Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 29
O sol já se preparava para se pôr


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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O sol já se preparava para se pôr, os pássaros que por ali sobrevoavam cantavam cada qual sua própria melodia e as árvores, altas e espaçosas, dançavam no ritmo do vento. Algumas pessoas se preparavam para ir embora, enquanto outras permaneciam sentadas, ignorando o passar do tempo ou a mudança do clima.

O casal continuava a andar pela trilha de pedestres em completo silêncio. Não um silêncio constrangedor, mas sim um momento confortável entre os dois que preferiram, pelo menos naquele momento, dar voz apenas para os sons externos. Sorrindo, o homem levantou o dedo mindinho para a jovem, ela olhou confusa por um tempo, mas, sorrindo, laçou seu mindinho ao dele. Continuaram a andar assim, ainda acompanhados do majestoso silêncio.

— Sabe...- Ela falou após longos minutos sem pronunciar qualquer palavra - Eu sabia que você iria se afogar em um mar de arrependimento por ter me dado um fora ontem.

— Eu não te dei um fora. - Ele riu.

— Tudo bem Marco, eu entendo que você tinha mais o que fazer do que sair com uma garota que mal conhece.

— Ei! Eu não te dei um fora! Te falei que ontem eu tava em Porto Alegre, fui passar o dia com minha mãe. Você acha mesmo que eu recusaria um convite seu? Por Deus, Lia, a coisa que mais quero fazer nos últimos dias é sair contigo. Ainda bem que te passei meu número no dia da festa.

Ela sorriu, mas não disse nada.

— Você tá me levando pra algum lugar?

Ela assentiu.

— Todo sábado de manhã eu venho aqui pra caminhar e me distrair um pouco, esquecer do estresse do mundo exterior, sabe?

— Você vem sozinha?

— Sim. Acho melhor assim, é um momento só meu com a natureza. - Resposta essa que anulou qualquer tentativa de se oferecer como companhia por parte do humorista.

— Caminhar com essa vista é apaziguador mesmo.

Assim que Marco pediu uma sugestão de onde iriam, Lia pensou no parque próximo ao seu apartamento, aquele em que ela fazia caminhada aos sábados de manhã. O lugar era grande, cheio de árvores altas e vegetação rasteira, tinha alguns pequenos lagos ocupados por sapos, garças e tartarugas, pistas para corrida e caminhada, ciclovia e muitos vendedores de picolés, pipocas e sucos naturais. Com toda certeza era uma ótima vista para qualquer amante da natureza.

— Vem, é bem ali. - Ela apontou para um ponto a sua direita.

Caminharam até a beira do maior lago do parque e ali se sentaram. A jovem pegou do chão uma porção de pedregulhos e dividiu com o amigo, ele pegou sem entender ao certo para que. Mas assim que Lia atirou uma no lago, ele compreendeu.

— Eu sempre quis imitar aqueles personagens de filmes românticos que tacam a pedra na água e ela saí quicando até cair, mas nunca deu certo.

Ele riu e jogou uma pedra na mesma direção, essa que também afundou assim que deu de encontro com a água.

— Eu nunca assisti o Errando na Mosca. - A garota contou jogando outra pedra.

Errando na Mosca era o nome do espetáculo de improviso do qual Marco era membro.

— Não? Como não?

A indignação do humorista fez Lia rir.

— Como uma fã declarada de humor e improviso nunca assistiu ao melhor espetáculo humorístico improvisado desse país?

— Quanta modéstia, não?

— Vou resolver isso pra você, te dou dois ingressos pro espetáculo dessa quarta.

— Não precisa.

— Eu faço questão! Você vai ver que assim que sair de lá nem vai lembrar quem eram aqueles caras de barba engraçada.

— Bobo demais. - Ela ainda ria.

— Posso fazer uma pergunta hipotética?

— Até duas se quiser.

— É errado tentar algo com a mulher que seu amigo está interessado?

— Claro que é!

— Mesmo que as intenções do amigo número 1 não sejam boas?

— O amigo número 2 gosta da garota?

— Hipoteticamente falando?

— Hipoteticamente falando.

— Sim.

— Bom, se é assim, o amigo número 2 tem que conversar com o amigo número 1 e explicar que ele está gostando dela.

— Então o amigo número 2 deve se afastar da mulher?

— Sim, mas não totalmente. Ele tem que esperar, se são amigos não pode atrapalhar o amigo número 1.

— O amigo número 2 ainda tem que conversar com o número um?

— Tem. Vai que o amigo número 1 tá gostando dela também, mas por algum motivo não quer admitir ou ainda não percebeu.

— Então, se os dois estiverem gostando da mesma mulher, de quem é a prioridade?

— Não se trata de prioridade, mas o segundo cara não deveria se intrometer antes de conversar com o amigo.

— Acho que é melhor o amigo número 2 esquecer essa mulher... - Ele disse demonstrando insatisfação.

— Não sei, talvez ela possa ser a mulher da vida dele... nunca se sabe.

— Na primeira semana de Março, antes de você ir no Improvável, deveria ter ido no Errando na Mosca. Tudo seria tão mais fácil...

...

A manhã de terça-feira começou de maneira incomum para Lia. Assim que chegou na cozinha deu de cara com a amiga cozinhando freneticamente. Aline ainda usava seu pijama e tinha o cabelo bagunçado, mas estava acordada há pouco mais de uma hora. O lugar estava um caos, a pia fora dominada por panelas e vasilhas sujas, o fogão tinha todas as bocas ocupadas e todo seu entorno com manchas de molhos e caldos, na mesa havia seis pratos cada um com uma comida diferente.

— Aline o que é isso?

— Lia, que bom que acordou. Senta aqui e experimenta esse prato.

— Você cheirou cocaína ou bebeu café demais?

— Haha engraçadinha, senta aqui logo.

Lia obedeceu e rapidamente Aline colocou um prato a sua frete. A morena observou e com uma nada discreta cara de nojo, perguntou:

— Que isso?

— Um café da manhã chinês.

— Um macarrão? Olha, não é por nada não, mas se for assim até eu virou chef.

— Lia! É um café da manhã internacional.

— Mas, mas... mas, isso tem escarola, não dá pra comer escarola às 6h00 da manhã.

— Com quem você saiu ontem?

— Ih oh lá, que curiosa. Não saí com o Elídio, se é isso que quer saber.

— Se não saiu com ele, saiu com quem?

— Com o Marco e consegui dois ingressos pro Errando na Mosca dessa quarta.

— Que Marco?

— Marco Gonçalves.

— O HUMORISTA?

— Line, não grite antes das oito da manhã.

— E o Elídio?

— Tá bem.

— Lia, já entendi, ok?

— Entendeu o que?

— Esse seu joguinho. Estava até demorando pra você começar com isso.

— Isso o que?

— Você sabe, esse seu jogo de sempre.

— Line, deixa de ser ridícula, eu não faço isso. Você acha mesmo que dois homens adultos seriam seduzidos por mim?

— Do jeito que você é, eu não tenho duvidas.

— Pois então que sejam. - Lia respondeu arqueando uma das sobrancelhas enquanto enrolava o macarrão com um garfo.

...

Mais tarde, a alguns quilômetros daquele apartamento, pode-se ouvir o toque da campainha na casa de um humorista.

Elídio, que estava jogando vídeo game na sala de estar, se levantou, pegou a chave pendurada atrás da porta e a abriu. Da sala conseguiu ver o homem de estatura média e cabelos negros, que aparentava quase quarenta anos.
Ele desceu as escadas devagar e abriu o portão da garagem. Marco Gonçalves o encarou com uma expressão nada boa.

— Precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Abraços e até o próximo capítulo.



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