A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 47
Phoenix


Notas iniciais do capítulo

Oe, pessoas!
Eita! Esse ficou grande! *u*
Mas acho que foi por uma causa nobre... kkkkk
Boa leitura!



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RONY

Uma vibração estrondosa nos atingiu, fazendo com que eu e Draco fôssemos jogados para longe.

A dor do impacto era leviana e suave, se comparada á que corroía minha alma.

Mal conseguia gritar. O abismo dentro de mim me impedia até mesmo de libertar as lágrimas, que eu sabia que queriam escorrer.

Virei-me de volta para o ponto de onde havia sio arremessado pela onda de magia, tentando, em meio á névoa, distinguir Helen.

Tudo que consegui foi, debilmente, me arrastar até o corpo caído no chão frio de mármore.

– Hermione... – balbuciei, tocando freneticamente a pele fria de suas mãos – Hermione, Hermione...

– Mestra? Mestra! – ouvi Yara guinchar – o que houve?

Não me importava o que estivesse acontecendo do outro lado da neblina.

Tudo que importava agora era eu acordar Hermione. Por que ela não podia ter partido. Não podia...

– Hermione... vamos... – ofeguei, balançando-a em meus braços – acorde. Temos que lutar, esqueceu...? Hermione...

O soluço que fechou minha garganta quase me sufocou.

– Por favor... – choraminguei entredentes, colando minha testa na dela.

As lágrimas finalmente encontraram seu caminho, escaldando meu rosto, enquanto eu afagava os cabelos já descoloridos de Hermione.

A realidade finalmente adentrava dentro de mim, arrancando o último pedaço de vida que havia em meu peito.

Hermione não acordaria.

O sangue da família será derramado.

E a última coisa em que eu pensara era que seria o sangue dela.

Eu não era mais nada ali, encarando o semblante sereno que jamais voltaria a despertar.

Era apenas uma casca sem vida, sustentando a garota que agora estava adormecida para sempre.

Meu solhos encaravam o vazio, enquanto minhas mãos insistiam em sacudir, por reflexo, o corpo sem vida em meus braços.

A névoa estava começando a se dispersar, e ouvi passos e vozes. Era como se Helen também tivesse sido lançada longe pela onda, e estivesse voltando a se reerguer agora.

Mas eu não me importava com isso.

Ainda com o rosto colado ao de Hermione, beijei sua testa, não podendo impedir que minhas lágrimas manchassem o rosto pálido e ainda encantador daquela garota.

– Weasley...

Senti a mão de Draco pousar em meu ombro.

Apertei Hermione ainda mais em meus braços, recusando-me a erguer o olhar para Draco.

– Solte-a, Weasley – Draco pediu.

O tom dele foi tão baixo e gentil, que o choque me ajudou a fazer o que ele dissera.

Voltei a deitar Hermione no chão delicadamente. Malfoy segurou meu braço, me ajudando a levantar.

A dor, pulsante e violenta, ameaçava me destroçar de dentro para fora.

Olhei para Draco, cuja expressão, mesmo mascarada, não impedia que eu percebesse que também estava abalado. Ele me devolveu o olhar, condoído, sem dizer nada.

Voltamos á olhar adiante, onde distingui a sombra de Helen voltando á ressurgir.

– Garota tola, se afaste!

Outro guincho de Yara, e vi sua sombra se encolher para um dos cantos do saguão.

Com um gesto da mão, convocando o ar, Helen dissipou a névoa que ainda restava, e, com o olhar vidrado, nos encarou ferozmente.

A nuvem desconhecida que os atingira parecia ter causado um impacto ainda maior na Wicca Negra.

Sua pele estava ainda mais pálida; os olhos, antes bonitos, encovados como o de uma caveira, e todo o corpo com um aspecto quase cadavérico.

Porém, senti as vibrações do quinto elemento ao redor dela e, para nosso horror, a pele, antes ressecada, pareceu estar voltar ao normal aos poucos.

Assim como Hermione supusera, um Wicca poderia se curar por si mesmo.

O que doía era saber que, no fim das contas, ela mal pudera se salvar. Mal pudera se defender. E a cura tão almejada jamais chegaria a devolvê-la para este mundo.

O vazio dentro de mim foi preenchido por uma espiral de angústia e ódio, que finalmente conseguiu me sustentar para encarar Helen.

Ela só sorriu, olhando, como uma criança curiosa, para o corpo de Hermione.

– Que decepção – Helen suspirou, balançando a cabeça – eu esperava mais dela. Um desperdício sacrificar uma Wicca tão talentosa... que pena.

– Ela era sua sobrinha!! – ouvi, surpreso, Draco berrar – é só isso com o que você se importava?!

Tive que admitir que Draco desafiar uma Wicca, correndo o risco de morrer, só para extravasar sua indignação, era o suficiente para ganhar o respeito que eu tanto hesitara em lhe dar.

– Nós teríamos sido uma família, criança – Helen gesticulou á esmo, parecendo entediada – Hermione fez a escolha errada, e pagou o preço. Simples assim. Não há lugar no nosso novo mundo para fraquezas como a de vocês... – ela sorriu, me encarando - ou como as dela.

Aquela afirmação insensível e petulante foi a gota d’água para meu autocontrole.

Como se tivesse feito aquilo a vida toda, me transfigurei com facilidade, sentindo minhas asas se aninharem contra o domo do saguão.

Draco recuou alguns passos, atônito, antes que minha cabeça se inclinasse onde ele estava momentos antes. Minha fúria vibrou pelo saguão na forma de um rosnado bestial.

Tudo que Helen fez foi me olhar de modo decepcionado.

– Muito bem, então. Vamos brincar.

Antes que Helen também se transfigurasse, lancei um olhar significativo para Draco, indicando o longo corredor deserto atrás dela.

Draco assentiu, correndo desesperadamente em direção aos elevadores, e nocauteando, com um feitiço, uma trôpega Yara, que havia tentado se reerguer naquele exato momento.

Ele poderia reunir os aurores mais adiante com um patrono, e tentar libertar os reféns, o que me liberava para poder deter Helen o máximo possível.

Eu sabia, por trás de todo o ódio que me consumia, que não seria páreo para a forma dragão Wicca de Helen Granger.

Mas minha preocupação agora não era mais viver.

Era exterminar, de uma vez por todas, a vida miserável que arrancara Hermione de mim.

Helen mal se importou com o garoto que escapara, enquanto tomava a forma draconiana que assombrara nossos pesadelos até então.

A semelhança com a forma draconiana da sobrinha era tão grande que quase me atordoou.

Porém, era um dragão descorado, de olhos vermelhos e cruéis, que estava diante de mim, agitando ameaçadoramente as asas descarnadas atrás de si.

Podia sentir os elementos que pulsavam em sua nova forma, acrescidos do poder elementar que obviamente havia se libertado domínio de Hermione.

Ela estava ainda mais poderosa do que antes.

Mas isso não me impediu de avançar contra Helen, jorrando uma cortina de fogo contra ela. As chamas iluminaram o saguão, parecendo nos engolir numa arena incendiária.

O domo era pequeno demais para permitir que lutássemos espaçadamente, o que deu uma vantagem a Helen para que desviasse do meu fogo, e revidasse violentamente com uma chicotada da cauda espinhosa.

Rugi de dor, sentindo minha visão se embaçar com o golpe que atingira minha cabeça. Desorientado, mal consegui enxergar a cortina de chamas vermelhas que Helen disparou contra mim.

A ardência em minhas escamas foi o suficiente par me deixar ainda mais atordoado. O olho que Helen atingira tinha a visão embaçada, e isso me deixou vulnerável aos repetidos golpes que ela desfechou.

Com um rugido, desabei contra o piso, o som de minhas garras produzindo um estardalhaço, que me desorientou ainda mais.

Sentindo o sangue escorrer pelo meu rosto, tentei me reerguer, mas meu pescoço foi prensado contra o chão, me imobilizando.

Rugindo de raiva, encarei Helen com o olho bom.

O esgar em sua boca era claramente um sorriso desdenhoso.

“Tenho algo a elogiar sobre Hermione”, ela riu em minha mente. “A escolha de namoradinhos. É um lutador bem razoável, rapaz. Nada mal mesmo.”

O dragão descorado suspirou.

“E, mais uma vez, um terrível desperdício.”

Fosse o peso literal do dragão Wicca, fosse o peso dos elementos que ele provavelmente ainda conjurava, não consegui me desvencilhar das garras assassinas que me prendiam ao piso.

Ou talvez fosse eu, que, desesperançado como estava, movido apenas á raiva e vingança, já não tinha mais nenhuma vontade de lutar para me salvar.

E via que, infelizmente, nem aquele ódio todo era o suficiente para que eu conseguisse vingar Hermione.

Meus olhos se fecharam, enquanto eu arfava, sentindo meu peito se apertar conforme Helen pressionava as garras em minha pele.

Meus olhos lacrimejaram, angustiados.

Desculpe-me, Hermione. Não consegui. Perdoe-me.

Helen conseguiria o que queria. E eu, assim como tantos outros, iríamos morrer.

Apesar de que, a bem dizer, eu já estava morto.

Mesmo que tivesse conseguido, mesmo que conseguisse matara Helen, não havia mais nada naquele mundo que me fizesse desejar continuar vivo.

Eu só queria que tudo aquilo acabasse. Queria tirar de minha mente os últimos momentos da garota que eu amava. Queria morrer. Queria que toda aquela dor sumisse.

Queria me unir á Hermione. Nada mais.

“Não se preocupe, garoto”, Helen falou. “Se houver um lugar para onde vão os fracos, vai reencontra-la com certeza.”

O dragão rosnou, zombeteiro, reabrindo a boca para, provavelmente, me incinerar ali mesmo.

Foi quando, para meu assombro, uma nova onda ecoou pelo saguão, retirando Helen de cima de mim com um solavanco.

Engasgando, me levantei lentamente, confuso.

E agradeci aos céus por ainda ter um dos olhos em perfeito estado.

Por que, se não estivesse, eu não teria acreditado mesmo no que vi.

“Achou mesmo que iria lutar sozinho?”

Embora não estivesse na forma animal, eu podia ouvir sua voz.

Irônica, vibrante.

Viva.

Aquilo não podia ser real.

Assim como não acreditara em sua morte, também não conseguia acreditar que estava viva.

Impossível.

Mas o único olho bom que me restara não me enganava.

Pasmo, encarei a Wicca se aproximar. Tão fantástica e feroz quanto á que eu vira em Beauxbatons.

Foi algo em seu olhar que me revelou a mais simples verdade.

Hermione realmente havia voltado.

A Fênix será queimada.

Por que não havia pensado naquilo antes? Claro!

Destruída... mas apenas por algum tempo.

Mas como?

Bom, pelo menos por hora, aquela dúvida também não importava.

“Hermione!”, rugi, incrédulo e jubiloso.

As lagrimas que, momentos antes, pareciam querer devorar meu rosto em angústia e pesar, agora borbulhavam de alegria.

Hermione se aproximou, me encarando. Tinha aquela serenidade solene que eu sempre admirara em sua forma Wicca.

Era ela mesma.

Mal conseguia acreditar.

“Está viva”, solucei, não conseguindo refrear de pousar o focinho em suas mãos.

Hermione estava realmente viva. Quando pensei que tudo estava perdido... e ela estava de volta agora.

– Voltei para casa – ela sorriu, me fitando com os olhos cor de prata que eu nunca mais esperava rever.

Hermione me soltou, virando-se para o dragão branco que se reerguia mais adiante.

O ar vibrou, parecendo rejubilar-se em voltar á regência de sua antiga conjuradora. Senti, ao nosso redor, a pulsações dos elementos, que voltavam á subjugar-se á Hermione.

E, no pé em que estávamos, só faltei sentir pena de Helen.

– Já cometeu um erro, cavalo da Morte – por instinto, abaixei o olhar quando ouvi a voz de Hermione ressoar, mortal e pulsante – fique longe dele.

Helen pareceu minimamente surpresa com a reaparição de Hermione.

E, Santa Tríade, eu nem podia culpa-la.

“Já matei você uma vez”, Helen bufou, irônica. “Acho que posso fazer melhor agora”.

– E eu acho que você pode voltar para o inferno de onde veio, Helen.

Senti, alarmado, o quinto elemento, com seu toque profundo, me encobrir como um manto. Olhei para Hermione, que estava de costas para mim, as mãos erguidas ao lado do corpo. O que ela estava planejando?

“Confia em mim, Rony?“, sua voz ressoou em minha mente, delicada como uma carícia.

“Claro que sim”. Nem tinha como discutir isso.

Helen não percebeu – ou ignorou – nossa discussão mental. Porém, parecia, pela primeira vez, reconsiderar como atacaria.

Eu já não estava mais sozinho.

Mas eu me perguntava o porquê Hermione ainda não...

Foi quando percebi.

Seria a última arma dela.

O que não me isentou de ficar completamente surpreso quando, como se riscado por um fósforo, o ar ao meu redor se inflamou, lambendo e consumindo em chamas o quinto elemento que me acobertava.

Meu corpo inteiro se incendiou, lançando labaredas de fogo por cada centímetro.

Hermione acabara de me tornar uma chama viva.

E agora entendia o porquê do quinto elemento. Assim como a protegera na explosão do carro há meses atrás, o elemento impediu que o fogo que Hermione conjurara me ferisse.

Helen pareceu finalmente assombrada, como se não esperasse ou soubesse que aquilo era possível.

Rugi, deixando que as chamas flamejassem ao longo de meu corpo e erguendo as asas. Hermione ergueu a cabeça, imperiosa, levantando ainda mais as mãos em direção ao teto.

Helen não hesitou, e por fim se lançou contra nós dois.

Abaixei a cabeça, protegendo Hermione do impacto, e usando minha força restante para me jogar na frente de Helen.

O fogo em meu corpo atingiu-a nos olhos, fazendo-a guinchar e recuar, piscando agoniada.

Foi minha deixa para lançar mais chamas em sua direção, que a envolveram em fogo o suficiente para que Helen não nos enxergasse.

Sabe-se lá de onde, Hermione conjurou uma ventania que também atingiu Helen, fazendo-a capengar no piso de mármore.

“Onde está você, sua verme desprezível?”, Helen rosnou, tentando, em vão, focalizar alguma coisa.

Helen jorrou, á esmo, um novo jato de chamas, que enfim me desequilibrou no piso escorregadio.

Vi o dragão dar um rosnado de escárnio, parecendo finalmente me localizar em meio ás chamas.

E foi neste momento em que, ressurgido do inferno que imperava no saguão, um dragão negro surgiu das chamas, abocanhando, num ataque mortal, o pescoço do dragão branco, e retorcendo-o violentamente entre os dentes.

Toda a vibração que disparava de encontro a nós cessou no momento em que Hermione desvencilhou-se do corpo de Helen, jogando-a contra o chão do saguão num movimento quase gracioso.

Não fosse o som arrepiante de vários ossos quebrando-se no impacto.

Aproximei-me, quase cegado pela fumaça que começara a se desprender das cortinas ao redor do saguão.

Hermione encarava, inexpressível, o dragão moribundo que se debatia debilmente no piso.

Numa acrobacia suave, ela voltou á forma humana Wicca, olhando, com a expressão quase catártica, Helen também retornar, gorgolejante, á sua forma normal.

Não pude deixar de sentir um leve incômodo em ver á que ponto Helen Granger chegara. Seu pescoço destroçado vertia tanto sangue que já maculara o chão negro com uma cor rubra.

Cheguei mais perto, mas Hermione ergueu a mão para mim.

– Por favor, Rony... não quero que veja isso.

Rosnei, desconfortável.

“Eu quero fazer isso.”, falei repentinamente. “Não precisa fazer isso, Hermione.”

Hermione me encarou, parecendo alarmada.

Eu sabia o que aquilo significava. Eu só havia matado em defesa de outras pessoas, e sempre haviam sido Comensais da Morte e outros bruxos das Trevas, assim como Hermione. Mas não suportaria vê-la matar alguém da própria família. Ela sofreria o resto da vida com isso, imaginando, agonizando... e se fosse outra pessoa? Um amigo? Seus pais? Ela teria feito isso também?

A traição já seria castigo o suficiente para Hermione levar. Não podia deixa-la ser atormentada por mais demônios de seu passado.

– Rony... – ela balançou a cabeça.

“Por favor.”

Hermione arfou, parecendo compreender.

– Já chega – ouvi-a soluçar – por favor.

Mas sua súplica já não era para que eu não o fizesse.

“Por favor, acabe com isso.”

Não foi preciso mais nada.

Adiantei-me, recusando-me á olhar uma última vez para os olhos cor de vinho que me encaravam.

Bastou apenas pensar em tudo que havíamos sofrido nos últimos tempos. Em Xenofílio. Em Becky. Em tudo que Helen causara a nós.

Hermione virou a cabeça, angustiada, parecendo não suportar ver o que, segundos antes, ela mesma iria concretizar.

E eu também não quis olhar para o estado lastimável daquela que, tempos atrás, poderia ter sido alguém diferente, antes que o impacto de minhas patas fizesse o som da morte ecoar pelo saguão, libertando para sempre os elementos do poder da penúltima Wicca.


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Notas finais do capítulo

Então? Xingamentos? Gritos? Dancinhas da vitória? :P
Beijinhos e até o próximo capítulo!



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