.

— Eu nunca soube o que queria ser, só tinha certeza que não nasci pra gravatas – Ele também ria – E você?

— Sempre quis ser o que sou.

— Você sempre quis roubar meu coração? Faz sentido.

— Sempre quis ser atriz. Idiota – Ela tentou se manter séria, mas foi em vão.

— Escolhemos carreiras difíceis – Tentou arrumar alguns fios do cabelo da moça que estavam caindo sobre seus lábios.

— Pelo menos um de nós teve sucesso.

Elídio sorriu genuinamente, aproximou-se ainda mais e a beijou. Seu beijo não trazia o calor da madrugada anterior, mas deixava seus sentimentos tão límpidos quanto suas intenções. Quando se afastou, sentiu como se a qualquer momento seu coração fosse rasgar seu peito e dizer o que ele próprio não tinha coragem de falar.

— Seus olhos estão brilhando, não tinha reparado.

— Só brilham quando te vejo. - Ela respondeu com o melhor de seus sinceros sorrisos e com o mais doce de seus beijos.

O homem arrumou seus cabelos enquanto fitava o teto, não poderia deixar sua oportunidade passar, permitir que ela fosse embora mais uma vez sem promessa de retorno, os chocolates e flores não foram comprados em vão. Ainda olhava para cima quando, com a expressão confusa e olhar decidido, perguntou:

— Quer namorar comigo? – Só então se virou para ver a reação dela.

A mulher abriu a boca, porém nada disse. Questionou se havia escutado certo, se aquilo não passava de uma mera brincadeira, mas o olhar do homem não transmitia graça. Mais uma vez seus lábios se distanciaram, mas sua fala não obteve progresso, seu coração acelerou e seus olhos pareciam prestes a explodir de tão arregalados. O que poderia responder? O que deveria dizer?

Elídio sentiu como se um fio de água gelada percorresse sua espinha, sua testa começou a suar e o ar lhe faltava. Não se lembrava da última vez que ficara tão ansioso por uma resposta. Arrependeu-se de sua pergunta.

— Quero.

— Quer? – Ele questionou quase sem ar.

— Quero!

Lia sorriu enquanto o humorista a puxava para seu colo.

— Isso poderia durar para sempre – O moreno ainda se recuperava da resposta, como uma criança que ganha um brinquedo inesperado.

— Poderia.


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Notas finais do capítulo

Enfim.

Um abraço, até o próximo capítulo!



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