A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 7
Fear and Power


Notas iniciais do capítulo

Ae, povos!
Novo capítulo pra vocês, pessoas lindas!
Boa leitura!



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RONY

Eu estava até com medo de começar a organização do currículo para auror no dia seguinte, dada a reação super compreensiva de Hermione na noite anterior.

Depois do café, ela só ficou me encarando o resto da manhã, enquanto eu tentava achar e anexar a papelada dos meus prontuários escolares, com uma expressão tensa.

– Pelo amor de Deus, Hermione! – finalmente arfei, exasperado, quando ela quase caiu em cima de mim ao se inclinar para ver meus boletins – pare com isso! Já deixou claro que não está nada feliz com isso...

Senti minhas orelhas esquentarem quando me lembrei do chicote. Minha nossa. Hermione Granger, usando chicote.

Eu só faltei morrer na noite passada. Havia sido a visão mais terrível e mais fantástica da minha existência.

E eu ia morrer mil vezes antes de confessar o como Hermione me deixara louco com aquilo.

– Deixei? – Hermione mordeu o lábio, achando graça.

– Sim, moça – funguei, continuando a contabilizar as folhas – e eu não quero morrer do coração de novo tão cedo, então tente se conformar com a expectativa.

Hermione me deu um beijo cheio de dengo na bochecha, parecendo se divertir comigo. Não pude impedir um sorriso.

– Vou tentar... prometo.

– Sério? – ergui a sobrancelha.

– Vou – Hermione franziu o cenho – até por que vocês tentarem se matar não é novidade para mim.

– Ou tentarmos ser expulsos – brinquei, lembrando-a do primeiro ano. Hermione riu.

– Fala sério agora, Ronald... – Hermione me encarou, parecendo ligeiramente insegura – como eu estava ontem?

Pisquei, confuso. Ela queria saber se estava bonita? Coimo assim? Ou queria saber o que eu achara do meu mais recente “castigo”?

– Você quase acaba comigo – bufei, recontando a quantidade de formulários do currículo – sério, Hermione. Achei que ia ter um treco ali mesmo.

– Defina treco.

Casseta.

Arregalei os olhos para ela.

– Sabe como é... – minha nossa, eu devia estar completamente vermelho – meio... talvez...

– Excitado?

Fiquei chocado com o quanto Hermione enrubesceu depois dessa.

– É uma palavra meio forte, não acha? – guinchei,s em graça.

– Não – Hermione ficava quase roxa de vergonha, mas continuava firme – acho que é a palavra certa.

Bati nos prontuários, me erguendo e encarando-a.

– Tá bom. Sim. Fiquei excitado – senti meus olhos se arregalarem - pra caramba. Tá feliz agora? – Deus, eu queria morrer cozido e ser jogado na sarjeta agora. Por que um raio não caía na minha cabeça?

Hermione contraiu o rosto, com um misto de emoções bizarras correndo por ele. Era como se estivesse dividida entre rir, sair correndo e me jogar na cama de novo á base de um chicote de três pontas.

– Tá. Tá bom, entendi – ela falou numa vozinha inocente e nada sutil, antes de se sentar de novo.

– E você? – fitei-a, dando o troco.

Hermione enrijeceu.

– Oi?

– Ficou excitada? – caramba, eu era bem maldoso quando queria também.

Ela arfou, baixando a cabeça.

– Talvez.

– Hermione...

– Um pouco – ela revirou os olhos quando cruzei os braços – tá legal, fiquei. Taradinha, excitada, fogosa, fale o que quiser.

Achei graça dos adjetivos que Hermione jogou.

– Taradinha? – ri.

– Desculpa, tá... eu não devia ter começado essa conversa – Hermione começou a balançar-se no colchão, como uma gangorra.

Sorri, soltando as pastas e sentando-me ao lado de Hermione.

– Devia sim – beijei seus cabelos, fazendo-a me encarar, divertida – vamos casar. Precisamos parar de sentir vergonha e esconder segredos um do outro, não acha? – afaguei seu rosto – quero que seja sincera comigo sempre que quiser. Mesmo que eu talvez não vá gostar de ouvir.

Hermione me olhou.

– E você... vai se abrir comigo também? – ela indagou, segurando minha mão – ainda mais com coisas como essas? – Hermione indicou os papéis na mesa com a cabeça;

Suspirei.

– Sim... chega de segredinhos. Tá?

Ela me abraçou, rindo.

– Vai ser uma baita aventura.

– Com certeza.

Ela deu a volta na cama, apanhando a papelada mais próxima.

– Bom, deixa eu te ajudar com essa porcariada toda – dei risada quando Hermione dedou as folhas com uma expressão paranoica – assim você fica livre pra me ajudar na preparação das audiências de sábado.

– E você precisa de ajuda? – comentei, espantado – Hermione Granger, eterna sabe-tudo, Wicca Branca, ex-vampirizada, a gostosona das galáxias, precisa da minha ajuda, euzinho, um reles mortal?

Hermione só faltou ter uma epilepsia de tanto rir.

– Gostosona das galáxias – ela piou, ainda se sacudindo de tantas risadas – você fala cada coisa, Rony...

– E eu tô mentindo?

– Sei lá... não sou tudo isso que o mundo inteiro diz.

– Tem razão – ergui seu rosto para que olhasse nos meus olhos – você não é tudo que nós dizemos. Você é muito mais.

Hermione pareceu ficar surpresa... e muito envergonhada, pois baixou o queixo e voltou á olhar os papéis, emudecida.

Quando terminamos de organizar tudo – depois de vários comentários petulantes de Hermione sobre minhas notas em História da Magia (“mas você era a única que ficava acordada naquela merda de aula!”, eu tinha guinchado pela quinta vez) – eu e Hermione juntamos tudo numa pastinha e separamos para que eu levasse-a ao Ministério no sábado.

Agora era só rezar para nada acontecer até o fim de semana....

_____________________O__________________

Na hora do almoço, todo mundo ficou olhando nós dois de um jeito atípico - tirando Gina, que olhou do jeito normal e interesseiro mesmo –, como se esperassem ouvir uma grande novidade. Que bizarro.

– Sabe, Rony... – Hermione disse, enquanto dava uma garfada no frango - eu fico espantada que ainda não tenha se transfigurado outra vez... – ela mordeu o lábio, sorrindo – sabe... com tudo que andou acontecendo depois de Beauxbatons.

– Já me transfigurei sim... ando treinando aqui na Toca... no quintal – acrescentei, enquanto Hermione ria e Gina revirava os olhos, cutucando mamãe - acho que estou pegando o jeito. Já controlo totalmente o voo... e a hora que eu quero me transformar. Acho que vai valer alguns pontos na seleção, não é?

– Provavelmente, querido – mamãe sorriu. Andava toda orgulhosa desde que eu dissera sobre a seleção de aurores, me deixando cada vez mais embaraçado.

– E, por falar nisso... – inclinei a cabeça, curioso, para Hermione – e você? Tem treinado os elementos... fora da visão geral?

– Um pouco... quase nada – ela deu de ombros, esbarrando em Jorge, que piscou assustado – desculpa, Jorge... tentei com coisas pequenas, no fundo de casa... – ela riu – taquei uma pedrinha na cabeça da Winky e quase fiquei de castigo.

Todos riram.

– Então... Juíza – comentou papai, sorrindo.

– Pois é – ela se encolheu, envergonhada – imagine só...

– Espera um pouquinho aí... – me ocorreu um pensamento repentino – Hermione... você tinha dito pra mim que Darel falou sobre Rita Skeeter ter sido detida para uma audiência...

– Sim – Hermione concordou, confusa.

– Um audiência daqui a dois dias...

Vi Hermione ficar de olhos saltados.

Minha nossa.

– Minha nossa.

Me boquiabri., encarando os rostos chocados na mesa.

Gina só faltou dar um mortal.

– Casseta, Hermione! Você vai julgar a Skeeter!

– Gina! – repreendeu mamãe.

Hermione parecia quase horrorizada. Mas eu tinha a impressão e que não era por Rita.

– Como não pensei nisso? – ela arfou – caramba...

– Mas Kingsley falou de três julgamentos – olhei para Hermione – tem amais alguém que sabemos que o julgamento está pendente no Ministério?

– Que eu já saiba, não, Rony – Hermione parecia atordoada – caramba... se o primeiro julgamento for de Rita, eu tenho que pesquisar... meu Deus... e se eu...

– Ei, ei, calma lá, garota – Carlinhos riu – você vai conseguir, Hermione. Não se desespere.

– Carlinhos tem razão.

A mesa ficou completamente tensa quando Jorge se virou para Hermione.

Meu estômago deu uma cambalhota, abalado.

Jorge não falava diretamente com alguém daquele jeito desde... desde que...

Engoli em seco.

– Jorge? – Hermione parecia tão espantada quanto eu.

– Se tem alguém que tem dignidade e capacidade suficientes para dar voz à justiça, essa pessoa é você, Hermione – Jorge nos encarou – ou não se lembra de quem foi que lutou com Alecto Carrow? Com os filhos dela?

Todos ficaram receosos, se entreolhando.

– Aquilo não foi justiça – vi Hermione ofegar.

Meu peito começou a doer quando percebi o rumo da conversa.

– Se não foi justiça... então você se arrepende do que fez?

– Pare, Jorge! – exclamei, me erguendo.

Jorge se assustou, e eu não pude culpa-lo. Nunca havia gritado com ele, ainda mais depois de... de tudo que acontecera.

Foi quando vi Hermione recolher o rosto nas mãos e soluçar.

– Hermione!

Dei a volta na mesa correndo, até alcança-la.

– Ah, querida... – mamãe murmurou. Gina nos encarou, triste.

– Eu não quero... eu... eu... estou tão perdida! Eu nunca...

Abracei Hermione, sentindo seu corpo sacudir com o choro.

– Pelo amor de Deus, Jorge... – Gina se virou para nosso irmão – não pensou no que ia causar á ela? Essa menina já não sofreu demais?

Jorge baixou a cabeça, olhando para nós.

– Hermione... – ele sussurrou, parecendo angustiado – me desculpe...

Apertei Hermione em meus braços, afagando suas costas para acalma-la, sentindo meu coração doído de ver o quanto ainda sofria com o passado.

Minha pobre garota... já sofrera por uma vida inteira, e me deprimia vê-la daquele jeito, sem poder arrancar aquela tristeza aterradora dela. Sabia que um coração tão cheio de bondade como o dela ainda se torturava pela perda de vidas – mesmo vidas que não mereciam viver.

– Não se culpe, Hermione – sussurrei entre seus cabelos – nãos se sinta assim...

Jorge parecia desesperado. Para nosso maior desconforto, ele se levantou e saiu da mesa.

– Jorge, querido! – mamãe também se ergueu e foi atrás dele.

Todos ficaram em silêncio, amuados. Os únicos sons na cozinha eram meus sussurros para Hermione e os seus soluços desenfreados.

– Mas Jorge tem razão em dizer que você deve exercer, Hermione... – começou Gina, condoída.

– A quem estou querendo enganar?? – Hermione levantou a cabeça, e não fiquei menos desanimado ao ver seu rosto vermelho e banhado de lágrimas – todos acham que eu sou digna, que posso dar conta, mas quem sou eu para decidir quem é inocente e quem é culpado, Gina? Como eu posso decidir quem deve viver ou não? Eu estive brincando de deus esse tempo todo... e então... então...

Ela se curvou para mim, encarando meus olhos.

– Eu sonho com eles, Rony! Ainda tenho pesadelos! Eu não... aguento mais... e não quero passar o resto da minha vida... pensando em quantas pessoas...

– Chega, Hermione – segurei seu braço. Hermione soluçou, mas ficou calada – por que não consegue enxergar? Se enxergar? Ver como todos nós te vemos... como uma garota maravilhosa, correta, altruísta e bondosa? É tão difícil aceitar quem você é?

– Essa é a questão, Rony... – Hermione piscou, abalada – quem sou eu? Eu só devia ser mais uma bruxa nascida trouxa... mais nada.

– Por que o Destino não quis, Hermione –Gina disse – por que ele te escolheu para algo muito maior do que ser apenas “mais uma” bruxa nascida trouxa. Por que você esteve destinada este tempo todo á ser uma das maiores bruxas da atualidade. E, se esse é o seu destino, por que não vai aceitá-lo? Como espera ser aceita pelos outros se você mesma não aceita a si mesma?

Hermione ficou muda, voltando a atenção ao prato de comida e finalmente nos ignorando.

Resolvi não insistir, soltando-a e também voltando a me sentar; Gina também pareceu perceber o limite e suspirou antes de continuar comendo.

Poderíamos conversar de novo mais tarde. Sabia que estava absorta nos próprios pensamentos agora.

Eu só esperava que “mais tarde” não fosse tarde demais para que Hermione fizesse alguma coisa inesperada para esvair sua autotortura.

____________________O____________________

Mamãe ainda estava tentando desencavar Jorge do quarto dele após o almoço, embora soubesse que não ia adiantar muito. Ele andava fazendo isso várias vezes por semana, se recolhendo lá dentro e ficando horas sem sair, ás vezes sem nem comer.

E eu não tinha nem coragem e nem vontade para tentar descobrir o porquê.

Procurei Hermione no quintal, sem saber o que dizer ou fazer.

Mas eu precisava conversar com ela.

– Hermione...

– Vocês tem razão – ouvi a voz de Hermione ecoar, num tom inusitadamente baixo, perto do bosque. Aproximei-me, confuso.

– O quê? – indaguei, ainda tentando focaliza-la na penumbra das árvores.

– Sobre eu aceitar o que eu sou. Vocês tinham razão. Eu me neguei a aceitar isso nos últimos meses, achando nãos ser digna. Achando-me fraca.

– E agora você sabe? – caramba, estava bem escuro ali – você sabe quem é?

– Sim... eu sei.

Labaredas flutuantes em espiral fizeram o trabalho de iluminar o ambiente.

Hermione estava de costas, e se virou quando o bosque finalmente se iluminou por completo.

Senti meus joelhos fraquejarem quando a vi, outra vez.

O mesmo rosto, mas com os cabelos negros esvoaçando, sem vento algum. Os olhos prateados penetrando nos meus como se estivessem atingindo cada osso, cada terminação nervosa de meu corpo.

Quando ela falou, sua voz arrepiou cada centímetro de minha pele.

– Sou a Wicca, Herdeira de Helena. O cavalo branco da vitória.

Era ela de novo. Aquela mulher intimidante, inumana e inabalável, falando por Hermione. Aquela parte oculta, mas cada vez mais presente, do íntimo dela.

Eu estava completamente atordoado. Não me lembrava a Wicca que batalhara em Beauxbatons. Muito menos a Wicca que recebera, radiante, meu pedido de casamento.

Era diferente.

E minha mente alertou antes mesmo que acontecesse.

Mais poderosa. Definitivamente mais poderosa.

Quando vi o brilho no fundo de seus olhos, percebi que a Wicca Branca não estava mais só presa apenas ao seu corpo humano.

E, mesmo assim, não me impedi de gritar quando as árvores despencaram ao meu redor.

Caí, erguendo as mãos para me proteger. Uma poeira infernal se desprendeu do chão.

Eu não enxergava nada. Piscava, desorientado, tentando ver Hermione.

Foi quando finalmente a encontrei.

Guinchei, congelado.

Impossível.

Aquilo era impossível.

Comparada à minha forma, ela me fazia parecer um cachorrinho bobo e desengonçado.

Percebi, abismado e paralisado, os dois olhos enormes e ferozes, prateados como luar, me encarando, prendendo-me ao chão com a simples intensidade de seu olhar.

Não sabia se estava congelado de medo, de choque ou de reverência.

Mas os dois primeiros simplesmente desapareceram quando suas asas se abriram, imponentes, finalmente expondo toda a magnificência e esplendor de seu novo corpo.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Podem ser pedradas também... huehue
Kissus e até o próximo!



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