Me Apaixonei pela Pessoa que Eu Odeio escrita por Bibiana CD


Capítulo 46
Então, o que pensas minha inimiga?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Desculpem pela demora a postar, mas acontece que estava cheia de trabalhos que precisava entregar antes das férias...
Bem, espero que gostem do capítulo!
Boa leitura.



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Joanne PDV

Entramos devagar pela porta do quarto em que Camila estava. Aquele lugar me dava arrepios, nunca gostei de hospitais. Aquela atmosfera de doença e morte parecia estar sempre presente nestes lugares.

Fechei a porta e ela fez um barulho abafado, estranho, suficiente alto para que a mãe de Camila, Samantha, se virasse para ver quem tinha entrado. Ela parecia ser outra pessoa, não lembrava nem um pouco a que eu tinha visto horas antes preparando uma festa de aniversário. Seus olhos demonstravam uma preocupação crescente. Samantha nos dirigiu um sorriso falso. Retribui-lhe com um rápido aceno de cabeça.

-Ela ficará bem. –Samantha sussurrou, suas palavras ecoando no silêncio mórbido.

-Claro que sim. –Lucas falou sem muita convicção.

Ela se voltou novamente à cama onde Camila estava. Os cabelos cacheados da garoto se assomavam ao travesseiro, o tom escuro deles contrastava com a palidez de seu rosto lhe dando uma aparência sinistra. Desde que nos conhecemos nunca fomos exatamente amigas. Quem sabe por que eu tenha sido antipática com ela ou quem sabe por ela ter sido tão maldosa comigo. Sei que não é desculpa, mas só agi daquela forma com ela por que estava com ciúmes por ela já ter sido namorada do Lucas...

Olhei para ele, os olhos de Lucas pareciam desfocados enquanto olhavam Camila. Ele parecia extremamente chocado com o estado dela, de repente ele se virou e saiu quase correndo do quarto. Sem hesitar fui atrás dele. O garoto se movia com uma velocidade incrível, mesmo que não chegasse a correr. Segui-o até uma sala onde Lucas encostou sua cabeça contra o vidro de uma janela.

Seus músculos estavam todos rígidos e ele mordia a bochecha por dentro como, eu tinha reparado, fazia sempre que estava nervoso. Fui lentamente até ele e encostei minha mão em seu ombro, na tentativa de acalmá-lo um pouco.

Ele abriu seus olhos extremamente azuis, tão claros como o céu em uma tarde de verão, toda a confusão estava naquele olhar.

- Calma, relaxa. No final tudo dá certo. –Lhe falei tentando fazer ele acreditar nestas palavras, mesmo que eu não acreditasse nelas. Como eu poderia acreditar que um dia tudo dará certo se as pessoas que mais amei na vida estão mortas e eu jamais vou poder mudar isto? Senti mais uma vez aquele mesmo vazio dentro de mim, aquela sensação de que uma parte de mim estava perdida para sempre. Aquela sensação que sempre sentia ao me lembrar dos meus pais.

Lucas pareceu relaxar um pouco. Tentei ao máximo parar de pesar nos meus pais enquanto me concentrava no garoto a minha frente.

– Quer que eu busque algo para você comer? –Ele fez uma careta, contorcendo seu nariz e franzindo o cenho.

-Não estou com fome. –Lucas falou com a voz um tanto rouca, para então, se sentar no chão contra a parede. Às vezes eu tenho quase certeza de que ele é maluco. Nas outras vezes eu tenho certeza absoluta disto. Quem em são consciência se sentaria naquele chão gelado, principalmente quando existem sofás no mesmo lugar?

Me sentei ao lado dele, encolhendo mais ainda ao sentir o frio do local. Cheguei mais perto do garoto loiro na tentativa de conseguir ficar mais confortável naquele lugar.

Assim que fechei meus olhos outras imagens tomaram meu cérebro, aquelas que já me eram tão conhecidas e pareciam me atormentar cada vez mais nos últimos tempos. Imagens do que parecia ser outra vida, mas na verdade não passavam de lembranças do meu próprio passado que eu estava a cada momento tentando esquecer, ou simplesmente, não mais lembrar.

Camila PDV

Minhas memórias não passavam de imagens e sons desconexos. Lembrava-me da minha mãe me sacudindo, ela falava algo, mas eu não conseguia entender o que ela me perguntava. Pessoas de branco também apareciam nas minhas lembranças. Ouvia alguém me perguntando se eu estava bem, porém não conseguia achar minha própria voz para responder. Era como se eu estivesse e não estivesse ali ao mesmo tempo.

Abri os olhos. O teto era completamente branco e uma lâmpada retangular de luz fosforescente estava acesa. Eu estava deitada em cima de uma cama não muito fofa. O lugar era climatizado, pois eu não sentia o frio que normalmente sentiria.

-Camila, você acordou? –Virei apenas minha cabeça na direção da voz, minha mãe estava ali. Sua expressão preocupada foi tomada pelo alivio quando nossos olhos se encontraram. –Você está bem?

Fiz que sim com a cabeça. Dei-me conta de como a minha cabeça estava doendo, parecia que poderia explodir a qualquer momento. Mas não lhe falei sobre isto, ela já estava preocupada o suficiente.

-O que aconteceu? –Mamãe me perguntou. Contive-me para não soltar um suspiro. Perguntas. Sabia que elas viriam, só não queria que fosse agora. E o que eu diria? A verdade me parecia fora de cogitação.

Ainda não tinha nem ideia do que responder, então achei melhor simplesmente ignorar a pergunta dela.

-Onde eu estou? –Ela franziu a testa, parecendo não ter gostado da súbita mudança de assunto.

-No hospital São Francisco, Gabriel me ajudou a te trazer para cá depois que te achei desmaiada no banheiro.

-Ah. –Foi tudo que consegui dizer, enquanto um bolo se formava em minha garganta.

Joanne PDV

Eu tentava dormir, mas não conseguia. Eu estava cansada e não conseguia dormir bem a noites, mesmo assim a única coisa que eu conseguia era ter aqueles pesadelos acordada. Eu via o rosto dos meus pais e eu sentia a falta que eles faziam, eu tinha vontade de chorar a cada vez que me lembrava que eles não estavam aqui. Tentei deixar estes pensamentos de lado, mas eles voltavam a minha cabeça de um modo totalmente desanimador.

Queria poder mais do que tudo dizer a alguém como estava me sentindo. Porém se contasse a Eduardo ela me viria com aquele mesmo papo de sempre, aquelas conversas de psicólogas. Poderia contar a Luciana ou a Janaina, mas não sei, elas tinham se tornado minhas amigas, mas mesmo assim tinha receio em me abrir para elas. E Lucas já estava tão cheio dos seus próprios problemas que eu não queria que ele tivesse mais os meus. Sabia que ele gostava de Camila, por mais que odiasse ter que admitir isto, podia ver que ele realmente se importava com ela. Com isto só me sobrava Nick, mas teria que esperar voltar para casa para poder falar com ele.

-Camila acordou e os médicos deixaram o seu quarto aberto para visitas. Ela conversou com Ana Clara, e agora eu pensei que talvez vocês quisessem ir. –A voz de Samantha me tirou dos meus devaneios, abri os olhos a tempo de vê-la ela sumir no vão da porta. Lucas levantou-se e eu fiz o mesmo.

-Quer que eu vá junto? –Perguntei, hesitando um momento ao perceber que ele poderia querer ficar sozinho com ela.

-Se você quiser. Mas entenderei caso queira esperar aqui. –Ele falou como se escolhesse cuidadosamente cada palavra.

Começamos então o caminho de volta ao quarto em que Camila estava, se não fosse Lucas eu já teria me perdido. Ele parecia conhecer bastante bem este lugar.

Na sala de espera Ana Clara, Betina e Bruno continuavam sentados, agora conversavam alguma coisa em voz baixa.

Lucas bateu na porta para entrar logo em seguida. Ele e Camila trocaram olhares por um segundo até que ela desviou os olhos. Fiquei parada perto da porta enquanto Lucas se sentava na beira da cama onde a garota estava. De certa forma sentia que não devia estar ali, os dois eram amigos há tempos e de certa forma eu achava que se eu nunca tivesse vindo para esta cidade eles estariam juntos.

-Oi. –Luke quebrou o gelo, sua voz com uma animação fingida. –Você está legal?

Claro Lucas, ela deve estar ótima. E é exatamente por isso que esta em uma cama de hospital! Será que ele não se toca não?

-Olha Camila, sabe, você não devia ter feito isso, não que eu tenha qualquer poder de te dizer o que fazer... –Ele continuou falando, e possivelmente teria prosseguido não fosse o corte que Camila lhe deu.

-Por que não tem mesmo. –Ela virou a cabeça ao dizer isto, para então lançar um olhar mortal a Luke. Mas foi só ai que ela pareceu notar minha presença. Camila pareceu ter perdido seu chão, até que pareceu se recuperar, e me perguntou friamente. - Summer, o que faz aqui?

Vim ver se você não vai agarrar meu namorado! Tive vontade de gritar isto, mas não seria a coisa mais propícia a se fazer, por isto falei a meia voz.

-Vim ver se você está legal. –Camila me lançou um olhar cético. Então completei: - Lucas, pode nos deixar sozinhas por um instante?

Quem sabe não fosse à ideia mais brilhante da história, mas eu tinha minhas esperanças de que poderia funcionar.

Lucas se virou para mim, seu rosto tão incrédulo que chegava a ser hilário. O que ele estava pensando, que eu esperaria não ter testemunhas e então iria sufocar Camila com o travesseiro? Podia ser uma boa ideia, mas eu não tinha coragem para tanto. Acho que não.

-Por favor, juro que não vou matar ninguém. –Falei com ar divertido, enquanto via o assombro tomar seu semblante. Relutante ele saiu, me deixando a sós com a ex-oxigenada.

Camila PDV

Ouvi uma batida na porta e imaginei que fosse Ana outra vez, mas quando a porta se abriu não foi ela quem eu vi. Eu não tinha certeza se queria soltar fogos de ofícios ou me jogar do décimo terceiro andar de um prédio. Senti meu coração bater mais forte enquanto via aqueles olhos azuis claros se encontrarem com os meus.

Mesmo assim virei meu rosto, tinha decidido algo. Não iria mais dar esperanças ao meu coração, estava cansada de chorar por alguém que não retribuía meus sentimentos. Fingir estar indiferença a ele foi muito mais difícil do que imaginei ser possível. Meu coração me mandava esquecer de todo o resto do mundo e simplesmente tentar mais uma vez. Apenas mais uma que fosse. Mas meu lado racional gritava que isto seria autodestrutivo.

-Oi. –A voz dele quebrou o silêncio. –Você está legal?

Que tipo de pergunta era está? Como ELE poderia me perguntar se eu estava bem? A única coisa que eu queria era gritar com Lucas, dizer que meu mundo estava acabando e por causa dele. Como eu poderia estar bem? Mesmo assim assenti com a cabeça.

-Olha Camila, sabe você não devia ter feito isso, não que eu tenha qualquer poder de te dizer o que fazer... –Ele não pode estar dizendo isto. De todas as pessoas do mundo, Lucas é uma das que não pode estar dizendo isto.

-Por que não tem mesmo. –Retruquei enquanto lhe encarava com raiva. Foi só ai que eu a notei, perto da porta, Joanne me olhava com uma expressão indecifrável. O que estava acontecendo, o que ela estava fazendo aqui? –Summer, o que faz aqui?

Perguntei com raiva crescente, ela pareceu hesitar e então disse:

-Vim ver se você está legal. – Ela estava me achando com cara de idiota, né? –Lucas, pode nos deixar sozinhas por um instante?

Ela perguntou para minha total surpresa. Lucas se virou para ela, Joanne lhe proferiu alguma frase que eu não consegui ouvir, ele então se levantou e foi embora. Deixando-me sozinha com a outra garota, que falou com ar irônico:

-Então, que pensas minha inimiga?

-Por que acha que eu te diria meus pensamentos? –Perguntei franzindo a testa, quem ela pensava que era para eu contar o que pensava?

-Calma, bandeira branca, por favor, nem que seja só por hoje. –Ela disse enquanto fazia algo que poderia um dia ter sido um sorriso contagiante. Lhe lancei um olhar mal humorado. –Olha aqui Camila, não pense que eu realmente me importo com o que você faz ou não de sua vida. O fato é o seguinte: o Lucas se preocupa com você, se importa. Então, por favor, não fique se fazendo. E não pense que estou aqui por sua causa.

Ela falou com raiva, seus olhos faiscando na minha direção. Nunca pensei que ela seria tão direta, Joanne deu um sorriso um tanto falso.

-Agora eu agradeceria se conseguíssemos conversar como duas pessoas civilizadas.

-O que você quer conversar? –Perguntei sem muita vontade enquanto ela se sentava em uma cadeira ali perto.

-Melhor. Quero saber se você fez isto de propósito ou não.

-Como assim? –Ela revirou os olhos.

-Estou vendo que daqui a pouco vou ter que desenhar. Você tentou... se matar ou apenas tomou remédios demais?

-Eu não quis me matar... Eu só... Quero dizer... Não sei. –Admiti em voz baixa, ela assentiu com a cabeça.

-Você não fará isto novamente, né? –Dei de ombros e ela suspirou. –Sabe, Lucas está preocupado. Ele gosta de você.

Ela falou relutante, olhando para as próprias mãos.

-Não, isto não é verdade. Ele gosta de você. Está com você. –Falei com a voz firme enquanto sentia meu coração oscilar de uma maneira estranha, as palavras dela me atingindo de um modo estranho.

-Um fato não muda o outro. – Sua voz era tão sem emoções quanto seu rosto, Joanne parecia fazer o possível para não demonstrar o que estava sentindo.

-Ele gosta mais de você. –Falei sentindo o peso no meu próprio coração com aquelas palavras.

-Não sei, espero que sim, mas não sei. Quem sabe apenas goste de modos diferentes... Mas quem vai entender a cabeça do  Lucas? Eu não. –Ela disse deixando um tom divertido tomar sua voz no final.

-Muito menos eu. –Concordei melancolicamente.

-Você pode me prometer algo? Sei que possivelmente sou a última pessoa que poderia te pedir algo, mas mesmo assim espero que você me escute. –Ela falou devagar, seus olhos se encontrando com os meus.

-O que? - Pensei em recusar de cara, mas no final das contas, não faria tão mal assim ouvir o que ela tinha a dizer.

-Nunca mais tente se machucar, não é só a sua felicidade que está em jogo. A dele também. –Joanne falou enquanto remexia as próprias mão, demonstrando certo embaraço.

-Você realmente gosta dele, né? –Perguntei ao ver o quanto era difícil para ela admitir que ele gostava de mim.

-Mais do que gostaria e penso ser saudável. –Ela falou com um sorriso um tanto triste, seus olhos me faziam ver que tinha mais por trás daquelas palavras do que eu poderia imaginar. Mas o que seria não sei dizer.

-Prometo. Não por você, mas por ele, por minha mãe e meus amigos. – Lhe falei, tentando deixar claro que não nutria nem um tipo de amizade em relação a ela.

-Obrigado.

-Mas queria te pedir algo também... – Hesitei ao perceber que não tinha certeza como formular minha próprias palavras. - Queria que você me prometesse que não o magoará, vejo nos olhos dele o quanto gosta de você. Me prometa que jamais o fará sofrer.

-Posso te prometer que farei o possível para que isto não aconteça. Não sei se é o suficiente.-Joanne falou enquanto franzia a testa.

-Também não.- Falei ao perceber que ela achava que poderia sim o magoar.

-Acho que vamos ter que começar a nos dar melhor a partir de agora. Afinal, eu vou virar sua cunhada. –Ela falou cheia de sarcasmo, mudando de assunto tão rápido que ficou evidente o quanto não estava confortável com o anterior.

-Que horror! Nunca tinha pensado assim... –Pois ao perceber que Joanne seria minha cunhada outras idéias tomaram minha mente. - Isto quer dizer que Lucas vai virar meu...

-Irmão.- Ela completou com ar divertido ao ver meu ar contrariado.

-Que estranho. –Falei me referindo ao fato de que Lucas passaria a ser meu irmão, nunca tinha o imaginado desta forma...

-É mesmo. -O silêncio predominou por alguns instantes, quando Joanne me perguntou. -Quais as chances de nos tornarmos amigas algum dia?

-Absurdas. Nulas. Mínimas. Nenhuma. –Falei com raiva ao me lembrar com ressentimento que ela tinha me roubado quem eu mais gostava.

-Queria que as coisas tivessem sido diferentes entre nós, desde o inicio. –As coisas só poderiam ser diferentes caso uma de nós não existisse, ou Lucas, de qualquer outro modo tudo seria tão complicado quanto agora. Éramos três, jamais daria certo. -Mas o que podemos fazer se o destino nos colocou uma contra a outra?Mesmo assim, imagino que algum dia ainda possamos recomeçar.

-Tenho minhas dúvidas. –Falei com a raiva na minha voz.

-Mas ao menos temos um gosto em comum... –Ela disse com esperança.

-Que seria? –Perguntei de repente não lhe entendendo.

-O Lucas, nós duas gostamos dele. 

-Verdade. Bem, você tem bom gosto. –Admiti contra minha vontade.

-Mesmo ele tendo problemas, sendo louco, estranho, meio burro e um tanto confuso. –Joanne falou com sarcasmo crescente.

-Como pode dizer isto dele? Ele é quase perfeito! –Eu quase gritei isto.

-Estamos falado da mesma pessoa? Por favor, eu posso gostar do Lucas, mas ele não é perfeito.-Ela falou demonstrando mais uma vez que não merecia alguém como ele.

-Imagino que o único erro dele foi amar você. –Falei com crueldade.

-Possivelmente. –Ela admitiu baixo. Joanne mordeu os próprios lábios. O silêncio perdurou entre nós duas até que o arrependimento me obrigou a dizer:

-Desculpe, não quis dizer aquilo antes...

-Tudo bem Camila, mas agora tenho que ir embora. –Ela falou, adotando novamente sua expressão impassível. Levantou-se, e estava saindo quando completou. - Acho que Bruno vai querer falar com você também.

-Bruno está aqui? –Perguntei surpresa com o fato de alguém realmente se preocupar comigo.

-Sim, desde antes.-Ela disse com certa malícia enquanto saia da sala.


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