Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 35
O príncipe que ligou no dia seguinte


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Um forte vento invadiu o quarto, porém ela já se arrepiara bem antes. Precisou afastar seu celular da orelha e conferir se era mesmo Elídio ao telefone, era capaz de esperar qualquer coisa daquela noite menos aquela ligação.

— Lia? Você tá me ouvindo? - a voz do homem arrancou-a de seus devaneios.

— Ah! Oi, estou sim. Aconteceu alguma coisa?

— Deveria ter acontecido?

— Não sei... por que ligou?

Ele demorou para responder, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras.

— Conseguiu terminar os relatórios?

— Me ligou pra isso? - perguntou rindo.

Não, não havia ligado para isso. A verdade era que, apesar da fama, ele continuava sendo o mesmo adolescente tímido da época da escola, divertido, engraçado, simpático, porém inseguro quando o assunto eram as mulheres. Com o crescimento do trio, não precisou mais chegar até uma mulher e conquista-la, normalmente elas iam até ele, deixavam claro o que queriam e ao amanhecer juntavam suas roupas espalhadas pelo quarto e ia embora. Sem conversas posteriores, não costumava ser o príncipe que ligava no dia seguinte.

— Só queria saber de você. Tive que viajar e não nos falamos depois... bem, depois de ontem de manhã. Só queria avisar que já cheguei em São Paulo e que quero te ver.

— Quer mesmo? - Elídio perdeu a bela visão da jovem arqueando apenas uma, grossa e desenhada, sobrancelha enquanto se levantava, ia até o parapeito de sua janela sem se incomodar com o cortante vento que vinha ao seu encontro e, se apoiando nele, dava mais um de seus maliciosos e sugestivos sorrisos.

— É o que mais quero no momento - Respondeu com seu tom mais brejeiro.

Faziam uma bela dupla, os dois sempre entendiam os joguinhos um do outro e, na mesma hora, entravam na brincadeira.

— Se quer tanto me ver por que não vem?

— Não sei se devo. Te ver não é o suficiente.

— E quem disse que vai apenas me ver?

— E o que mais posso fazer?

— Você pode escolher.

— Escolher?

— Sim. Entre seu carro e minha cama - simplesmente respondeu e desligou. Como disse mais cedo a Pedro, as mulheres não costumavam ser descaradas, mas ela não era como as outras e sabia que Elídio havia entendido o recado.

Pelos seus cálculos tinha pouco menos de meia hora para se arrumar e arrumar o quarto. Foi, novamente, tomar um rápido banho, passou um óleo na pele e escolheu a mais vermelha e rendada lingerie, tratou de vestir um belo e delicado robe de tom pastel, passou perfume e tratou de arrumar o cômodo. Pegou o furão em sua gaiola e levou para o quarto da amiga, que ainda não tinha chegado, fechando a porta. As próximas cenas não seriam muito adequadas para crianças.

Estava dando uma última ajeitada em seus cabelos quando o interfone tocou. Correu para atende-lo e logo pode ouvir a voz rouca do porteiro noturno do prédio.

— Alô? É do 118?

— Sim.

— Oh, tem um rapaz aqui que disse que tá te esperando, um tal de Emílio.

— Sim, sim - Emílio, pensou rindo - pede pra esperar que já estou indo. Conferiu no espelho pela última vez como estava e desceu.

Elídio não pode conter um sorriso assim que viu a jovem indo em sua direção, o vento que batia elevava de leve seu robe evidenciando suas coxas. Assistiu com entusiasmo ela desfilar até ele, puxa-lo pelo colarinho e dar-lhe um beijo nem um pouco calmo.

O porteiro tossiu propositalmente, Lia o encarou com um olhar carregado de desprezo, pegou Sanna pelo cós de sua calça e o puxou para dentro do elevador. E quantas noite embebidas de prazer antes de acabarem em camas começaram em elevadores, não é mesmo?

Injusto seria comparar a noite fria com o calor dos dois, com o fogo que tinham, com a vontade que sentiam um do outro. Os últimos encontros haviam deixado marcas e esse não seria diferente. Lia praticamente empurrou Elídio porta adentro de seu apartamento e as cegas chegaram até seu quarto.

O caminho foi rápido e as luzes estavam apagadas, portanto o homem não conseguiu ver nada do lugar em que estava mas, honestamente, não dava a mínima para isso, estava ocupado demais com outra coisa.

Desfez o laço que prendia o robe da moça e em segundos a peça já estava no chão. Voltou a beija-la com mais vontade e passou a percorrer seu corpo com as mãos e os lábios, parando em seu quadril. Ela se afastou e andou em direção a janela. Elídio admitia que só uma coisa era melhor do que vê-la apenas de lingerie, vê-la sem nada.

— Como foi a turnê?

— Boa. Mas, seria melhor se você estivesse lá - respondeu sentando na cama.

— Eu? - perguntou rindo enquanto se aproximava. Mas ele foi mais rápido e puxou-a para seu colo.

— Prometa pra mim que vai com a gente na próxima - seus olhos fixos nos dela, mesmo que a vontade de olhar para seus seios fosse grande.

— Eu nunca prometo nada.

— Cruel!

Ela se aproximou e começou a beijar seu pescoço enquanto tirava sua camiseta, seus dedos estavam gelados e logo sentiu a pele do Barbixa se arrepiar. Continuou beijando seu pescoço, mas logo começou a descer pelo seu tórax, depositou beijos em sua barriga e parou logo abaixo de seu umbigo.

— O que você quer?

— Me diz você.

Horas depois, Lia acordou com um barulho e percebeu que a porta se abriu. Se levantou, vestiu seu robe e foi até a sala; lá encontrou Aline que acabara de chegar.

— Acordada à essa hora? - a loira perguntou.

— Line, presta atenção no que vou dizer e nada de dar escândalos.

— Ih, o que foi?

— O Elídio tá aqui - Sussurrou.

Aline arregalou os olhos e abriu a boca, mas não disse nada de imediato.

— O-o Elídio? - gaguejou.

— Sim, o Elídio. Desprovido de qualquer roupa e dormindo na minha cama, então, por favor, seja discreta - A outra não respondeu, como poderia? Tudo aquilo parecia surreal demais para ela afinal, Elídio Augusto Sanna estava em sua casa, no quarto ao lado do seu.

Lia apenas sorriu e voltou para seu quarto. Estava deitando na cama quando ouviu um leve sussurro:

— Lia? - o Barbixa perguntou sem abrir os olhos - Lia?

— Sim? - Questionou se aproximando dele, já deitada.

Elídio tateou a cama até encontra-la, subiu a mão até seu rosto e afastou seus negros cabelos para poder acariciar sua pele, abriu um pouco os olhos, com o cabelo bagunçado caído sobre seu rosto e com a voz embargada de sono perguntou:

— Promete que não vai me deixar amanhã de manhã?

Lia sorriu e beijou sua boca.

— Eu nunca prometo nada.

...

A mulher acordou antes do despertador tocar, virou para o outro lado e percebeu que não tinha mais companhia, sorriu, se apressou em levantar e foi correndo para a cozinha para poder dar um beijo em seu delicioso hospede. Porém, não havia mais ninguém no cômodo além de Aline, que tomava café enquanto lia o jornal, ela verificou a sala e até mesmo o banheiro, mas não, Elídio não estava ali.

— Cadê ele? - Perguntou para a amiga sem entender nada.

— O Elídio? Já foi. - Respondeu enquanto tomava mais um gole.

— Já foi?

— Sim, não faz muito tempo. Disse que precisava ir e que você estava tão linda dormindo que não quis te acordar, tomou café comigo e te deixou um beijo.

— Tomou café com você?

— Sim, conversamos um pouco.

— Ah, a minha vida anda confusa demais - lamentou sentando à mesa.

— E você acha que a minha não? Não sei se você sabe, mas eu não costumo receber famosos em casa e muito menos tomar café com eles.

— O que achou dele? - perguntou em tom mais baixo como se tentasse fazer segredo.

— Gostei dele. Na verdade o Elídio é um amor, difícil não se deixar conquistar.

— Pelo jeito conversaram bastante.

— Sim, falamos sobre você.

— Sobre mim? O que conversaram sobre mim?

— Ora, isso minha cara amiga, não lhe diz respeito. - Finalizou com uma risada sarcástica.

...

Os pés de Nathália latejavam e suas costas doíam. Amaldiçoou mentalmente seu par de saltos. Tratou de deixar sua bolsa no canto do quarto e foi tomar um banho morno para poder relaxar antes de poder, enfim, deitar e dormir. Já estava deitada quando resolveu dar uma última checada em suas mensagens e teve uma deliciosa surpresa.

Elídio: Disponível pra um sorvete?

Ela sorriu e se levantou. Ora, mas é claro que ela gostaria de tomar um sorvete.

O humorista a buscou em casa, como na maioria das vezes. O clima estava frio, mas compraram seus sorvetes mesmo assim. Conversaram e riram bastante, se beijaram muito mais, ela se divertiu com as caras e bocas que o outro fazia quando o sorvete sensibilizava seus dentes, mal viu o tempo passar estando com Elídio e percebeu que não tremia mais por estar ao seu lado.

O homem se esforçava para divertir a jovem, para fazê-la rir. Afinal, o que mais tinha a oferecer? Era só mais um cara em meio a tantos outros enquanto ela... Bom, ela não era como as outras e sem dúvida nenhuma merecia mais do que ele tinha para lhe dar.

As horas passaram e antes que ficasse muito tarde, o humorista levou-a de volta para sua casa. Conversaram brevemente no carro enquanto ouviam uma música qualquer, até que ela precisou subir. Saíram juntos e foram caminhando calados até o topo das escadas na portaria.

— Obrigada pela noite - ela beijou seu rosto e ele retribuiu com um forte abraço.

— Sabe que dia é quarta agora?

— Dia três?

— E o que tem de importante nesse dia?

— Nada - retrucou rapidamente.

— Nada?

— Não que me lembre.

Elídio sorriu amargamente e abraçou-a mais forte. Sussurrou em seu ouvido:

— Quarta é meu aniversário.

Ela não disse nada, é claro que sabia do aniversário do humorista. Não passou anos comemorando tal data atoa, para logo agora esquece-la.

— O Max vai me dar uma festa no Mundo do Max e eu quero que você vá. O que acha?

— Eu... eu não sei.

Ele depositou a mão sob o pequeno queixo da jovem e sorriu.

— Por favor, por mim.

Ela riu, virou-se para adentrar o prédio, mas Elídio a segurou.

— Tem mais uma coisa, nesse fim de semana a turnê do Improvável vai ser em Campinas, vem com a gente?

Deu mais um de seus sorrisos e entrou, deixando o Barbixa sem resposta, sem rumo e sem sono.


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Notas finais do capítulo

Vídeo que deu nome ao capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=eCrPlUw6mPg

Até o próximo capítulo,
Abraços!



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