A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 41
Interior and Exterior


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!
Novo capítulo para vocês!
Boa leitura!



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RONY

As duas semanas seguintes foram terrivelmente tensas.

Porém, ao menos, não houve mais nenhum acontecimento horripilante até então.

Minha família, naturalmente, não estava sendo notificada das ocorrências que haviam acontecido.

Meus pais morreriam se soubessem o que acontecera comigo. Nunca mais iriam querer que eu saísse de casa.

Oliviene e o Ministro haviam arquitetado vigilância constante a mim e Hermione, assim como nossos amigos próximos, até a volta de minha família. Assim como Oliviene previra, Hermione parecia ser o principal alvo do suposto Wicca que ainda nos rondava, e, por isso, queriam nos manter em estrita segurança, até a segunda ordem.

Kingsley me afastara de quaisquer deveres de auror, assim como afastou provisoriamente Hermione de seu cargo de Juíza Ministerial. Por meio de uma carta, ele alegara que, em vista dos acontecimentos recentes, eu poderia não estar capacitado para exercer minhas atividades de auror, e que Hermione tinha de, como “vítima” ameaçada, se manter segura e longe dos olhares públicos.

Mas dois anos de amizade com nosso Ministro da Magia não me enganavam. Eu sabia o quanto ele estava preocupado conosco. Oliviene havia lhe contado tudo sobre a profecia de Calíope, e, embora ele não tivesse conseguido extrair o significado, havia concordado que se tratava de um confronto inevitável e próximo.

Eu tinha certeza que Kingsley mal sabia o que fazer diante da magnitude e gravidade do que estava acontecendo. Aquela era sua reação desesperada e ansiosa para a iminente escuridão que iria cobrir nosso mundo.

Mas nenhuma das peças se encaixava. Se todos os atentados eram obra do Wicca negro... mas, além disso, que ligações eles tinham? Por que Xenofílio Lovegood havia sido assassinado, se mal nos contatava? Por que ele tentara assassinar os Granger? Por que teria tentado matar Hermione em duas explosões consecutivas, se, como provavelmente sabia, ela era capaz de se proteger com os elementos? E como mandara um trouxa enfeitiçado, com uma mera faca, no meio da noite, para apunhalar a mim – ou a Hermione, já que não sabíamos quem iria ser o alvo principal dele? Por que também não aproveitara para matar os aurores lá fora?

Eu não conseguia entender qual a lógica por trás daquilo tudo.

E tampouco Hermione conseguia.

Lembrava-me, com um assomo de carinho e deslumbramento, o momento em que Hermione se arriscara a enfraquecer para me salvar.

Meu medo de morrer nem chegava perto do medo de deixá-la ainda mais vulnerável após minha partida. Talvez, por isso, eu ter sobrevivido fora uma coisa boa.

E acabou sendo a maior de todas as demonstrações de poder daquela garota fantástica, que provocava todo aquele amor que me consumia. Lembraria-me disso toda vez que olhasse para meu corpo, e visse a cicatriz, costurada tão delicadamente com o quinto elemento, em meu peito.

Achamos que a ressurreição de Xenofílio – que Luna fizera questão de permitir e presenciar – iria jogar mais luz em nossas teorias.

Mas Hermione já havia mandado a Pedra de volta para Harry e McGonagall, sendo que ele, Luna e Neville haviam feito questão de contatá-lo para nós, sob premissa de estarmos muito abalados para falar com mais uma pessoa falecida.

E os resultados não foram dos melhores.

Luna pôde reencontrar o pai – o que, imaginei, por si só fez, ao menos, aquilo valer a pena – mas, fora isso, segundo a carta que Harry nos mandara dias depois, Xenofílio não se recordava de nada, assim como Becky. A morte, provavelmente, havia feito qualquer lembrança nítida se dissolver se sua mente imaterial.

Porém, uma informação nos chamou a atenção.

Segundo Luna, Xenofílio a contara que tinha descoberto que o suposto dragão que sobrevoara o território dos Comensais semanas atrás era, sem dúvida alguma, a forma animaga do Wicca Negro.

E essa informação foi o suficiente para fazer Hermione ficar ainda mais abalada.

Um inimigo com duas personalidades, uma mais letal do que a outra.

Os aurores agora eram parte integrante da paisagem da Toca. Em vários momentos, podia ver Jonathan e Howkes circulando pelo jardim, as varinhas em mãos e as expressões alertas.

E via, com o coração doído, a figura antes confiante e animada de minha garota ficar cada vez mais sombria e ansiosa.

No entanto, ao mesmo tempo, Hermione parecia querer aproveitar cada segundo ao meu lado. Provavelmente, seu plano de afastar a mente e o corpo de todos os pensamentos ruins que nos rondavam.

Pela primeira vez em tempos, eu a via sugerir um passeio – infelizmente escoltado – ao jardim, ou uma partida de xadrez de bruxo, ou até mesmo uma guerra de travesseiros. Convidava-me para fazer um absurdo de coisas bobas e divertidas durante nosso “cárcere” em casa.

Tentando fazê-la ficar mais feliz o máximo de tempo possível, entrei de cabeça naquele planejamento maluco. Fizemos até uma tabela para cada dia, como numa grade horária, do que poderíamos fazer.

Eu só não gostara muito da pancada de tarefas domésticas que ela resolvera colocar no meio.

Olhei com uma expressão paranóica para Hermione, indicando um dos itens da tabela.

Sorri, surpreso, quando ela deu uma risada marota.

– Almoço dos aurores? – guinchei, fazendo, para meu agradável espanto, Hermione rir ainda mais – você acha mesmo que vou cozinhar praquele folgado do Jonathan?

– Aham – Hermione mordeu o lábio, humorada.

– Pois não vou – bufei – isso é coisa de mulherzinha.

Hermione se boquiabriu.

– Repete isso – a voz dela baixou, sinistra, mas pude ver que estava brincando.

– Repito sim – sorri – coisa de mulherzinha.

Esquivei-me, gargalhando, do pano de prato que ela jogou em minha direção.

– Volta aqui, Rony! – ouvi-a gritar, enquanto dava a volta na mesa correndo, tentando fugir dela.Assim que Hermione me alcançou, porém, virei-me com tudo, agarrando sua cintura e fazendo-a jogar o peso de seu corpo em meus braços.

– Ah! Seu inútil! – Hermione choramingou, parecendo reprimir uma risada.

– A cozinheira é você – beijei seu ombro, ficando satisfeito quando Hermione estremeceu – e ponto final.

– Hum... – ela fez biquinho – você só quer saber de comer, em vez de cozinhar.

– A culpa não é minha – brinquei, atrevido – com um prato desses... – indiquei-a, malicioso.

– Ah! Seu depravado! – Hermione riu.

Ela baixou o olhar, distraída, afagando delicadamente a cicatriz em meu tórax.

– Ainda dói? – Hermione perguntou, preocupada.

– Não... – suspirei, sorrindo, encarando seus olhos acastanhados – nada dói quando estou perto de você.

Ela resmungou, divertida.

– Piegas... mas fofo – ri quando ela beijou minha testa e saiu de meu abraço, se virando para a mesa de café da manhã.

Tinha sempre que me admirar com a figura estonteante e curiosa que Hermione se tornara. Ela tinha um corpo sem excessos nem carências, feito na medida certa, e, por mais que não fosse chamativo, tinha um charme e uma sensualidade que só eu parecia compreender.

Aquele era um feitiço bem mais poderoso do que qualquer um que eu já tivesse conhecido. E despertava em mim, por vezes, algo infinitamente maior e mais volátil do que eu já vira ou sentira antes.

Eu não podia me enganar eternamente. Sabia o efeito que Hermione tinha sobre mim... e fantasiava isso por vários momentos desde que havíamos noivado. Era uma necessidade crescente de senti-la em meus braços e sob meu corpo.

Adorava, naturalmente, cada momento que estava com ela. Gostava de conversar com Hermione, ficar sentado ao seu lado, acariciar seu rosto, abraça-la e beija-la.

Mas imaginava, com uma deliberação cada vez mais alarmante, o desejo que tinha de também senti-la contra mim de formas nunca experimentadas. Ouvi-la gemer meu nome, paralisada de prazer, sentir seu corpo encaixado em mim de modo profundo e fantástico, e absorver, de uma vez por todas, que aquela garota maravilhosa me pertencia, e a mais ninguém.

Aquilo andava mexendo comigo de um jeito quase incendiário e assustador.

Mas, fosse por eu mesmo não me sentir preparado para um passo tão grande, fosse por convicção de que Hermione merecia decidir a hora, fosse por eu temer que ela também não estivesse pronta, ou fosse até mesmo por algum código de honra, eu tinha a certeza absoluta que não deveria ser precipitado.

Quando tivesse de acontecer, aconteceria. Jamais teria coragem de forçar a barra só para saciar aquele sombrio – e ao mesmo tempo espantoso – desejo dentro de mim.

Eu devia aquilo á Hermione, que merecia, mais do que ninguém, todo o meu respeito e compreensão.

Já cometera erros demais com ela. E não tinha o menor direito de querer algo, sendo que meu mundo giraria, agora, em torno de fazê-la feliz.

Tirando cozinhar, pensei, com um assomo de humor. Eu desmanchava o noivado, mas não fazia comida para o Jonathan. Hermione que me perdoasse.

Pelo menos, foi isso que eu pensei, antes de, ridiculamente penalizado, me oferecer para ajudá-la a desossar o frango para o almoço.

Hermione parecia uma gladiadora, fincando a faca entre a articulação da carne e tentando mutilá-la, sem sucesso.

– Faria isso por mim? – Hermione disse, de olhos saltados, com uma expressão de carência.

– Dá licença – empurrei-a, enquanto ela gargalhava, pegando a faca de sua mão.

Sorri, satisfeito, quando a vi se boquiabrir, enquanto separava suavemente as coxas e as asas do resto do frango.

– Olha só – vi-a erguer a sobrancelha, sorrindo – quem diria...

– Ser filho da melhor cozinheira de Ottery St. Cathpole tem lá suas vantagens – brinquei, dando-lhe uma piscadela – você nunca fez isso em casa?

– Negativo – riu Hermione – é sempre minha mãe ou... meu pai.

Parei de cortar o frango quando percebi seu olhar baixar-se para o chão.

Ela voltou a erguer o rosto, me encarando.

– Não acredito que nunca mais vou voltar para casa.

Suspirei, condoído.

A casa dos Granger tinha sido completamente destruída no incêndio. Imaginava como devia doer, para Hermione, perceber que nunca mais poria os pés em sua casa, onde passara quase toda a vida.

– Mas poderemos reconstruir um dia – tentei tranqüilizá-la – e, um dia, poderemos ter nossa própria casa. Sabe que meus pais consideram você como uma filha... não vão se incomodar se ficar por aqui... ou até mesmo que vá morar com seus pais na casa dos Tonks...– dei um sorriso triste – e muito menos eu.

Hermione olhou em meus olhos, parecendo aflita.

Abracei-a, afagando suas costas.

– Desculpa - Hermione sacudiu a cabeça, como se espantasse uma mosca irritante – estou tão... perdida.

– Imagino – suspirei, penalizado.

Ela se virou para a pia, picando distraidamente o peito de frango que eu já separara.

Foi o guincho dela que quase fez meu estômago dar um nó de pânico.

– Ai!

Levantei sua mão contraída, arfando de exasperação e preocupação, quando soltei a faca de seus dedos. A faca caiu com um estrépido no fundo da pia, manchada com o sangue que escorria em filetes do ferimento que se abrira na palma da mão dela.

– Ah, Hermione – levantei seu punho, apanhando o pano de prato e amarrando-o em sua mão machucada – tudo bem?

Hermione tinha uma expressão tão engraçada – um olho aberto e outro fechado, o lábio inferior preso entre os dentes – que reprimi a vontade de rir.

– Vou sobreviver – ela brincou, sem graça, franzindo a testa em seguida – espere um pouco... – ela murmurou, pensativa – tire o pano.

– Tem certeza? – não estava nem um pouco á fim de rever a ferida. O pano já se encharcada de vermelho.

– Tenho.

Retirei delicadamente o pano que enrolara.

Hermione contraiu a testa, concentrada, olhando para o corte da mão.

Antes que a curiosidade me vencesse, finalmente entendi o que ela queria fazer.

Surpreso, vi seus olhos se turvarem, prateados, embora seus cabelos ainda permanecessem com a mesma cor.

Ela bufou, exasperada, relaxando o corpo.

– Não deu muito certo – Hermione parecia desapontada, me encarando, já em sua forma normal.

– Não, espere aí – levantei a palma em direção á meu campo de visão.

Tinha dado um tanto certo. As bordas do ferimento estavam rosadas, como se já tivessem começado o processo de cicatrização, embora o centro ainda estivesse em carne viva. E, para meu alívio, parara de sangrar.

– Está pensando no que eu estou pensando? – comentei, fascinado.

– Sim – ela revirou os olhos, apanhando a varinha e fechando por si mesma o corte – se eu posso, talvez, ter a capacidade de me curar sozinha... – Hermione deu uma risadinha – como uma lagartixa ou uma estrela-do-mar.

– Está mais para lagartixa... – ri, erguendo a mão quando Hermione fez menção de levantar a mão boa – olha, vai se machucar de novo!

– Você não vale nada, Rony – Hermione estreitou os olhos, humorada, apoiando a mão ferida no corpo.

Baixei a cabeça.

– Sei disso.

Hermione arquejou de exasperação, se aproximando de mim e me acolhendo num beijo que, definitivamente, eu estava precisando.

Eu nunca me cansaria de ficar atordoado com os lábios tão macios e carinhosos daquela garota. Eram como uma droga deliciosa e viciante, da qual eu dependeria pelo resto de minha vida.

E aquilo só aumentava o carinho e amor que eu já nutria doentiamente por Hermione.

Ela se afastou, revirando outra vez os olhos.

– Mas sabe de uma coisa?

– O que?

– Você é o meu inútil – Hermione sorriu.

Encostei a testa na dela, suspirando.

– Está bem... posso conviver com isso – cutuquei-a, fazendo-a rir – agora vamos terminar esse frango, ou Jonathan vem encher nosso saco daqui a pouco...

– está bem, bonitão... – ela beijou minha bochecha, dando mais um dos sorrisos que eu tanto idolatrava.

O dia se passou, graças aos céus, sem mais nenhuma intercorrência ruim.

Porém, quando finalmente fomos dormir, eu ainda me sentia atormentado pela perspectiva sombria que nos rondava.

Meu coração parecia querer se rasgar ao meio, ao pensar na ameaça iminente que Hermione teria de enfrentar.

Eu já a vira sangrar tantas vezes... e quase todas por minha culpa.

Mas uma coisa eu sabia. Independentemente do que acontecesse dali pra frente, Hermione não teria que se sacrificar sozinha.

Eu a ladearia até meu último suspiro.

E, para cada vez que o sangue dela tivesse escorrido, eu faria mil vezes pior para qualquer um que ousasse toca-la.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Opiniões? Pedradas?
Beijinhos e até o próximo capítulo! *u*



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