Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 24
18h13, Deitada na cama


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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18h13, deitada na cama, Lia repassava mentalmente todo seu dia enquanto esperava que atendessem sua ligação.

Acordou cedo, fez café para ela e para a amiga, pilhas e mais pilhas de relatórios a aguardavam, passou toda a tarde verificando os papeis junto de Carla e secretamente respondendo as mensagens de Marcão. Ele a havia convidado para ir ao Improvável na mesma noite e ela explicou que já tinha recebido esse convite.

Assim que chegou em casa, fez questão de tomar um banho bem quente e relaxante, escolheu um roupa confortável e ao mesmo tempo chique, se trocou, arrumou o cabelo, passou a básica maquiagem de sempre e começou a ler pela enésima vez seu livro favorito.

Aline chegou pouco depois, deu comida para o furão, lavou a louça, fez um lanche e avaliou o look da amiga, uma clássica combinação de jeans e regata com um cardigan por puro capricho. Aprovou a roupa, escolheu a sua e foi tomar banho.

Após nove toques alguém atendeu.

— Oi meu amor.

— Vi, que bom que atendeu, preciso urgente da sua ajuda.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não. Ainda não, mas vai acontecer e preciso impedir isso.

— Ok flor, mas será que dá pra falar mais alto? Eu to na facul já...

— Não, não posso. A Aline tá no banheiro e ela não pode ouvir.

— Hum. Prossiga.

— Então, hoje eu vou no Tuca e a Aline vai junto e eu tô com medo do Elídio tentar algo na hora que a gente for tirar a foto. E não, não tem como não tirar foto porque a gente sempre tira e se eu falasse que não quero tirar ela iria estranhar. E eu já chamei ele, tipo quinhentas mil vezes e ele não responde.

Ela olhou para a tela do celular e bufou. Nele se via todas suas tentativas de contato com o Barbixa, todas um fracasso.

Ei
Elídio
Elídio!
Elídio Augusto
Augusto!
Elídio Augusto Sanna
Sr. Sanna
Elídioooooooo

— Tá, e o que você pretende fazer? Ficar chamando ele como se fosse uma adolescente desesperada tentando esconder o namorico dos pais?

— É... talvez eu já tenha feito isso.

Ela olhou mais uma vez para o aparelho, se sentindo patética.

— Agora me responde uma coisa: por que é que ela não pode saber sobre vocês?

— Porque quanto mais sigiloso for, maior a probabilidade de dar certo.

— Dar certo? O que exatamente?

— Ah, a Line escondeu o namoro dela por 3 meses de mim, e olha que eu que dei essa dica pra ela e acabou dando tudo certo.

— Sim, mas a loira e o ruivo acabaram namorando, aliás namoram até hoje. É isso que você quer?

A morena ponderou antes de responder.

— Claro que não, né Vitor? Você acha mesmo que eu sonho em um dia namorar o Elídio?

— Eu acho!

— Ah é? Vou dizer o que acho. Eu acho que...- Aline apareceu na porta do quarto - então você põe dois ovos, manteiga e mexe até virar uma mistura homogênea.

— A Aline tá ai né?

— Aham.

— Vamos? - A loira perguntou.

— Vi, eu vou ter que desligar. Muito obrigada pela sua falta de ajuda, lembrarei disso quando fizer meu testamento.

...

Quando chegaram, foram até a bilheteria para pegarem seus ingressos. A atendente era a mesma de quando Lia foi sozinha e aparentemente ela a reconheceu também.

— Última da fila como daquela vez - A mulher disse, entregando os ingressos - Bom espetáculo. - Ela concluiu sorrindo.

— Não entendi.

— Nem eu. - A morena respondeu puxando a amiga pelo braço.

Mais da metade das cadeiras já estavam ocupadas quando as duas entraram na sala do teatro. Muitas pessoas conversavam e riam, outras tiravam fotos e gravavam vídeos, algumas liam em silêncio. Todas essas ações pararam quando as luzes se apagaram e a primeira campainha tocou.

Novamente Aline viu a amiga rodar os olhos pelo lugar, com a boca aberta. Ela mesma achava tudo aquilo fantástico, adorava os Barbixas e muitos outros humoristas, sempre que podia assistia a peças teatrais e graças a melhor amiga seu gosto pelo mundo artístico aumentava cada vez mais. Mas imaginava o quão incrível era tudo aquilo para Lia, a jovem que tinha o sonho de lotar uma sala assim como aquela, de envolver um publico tão grande e poder viver disso.

Viver só do teatro. Esse era o ponto principal, aquilo que Lia mais almejava. Não queria participar de novelas e não fazia questão de atuar em um filme, mas seus olhos brilhavam quando pensava na possibilidade de algum dia poder largar o emprego, deixar o futuro diploma de direito de lado e viver apenas com o orgulho de ler seu nome em um grande banner estendido logo a frente da entrada de um teatro importante.

Lia conferiu novamente seu celular para ver se o Barbixa havia dado sinal de vida e constatou que não. Pensou em pedir para Marco dar o recado, mas percebeu a tempo o quão ridículo seria. Bufou e bloqueou a tela do celular.

— Lia?

Ela levantou a cabeça e viu Max de pé ao seu lado. Franziu o cenho, mas logo percebeu que o homem havia ganhado um ingresso também.

— Max? Oi, que bom te ver de novo.

— Posso dizer o mesmo. Não sabia que vinha também.

— Posso dizer o mesmo. - Ela respondeu sorrindo.

Depois da festa na sexta-feira, Lia teve que assumir consigo mesma que ele não era má pessoa. Bonito, engraçado, simpático e comunicativo, só era um pouco orgulhoso, mas ninguém é perfeito. Sem falar do modo receptivo que a tratou durante toda a festa.
Aline tossiu, forçando a amiga a olha-la.

— Ah sim, Max essa é minha amiga Line, Line esse é o Max.

— Prazer. - Ele disse, beijando a loira no rosto.

— O prazer é todo meu. E como. - Sussurrou para a amiga.

— Eu conheci o Max na sexta, Line, na festa que fui, lembra?

— A que você foi com o Augusto?

— É. O Max é o dono da casa de shows.

O homem apenas sorriu para a loira.

A segunda campainha soou.

— É, acho que te conheço de algum lugar. Mas vem cá, você viu um cara com ela? Pode me dizer como ele era?

— Um cara? - Ele perguntou.

— É, um tal de Augusto. O namoradinho que ela não quer me apresentar de jeito nenhum e ainda me diz que eu conheço o guri.

Lia olhou para Max como quem implora por clemência, pedindo mentalmente para que não dissesse nada a respeito de Elídio. Ele balançou a cabeça leve e rapidamente em sinal de quem entendeu o recado.

— Não vi ninguém, não.

O toque da terceira e última campainha fez-se ouvir, o espetáculo iria começar.

— Augusto? - Max perguntou para a morena, em tom baixo e ela apenas deu de ombros.

As cortinas se abriram e o mestre de cerimonias apareceu.

As duas amigas se olharam, sorriram e apertaram a mão uma da outra. O show havia começado.

...

Assim que o espetáculo chegou ao fim, Max saiu da sala e foi para o camarim não dando oportunidade para Lia falar com ele.

As mulheres saíram e foram em direção a fila para as fotos, que se formava logo na porta.

— Vamos ser as últimas?

— Ué, por quê?

— Os últimos sempre tem um tempinho a mais, Line. - Lia explicou, piscando para a amiga.

A fila foi diminuindo rapidamente e quando se deram conta, as jovens já estavam descendo as escadas do teatro acompanhadas de Jeff.

Lia estava apreensiva, ainda com medo de alguma tentativa de Elídio, mas tentou se acalmar levando em conta que o Barbixa prezava pela discrição quanto a esses casos. Respirou fundo e passou a andar mais rápido que a amiga.

— LIA! - Um coral se formou assim que ela entrou na sala de teatro. Anderson, Tauszig, Daniel e Marco, cantarolaram ao verem a jovem.

Ela correu para abraça-los. O abraço mais aconchegante de todos, para ela, sempre foi o de Daniel. Em todos os pontos ela sempre o viu como o mais atencioso com os fãs, mais carinhoso e o mais brincalhão. Sempre achou estranho seu favorito ser o ex cabeludo levando em conta que Daniel sempre a encantou mais.

— Quanto tempo. - Daniel disse, abraçando-a.

— Tempo suficiente pra você morrer de saudade, né?

— Sem dúvida. - Ele respondeu sorrindo.

— E você, vai ficar ai de escanteio? - Anderson se dirigiu para Aline, que sorrio e foi ao seu encontro.

— Uau, se a intensão era me deixar deslumbrado com tamanha beleza, você conseguiu! - Marco falou diretamente para Lia.

— Você ainda não viu nada. - Sorriu maliciosamente.

— Me mostra qualquer dia desses, mas agora vai lá cumprimentar o Elídio que ele já tá me olhando feio.

Ela foi, andou lentamente até o homem que a aguardava de braços cruzados e sorriu parando diante dele.

— Oi.

Ele não respondeu, pegou a jovens pela mão e fez ela rodar no próprio eixo, quando terminou grudou o corpo dela ao seu.

— Gostosa!

Jogou-a para trás e a segurou pela cintura, deitando-a. Dançou as pontas dos dedos pelo pescoço da jovem até que cravou a mão em seus cabelos e puxou os fios. Teatral, quente e de tirar o folego, termos que poderia ser facilmente utilizados para classificar o beijo dos dois.

— EITA PORRA.- Aline arregalou os olhos e tampou a boca com as mãos dando um passo para trás.

— Pelo jeito você não sabia dos dois. - Observou Daniel.

— Espera, vocês sabiam?

Os quatro simplesmente afirmaram com as cabeças.

— Essa história da gente se ver só uma vez por semana está me matando. - Sanna disse para a morena, abraçando-a.

— Se for pra gente sair e você me largar sozinha prefiro não te ver mais.

— Ai, essa doeu. Achei que já tivesse me perdoado.

— Hum.

— Mas de verdade vamos resolver isso.

— Mas, faz tempo isso? - Aline ainda não conseguia acreditar.

— Desde a primeira vez que vocês vieram. - Anderson respondeu.

— Mas na verdade esse beijo foi só pra me provocar. - Concluiu Marco.

— Como assim?

— É...

— Essa foto saí ou não saí? - Jeferson perguntou.

— Se o Elídio puder se controlar um pouco, talvez seja possível.

— Vem. - Sanna disse, pegando a morena no colo - Pode tirar, Jeff.

A foto foi tirada, o produtor devolveu o celular para a loira e as duas já seguiam em direção a saída quando Elídio deteve Lia.

— Essa você guarda pra você.
Ela assentiu.

— eu só viajo no sábado, vamos sair amanhã?

Ela sorriu, mas não respondeu nada.

— Bonita a garota, né? - Tauszig perguntou logo que as duas saíram.

— Carismática.

— Simpática.

— E tem uma bunda linda.

— Qual é Jeff, olha o respeito. - Lico advertiu.

As duas estavam a três quarteirões de casa, passaram a viagem toda em silêncio, o que começou a preocupar Lia. Ela olhou para a loira, que a encarou de volta e sorriu.

— Line eu...

— Amanhã a gente conversa. - Ela respondeu sem desviar os olhos da pista.

— Só queria dizer que...

— Amanhã a gente conversa - Retrucou serrando os dentes.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada às todas que comentaram no último capítulo.

Abraços e até o capítulo 25!



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