Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 31
Desde a quarta-feira no Comedians


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Desde a quarta-feira no Comedians, aparentemente, tudo tinha voltado aos eixos. Marco Gonçalves decidiu que o melhor a fazer seria passar alguns dias com a família em sua cidade natal, Porto Alegre, e ver se assim sua frustração se perderia junto a sua mala, que foi parar em Recife. Lia voltou para sua exaustiva rotina de trabalho-teatro-faculdade, que piorou ainda mais nos últimos dias visto a aproximação de sua estreia somada a produção de seu TCC. E Elídio, por sua vez, dedicou todas suas noites, madrugadas, manhãs e tardes à morena apelidada carinhosamente por ele de "a dona dos sorriso arrebatador".

Com poucos dias faltando para a estreia de sua peça, Lia jamais se sentiu tão cansada. Passou 14 dias seguidos ensaiando por horas junto a Pedro e sendo avaliada por uma grande equipe exclusiva do teatro em que iria se apresentar. Como se já não bastassem as dores nas pernas, notas vermelhas em duas provas e fortes olheiras contornando seus olhos, uma intensa dor de cabeça surgia toda vez que Faletti a presenteava com seus sonoros gritos. Estava decidido, seria sua última peça com a Cia dos Tropeços.

Elídio achou relativamente trabalhoso ter que, durante essas semanas, escolher roupas e lugares diferentes para sair. Em alguma das vezes Lia contribuiu com sugestões, em outras acabaram sentados na escada da entrada do prédio da jovem, apenas rindo e conversando.

Desde o sumiço de Marco, tudo havia ficado mais fácil, o Barbixa passou a ter uma certa intimidade com a mulher, dessas que não costumava ter com muitas e se incomodou um pouco ao lembrar que na última vez que coisa parecida aconteceu, acabou comprometido por 11 longos meses.

Tudo estava correndo tão bem, as noites que passaram regadas a longos beijos e sinceras risadas só serviram de combustível para alimentar uma vontade que já estava mais do que viva dentro dos dois. Ele tinha, realmente, adorado os últimos dias juntos, mas faltava uma única coisa, um pequena e simples palavra de apenas duas sílabas e quatro letras. Sexo. Sim, é claro, dois meses já tinham se passado e o humorista ainda não conseguiu levar Lia para cama, para o sofá, a escada, enfim qualquer lugar que pudesse desfrutar de todas as curvas, aromas e sabores dela. Mas percebeu que isso não era um incomodo tão latente quanto antes.

Sem se importar muito com esse fato, o homem, com seu natural jeito simpático e encantador, convidou a jovem para passar a tarde de quinta com ele e toda a produção da cia, para assistir e acompanhar de perto todo processo de criação. Sabia que depois disso, ela acharia toda a parte do improviso bem mais simples e sem graça. Os verdadeiros artistas trabalhavam atrás das cortinas.

Logo que saiu do trabalho, Lia foi para o Teatro da Universidade Católica de São Paulo e lá encontrou Elídio e todos os outros que compunham a Cia. Ela passou o final da tarde e o comecinho da noite sentada logo na primeira fileira acompanhando a movimentação no palco para a montagem de cenário, teste de luz e som e o treino e aquecimento dos humoristas.

Sempre que passava pela jovem, na maioria das vezes correndo, Elídio parava para beija-la rapidamente. Nos primeiros beijos, Lia tentou se afastar sentindo vergonha de todos a sua volta, mas logo percebeu que seria mais fácil não resistir.

— Desiste, você não vai se livrar de mim tão fácil.

Essa sorriu se encolhendo na poltrona.

— Só acho desconfortável te beijar com todos olhando.

— Você sente... vergonha por estarmos juntos?- Elídio sentiu um nó no estomago enquanto esperava pela resposta.

— Não estamos juntos... - A resposta contribuiu para o nó no estomago do outro ficar ainda mais estreito.

— Não? - Ele perguntou olhando fixamente em seus olhos, arqueando uma sobrancelha.

— Não! - Respondeu imitando o gesto.

— E não quer estar? - Ele perguntou pousando a mão sobre a coxa da jovem, subindo-a vagarosamente.

Poucos segundos depois, antes mesmo de Lia pensar em uma resposta, uma mulher de cabelos avermelhados deu um belo sermão no humorista, pedindo concentração. Lia não sabia quem era ela, quando chegou não a viu, então não tinham sido apresentadas, mas do jeito que a mulher a encarou, algo fez a jovem pensar que não se dariam muito bem.

Algum tempo se passou e os humoristas foram ao palco se aquecer com uma cômica partida de badminton, chamaram a convidada de honra, porém Lia recusou, apenas passou a assistir a disputa mais de perto sentando na cadeira que horas depois seria ocupada por Anderson Bizzocchi.

Ela riu do começo ao fim do aquecimento, como se o espetáculo já tivesse começado. Se impressionou com a sintonia de todos, tanto dos Barbixas em si, como deles com os convidados. A partida terminou com a vitória da dupla composta por Elídio Sanna e Fábio Lins, mestre de cerimonias convidado, que saíram correndo e gritando pelos corredores da plateia como se tivessem garantido o hexa do Brasil na Copa do Mundo.

Suado e ofegante, Daniel sentou na cadeira ao lado de Lia e passou a olha-la com um sorriso malicioso nos lábios.

— Oi. Prazer, meu nome é Daniel e eu procuro uma pessoa carinhosa, sincera e leal. E você? - Declarou fingindo segurar uma taça nas mãos.

— E eu procuro uma pessoa que esteja procurando uma pessoa carinhosa, sincera e leal. - Respondeu indo para frente, apoiando no encosto da cadeira e se aproximando do outro.

— Achou que o destino acaba de nos pregar uma peça. - Observou o humorista, tomando um gole em sua taça imaginária.

— Isso é vinho?

— Não, é uma mimica* de vinho.

Ela fingiu pegar a taça da mão de Daniel e bebeu também.

— Amargo.

— Como a vida. - Respondeu com uma voz rouca.

— Poético!

Os dois se encararam por breves segundos e, juntos, caíram na gargalhada. Demoraram a recuperar o folego, o que chamou a atenção dos que estavam próximos.

— Sabe Lia, preciso te contar uma coisa.

O silêncio da jovem indicou que poderia dar continuidade.

— Talvez você não saiba, mas o Elídio é meio babaca mas, as vezes, os babacas são as melhores pessoas para se conviver.

— O que quer dizer?

— Só lembre disso e se esquecer eu estarei aqui para te lembrar.

— Lembrarei...

Com tudo pronto o espetáculo começou. Casa cheia, risadas garantidas e interação total do publico. Os 70 minutos passaram rápido para a garota e, quando percebeu, já estava no corredor do camarim esperando, a pedido dos meninos, a sessão de fotos acabar.

Jaque se aproximou na moça e começaram a conversar, pouco depois os outros também chegaram e formou-se uma roda de risadas. E pensar que anos atrás nem com a Aline eu tinha coragem de conversar, ela pensou. Os minutos foram passando, o grupo diminuindo gradativamente e por fim, a jovem voltou a esperar, sozinha, na frente do camarim.

— Lia, o Lico pediu pra você entrar. - Daniel disse assim que saiu de lá, junto dos outros humoristas. Todos carregavam nas costas suas mochilas, prontos para irem embora.

Ela agradeceu o aviso e adentrou o camarim. Lá, Sanna a esperava de pé, bem no centro do local, de braços cruzados. Ela não deu muita atenção para ele, percorreu os olhos por todos os lados e só então passou a encara-lo.

— Quer me dizer alguma coisa? - Ele perguntou, ainda de braços cruzados.

— Você sabe do Marco? Eu tentei falar com eles esses dias mas...

— Não vamos falar do Marco, vamos falar da gente. - Ele se irritou um pouco, quando perguntou, esperava que Lia continuasse a conversa que tiveram quando estavam na plateia.

— Não existe "a gente". - Ela respondeu já virando para ir embora, mas ele a impediu segurando seu braço e, puxando-a para si, a agarrou firmemente pela cintura.

— Lia... espera, olha que delicioso balcão logo ali. O que você acha?

Foi rápido, enquanto fazia o convite, Sanna colocou a mão por baixo da camiseta da jovem, ela ficou surpresa com a facilidade do movimento e sem saber se seu arrepio foi causado pelo calor do momento ou pelo contato com os dedos gelados do homem.

Sorriu maliciosamente, de um modo mais intenso do que o qual ele já estava acostumado, passou a percorrer sua mão pelo cós da calça do outro até enfia-la por dentro da mesma. Sentiu o tecido de sua cueca e decidiu descer mais um pouco seus dedos, até que passou a sentir uma nova textura de pele e alguns pelos recém raspados que já insistiam em nascer. Fez tudo olhando fixamente para os olhos do homem, que não conseguiu conter um suspiro.

— Você não daria conta. - Finalizou saindo do camarim.

Se despediu dos que ainda estavam no teatro e foi em direção ao estacionamento, buscar seu carro. Não conseguiu conter uma forte risada ao lembrar dos últimos minutos.

...

— Vamos embora, Elídio? - Anderson perguntou entrando no camarim.

O homem ainda estava no mesmo lugar, cravou os dedos entre os grossos fios de seu cabelo e suspirou indo para o corredor:

— Essa mulher me enlouquece. Me enlouquece!

Todos estavam no corredor, aparentemente só faltava o Barbixa mais novo para irem embora.

— Então enlouqueça ela também! - Lins respondeu.

Sanna parou onde estava, olhou fixamente para o amigo por alguns segundos e deu um largo sorriso.

— É isso, é isso... já sei o que vou fazer! De amanhã não passa, não passa!

— E o que vai fazer espertão?

— Prestem atenção, vou explicar...


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo,
Abraços!



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