A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 48
Interlude


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas fofas!
Novo capítulo para meu mini-Wiccas! *u*
Eu ainda acho que o capítulo anterior ficou com cara de ué, mas se o povo gostou... :P kkkk
Boa leitura!



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HERMIONE

O som de ossos se quebrando pareceu me despertar de volta para o horror de minha própria realidade.

Não consegui lançar outro olhar para onde, segundos antes, Helen ainda se debatia, moribunda.

Encarei minhas mãos, sentindo um nó se formando em minha garganta.

Eu não teria conseguido. Contra todas as minhas decisões e probabilidades, nunca teria conseguido dar o golpe de misericórdia na Wicca Negra.

O sangue da família será derramado.

A profecia nunca citara em quem recairia este sangue.

O golpe que eu lhe dera, enquanto na forma animaga, não tivera aquela dimensão. Foi fácil canalizar toda a fúria e a irracionalidade que o dragão exigia. Éramos apenas duas bestas lutando pela sobrevivência.

Mas, já em forma humana, mesmo sabendo que era meu dever, mesmo não sentindo mais aquela ligação familiar...

Não. Eu não teria conseguido.

A culpa e a gratidão me inundaram, fazendo coro aos elementos que se desprendiam do cadáver próximo a mim, quando percebi a magnitude do que Rony acabara de fazer por mim.

A sincronia, que acontecera entre eu e o dragão rubro, fora tão profunda e harmoniosa que eu ainda estava perplexa com o quanto podíamos estar ligados, mesmo em formas tão distintas.

Minha parte Wicca já sabia disso há muito tempo... a ligação entre mim e Rony finalmente transcendera á mera realidade mortal.

Mais do que nunca, sentia, através do quinto elemento que nos rodeava, o quanto nossas almas estavam irremediavelmente ligadas.

Se afastando de onde estava e vindo até mim, observei as chamas ao redor do dragão se dissipar, e ele baixar a cabeça, pousando delicadamente o focinho em meu rosto.

Senti angústia e pena ao ver os olhos reptilianos estremecerem de aflição.

Meu noivo maravilhoso e louco...

– Nunca teria pedido isto de você – suspirei, sentindo meus olhos arderem – nunca.

Rony rosnou baixinho, como em uma súplica.

“Não podia deixar você fazer isso”, ouvi sua voz em minha mente.

– Eu sei – guinchei; sabia muito bem porque tomara aquela decisão, e nunca poderia agradecer de verdade por aquilo – obrigada.

Beijei o focinho do dragão, pousando minha testa na dele.

No entanto, Rony resfolegou, desvencilhando suavemente a cabeça de meus braços e erguendo-a na direção dos elevadores. Um rugido baixo ecoou em sua garganta.

Uma figura arfante se aproximou de nós, correndo.

– Draco!

Draco finalmente nos alcançou, pondo as mãos nos joelhos, ainda ofegante. Mal deu atenção ao corpo de Helen, alguns metros adiante, mas pareceu levemente surpreso por me ver viva.

– O que houve, Draco?

– Descobri onde estão os reféns – ele passou a mão nos cabelos, trêmulo – eles não me viram, e não tive coragem de me revelar. Há Comensais demais. E nenhum deles pareceu notar o que houve aqui no saguão, ou Helen disse para manterem guarda constante, independente do que acontecesse, sei lá – ele franziu o cenho – e não que seja da minha conta ou relevante neste momento, mas como diabos você...

Ai. Aquele garoto não mantinha o foco, nem em uma missão de resgate. Bufei.

– Explico depois – falei, impaciente – continue.

– Enfim – Malfoy prosseguiu, fungando desdenhoso – vamos precisar de reforços dos aurores. Mesmo você, com toda sua onipotência desnecessária, não vai conseguir lidar com tantos Comensais. Antes que consiga derrotar todos, já vão ter matado uns trinta reféns.

O dragão bufou, revirando os olhos.

“A doninha tem razão. Vamos precisar de ajuda. O saguão é alto, mas o tribunal não. Não vamos poder nos transfigurar. E você não terá tanto espaço para invocar os elementos. Podemos até atingir alguém sem querer.”

Afastamo-nos um pouco da entrada, deixando para trás o corpo de Helen. Nem demos atenção á Yara, que ainda estava desacordada do lado de uma das lareiras, amarrada com a corda que Draco havia conjurado mais cedo.

– Bom, qual é o seu plano?

Draco ergueu a sobrancelha, pasmo. Parecia chocado com minha consideração á sua opinião.

– Mandei um patrono. Marcamos encontro aqui mesmo no saguão. Devem estar chegando.

Rony ainda estava tenso – podia sentir pelo manto do quinto elemento que ainda o circulava – mas voltou á forma humana, parecendo abalado. Levou a mão ao olho, murmurando entredentes.

– Rony?

– Está tudo bem – ele tentou sorrir, mas ainda manteve a mão no rosto – Helen me atingiu, mas não foi nada grave.

Estreitei os olhos, ficando atônita em seguida, identificando, pelo quinto elemento, a fissura, do tamanho de uma agulha de costura, na córnea de Rony.

– Droga, Rony – bufei, pousando minha própria mão em seu olho.

Concentrei-me, focando meu poder para costurar, com o elemento, o corte em seu globo.

– Sabe que você não fica nada medonha e régia quando fala desse jeito na forma Wicca – ele brincou, quase me desconcentrando.

– Cala a boca – terminei de curar seu olho, tirando a mão de seu rosto – ficou melhor?

– Ficou – Rony sacudiu a cabeça, me encarando e sorrindo – agora tem só uma de você, e não duas.

Malfoy fez menção de abrir a boca, provavelmente para fazer um comentário sarcástico, mas foi sobressaltado por vários estalos ao nosso redor.

Recuei, espantada, quando contei cada um que estava desaparatando dentro do Ministério.

– Caramba.

Meu choque foi tão grande que quase me tirou da forma Wicca.

Harry, Neville, Luna, Dino, os amigos aurores de Rony...

– Acho que temos mais do que o suficiente – Draco falou, petulante.

– Você acha?? – Rony parecia incrédulo – você chamou quase toda a Hogwarts aqui!

Não era para menos. Eu estava vendo gente que nem era auror ali. Cho, Parvati – tipo, Parvati Patil!–, Blásio Zabini – mais um sonserino – e mais uns cinco ou seis ex-colegas de escola nossos.

– Bom, só não chamei McGonagall por que ela não podia deixar a escola desprotegida, não é?

Mas quando encarei a última figura do grupo, senti minha mandíbula trincar.

– Definitivamente não – rosnei, imperiosa, encarando o rosto moreno e arrogante que cruzara os braços em minha direção.

– Quero ver você me impedir. Vai ser interessante – Darel inclinou a cabeça, irredutível.

– Cara, você deixou as duas sozinha na Toca? – Rony indagou.

– Claro que não. Harry recebeu meu patrono, e mandou Andrômeda para lá. Estão seguras dentro da redoma do elemento Wicca. Mas isso não vem ao caso, Hermione – ele voltou a me olhar – vou ajudar, você querendo ou não.

Que ótimo. Como se eu precisasse me preocupar com mais amigos morrendo.

– A gente sabe que você quer fazer isso sozinha, Hermione – Parvati revirou os olhos, pondo-se á frente dos demais – quer proteger todo mundo, quer salvar todo mundo, etecetera. mas isso é da nossa conta também. E digamos que evitar que a última Wicca sobrevivente bata as botas seja o objetivo de todo mundo aqui.

– Talvez não o principal – Blásio riu, ficando amuado quando todos o fuzilaram com os olhos – tá bom, que seja.

– Nunca pensei que ia dizer isso, mas concordo com a are baba da vida aqui – Darel brincou.

Só eu devo ter ouvido Parvati rir e murmurar “ah, se não fosse casado...”.

Rony me olhou, tenso.

– Então, Hermione? – ele segurou minha mão – acho que está na hora de darmos um fim nisso, não é?

Olhei para aquele grupo inusitado de amigos e pessoas dispostas a lutar.

Não tinha como eu deixar de ficar preocupada. Ia morrer mil vezes se eles ou os reféns se machucassem ou morressem.

Mas bem no fundo, onde minha parte Wicca não conseguia penetrar, sabia que tinham razão. Eu não precisava fazer aquilo sozinha.

Depois do que acontecera – minha descida ao umbral, a conversa com Harold, meu temor pela vida de Rony, e agora aquilo – eu finalmente estava entendendo o que era ser uma verdadeira Wicca .

Não era a onipotência, ou o poder, ou os elementos, que tornavam uma pessoa Wicca. Era saber que aquela Maldição podia ter um objetivo realmente nobre. Era pensar que aquilo era uma dádiva que poderíamos usar para proteger o mundo e aqueles que nos eram queridos. Mas, principalmente, era perceber que devia ser usada com a honra e o altruísmo que apenas os mais humildes e controlados de nós conseguiriam.

E, agora, percebia a verdade. Eu nascera para aquilo. E, ao mesmo tempo, precisava tanto daquelas pessoas quanto elas precisavam de mim.

– Sim – concordei – acho que está na hora.

_________________________O__________________________

Usaríamos o fato de que os Comensais ainda não sabiam da morte de Helen como elemento surpresa.

Subornada pela vontade geral – e pelo medo alarmante de entrar em combustão na forma Wicca e espalhar os elementos caoticamente na zona de confronto, que já tinha um tamanho reduzido - eu só iria intervir se fosse realmente necessária. Os aurores fariam a primeira abordagem.

Todos se dividiram em três grupos. O primeiro grupo se encarregaria de abrir caminho para os segundo, que confrontaria os Comensais. O terceiro grupo faria de tudo para libertar os reféns, protegendo os mais vulneráveis e angariando forças nos que quisessem lutar conosco.

Draco nos dera uma estimativa de trezentos Comensais dentro do tribunal, que vigiavam um pouco mais de cem reféns. Mas não sabíamos se havia mais algum em outros departamentos do Ministério. De qualquer forma, iríamos focar apenas no cativeiro, dispensando quem pudéssemos para bater outros locais do subterrâneo.

– Os aurores e Rony podem proteger os reféns quando entrarmos – Harry falou – iremos abrir caminho para que os rapazes abram fogo contra os Comensais, e nos juntamos á eles em seguida.

– Posso ficar na forma animaga e entrar com o grupo de ataque – Darel comentou.

– Já disse – encarei-o, séria – quero você no grupo de proteção. Não vai fazer a burrada de se machucar.

– Alguém avise à nossa Wicca que eu estou a fim de mastigar crânios, em vez de ficar com a bunda sentada e assistindo o massacre? – ele me devolveu o olhar, exasperado.

– Deixa o garoto participar, Hermione – Rony também parecia exacerbado – tudo bem, gente. Mais alguma sugestão para o plano de ataque?

– Hum, sim – Luna murmurou – o Neville vai pra casa.

– O que? – Neville ofegou, boquiaberto – já não basta você ter vindo, garota?

– Parem, os dois – rebati, fazendo os se calarem – vão para o grupo de proteção, e não discutam – acrescentei, ameaçadora, quando fizeram menção de protestar – e eu vou ser o último recurso, é isso? – voltei a olhar para Rony, me sentindo quase mal e magoada por aquilo.

Rony me olhou, com uma expressão tão terna e preocupada, que esqueci, por um momento, onde estava e o que me aborrecia, apenas desfrutando de seu olhar penalizado e carinhoso.

– Já fez o bastante, Hermione – ele afagou meu rosto, me fazendo suspirar – é a nossa vez agora.

– Ah, vamos para a guerra – ouvi Draco reclamar – ou vou acabar vomitando com esses dois.

– Hum, esse é o espírito... acho – Harry riu, meneando a cabeça para Rony e se adiantando com seu grupo de intervenção.

Enquanto íamos em direção ao tribunal, o medo pelos meus amigos aumentava cada vez mais.

Mas eu tinha que parar de pensar que tinha de salvar o mundo. Rony estava certo ao mostrar para mim, infinitas vezes que não tinha que suportar todas as responsabilidades. Havia bruxos tão ou mais dispostos do que eu a proteger os dois mundos. Por que não dar a eles aquela oportunidade de fazer algo maior que todos nós?

Não é por que eu tinha aquele poder, que automaticamente poderia dar cabo de qualquer problema. Os riscos existiam, mas todos estavam dispostos a supera-los, assim como eu.

Eu acabara de sobreviver ao impensável. Havia feito o indescritível. Por que qualquer outra coisa também não nos seria possível?

Ainda que minha alma estivesse quase estilhaçada, havia ali um feitiço que poderia mantê-la intacta outra vez com o tempo. E ele tinha como núcleo o garoto ruivo que segurou minha mão naquele momento.

Apertei a mão que Rony segurou, sentindo meu temor dar lugar á uma confiança que nunca havia me acobertado.

Sempre havia achado que tudo que precisávamos saber estava nos livros. E agora, eu nem sabia mais o que podia ou não ser verdade, o que era ou não plausível, o que devia ou não ser feito.

A minha única certeza, naquele momento, é que estávamos perto de escrever um novo capítulo na história de nossos mundos.

Por que, se dependesse dos resultados do que faríamos agora, eles nunca mais seriam os mesmos.


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Notas finais do capítulo

Então? Comentários? *u*
Beijins e até os últimos capítulos!
"Oi, oi, oi..." rsrs



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