A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 55
Renovation CAPÍTULO 51 - FORA DE ORDEM


Notas iniciais do capítulo

E ninguém pra me avisar que pulei um capítulo... kkkk
Desculpem, pessoas.



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HERMIONE

– Mais alguma novidade?

– Não. Ela não acordou uma única vez. Duas paradas cardíacas. O noivo dela está ficando enlouquecido.

– E a outra mulher?

– Está na mesma. Perdeu sangue demais, mesmo depois da cura. Abalada com o que aconteceu com a perna.

– Continue medicando. Talvez tenhamos alguma mudança em algumas horas.

– Sim, senhor.

A escuridão imperava ao meu redor, embora as vozes que ouvia fossem claras.

Minha cabeça latejou quando tentei recordar o que havia acontecido.

Tentei mover meus braços e pernas, mas uma dor excruciante me fez estremecer. Um gemido abalado escapou de minha garganta.

– Paul... – a voz de mulher voltou a falar – acho que ela está acordando.

– Parece que sim – senti a aproximação de alguém – impressionante. O Ministro tem razão. Não é parecido com nada que eu tenha visto, em toda a minha vida como medibruxo. Essa condição Wicca é fantástica. O próprio poder dela ajudou-a a se recuperar. Nenhuma única sequela física visível.

O breu foi se dissipando lentamente, enquanto eu finalmente focalizava uma luz forte acima de mim.

Dois rostos se curvaram em meu campo de visão. Um homem careca, e uma jovem garota com roupas de curandeira.

– Senhorita Granger? Pode me ver?

Assenti, ainda atordoada.

Fiz um movimento nervoso com o braço, e guinchei de dor quando a agulha em meu braço quase escapou do acesso.

– Cuidado, senhorita – a curandeira alertou, preocupada.

– Onde estou?

– Hospital Saint Mungus – a moça mordeu o lábio, como se reprimisse um sorriso surpreso – pela sua ficha, mais uma reinternação – ela, por fim, deu uma risadinha – quase todo o corpo curandeiro já te conhece agora.

– Margot! – o medibruxo Paul olhou-a com censura.

Sorri, levemente contagiada pela brincadeirinha da curandeira.

– Tudo bem. Não foi nada, senhor.

Enfim, as lembranças me enxurraram, fazendo-me estremecer.

– Onde estão odos? – senti meu coração acelerar, o que, por algum motivo, fez meu peito doer – onde está Rony? E Oliviene? O que...

– Se acalme, Granger – Margot segurou minha mão – está tudo bem. Todos que estavam no Ministério foram socorridos. Fora os mortos que a senhorita já viu, todos sobreviveram.

Meu peito pareceu desinchar. O alívio me inundou, refrescante como uma cachoeira.

Todos estavam bem.

Realmente... tudo havia acabado.

Eu nem conseguia acreditar.

– O que houve... comigo? – perguntei, confusa.

– A senhorita tentou salvar aquela secretária do Ministro, não foi? – Margot parecia espantada – até onde entendemos, você a estava curando, antes de perder os sentidos e voltar á sua forma normal. Alguns aurores foram até o gabinete, neutralizaram o Comensal que estava lá e libertaram o Ministro da Magia. Em seguida, trouxeram-na imediatamente para cá, junto com Stark.

– Você quase morreu durante este período – Paul comentou, tenso – seu coração parou duas vezes. Mas, apesar de estar ainda um pouco fraca – ele sorriu – felizmente, não corre mais nenhum risco de morte.

Pisquei, sentindo mais dores no corpo.

– E Oliviene?

Ambos se entreolharam, parecendo receosos.

– Está viva... – Margot baixou o olhar – mas teve algumas complicações.

– Margot... melhor que ela veja por si mesma – Paul colocou o saquinho de poção em um guincho móvel ao meu lado – se a senhorita quiser, pode sair do leito. O Ministro e o diretor acharam que iria querer ver seus amigos...

Com a ajuda de Margot, me levantei lentamente da maca, ainda com o corpo dolorido. Calcei duas pantufas ocres que estavam no chão, sentindo minhas pernas bambearem.

– Vai melhorar logo – ela me disse, enquanto saíamos do quartinho minúsculo em que eu me encontrava – é que a poção ainda não fez efeito em seu corpo. As dores vão desaparecer aos poucos.

Ela me acompanhou, arrastando a poção venosa ao meu lado. Andamos pelo corredor, até ficarmos de frente para um quarto coma porta entreaberta.

Margot assentiu, me incentivando a entrar.

Empurrei a porta, tentando focalizar os pacientes deitados nas macas.

Em uma delas, percebi uma jovem sentada, olhando para baixo de um jeito tristemente sonhador.

– Oliviene – murmurei.

Oliviene ergueu o olhar, e forçou um sorriso.

– Olá, Hermione – ela me olhou – graças aos céus... você está bem...

Ela estava péssima. Levemente pálida, com um curativo que se estendia por todo seu torso, e algumas escoriações no rosto.

Fui até ela, sob o olhar tenso de Margot, e me aproximei de um dos lados da maca, segurando a mão que estava para fora do lençol.

Ela esboçou um pequeno sorriso.

– Obrigada, Hermione. Se não fosse por você... – Oliviene balançou a cabeça – podia ter morrido... e tentou me salvar...

– Faria o mesmo por mim – emendei, sem graça.

Oliviene riu.

– Sim. Realmente faria.

Olhei para Margot num átimo, lembrando o que ela dissera enquanto eu ainda estava em meu quarto.

– Eles falaram... em uma sequela... – ciciei.

Ela mordeu o lábio.

– Não foi nada, Hermione.

Mas, pela minha expressão, Oliviene percebeu que não adiantaria tentar amenizar.

– Foi uma infecção... não houve muito a ser feito... então...

Com um suspiro, ela retirou o lençol, expondo as pernas.

Margot me segurou, atônita, quando engasguei o grito que ia dar, ao ver o que restara da perna esquerda de Oliviene, enfaixada por uma gaze.

Meus olhos ficaram úmidos.

– Oliviene... – tampei a boca, angustiada – me desculpa... eu... eu...

– Pare – ela ergueu a mão, me encarando tacitamente e recobrindo-se com o lençol – quer parar de achar que a culpa de tudo sempre é sua? Você salvou minha vida, Hermione, e a de quase todas as pessoas no Ministério. Basta de se martirizar, achando que tem que salvar todo mundo, só por que é Wicca... – ela me censurou, séria – por que você não tem. Isso – ela fez sinal para o lençol – é fácil de resolver. Chega de se culpar, está bem? Fez mais do que o suficiente.

Por mais que o que Oliviene estivesse dizendo fosse verdade, eu não podia deixar de me sentir culpada.

E ela pareceu perceber isso, pois afagou meu braço, de modo tranquilizador.

– Você não podia fazer nada... – ela continuou – acho que está na hora de você começar a pensar mais em si mesma... e naquele garoto. Rony não vai aguentar se tiver que sofrer mais um baque desses, Hermione. Se não quer pensar em você, pense nele.

Assenti.

Oliviene tinha toda a razão... mais uma vez.

E como Rony devia estar? Teria tido que enfrentar o Comensal que encarcerava Kingsley sozinho? Teria se ferido?

– Isso... – arfei, olhando para Margot – ela vai ficar bem?

– Vai sim – Margot pôs a mão em meu ombro – já estamos desenvolvendo uma prótese mágica. Ela vai voltar as andar em breve.

– Como eu disse, nada que não tenha conserto – brincou Oliviene.

Tive que ficar admirada com aquela secretária maluca e adoravelmente empática. Na situação em que estava, Oliviene ainda fazia piada. Era uma garota fantástica.

Baixei a cabeça, pensativa.

– Há mais alguém ferido?

Vi a curandeira estreitar os olhos.

– Nada que requisite seus cuidados, senhorita. Acho que você já preocupou todos nós neste hospital.

Oliviene deu uma risadinha.

– Acho que concordamos neste ponto, curandeira Lowe.

Ainda abalada, me inclinei para abraçar Oliviene, que retribuiu, afagando minhas costas.

– Vai ficar tudo bem, Hermione. Acabou.

Apertei ainda mais o abraço. Minha amiga maluca e sábia.

Mais do que nunca, não tinha arrependimento algum de tê-la salvado.

As dores em meu corpo já haviam melhorado, como Margot dissera. Por isso, estava ficando incomodada com a mangueira em meu braço.

– Curandeira... posso tirar o acesso? – perguntei, após soltar Oliviene.

– Se sente melhor?

– Um pouco.

– Acho que Paul não vai se importar – ela sorriu, se aproximando e começando a desenfaixar o acesso. Oliviene riu quando estremeci, agoniada, ao sentir a agulha saindo de meu corpo.

– Bom, agora está livre – Oliviene piscou, humorada – e acho que alguém lá fora deve estar louco para te ver... não acha, curandeira?

– Sim... vamos deixa-la descansar – acompanhei Margot para fora do quarto, acenando para Oliviene, que sorriu, voltando a se deitar.

Fechei a porta, segurando a maçaneta por alguns segundos.

Ainda estava perplexa. Tudo realmente havia acabado.

Agora, tudo que acontecera – meu embate com Helen, o umbral, a intervenção no tribunal, as quase mortes de Darel e Oliviene... tudo parecia um pesadelo que finalmente acabara.

As feridas, visíveis ou não, ainda estavam ali, obviamente. Mas eu podia me enganar e fingir que tudo não passara de uma experiência antiga e esquecível.

A profecia parecia bater repetidamente a mesma tecla em minha cabeça.

A fênix será queimada.

Tudo que acontecera havia destruído parte de mim... mas, ao mesmo tempo, possibilitara que aquela mesma parte se reerguesse de modo ainda melhor do que antes. Tudo pelo que eu passara parecia ter servido para que eu ficasse ainda mais forte, em todos os sentidos.

Sentia que a Wicca em mim, assim que voltasse a se erguer, estaria mais poderosa do que nunca. Mas também sentia que minha parte humana, tal como um ferro, havia sido colocada em chamas, apenas para ser modelada com um primor e objetivo que nunca existiram antes.

Eu ainda não sabia que objetivo era esse. Mas, fosse qual fosse, ia ser maior do que tudo que eu imaginara.

Mas aqueles pensamentos podiam esperar.

O que me importava, agora, era rever todos os meus amigos, sentir a vida deles ao meu redor, me convencer de uma vez por todas que tudo realmente havia acabado.

E rever meu porto seguro, com quem eu me sentia inatingível e amada.

Felizmente, não foi preciso procurar muito, assim que soltei a porta do quarto de Oliviene.

Por que ele estava ali, no corredor, me encarando.

Margot se afastou, sorrindo.

Ficamos alguns segundos nos olhando.

– Oi – finalmente sussurrei.

Rony se aproximou lentamente, a expressão espantada, como se nunca tivesse me visto antes.

Como um homem que, anos depois de ser enclausurado numa caverna, estivesse vendo o sol pela primeira vez.

Eu já estava soluçando, antes que ele me puxasse para um abraço desesperado.

– Hermione... Hermione...

Rony me apertou em seus braços, enquanto eu deitava a cabeça em seu pescoço. Chorando, senti as lágrimas dele ensoparem minha camisola.

Senti-lo vivo em meus braços, ileso... ouvindo, contra meu ouvido, o som maravilhoso de seu coração... aquilo me trouxe uma felicidade e uma paz que eu julgava nunca mais ser possível dentro de mim.

Eu acreditava num paraíso... por que ali, abraçada ao garoto que eu amava, eu estava desfrutando de parte dele.

– Tudo bem, tudo bem – solucei, beijando seu rosto.

– Pensei que ia te perder... de novo... – Rony choramingou, segurando meu rosto entre as mãos.

Segurei suas mãos, sorrindo.

– Acho que não foi desta vez.

– Bom, senhorita... – pigarreou Margot, que, para nosso espanto, também secava algumas lágrimas e ria – vou deixa-los a sós. Qualquer coisa... bom, só avisar um dos medibruxos.

Ela desapareceu em um dos corredores, ainda levando um sorriso afetado no rosto.

Rony não se demorou olhando Margot ir embora, já que voltou a me olhar, ainda me abraçando.

Eu podia ter ficado pelo resto de minha existência ali, sentindo o calor de Rony, absorvendo todo o carinho que nos envolvia.

Queria dizer tantas coisas. Queria dizer que estava orgulhosa dele. Que Rony havia sido incrível. Que tive um medo aterrorizante de perdê-lo. Que nunca poderia agradecer por tudo que fizera por mim. Que o amava mais que qualquer coisa naquele mundo.

Mas Rony beijou minha testa, acariciando meu rosto.

E, em seus olhos, vi que ele já havia entendido a mensagem.

– Eu sei.

________________________O___________________

As coisas finalmente estavam se arranjando aos poucos.

Oliviene recebeu alta na manhã seguinte já com sua perna mágica nova, assim como eu boa parte dos feridos no Ministério.

Darel não tivera nenhuma sequela- para meu alívio – e também deixara o hospital, voltando com Nyree e Tamahine para Black Horse, e prometendo que iríamos nos rever logo em breve, assim que a fúria assassina de Nyree - por ele ter abandonado as duas na Toca, e quase morrido, ainda por cima – se esvaísse.

Conhecendo Nyree, ia demorar uma eternidade. Talvez nunca mais eu o visse com vida de novo. Coitado.

Harry, Luna e Neville, assim como boa parte dos aurores, nem chegaram a ir para o hospital. Harry me visitou uma vez, se desculpando por não poder ficar muito tempo, já que Andrômeda e Teddy estavam loucos de preocupação com ele, e meus pais – ainda morando com eles – nem sabiam o que havia me acontecido.

Obviamente, jurei Harry de morte se ele contasse uma palha sobre aquilo para eles.

Já Neville e Luna ficaram mais tempo, e recebi – com uma satisfação aliviada – o convite de casamento que eles planejavam distribuir, antes de serem convocados para o Ministério.

Kingsley – que havia também sido internado – assim que retomou suas atividades como Ministro da Magia, organizou o julgamento dos rendidos – que, para minha a eterna revirada de olhos, seria presidida por mim, assim que também voltasse para meu cargo de Juíza Ministerial, depois de uma semana de folga – merecida, em minha opinião.

Afinal, cento e cinco julgamentos era uma quantidade absurda.

Mas o que eu podia fazer? Concordei.

Ia levar uma vida toda, mas valeria a pena. Assim, a maior parte dos Comensais que restavam finalmente estaria “fora de circulação”.

Os Weasleys só foram informados do que havia acontecido quando voltaram da viagem á Romênia. E, obviamente, entraram num colapso nervoso ao saberem o que havia acontecido conosco.

Mas tudo acabou bem, após tranquilizarmos uma chorosa Sra. Weasley com a promessa de que isso nunca mais voltaria a acontecer.

Lembro-me de ter rido quando Rony me encarou, assim que a mãe deu as costas, como se dissesse “sendo nós dois... até parece.”

Ainda estava abatida com o que acontecera entre mim e Helen.

A mágoa, a incredulidade e o ódio que voltavam a me assolar quando pensava naquilo eram angustiantes. Nunca imaginara que fosse ela o tempo todo... e que havia se tornado aquele monstro que me atormentara por tanto tempo.

Mas aquilo não tirava a minha alegria. Estávamos vivos, e ficaríamos bem. Aquilo era só uma terrível lembrança, que eu poderia apagar com o tempo.

Por questão de segurança – e bom senso – não voltaria á minha forma Wicca por algumas semanas. Precisava ter certeza de que estava completamente recuperada entes de voltar á me transfigurar, tanto que Kingsley enfatizara que os julgamentos fossem feitos apenas em minha forma normal, quando retornasse ao trabalho.

Rony também ficaria algum tempo em casa antes de retornar ao cargo de auror. Até onde descobri, por sugestão de Oliviene, que parecia tão preocupada quanto eu para que Rony se recuperasse de tudo que acontecera.

E eu não podia ter ficado mais satisfeita com aquilo.

Precisava de Rony ao meu lado por um bom tempo, para que eu finalmente pudesse me acalmar mentalmente.

E provavelmente ele também precisava de uma distração, já que sugeriu um passeio comigo, três dias depois, após prometer á Molly que estaríamos de volta assim que fosse manhã.

Fiquei levemente confusa quando olhei o relógio e olhei, humorada, o conjunto de camisa e calça social de Rony.

– Mas agora á noite?

Ele deu de ombros.

– É uma surpresa.

– Hum, está bem – falei.

Subi as escadas e fui até o quarto, me trocando rapidamente com um vestido tubinho preto, que Gina – supostamente sem segundas intenções – me deixara de presente, antes de voltar a Hogwarts.

Podia dizer o que fosse, mas aquele vestido era espetacular. Ruiva maldita.

Desci, absorvendo, satisfeita, o olhar espantado de Rony.

– Nossa.

– Gostou?

Ele sorriu.

– Está linda... como sempre – ele apalpou algo nos bolsos da calça, e ergueu para mim um pedaço de tecido – vire de costas.

– Odeio essas vendas – brinquei, enquanto ele ria e amarrava o tecido sob meus olhos.

Senti Rony segurar minha mão, e arfei quando a costumeira fisgada da aparatação me puxou.

Após alguns segundos, senti meus pés tocarem novamente o chão, quase me fazendo desequilibrar com o salto que calçara.

– Opa... tudo bem?

– Sim – respondi, ainda meio tonta.

Ouvi o ranger de uma porta e senti Rony me puxar pela mão, entrando em algum lugar.

– Não se preocupe... – a voz de Rony parecia uma mistura de tensão e humor – eu a avisei.

Retirei a venda, intrigada.

– Avisou quem? – indaguei, antes de sentir meus olhos saltarem.

Era impossível não reconhecer aquele lugar. As mesmas paredes, a mesma cama de dossel...

A única coisa diferente era uma mesa com candelabro, uma garrafa de champanhe com taças ao redor e pratos de delicados petit gateaus.

– Não acredito – ofeguei, sentindo um sorriso saudoso cortar meu rosto.

Era a Sala Precisa.


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