Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 26
O vento invadia o cômodo


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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O vento invadia o cômodo fazendo as cortinas dançarem e arrepiando todas as extremidades do corpo da mulher. Essa que em algum momento da madrugada perdeu o cobertor e agora como proteção só tinha sua lingerie de renda cor-de-rosa.

Ainda estava escuro quando seu celular começou a tocar. Ela tateou cegamente o criado por um tempo até que o encontrou e atendeu a ligação.

— Alô?

— Bom dia flor do dia.

— Quem é?

— O amor da sua vida.

— Marco?

— Marco? Não Lia, é o Elídio! - Seu tom ficou alterado - Por que achou que fosse ele?

— Já tá querendo demais, não acha? Me ligando de madrugada e exigindo que eu saiba quem é. Por que motivo você tá me ligando às... que horas são?

— 4h45.

— 4h45? Porra... o que você quer?

— Só queria ouvir sua voz.

— Você me ligou pra isso?

— Sim, mas pelo jeito é melhor desligar.

— Não. Desculpa, eu não sou a pessoa mais indicada para se acordar, sabe?

— Vou anotar isso. Mas sério, eu desligo.

— Não, tudo bem. Vamos conversar. Aí tá frio?

— Um pouco, por quê?

— Por que eu tô morrendo de frio, roubaram meu cobertor.

— Você está me dizendo que invadiram seu apartamento de madrugada e a única coisa que levaram foi um cobertor?

— Com toda certeza foi isso que aconteceu.

 

Ela sentou na cama, tateou o chão até encontrar o cobertor e voltou a deitar se cobrindo com o mesmo. Fitou o teto por um tempo.

— Você não vai viajar hoje?

— Meu voo é as 7h00.

— Maceió, né?!

— Você decora nossa agenda? - Ele perguntou rindo.

— Talvez. - Ela riu também.

— Agora eu vou te deixar dormir, Lia, e tentar descansar um pouco também.

— Boa viagem.

A jovem colocou o celular novamente no criado, virou para o lado oposto e adormeceu rapidamente. Ainda tinha algumas horas de sono.

Assim que acordou foi direto para a sala, sentou-se no tapete e passou a brincar com Rumple, que mais uma vez estava solto pela casa. A amiga não demorou para se levantar, tomou um banho, comeu alguma coisa e logo estava junto dos dois.

— Bom dia flor do dia.

— Acho que já ouvi isso hoje...

— Eu ouvi que te ligaram de madrugada, tá tudo bem?

— Tá sim, foi o Elídio que ligou.

— E o que ele queria?

— Segundo ele, queria escutar a minha voz.

Awn.

— Awn nada gata, conheço o joguinho dele, não caio nessa e se cair, levo ele junto.

— Você definitivamente não é romântica, né?! Não se deixa apaixonar nem pelo próprio Sanna.

— Aline, quem é que desde a sétima série te dá conselhos amorosos?

— Você.

— E algum desses conselhos alguma vez deu errado?

— Não. - Ela respondeu torcendo a boca.

— Então presta atenção que eu tenho um ótimo conselho hoje.

— Oh sabia guru, me diga por favor.

— Ame alguém e ele destruirá seus sonhos.

— Meu Deus Lia, meu Deus! Vamos mudar de assunto que você tá parecendo uma velha amarga de 76 anos. Foi trabalhar ontem?

— Sim. - Ela respondeu rindo- E você?

— Também. E em qual momento do dia você percebeu que ontem era dia 1° de maio, um puta de um feriado?

— Adivinha. - Lia estava tentando controlar a risada.

— Eu também.

A duas começaram a gargalhar, o furão, que brincava no tapete com uma bolinha amarela, olhou para as duas e deitou a cabeça, confuso.

— Eu só fui descobrir que era feriado quando cheguei na porta da Impactos e vi tudo fechado, não só ela né, a rua toda estava deserta sem nenhum comércio aberto. - Lia ainda estava rindo.

— E eu que entrei no restaurante, guardei minha bolsa, troquei de roupa e fui pra cozinha, eu tava picando a cebola quando meu chefe chegou e me falou que eu tava de folga. Imagina a minha cara.

— Ai Line, eu xinguei tanto tu não tem noção. Devo ter parecido uma louca reclamando sozinha no meio da rua.

— E você teve aula?

— Palestra, muito chata por sinal.

— Mas pelo menos a noite rendeu, hein?!

— É, talvez sim.

— Me conta como foi.

— Ele foi me buscar na porta da facul...

Awn.

— Você vai ficar falando "awn" a cada frase que eu disser?

— Talvez...

...

Seis homens no quarto de hotel, cinco sentados na cama e somente um em pé. Andrei, Anderson, Daniel, Jeferson e Tauszig ouviam Elídio falar com seu tom de indignação.

— E eu fui lá, todo romântico, parecendo um idiota, só faltou levar flores e um ursinho e nada, vocês ouviram? NADA! Busquei ela na faculdade, levei pra uma apresentação de orquestra. EU NEM GOSTO DE ORQUESTRA. E pra quê? Todo investimento não deu em nada.

— Já passou pela sua cabeça que talvez ela não queria dormir com você? - Daniel perguntou.

— Por que é que ela... bem, passou a mão lá? Não se passa a mão num lugares desses  e não termina o serviço.

— Talvez ela queria avariar o produto e quando viu que era pequeno perdeu a vontade.

— Vai se ferrar, Jeff. 

Todos que estavam na cama riram alto.

— Continua sua história dramática.

— Liguei pra ela hoje de manhã, né?! Ai falei que queria ouvir a voz dela, que tava com saudade. Mas nada funciona com essa mulher!

— Mas não vale o tempo que estão passando juntos? Aparentemente ela não é qualquer uma pra você - Daniel comentou.

— Claro que é! - Afirmou Elídio.

— Não, não é. E você sabe disso, porque se fosse você já teria desistido e não estaria tão preocupado. Mas não, você está obcecado por ela, só não quer admitir.

— Daniel e sua mania de romantizar as coisas. - Jeferson reclamou.
Tauszig, até então o mais calado dos seis, levantou o dedo indicador e logo depois disse:

— Eu concordo com o Dani. Todos aqui, inclusive o próprio Elídio, devem concordar que não lembram dele ficar assim por mulher nenhuma, muito menos uma fã e, justamente por não querer assumir isso para nós e para si próprio, ele prefere fingir indiferença.

— Finalmente um adulto no recinto, toca aqui Tauszig. - Daniel disse estendendo a mão para que o músico tocasse.

— O politicamente correto deve ser um mal dos Danieis. - Observou Jeff.

— Hum... estou atrapalhando a reunião dos mocinhos? - Anne, esposa de Andrei, perguntou entrando no quarto.

— Não amor, só estamos aqui ouvindo o Elídio reclamar.

— E qual seria o problema? - Ela perguntou se referindo ao homem em pé.

— Mulheres, na verdade uma mulher.

— E o que essa mulher fez de tão terrível?

— Ah ela fica se fazendo de difícil.

— Talvez ela não se faça, talvez ela esteja avaliando se vale a pena, mas ainda não se convenceu.

— E o que você sugere que eu faça?

— Você pode desistir e partir pra próxima.

— Desistir? Desistir? Não, agora é questão de honra! Hoje é dia 2, me dá um mês só pra você ver.

 

Faltavam 20 minutos para o espetáculo começar, o Barbixa estava sentado sozinho no camarim olhando para a tela de seu smartphone até que começou a digitar uma mensagem.

Olá, eu sou representante da PAM S/A e estou aqui para lhe oferecer algo que vai revolucionar a sua vida. Eu venho lhe oferecer este maravilhoso morcego morto.

Mandou a frase mas, logo depois se arrependeu, era pouco provável que a jovem entendesse sua piada. Se sentiu um babaca. Começou a bater os pés e dançar os olhos pelo local.

O camarim era espaçoso e muito bem iluminado, tinha um espelho que ia de ponta a ponta em uma das paredes e a frente cadeiras e uma bancada, alguns armários na lateral e um extenso sofá de couro sintético na parede oposta a do espelho. Sofá esse que o Barbixa ocupava.

Sentiu o aparelho em sua mão vibrar, seus batimentos aceleraram levemente. Ela havia respondido.

Lia: Pra que que eu iria querer um morcego morto?

Elídio não teve certeza se a jovem tinha entendido a brincadeira mas, resolveu continuar:

Você: Porque ele vai revolucionar a sua vida.

Lia: O que que ele faz?

Você: A pergunta não é o que ele faz, e sim o que ele não faz.

 

Lia: E o que ele não faz?

Você: Ah! Você fez a pergunta certa!

Ele não te acorda de madrugada e fala que queria ouvir sua voz.

Lia: Só isso?

Você: Você também pode adquirir um manual de "Como Não Magoar o Cara que Está Afim de Você".

Lia: Idiota haha

 

— Elídio, dez minutos. - Daniel entrou no camarim.

— Eu já estou indo.

Você: Preciso subir mas, antes de ir quero te contar uma coisa.

Eu realmente não sei o que está acontecendo, mas você acaba comigo, me deixa fascinado e desconcertado. É estranho, mas gosto. Se pudesse me afogaria nos seus sorrisos.

Ele bloqueou o celular antes da resposta da outra, se levantou e guardou-o em sua mochila, antes de sair, se olhou do espelho por um bom tempo, tentando perceber alguma mudança, mas viu que não e entendeu que tinha mudado apenas por dentro.

Sorriu ao perceber que suas últimas palavras para a jovem haviam sido totalmente sinceras. Não sabia o que estava acontecendo com ele mas, se isso significava mais doses de sorrisos arrebatadores, ele definitivamente queria mais.


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Notas finais do capítulo

Vídeo do Vendedor de Morcego Morto: https://www.youtube.com/watch?v=QJ_G-bMSh_A

Espero que tenham gostado do capítulo.

Até o próximo capítulo,
Abraços.



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