Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 25
Acordou às 5h00


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Aline acordou às 5h00, ficou um bom tempo fitando o teto do quarto escuro - diferente da amiga só dormia com a janela fechada - nele se viam adesivos de estrelas e planetas, um mimo do namorado. Levantou, abriu a janela e se surpreendeu com o tempo nublado e com o vento gelado que foi ao seu encontro. Seu quarto tinha as paredes pintadas de lilás, uma cama de casal ao centro, uma penteadeira branca cheia de acessórios para cabelo, esmaltes e cosméticos, acima dela uma televisão, um guarda roupa na lateral e um cabideiro, fora as roupas e sapatos largados por todos os cantos do cômodo, denunciando sua falta de organização.

A loura foi até a cozinha, passou um café, lavou a louça e se sentou à mesa para esperar a amiga acordar. Enquanto esperava repassou mentalmente os acontecimentos da noite anterior, decididamente ver sua amiga beijar o ídolo não estava em seus planos, ficou em choque e precisava esclarecer esses pontos.

O despertador tocou, a morena o desligou e se levantou, foi até o banheiro lavar o rosto, passou alguns segundos encarando seu reflexo no espelho tomando coragem para a conversa que teria, sabendo que a amiga já à esperava. Saiu do banheiro em direção a cozinha, olhou a loira, que a encarou de volta, e deu um sorriso amarelo e sem graça.

— Bom dia. - Ela disse.

— Senta.

A morena obedeceu.

— Pode começar.

— Começar o que?

— A se explicar, de preferência.

— Eu não sei por onde começo.

— Pode começar pelo dia 5 de março. - A loira cruzou os braços e mudou a expressão.

— Ok...

Lia começou a contar todos os fatos. Falou desde a mensagem em uma de suas redes sociais, contou detalhes dos dois primeiros encontros, do beijo na escada e finalizou com o infeliz acontecimento de uma semana atrás. Aline ouviu tudo sem mudar sua expressão indiferente.

— Tá, e por que você não me contou?

— E eu ia contar o que Aline? Que eu saí com o Elídio e ele me beijou? E se não passasse disso?

— Ok, eu estou esperando.

— Esperando o que?

— Seu pedido de desculpas.

Lia gargalhou de forma verdadeira e exagerada, levanto em conta a hora.

— Vai esperar sentada então querida.

— Vagabunda!

Em resposta Lia apenas sorriu.

— Então, o que você acha disso tudo?

— O que eu acho? É, deixa eu ver se entendi: minha melhor amiga está me perguntando o que eu acho sobre ela estar tendo um caso com seu ídolo e não me contar e deixar, na maior cara de pau, eu descobrir tudo isso dois meses depois, é isso?

— É.

— Eu acho do caralho, Lia.

— Como é?

— Vem cá me dar um abraço.

— Oi?

— Anda mulher, me abraça! - Aline levantou e Lia foi ao seu encontro. - Calma!

— O que foi?

— VOCÊ TÁ COM O ELÍDIO!! Não vamos gritar?

— Vamos?

— Vamos!

Na verdade as duas berraram enquanto pulavam em círculos e finalizaram dançando um ritmo difícil de se decifrar.

— Me abraça de novo, mulher. - As duas se abraçaram e a loira apertou a bunda da amiga.

— Ei!

— O Elídio já pegou nessa bunda?

— Aline!

— O que foi? - Ela perguntou enquanto ria - Eu preciso saber, né?!

— Sério que não ficou brava?

— Em nenhum momento, tava só fazendo um suspense, eu queria mesmo era pular no seu pescoço e comemorar.

— Piranha!

Minutos depois, já sentadas no sofá, Aline perguntou:

— Você não se sente estranha com a diferença de idade?

— A diferença nem é tão grande.

— Ele é 10 anos mais velho, Lia.

— O Elídio é como vinho, quanto mais velho, melhor fica!

— Hum, já ouvi isso antes.

Mais alguns minutos quietas.

— E o que você pretende ter com o Elídio?

— O que o futuro tiver a nos oferecer.

...

— Foi o que eu falei, condenação clara de dez a quinze anos sem condicional.

— E ele?

— Disse que preciso ser mas prática do que teórica, que é pra eu parar de me apegar tanto às leis porque aqui é Brasil e nada funciona conforme elas. Que tipo de professor de direito diz isso?

— Tá vendo? É por isso que não curso direito.

Vitor e Lia estavam conversando na saída da universidade. Quando chegaram na calçada pararam diante do carro do homem, ele perguntou:

— Quer carona?

A mulher ia responder quando ouvir alguém chamar por seu nome, se virou e a pouco mais de dois metros de distância viu Elídio de pé ao lado de seu carro.

— É, parece que você já tem carona. - Vitor observou - É melhor você ir.

— Ai, eu não sei, não.

— Vai logo mulher, é ele. - Ele empurrou a amiga na direção do homem - E amanhã você me conta como foi a noite.

— Vitor! - Ela ficou vermelha.

Caminhou até o humorista, que acompanhou seus passos sorrindo, ela olhou para trás procurando o amigo e sorriu, Elídio acenou para Vitor que acenou de volta, então o universitário entrou em seu carro e deu partida.

— Tá fazendo o que aqui?

— Precisava te ver, ouvir sua voz, sentir seu cheiro...

— E agora que já fez tudo isso vai embora?

— Não. Vim te fazer um convite também.

— Que seria?

— Quer assistir a apresentação de uma orquestra?

— Merda.

— O que foi?

— Eu adoro orquestras.

— Vamos então?

— Agora?

— Sim.

— Que orquestra é essa que se apresenta depois da meia noite?

— A orquestra de rua.

Os dois entraram no carro e seguiram para um lugar que Lia não fazia ideia de qual era.

— Qual o nome da banda?- Ela perguntou com o carro em movimento.

— Sem Nome.

— Ela tem que ter uma nome.

— Banda Sem Nome.

— Não Elídio, é serio, qual o nome da banda?

— Lia, amor da minha vida, flor do meu campo, maçã do meu pomar, o nome da banda é Banda Sem Nome.

Ela não respondeu, ficou extremamente sem graça com o que ouviu.

Elídio estacionou ao lado de um bosque, abriu a porta para a moça e logo que ela saiu prensou-a contra o automóvel.

— Sabia que é desumano você sair comigo linda desse jeito?

Estava escuro e a rua deserta. Ele subiu a mão por dentro do vestido da jovem parando assim que sentiu o tecido de sua calcinha, beijou e mordeu seu pescoço fazendo instintivamente Lia jogar a cabeça para trás e soltar um rápido gemido. O homem passou a brincar com o tecido que até então segurava e a morder o pescoço da jovem com mais força.

De repente, a morena colocou a mão entre as pernas do homem e apertou seu jeans. Ação essa que pegou-o totalmente desprevenido e não pode evitar a expressão de surpresa. Ela o fitou fixamente e sorriu maliciosamente.

— Não brinque comigo, Elídio Sanna.

Ela soltou. Ele se aproximou e sussurrou em seu ouvido.

— Se você quiser a noite pode terminar no meu carro mesmo.

Ela sorriu novamente.

— Eu vim para assistir a apresentação se uma orquestra cujo nome é Banda Sem Nome, e é exatamente isso que vou fazer.

Ele balançou a cabeça.

Andaram abraçados até o interior do bosque. Não demorou muito para ouvirem a música, a banda era composta por vinte musicistas e um maestro, apesar da hora muitas senhoras estavam no local, que estava cheio. Cadeiras de plástico estavam espalhadas pelo lugar, todas ocupadas, e algumas pessoas se punham de pé perto do palco. A banda estava na terceira partitura.

Elídio encostou em uma árvore e puxou a jovem para si. O casal estava longe da maioria mas, conseguia ouvir a música com clareza. Lia sentiu as pernas bambas assim que ele a segurou com mais força e o beijo que se seguiu, com uma bela sonoplastia ao fundo, esse foi um beijo que nenhum furacão no mundo abalaria. Estavam ligados, como se fossem feito um para o outro, assim que seus lábios se tocaram tornaram-se um só.

Dessa vez Elídio não tentou nada além do beijo. Não conseguia explicar o que sentia, mas a única coisa que desejava era de ter o corpo da outra ali, colado ao seu, que passassem minutos, horas ou anos, nutriu mentalmente a verdade de que a apenas o beijo da jovens, lento e cálido, poderia mantê-lo vivo.

— Meu Deus. - Ele disse assim que os lábios se separaram.

— O que?

— Por que você demorou tanto para aparecer?

Ela sorriu, envergonhada.

— Eles estão tocando Lady In Red? - Ela perguntou, apontando para a orquestra.

— Estão. - Ele respondeu rindo.

O homem puxou-a para uma dança. Corpos colados, batimentos acelerados e desejos contidos, continuaram em silêncio por um longo período.

I've never seen you looking so lovely as you did tonight

I've never seen you shine so bright* - Ele cantou junto da batida.

Disfarçados entre os giros, rodopios, sorrisos e risadas, haviam olhares. Olhares estes que ocultavam as mais puras e profanas vontades. E em meio a tudo isso a mulher deixou escapar algo que se arrependeu logo depois que disse:

— Acho que estou sonhando.

— Eu também.


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Notas finais do capítulo

*Eu nunca tinha visto você tão bela quanto esta noite
Eu nunca tinha te visto brilhar tanto

Música: Lady In Red - Chris de Burgh, 1986.
https://www.youtube.com/watch?v=KBgysuZMuZM


Não se esqueçam de comentar.

Até o próximo capítulo,
Abraços!



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