Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 17
Exatas duas semanas se passaram


Notas iniciais do capítulo

Nos últimos dias eu conheci algumas de minhas leitoras anonimas, muito obrigada por terem se apresentado. E aqueles que ainda não o fizeram, por favor, estou esperando para conhece-los.

Ótima leitura a todos e até as notas finais.



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Exatas duas semanas se passaram desde a última conversa com o Barbixa. Lia estava parada logo em frente ao prédio que trabalhava, franzia o cenho, surpreendida ao ver quem havia ligado minutos atrás. Depois de perceber que algumas pessoas que por ali passavam já a olhavam com uma certa curiosidade, resolveu retornar a ligação enquanto caminhava em direção a estação de metrô.

— Alô?

— Elídio?

— Ah, oi Lia. Tudo bem?

— Tudo sim. Eh... eu liguei porque acho que acidentalmente você me ligou. - Ela disse um pouco sem graça.

— É, eu te liguei sim, mas não foi por acidente.

— Não?- Involuntariamente ela arqueou uma das sobrancelhas enquanto atravessava a rua.

— Não! Eu estou atrapalhando?

— De maneira nenhuma, pode falar.

— Ah tá, é que ai tá o maior barulho. Enfim... tá livre hoje?

—Éééé, hoje? Tô!- Lia não conseguiu conter a risada, nem mesmo por telefone ela conseguiu conversar sem se sentir tensa.

— Tem certeza? - Ele também riu.

— Tenho, é que até dá pra faltar na faculdade, mas preciso voltar cedo.

— Cedo que horas, mais ou menos?

— Hum, antes das 23h30.

— Tá, 19h30 eu passo no seu prédio então. Tenho que desligar, até mais tarde.

— Até. - Ela desligou ao mesmo tempo que o metrô parou na estação.

Lia foi para a Tropeços, mas não ficou lá por muito tempo. Assim que chegou em casa deu comida para o furão, lavou e guardou a louça, tomou banho e, ainda de toalha, encarava seu guarda roupa pensando no que iria vestir. Ainda estava em dúvida quando seu celular começou a tocar, indicando uma ligação.

— Alô?

— Cheguei.

— Mas já? Ainda são 19h05.

— Nossa, nem tinha percebido. Posso subir?

— Não! - A negação soou bem mais enfática que o desejado.

— Você quer que eu fique esperando no carro?

— Quero!

— Você é cruel. - Lia riu e logo em seguida desligou, não queria que Elídio Augusto Sanna subisse até seu apartamento, não mesmo.

Assim que escolheu sua roupa desceu, aproveitando o tempo no elevador para se maquiar.

Dessa vez, Elídio a esperou dentro do carro, batendo a mão na lateral da porta, aparentemente acompanhando o ritmo do samba que tocava no rádio do automóvel.

— Uau, essa música é velha!

— As antigas são as melhores, nada supera os clássicos!- Elídio disse sorrindo.

 

— E então, para onde vamos?

— Surpresa.

— Hum, não vou ganhar nem uma dica?

— Negativo. Só espero que você goste de cantar. - Ele respondeu enquanto ligava o carro.

 

— Gostou do lugar? - Elídio perguntou assim que se sentaram.

— Claro, só não entendi aquilo ai, é uma apresentação de banda ou um karaokê? - Disse apontando para o fundo do bar.

Elídio levou a jovem para um típico bar paulista que poderia ser facilmente confundido com as dezenas de outros bares presentes na mesma rua se não fosse um diferencial: qualquer um que quisesse subir ao palco e cantar com a banda da noite, seria mais do que bem vindo, ainda mais estando bêbado, o que era mais comum.

— Na verdade são os dois. - Ele respondeu rindo. - No começo da noite a banda toca, mas vai chegando a madrugada, o pessoal vai ficando bêbado e alguém sempre acaba lá em cima do palco cantando algo parecido com sertanejo. Eu mesmo já fui vitima algumas vezes daquele microfone.

— Como é? Você está me dizendo que Elídio Sanna subiu num palco bêbado e pagou o maior mico cantando sertanejo?

— Não, eu estou dizendo que Elídio Sanna subiu em um palco bêbado e pagou o maior mico cantando Alcione. - Resposta essa que arrancou gargalhadas da outra.

— Eu pagaria pra ver isso!

— Mas e você?

— O que tem eu?

— Ah, já faz um tempo que a gente se conhece e não sei nada sobre você. Pode até ser uma agente do FBI disfarçada.

— Hum.. agora que você descobriu meu segredo, terei que mata-lo. - Finalizou fingindo atirar com uma arma de mimica, fazendo Elídio rir. - Tá, mas o que você quer saber exatamente?

— Quero saber de você.

— Hum... deixa eu ver... meu nome é Lia, tenho 25 anos e faço facul...

— Não, não é assim. Não estou fazendo seu currículo.

Dessa vez Lia demorou mais para responder.

— Tá, na verdade eu sou argentina, vim pra cá faz alguns anos pra poder estudar na Paso, a mais famosa escola de balé europeia. No fim do ano eu vou me mudar para a Rússia sem prazo de volta, só estou esperando terminar a faculdade e ir.

— Uau, é sério?

— Não! Mas você deveria ver sua cara agora. - Lia começou a rir alto de modo que algumas pessoas próximas a mesa a olharam sem entender bem. Enquanto Elídio a encarava com um olhar sério.- Desculpa, mas é algo tão sem graça que inventar uma história deixa mais emocionante.

— Concordo, mas ainda assim quero saber a história verdadeira.

Ele se aproximou mais da mesa, olhando fixamente para ela, que fitou seus olhos por um longo tempo. Se surpreendeu por nunca ter reparado como eram tão lindos e que mesmo as rugas precoces deixavam eles ainda mais bonitos.

— Eu me formei como atriz há anos e desde então participo de algumas peças pequenas sem muita remuneração. Pretendo me estabilizar na profissão, viver só do teatro, mas enquanto não acontece trabalho em um escritório qualquer. Me considero uma admiradora de vinhos tintos mesmo sem entender bulhufas nenhuma de safra ou fabricação. Não gosto de goiaba. Tenho um furão. Não sei cozinhar.

— Agora sim falou de você. Deixa eu adivinhar, é a mamãe quem faz a comida?

— Errou feio meu caro, eu não moro mais com a mamãe. Vai fazer dois anos que divido um apê com minha melhor amiga, que pra minha sorte estuda gastronomia.

— A que foi com você no Tuca? - Lia consentiu com a cabeça. - Espera ai, você tem um furão?- Elídio arqueou as sobrancelhas.

— Sim. - Ela respondeu rindo, já estava acostumada com a reação de estranhamento das pessoas diante de tal informação. - O nome dele é Rumpel.

O Barbixa ia falar algo, mas foi interrompido. Um homem, vestido ao estilo casual-chique parou diante da mesa dos dois e, sorrindo, os cumprimentou.

— Boa noite, desculpa interromper a conversa do casal, mas você é o Elídio não é? Aquele cara dos Barbixas.

— O próprio. - Ele respondeu com um sorriso.

— E você daria a honra de cantar uma música com nossa banda?

— Claro! Por que não?

— Ótimo, vou anuncia-lo então. - Ainda sorrindo o homem se distanciou da mesa.

— Quanta formalidade, hein?! - Lia observou logo que o homem saiu.

— A senhorita me daria a honra de prestigiar o meu humilde show? - Elídio fingiu tirar um chapéu da cabeça e estendeu uma das mãos para Lia.

— Claro, com o maior prazer. - Ela pegou na mão do outro e os dois seguiram em direção aos fundos do bar.

De repente Lia se viu cercada de outas 50 pessoas que riam e se divertiam enquanto assistiam Elídio cantar sua versão da música Kibe Crú do Trio Mocotó. Ele olhava diretamente para ela enquanto cantava, o que a deixou sem graça, mas continuou rindo e dançando, então um grupo de jovens parou ao seu lado e começou a conversar de modo que Lia conseguiu ouvir.

— OH MEU DEUS AQUELE É O ELÍDIOOOOO. - A mais baixa do grupo gritou.

— Puta que pariu esse cara é um gato, né?!

— Gato? O Elídio é o maior gostoso!

— E ele tá solteiro? - A segunda garota perguntou, era extremamente loira e ostentava um corte chanel impecável.

— Uhum, o único que sobrou, os outros dois são casados, tem até um deles que é pai.

— A partir dessa noite não estará mais, minha querida.

— Ah ta, claro, se nenhuma mulher prendeu ele até agora não vai ser você que vai conseguir essa proeza.

— Epa, epa. Vamos logo pegar umas bebidas antes que as crianças comecem a brigar.

Assim que as jovens se levantaram e foram em direção ao bar, Lia começou a pensar na filha de Anderson, quando percebeu, Elídio estava diante dela a convidando para subir ao palco e dançar com ele. Ao som de um "ACEITA" coletivo, a mulher negou até o último, então uma loira aceitou ir em seu lugar e quando se deu conta, a outra já estava se aproveitando da situação para tirar uma casquinha do humorista.

O show acabou, Elídio já havia descido do palco e já se passavam 15 minutos que Lia estava ali, parada esperando a sessão de fotos e de abraços acabar.

— Meninas desculpa, mas eu vim acompanhado, com licença. - Ele disse finalizando com um de seus sorrisos conquistadores enquanto se afastava da multidão de mulheres e ia em direção a Lia. - Por que você não dançou comigo?

— Você já me viu dançando, sabe muito bem porquê. - Ela o puxou de volta para a mesa.

— E o que achou?

— Ainda preferia você cantando Alcione, mas deu pro gasto. - Os dois riram.

— Teve uma hora que quase fiquei cego com tantos flashs.

— Tô até vendo os fã clubes amanhã "Lico é visto em bar dançando com loira". - Disse fazendo aspas com os dedos.

— E os comentários "Oh meu deus quem é essa vagabunda?". - Ele completou rindo.

— Vida de fã é difícil...

— É, mas eu gosto muito delas, são garotas bem legais, só não curto quando apertam minha bunda.- Ele falou coçando a cabeça, fazendo-a rir.

— Eu também não sei nada sobre você! - Ela sabia mentir com grande naturalidade.

— Meu nome é Elídio, tenho 35 anos e faço parte de um trio de humor.

— Ah é? E qual o nome do trio?

— Os Improváveis. - Dessa vez Lia começou a gargalhar, pensou se alguma vez os próprios Barbixas se confundiram com o nome da Cia.

— Falando sério agora. Eu sempre morei em São Paulo, curto muito viajar, passo todas minhas férias viajando com amigos, na verdade minha vida se resume a isso, diversão! Fico feliz em ter atingido sucesso com o Dani e o Andy porquê não levo o menor jeito para trabalhar em um escritório. Tenho um irmão mais novo e um primo que considero um irmão também. Eu tenho um Poodle, o nome dele é Maylon, mas ele passava tanto tempo na casa do meu irmão que agora resolveu ficar lá de vez. Apesar de viajar muito eu me considero um cara bem família. Curto dançar, beber e não gosto de chocolate.

— Uau, quanta informação. Maylon seria por causa do cachorro do Mascara?

— Finalmente alguém percebeu. - Ele falou em um tom divertido fazendo Lia rir.- Nossa, já são 23h17, tenho que te deixar em casa.

— Passou rápido, né?!

 

Logo depois que deixou Lia em seu apartamento sã e salva e com um beijo especial de boa noite, Elídio estacionou em frente a uma balada, pegou seu celular e ligou para Max, um amigo de anos.

— Fala seu bixa, ta sumidão hein?!

— Fala Max, tá afim de sair?

— Não leva a mal não Elídio, mas eu gosto de mulher.

— Deixa de ser besta Max, se arruma logo e me encontra na balada de sempre, ah chama o pessoal.

— Que pessoal?

— Quem estiver disponível, mas anda logo que a noite está só começando.


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Notas finais do capítulo

Pra quem nunca viu nosso querido Barbixa cantando Kibe Cru aqui está o link: https://www.youtube.com/watch?v=EJ7LVrwNgew

Espero que tenham gostado e até o próximo capítulo,
Abraços.



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