Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 14
Na manhã seguinte


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Na manhã seguinte Lia acordou bem mais disposta que o habitual. Logo depois que desligou o despertador, pulou da cama e foi escolher o que iria vestir para ir ao trabalho. Ela trabalhava em um escritório e essa falta de convívio com clientes garantia a ela algumas regalias, como, por exemplo, não precisar se vestir de maneira formal todos os dias.

Estranhamente se sentiu atraída por um vestido localizado logo na lateral do guarda roupa, ele era longo e de alças finas. Ela adorava aquele vestido e nunca havia usado para trabalhar, o que a fez pensar em algum programa além de sua rotina habitual, algum lugar que merecesse o uso daquela peça. Abriu um sorriso alegre quando, enfim, teve uma ótima ideia de onde iria assim que saísse do trabalho.

Só foi para a cozinha depois de ter tomado banho e se trocado e, chegando lá, encontrou Aline e André sentados à mesa tomando café.

André era namorado de Aline há mais de 2 anos, tinha 26 anos de idade e 1,90m de altura. Com exceção do rosto, era difícil encontrar uma parte em seu corpo que não fosse tatuada, daí o apelido "Gibi". Ele ostentava um cabelo milimetricamente cortado e uma barba volumosa, os dois de um laranja enjoativo. Estava no segundo ano da faculdade de Arquitetura, mas já era formado em Design e Administração.

— Bom dia raios de sol.

André fez uma cara confusa, o que fez sua namorada rir.

— Você precisa mesmo morar com uma hippie? - Ele perguntou se dirigindo para Aline. André e Lia brigavam desde o dia que se conheceram, mas por incrível que pareça eles eram bons amigos.

— Pelo menos ela toma banho e não fuma maconha no apartamento. - Ela disse dando de ombros.

— Muito engraçados, já pensaram em seguir a carreira da comédia?- Lia ironizou enquanto beijava a amiga e ia em direção a André. - Quando vai contar pra ela que o filho é seu? - Ela sussurrou no ouvido do outro.

— Na verdade pretendo vender a criança para uma família rica e usar o dinheiro para abrir o meu estúdio de tatuagens. - Ele respondeu mantendo o tom de sussurro.

— Tô vendo que mais alguém resolveu fazer graça logo cedo.! - As palavras foram de Aline.

— Ok, mas quando eu aparecer aqui com uma criança ruiva nos braços não diga que eu não avisei. - Lia respondeu enquanto colocava café em sua caneca dos Barbixas, é claro.

— Eu tenho sorte de ter uma amiga que talvez seja a única garota no mundo que não gosta de ruivos.

— Opa que preconceito é esse contra nós, donos de fios de pigmentação alaranjada? - André perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Nada contra, só não sou fã de laranja. - Lia brincou enquanto colocava a caneca na pia e se dirigia para a porta de entrada.

— Nossa, mas já tá indo? Você nem tá atrasada.

— É, eu sei Line, mas preciso adiantar alguns documentos pendentes.- Ela abriu a porta e terminou a frase quando a mesma já estava se fechando. - Façam o favor de não deixar camisinhas jogadas pelo apartamento, o amor é lindo, mas a sujeira não.

Assim que chegou ao andar do prédio em que trabalhava, sentiu uma atmosfera diferente, e percebeu que era um dia perfeito para fazer o que pretendia assim que fosse dispensada dali. Cumprimentou todos seus colegas que cruzaram seu caminho enquanto se dirigia a sua mesa e, assim que se sentou, notou um presentinho em cima dela.

— Quem será a criatura cruel que depositou um bombom em minha mesa sabendo que estou de dieta? - Ela dramatizou pousando uma das mãos sobre a testa.

— Que mulher mal agradecida credo, gastei um real nesse bombom pra ouvir essa desfeita.

— Eu também te amo Carla. - Lia respondeu abrindo a embalagem e mordendo um pedaço do chocolate.

Carla e Lia se conheceram na Impactos, na época Lia era nova e designaram a moça para ajuda-la. Logo Lia simpatizou com a mulher que aparentava não mais de 30 anos, de cabelos negros e sorriso apaziguador e não demorou muito para passarem de colegas de trabalho a amigas.

— Menos amor e mais trabalho, você tem 7 relatórios para entregar hoje.

 

Assim que pôs os pés fora do prédio da empresa, Lia pegou seu celular e ligou para alguém enquanto caminhava até o estacionamento.

— Alô? - Ouviu uma voz serena do outro lado da linha, com certeza era ela.

— Boa tarde minha hippie preferida. - Ela disse rindo.

— Lia? Não acredito! Que saudade flor.

— Opa eu ouvi a palavra saudade? Podemos resolver isso já, posso ir te fazer uma visitinha?

— Ah e você ainda pergunta?! Sabe que pode aparecer aqui em casa sempre que quiser. Você ainda lembra o endereço?

— Mas é claro que lembro. Em dez minutos eu tô ai.

Parada diante de uma casa simples, porém arrumada e cheia de plantas, Lia via uma mulher descendo as escadas indo em direção ao portão. Os ventos bagunçavam seus cabelos curtos e cacheados e balançava suas roupas despojadas, deixando aparente sua barriga. Ela estava sem maquiagem, como de praxe, e carregava o habitual sorriso radiante. Assim que a viu, Lia aumentou ainda mais o sorriso, Lua continuava idêntica a ultima vez que se viram, talvez até mais bonita.

— Ai meu amor que saudades de você. - Lua disse assim que abriu o portão, apressando-se para abraçar a amiga.

— Já disse que o seu abraço é o melhor do mundo? - A outra perguntou com a voz abafada pela camisa de Lua.

— Continua tão meiga quanto antes, hein?! Mas vamos entrar né, lá dentro não está tão frio assim.

— Ah que saudades que eu tava desse lugar, a atmosfera daqui é tão incrível. - Disse assim que entrou na cozinha da casa.

— O ambiente é apenas o nosso reflexo imaterial. - Lus respondeu sorrindo. - Mas vamos lá pra trás, eu estava cuidando das meninas quando você ligou. - Com "meninas" ela se referia as plantas que ela cuidava como se fosse suas filhas. - Ah, antes que eu me esqueça, quer chá?

— De lírio? Pretendo estar sóbria hoje a noite. - O comentário fez a outra rir.

— É de hortelã sua besta, agora vamos para o jardim.

Assim que chegaram ao jardim, Lia arregalou os olhos e começou a sorrir, ficou impressionada com a beleza do lugar, tudo estava tão diferente, mais verde e colorido, era incrível como o aroma característico da mistura das flores não era nem um pouco enjoativo. Nessas horas é que ela se arrependia por morar em um apartamento tão pequeno.

— Tá tudo tão lindo, você tem mãos mágicas!

— Hum... realmente seus olhos brilharam quando viram o jardim, mas você já chegou aqui com um brilho especial! - Ela olhou para a amiga de um jeito sorrateiro com um pequeno sorriso desconfiado. - Aconteceu algo em especial?

— Depois duvidam quando falo que você não é desse mundo.

— Ótimo, então vamos entrar e você me conta o motivo desse brilho todo.

Elas voltaram para dentro da casa e se sentaram à mesa. Depois de alguns goles de chá, Lia começou a contar as novidades em geral e, enfim, começou a falar sobre Elídio.

— Esse não é aquele humorista?

— Sim, ele mesmo.

— Quer dizer que você está vivendo uma história de amor com sua paixão da adolescência? E pelo que vejo está morrendo de medo de que algo dê errado.

— Na verdade evito pensar muito nisso se não eu piro de nervosismo. Só de pensar que por um pequeno momento ele me tomou pra si... mal consigo respirar.

— Amor ainda é algo delicado pra você, não é?

— É um fardo que eu carrego, nem sei mais se tenho condições de me relacionar com alguém depois de tudo que aconteceu.

— Oh meu amor, você se livrou de tantas coisas negativas, mas não consegue se desprender logo do mais essencial.

— E mesmo assim você não desistiu de mim. - Ela disse se levantando e se aproximando da outra. - Você é como uma irmã mais velha. - Ela finalizou a frase sentando em seu colo e a abraçando. - Não sei o que faria sem você.

Lua sorrio com as palavras da amiga, lembrava do primeiro dia dela no acampamento, tão certa e ao mesmo tempo tão errada, mas disposta a se desprender de tudo, ou quase tudo, existiam lembranças que ela fazia questão de guardar, mesmo sabendo que eram sinônimos de sofrimento. E assim ela assistiu a transformação de Lia, que em pouco tempo se tornou um ser tão leve e transmissor de alegria, mas ao mesmo tempo dona de cicatrizes que fazia questão de preservar.

— Ficaremos nesse abraço até anoitecer?

— Hum... na verdade eu preciso ir, tenho ensaio e depois faculdade.

— Mas nem conversamos direito.

— Eu sei meu amor, mas vamos marcar um dia para gente sair, o que acha?

— Perfeito! Ainda essa semana, hein?!

Fora da casa, elas se abraçaram mais uma vez e Lua disse:

— A consciência de amar e ser amado traz um conforto e riqueza à vida que nada mais consegue trazer. - Palavras que fizeram Lia sorrir ao mesmo tempo que encheram seu coração de tristeza, por pensar que amor não passava de um substantivo abstrato em sua vida, e que talvez seria sempre assim.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capitulo,
Abraços.



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