Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 33
O Sol começava a nascer


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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O sol começava a nascer, do ponto em que estava facilitava a invasão indesejada de seus raios no cômodo escuro, culpa da janela que ficou aberta por toda a madrugada. Esses mesmos inconvenientes raios foram de encontro ao espelho do guarda roupa e rapidamente refletiram no rosto da jovem, que não tardou a acordar.

Um pouco confusa, demorou para entender onde estava e o que havia acontecido na noite anterior, até que, como em uma explosão, conseguiu lembrar de tudo, fato por fato, segundo por segundo, tato por tato, suor por suor... olhou para o lado, se tantos pensamentos são atordoassem sua mente apreciaria a visão de ter aquele homem ao seu lado sem nada para protege-lo da leve brisa matinal. Merda, sentia como se tivesse alcançado o céu, mas com uma ancora amarrada nos pés forçando-a a cair.

— Merda... Merda! Merda! Merda! - murmurou cravando as mãos nos cabelos soltos e embaraçados, cobrindo os olhos.

Foi tomada por uma forte dor de cabeça, causada pelo excesso de vinho ou pelo turbilhão de lembranças da noite anterior. Atacada por uma súbita adrenalina, levantou da cama e passou a caçar suas roupas espalhadas pelo cômodo.

Fez o possível para descer as escadas rápida e silenciosamente. Foi em direção a cozinha e só então calçou seu caro par de saltos. O lugar estava claro, o Sol já havia nascido por completo, Lia olhou para todos os cantos sem saber ao certo o que fazer, sem decidir que rumo tomar. Olhou para a cafeteira elétrica ao lado da pia e resolveu tomar um pouco de café para recobrar melhor os sentidos, o café estava frio e sem açúcar, mas ela mal percebeu, sua mente vagava longe dali, cruzava outros horizontes. A noite passada. Encostou-se no mármore frio da pia e fitando a janela pôde, enfim, recordar como adquiriu tantas marcas de mordidas e arranhões.

Em algum ponto específico de um imenso universo, uma fã, com sua enorme insignificância, realizou um de seus maiores sonhos, mas não se sentia feliz.

 

Os raios solares já tinham tomado conta do quarto por completo quando Elídio acordou. Ainda sonolento, virou-se para o centro da cama carregando um sorriso bobo nos lábios, esse que logo se desfez assim que percebeu que estava sozinho. Sentiu-se pequeno em meio a tantos lençóis.

Não queria, mas foi obrigado a sair de sua zona de conforto, sentou-se na cama ainda nu e sorriu maliciosamente ao ver a marca de batom deixada em sua virilha, olhou em volta e percebeu que, junto da jovem, suas roupas também tinham sumido. Isso não o agradou, depois de desfrutar da bela visão dela desprovida de qualquer inconveniente tecido, não queria vê-la vestida nunca mais. Levantou, se vestiu e desceu as escadas.

Logo encontrou Lia, não só vestida como pronta para ir embora. O mesmo vestido intimidador de sexta, os mesmos saltos finos, mas dessa vez tinha os cabelos presos e nos olhos leves registros de uma pele antes coberta de maquiagem. Além disso, a mulher carregava algo a mais no olhar, algo que o homem não pode decifrar o que era.

— Se vestiu só para me dar o trabalho de tirar sua roupa de novo? Gosto disso... - ele falou se aproximando dela, pressionando seu corpo contra o balcão.

— Eu preciso ir embora. - gaguejou sem coragem de olha-lo nos olhos.

— Ir? Não, que isso? Não está afim de um repeteco? - perguntou atacando o pescoço da outra.

— Eu preciso trabalhar - respondeu de súbito afastando o Barbixa e saindo de perto.

— De sábado?

— Sim?! - Merda, hoje precisava mesmo ser sábado? Reclamou mentalmente - tenho que revisar alguns relatórios em casa.

— Deixa eu pelo menos te deixar em casa então.

— Não há necessidade.

— Por favor Lia, eu faço questão. Senta, fica a vontade pra tomar café, a casa é sua. Só vou tomar um banho rápido e já desço.

O humorista subiu rapidamente as escadas, mas logo que se viu sozinha, apenas na companhia de seus cruéis pensamentos, a jovem saiu o mais rápido que pôde.

...

Assim que chegou ao aeroporto, Sanna foi direto ao portão em que o resto da trupe estaria. Era dia de turnê, e como sempre ele estava atrasado. 

Tentou forçar a melhor cara de satisfação, mas não era bom nisso e talvez quisesse mesmo que percebessem seu mal estar. Era mimado, queria um pouco de colo. Cumprimentou todos presentes e se sentou junto a eles.

— Pontual como sempre - ironizou Fábio Lins, o mestre de cerimonias da turnê.

— Se tem uma coisa que o Elídio não sabe fazer, dentre muitas outras cositas más, é ser pontual - Anderson brincou com o amigo.

— Foi mal... A Lia dormiu em casa e acabei perdendo a hora - Justificou-se sem olhar para nenhum deles.

Nesse momento, Marco levantou a cabeça, tirando a atenção de seu smartphone. Era a primeira vez que se viam desde aquela triste quarta-feira.

— Ah sim, e como foi? Seu plano deu certo? - questionou Fábio.

— Deu. - Ele respondeu dando de ombros e olhando para Marco.

— Então agora acabou, né?! Você conseguiu o que queria e agora vai se concentrar no trabalho? - Jeff perguntou em tom intimidador.

— É...

— Então vamos, o avião já já sai.

Mais tarde, já dentro do hotel onde passaria o fim de semana, Daniel estava em seu quarto conversando por telefone com a esposa quando ouviu uma batida na porta.

— Espera só um pouco, amor - disse afastando o celular da orelha - pode entrar.

— Dani, posso falar com você? - Elídio perguntou apenas com a cabeça dentro do quarto.

— Te ligo mais tarde Ka. Aconteceu alguma coisa Lico?

O Barbixa mais baixo entrou, fechou a porta, trancando-a com a chave pendurada na fechadura, e se sentou na cama ao lado do amigo.

— Não sei ao certo se aconteceu... é sobre ela.

— Prossiga.

— Ontem eu levei ela lá em casa, como eu falei que ia fazer, e acabou rolando mesmo, quero dizer, você sabe.

— E pelo jeito não foi bom?

— Não é isso. Claro que foi bom, foi ótimo! - ele riu das próprias palavras - mas não tenho certeza se ela pensa o mesmo, sabe? Hoje de manhã ela tava estranha, indiferente, tentando me evitar.

— E a possibilidade dela não ter gostado te incomoda?

— Não deveria?

— Por que se preocupar se ela gostou ou não se foi só uma noite? Se vocês nunca mais terão nada?

— É...

— Ou talvez sua inquietação seja porque seu interesse vai além disso.

— Você acha que eu devo falar com ela?

— Não sei, você quer falar com ela?

Elídio não respondeu, sabia que se procurasse a jovem, poderia se envolver mais do que o necessário. Ponderou suas opções, precisava decidir rápido.

...

Assim que chegou em casa, já de noite, Aline viu uma cena incomum: a amiga estava jogada no sofá, em seu colo uma torta de morango pela metade e na TV uma playlist de musicas deprimentes.

— Aconteceu alguma coisa?

— Tive uma das melhores noites da minha vida, queria poder repeti-la, mas sinto que não vou.

— Então aconteceu? - A outra balançou a cabeça afirmando. - E por que não estamos comemorando? 

— Detesto admitir, mas a ideia de que acabou me incomoda. Acho que no fundo esperava mais.

— No fundo você esperava pelo romance que vem sonhando desde a adolescência. Eu entendo, mas a vida adulta nem sempre nos dá o que desejamos. 

Aline se sentou no chão e abraçou a amiga. Lia repetia em sua mente as palavras da amiga, sabia que não havia sido sincera com seus sentimentos e agora precisaria alinhar suas expectativas para não se machucar.

...

A muito quilômetros dali, um homem deitado em seu quarto de hotel com uma das melhores vistas de Vitória, tentava pela enésima vez escrever uma mensagem enquanto lia e relia diversas vezes o nome do contato na tela de seu celular.

Lia


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo,
Abraços!



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