Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 44
As janelas semicerradas contribuíam para a penumbra do quarto


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585437/chapter/44

As janelas semicerradas contribuíam para a penumbra do quarto, no piso frio, roupas e sapatos espalhados, sobre a cama corpos que suavam. Lia abriu os olhos e foi atacada por uma forte dor de cabeça, com sua visão limitada, tentou reconhecer o lugar em que estava.

 Sentiu um ar quente em sua nuca e algo envolver-lhe a cintura, olhou para o lado e viu a imagem do que ela descrevia como um anjo caído. Se desprendeu do envolvente abraço e começou a procurar suas roupas pelo chão. Já estava pronta para fugir da casa quando Gustavo acordou.

— Onde vai? – Perguntou mal abrindo os olhos.

— Embora.

— Espera, como faço pra te encontrar?

— Não faz.

— Mas como vamos nos ver de novo? – Sentou na cama depressa.

— Não vamos. - A morena riu cinicamente enquanto saia do cômodo.

 

Demorou, no entanto, conseguiu chegar em casa. Ao entrar, encontrou a amiga deitada no sofá da sala, a mesma sorriu com a sua chegada.

— Como foi?

— Como sempre é. – Respondeu e foi em direção ao seu quarto.

— Seu celular passou a manhã toda tocando, acho que alguém mandou muitas mensagens.

— Quem quer que seja vai ter que esperar.

Os três dias que se sucederam foram agitados. Lia mal teve tempo para comer, tampouco para lembrar do celular que havia descarregado.

Sua semana voltou a se normalizar na quinta-feira, quando finalmente teve uma boa noite de sono, tomou um belo café da manhã e lembrou de carregar seu celular. Ao liga-lo, deparou-se com 17 mensagens de Elídio Sanna mais quatro ligações. Ficou preocupada e surpresa, pensou se poderia ter acontecido algo de anormal. Nenhuma possibilidade passou por sua mente, apenas pediu por notícias.

Terminou seu expediente, ficou presa no rotineiro trânsito de São Paulo até que enfim chegou em casa cansada, com fome e sentindo fortes dores nas pernas. Seu fim de tarde foi comum, comum até demais.

Ficou algumas horas entre as cobertas atualizando suas melhores séries, até que decidiu conferir se havia obtido alguma resposta. Estampada na pequena tela de cinco polegadas, uma única mensagem:

Elídio: Podemos conversar?

Precisamos? Pensou sobre qual assunto poderia se tratar tal conversa. Não conseguindo encontrar sua resposta, decidiu consegui-la pessoalmente.

Passava da meia noite quando Lia estacionou na triste calçada de Sanna. Pensou em telefonar para ter certeza se já tinha chegado, mas notou a tempo as luzes acesas. Tocou a campainha uma vez e aguardou.

As nuvens encobriam todo céu, impossibilitando as estrelas de serem admiradas, aparentemente, elas mesmas seriam o espetáculo da noite. Uma brisa fria arrepiava os pelos da moça enquanto balançava seu cabelo.

Ele apareceu para abrir o portão, seus olhos revelavam cansaço e desaprovação. O hálito mentolado e os fios desarrumados sugeriam que estava perto de dormir.

— Queria falar comigo?

— Sim, queria, mas pensei bem e acho que o melhor é que vá embora.

— Quer mesmo que eu saía? Não adianta me mandar ir se seus olhos me pedem pra ficar.

Ele a encarou por um instante e foi em direção a porta para fecha-la.

— Só quero entender o que está acontecendo aqui, que jogo é esse que estamos jogando?

— Não sei do que você tá falando.

— Como não sabe? Não se faça de sonsa a essa altura. Faz semanas que tenho sido cem por cento honesto contigo, abrindo as portas da minha vida pra você, te apresentando aos meus amigos e ao meu irmão. Já não me importo se vamos ser vistos juntos, não ligo pras fotos em baladas ou comentários no Instagram. Tenho sido eu mesmo para que você também possa ser, mas parece que você se diverte com essa frieza, com esse distanciamento e esse amargor.

Tinha uma expressão seria e descontente. Estava desconfortável e, diferente das vezes anteriores, não conseguia mais disfarçar.

— Eu... Eu não entendo de onde vem tudo isso. É por que não atendi o telefone? Juro que só tive tempo pra pensar nisso hoje.

— Pra que tanto cinismo? Conheço bem esse seu joguinho, confesso que no começo achei graça, mas não dá mais. Já chega!

— Não entendo onde quer chegar.

— Quer que eu seja mais claro? Mais claro que isso? - A essa altura se controlava para não gritar.

O homem se virou e foi em direção as escadas que levavam ao primeiro andar. Ela o seguiu enquanto ouvia, quando terminou já estavam no quarto principal, do qual se recordava vagamente.

— Preciso desenhar pra que entenda quais são meus sentimentos por você? Cruzar a cidade com flores e chocolates não é o suficiente?

O cômodo estava ligeiramente desorganizado, algumas roupas espalhadas pelo chão, copos no criado mudo, a cama desfeita. Mas, o que chamava atenção era o incomum buque com flores secas ao lado do guarda roupa.

— Você não tem direito de cobrar de mim a clareza que não me dá. É fácil ser vulnerável na sua zona de conforto, com seus amigos, nas suas festas. Como acha que me sinto? Já parou pra pensar como está minha cabeça nesses meses? Com medo de confiar em você e ser deixada de lado quando perder a graça. Não espere que eu baixe a guarda em terreno inimigo. Não entendo do que reclama tanto se faz o mesmo, some por dias e aparece no meu portão quando quer. Você quer resolver logo isso? Ótimo! Eu também. Agora me diz de uma vez por todas o que você quer.

No quarto escuro apenas as luzes vindas de fora doavam alguma iluminação, as grandes cortinas balançavam com o vento que trepidava os lençóis. Tudo estava preto e branco, até mesmo a silhueta do homem, que se aproximava.

— O que eu quero? O que eu quero? – Colocou os cabelos dela para trás como sempre fazia, acariciou seu rosto se aproximando cada vez mais. – Eu quero você, Lia. Você! – Suas mãos desceram devagar pelos braços da jovem até alcançarem sua cintura – Só isso que quero. – Ele continuava a sussurrar – Você.

Beijou sua boca do mesmo modo com que tocou seu corpo, delicadamente. Sussurrou palavras em seu ouvido enquanto subia seu vestido e a segurava contra a parede. Não demorou para que estivessem na cama, no chão, na cômoda, em uma deliciosa mistura de suor e perfume.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo,
Abraços!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dois Quartos de Vinho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.